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2.3. PSICOPATOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

2.3.2. Problemas Externalizantes: Agressividade e

externalização e internalização e confirma que esta distinção bidimensional havia sido empregada em vários estudos similares, ainda que com outras nomenclaturas: desordem da personalidade versus desordem da conduta, inibição versus agressão e overcontrolled (controle excessivo) versus undercontrolled (pouco controle).

Finalmente, é importante ressaltar que, ainda que os problemas do tipo externalizantes e internalizantes configurem-se como duas síndromes comportamentais distintas, isto não significa que elas não podem coocorrer. A comorbidade das síndromes externalizantes e internalizantes é relativamente comum em crianças e adolescentes, tanto em amostras clínicas como não-clínicas (McConaughy & Achenbach, 1994). Por exemplo, Zoccolillo (1992) encontrou uma taxa de comorbidade de 48-69% para distúrbios emocionais e transtorno de conduta (TC) e transtorno opositivo-desafiador (TOD) e de 15-31% para depressão e TC/TOD e de 7,1-30,5% para ansiedade e TC/TOD. Da mesma forma, Costello (1993) observou taxas de comorbidade ainda mais altas (22.83%) para depressão e TC/TOD.

2.3.2. Problemas Externalizantes: Agressividade e Delinquência

Os problemas externalizantes constituem foco de permanente interesse por parte dos pesquisadores e dos profissionais da saúde mental em virtude de sua alta estabilidade (Simonoff et al., 2004) e do valor preditivo que demonstram em relação ao uso de drogas, criminalidade e desordens da personalidade na vida adulta (Barnow, Lucht, & Freyberger, 2005).

Pesquisadores têm classificado os problemas externalizantes em dois tipos: os abertamente agressivos (brigar, bater, xingar) e os mais encobertos, típicos do comportamento delinquente (mentir, roubar, abusar de substância).

O comportamento agressivo e antissocial, especialmente dirigido a pares, é um motivo bastante comum de queixas de pais e professores. Num estudo com crianças brasileiras encaminhadas devido a problemas escolares a serviços de atendimentos públicos foi constatada uma alta prevalência (de 48% para meninas e 52% para meninos) de problemas externalizantes (Marturano, Toller, & Elias, 2005). A agressividade, em particular, foi a segunda queixa mais frequente recebida pela Clínica- Escola da USP (Baraldi & Silvares, 2003). Num outro estudo conduzido com uma amostra de 1731 alunos que atendiam desde a pré-escola até a 6ª série do ensino fundamental, Graminha (1994) concluiu que 68% das

crianças apresentava queixas de desobediência, 62% de comportamento mal-humorado e nervoso e, entre 40 a 50%, de comportamento irritável.

As estatísticas que tratam da delinquência juvenil, por sua vez, também são alarmantes. Nos EUA, de acordo com o Centro para Controle de Doenças (Center for Disease Control, 2004,) estima-se que mais de 1/3 dos estudantes de ensino médio envolveram-se com brigas, 17% deles foram pegos com armas nas dependências da escola e 30% dos estudantes haviam sido vítimas de roubo ou assistiram a atos de depredação escolar.

De acordo os dados do ILANUD – Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a prevenção do delito e tratamento do delinquente – a delinquência juvenil representa no Brasil 10% de toda a criminalidade no país. A maioria (aproximadamente 73%) dos crimes praticados por adolescentes são contra o patrimônio e, desses, cerca de 50% são crimes de furto. De todos os crimes praticados, 8% são infringidos contra a vida. A faixa etária de maior concentração de infratores está entre 15 e 17 anos, ou seja, no final da adolescência (Alves, 2007). Ainda que esses dados estatísticos sejam relativos a práticas criminais previstas em lei e, em sua maioria, sejam cometidos por jovens já em plena adolescência, eles nos alertam para as possíveis implicações da falta de atenção à conduta delinquente iniciada na infância média e tardia.

Do ponto de vista conceitual, os comportamentos agressivos e delinquentes enquadram-se na síndrome ampla dos comportamentos antissociais (Farrington, 1991). O comportamento antissocial desenvolve-se e agrava-se ao longo do tempo, no decorrer das experiências interativas da criança, atingindo as interações com pares (Patterson, Reid, & Dishion, 1992). Neste sentido, o comportamento delinquente pode ser entendido como um agravamento do padrão antissocial agressivo que inicia na infância e, normalmente, persiste na adolescência e na vida adulta (Farrington, 1991).

As razões que levam ao aparecimento e a efetividade dos comportamentos antissociais estão relacionadas, primordialmente, às características da interação familiar, marcadas pela intensa hostilidade e emocionalidade negativa (Patterson et al., 1992). De acordo com os autores, a combinação entre crianças com temperamento difícil (que usam de comportamentos aversivos para interromper a solicitação ou a exigência dos pais, por exemplo) e pais que fracassam no uso efetivo de técnicas disciplinares para enfraquecer os comportamentos antissociais explicaria, em parte, a sua efetividade.

Além disso, os pais dessas crianças também tenderiam a ser não- contingentes no uso de reforçadores positivos para os comportamentos pró-sociais (Bolsoni-Silva & Marturano, 2002; Patterson, DeGarmo, & Knutson, 2000). Ou seja, essas famílias se caracterizariam pelo emprego de disciplina severa, mas pouco consistente, com pouco envolvimento parental e pouco monitoramento e supervisão do comportamento dos filhos. Com este padrão comportamental os pais, inadvertidamente, reforçam o comportamento coercitivo e os problemas de conduta dos filhos (Capaldi, Chamberlain, & Patterson, 1997).

Estudiosos do campo da aceitação-rejeição parental (Rohner, 2002; Rohner, & Britner, 2002; Rohner, Khaleque, & Cournoyer, 2009), propõem que indivíduos rejeitados (ou que se sentem dessa forma) tendem a reagir de duas formas distintas, ambas maladaptativas: com dependência (se sentem inseguros e ansiosos e manifestam intensamente a necessidade por respostas positivas por parte dos cuidadores, tais como necessidade de reassegurança, de aprovação, de suporte, de conforto e de afeto) ou com uma independência defensiva (fecham-se emocionalmente como forma de se protegerem da experiência de rejeição e tornam-se hostis, agressivos e emocionalmente irresponsivos). De acordo com Rohner (2002), o tipo de resposta reativa à rejeição parental vai depender da predisposição do indivíduo juntamente com a forma, frequência, duração e intensidade da rejeição parental.

Esse ponto de vista também é compartilhado por Dozier et al. (1999), mas aplicado ao vínculo de apego. Para esses autores, os problemas externalizantes podem ser entendidos como uma resposta reativa frente à experiência negativa de vinculação de apego com os cuidadores. Dito de outra forma, a criança que percebe o seu cuidador como pouco disponível e indigno de confiança pode adotar uma estratégia defensiva e hostil em relação a esse cuidador, uma vez que essa é uma estratégia que minimiza suas necessidades de apego.

2.3.3. Problemas Internalizantes: Retraimento Social e