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PROBLEMATIZAÇÃO E METODOLOGIA

2.2. PROBLEMATIZAÇÃO E QUESTÕES DE ESTUDO

Os filósofos apenas interpretam o mundo de diversos modos. O que importa é transformá-lo.

(Marx, 1845/1979, p. 53)

Existe uma certa unanimidade, ao nível do senso comum, em olhar a sociedade portuguesa como uma sociedade que regista, cada vez mais, índices elevados de violência, que têm a ver com criminalidade, roubo, agressão, marginalidade, entre outros. É também comum a imagem da Escola, como microcosmo da sociedade, registar níveis cada vez mais altos de violência escolar (Lourenço & Paiva, 2004). Porém, é interessante observar que não há unanimidade nem concordância, nos investigadores do domínio da educação, quanto ao aumento da violência escolar. Até há quem considere que tem havido alguma diminuição desses níveis nos últimos 20 anos (Caldeira, 2007; Debarbieux, 2007; Veiga, 2007a). O que nos leva, mais uma vez, a questionar o que se entende por violência.

Os elementos que favorecem o aparecimento da indisciplina, violência e

bullying, ou, pelo contrário, aqueles que contribuem para a diminuição destes

ser analisados tendo em conta um conjunto de elementos endógenos e exógenos à Escola.

O objectivo central deste estudo é compreender a indisciplina e a violência escolares à luz da instituição Escola e identificar os aspectos organizacionais que os alunos, considerados como problemáticos, relatam como favorecedores da indisciplina e da violência. Nesta medida, este estudo pretende compreender os fenómenos da violência e da indisciplina a partir de dois ângulos complementares:

 Conhecer o ponto de vista dos alunos, de uma determinada escola, de forma a compreender as explicações para as suas acções e formas de actuação. Para isso, optámos por centrar este estudo no grupo de alunos que, supostamente, mais contribuem para os fenómenos da indisciplina e da violência, na escola seleccionada para este estudo.

 Enquadrar este estudo na organização e nas condições da própria escola. Pensar esta escola como organização e perceber os aspectos organizacionais que influenciam, de algum modo, a indisciplina e a violência, encontrando, numa primeira fase (dissertação de mestrado), aquilo que nela são climas favoráveis a formas de actuação conflituosas/indisciplinadas/violentas e, numa segunda fase (estudo posterior), encontrar e propor modos de organização escolar que contribuam para a diminuição da indisciplina e violência escolares.

A decisão de centrar esta reflexão nos elementos internos a esta escola é um dos princípios orientadores desta investigação. Esta delimitação do olhar deve-se, por um lado, à constatação da dificuldade que a Escola tem em actuar directamente no exterior. Ainda que os efeitos da educação sejam, mais tarde ou mais cedo, visíveis e que os seus frutos tendam a modificar a sociedade portuguesa, a actuação principal dos agentes educativos situa-se no interior da própria escola. Assim, é sobre ela que importa pensar e reflectir criticamente. Por outro lado, partimos da posição de que o modo de organizar a Escola e as suas regras influenciam o clima, as relações interpessoais e a comunidade educativa. Por último, sendo a investigadora um dos elementos de um dos órgãos de gestão desta escola, este olhar revela-se como particularmente importante para a prática

profissional que desenvolve, o que explica a segunda fase prevista para esta investigação.

A literatura existente sobre este tema confirma que as escolas e os professores fazem a diferença (Amado, 2002; Benavente, 1993; Canário, 2006a; Estrela 2002, Sanches, 2007). Subscrevemos esta posição e, por isso, a determinação em focalizar-nos naquilo que está ao alcance da acção dos agentes educativos. A cultura organizacional, o modo como a instituição escola funciona e se organiza e as relações de poder são aspectos determinantes e que podem marcar a diferença (Lima, 2006).

O problema que configura esta investigação é a existência de fenómenos de indisciplina e de violência na escola onde trabalhamos. Porém, existe uma finalidade última inerente à escolha deste problema, que pretendemos vir a atingir já depois de concluída a dissertação de mestrado: como utilizarmos as margens de autonomia existentes para organizar a escola de modo a atenuar e a prevenir a existência de fenómenos de indisciplina e de violência na escola. Os objectivos específicos, que decorrem do acima mencionado, são os seguintes:

1) Conhecer o ponto de vista dos alunos considerados problemáticos e compreender o modo como configuram a escola;

2) Identificar os aspectos organizacionais que estes alunos consideram críticos e nocivos ao clima de escola;

3) Analisar as mudanças na escola que os alunos considerados como problemáticos ambicionam;

4) Saber como estes alunos vêem os professores e o exercício da sua autoridade;

Apesar de se falar muito na necessidade de mudança (Benavente, 1993; César, 2003a; Fullan, 2001; Hargreaves, 2001; Perrenoud, 2001), observa-se que a organização escolar, quer pedagógica quer administrativa, permanece com marcas evidentes da criação histórica e do passado (Barroso, 1995; Foucault, 1987) e, nalguns aspectos, muito estática e idênticas à época da própria criação da instituição. É necessário reinventar a Escola, encontrar novas formas de a organizar (Canário, 2006a), construir sentidos (Bakhtin, 1929/1981) e, por isso, queremos entender aqueles que a frequentam, na convicção que, também eles têm uma palavra a dizer. Neste sentido procurámos, com

este trabalho, responder a um conjunto de questões de investigação que orientaram o trabalho:

1) Que representação social estes alunos considerados problemáticos, construíram em relação à Escola?

2) Quais os aspectos organizacionais que estes alunos ditos problemáticos identificam como críticos?

3) Quais as mudanças que estes alunos consideram relevantes para um clima de não-violência?

4) Quais as representações sociais que os alunos considerados problemáticos têm dos professores e do modo como estes exercem a autoridade?