• Nenhum resultado encontrado

4. PROVA PARA CASSAÇÃO DE MANDATO ELETIVO SOB A ÓTICA

4.1 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO

4.1.2 Procedimento

Havia grandes divergências entre os doutrinadores em relação ao procedimento, no que concerne ao rito processual adotado para a propositura da ação de impugnação de mandato eletivo, uma vez que, a doutrina dividia-se basicamente em duas correntes: a que defende a adoção do rito ordinário e a que sustenta a incidência do rito da LC 64/90. Passamos então a analisá-las.

Com relação à adoção do rito ordinário Tito Costa defende que:

16 CÂNDIDO, 2008., p.266.

enquanto não houver disposições legais específicas disciplinando o processo para essa ação constitucional, forçosa será a adoção integral dos preceitos do Código de Processo Civil disciplinadores do procedimento ordinário. Inclusive, e principalmente, no tocante aos prazos recursais aplicáveis ao caso, com destaque para o recurso de apelação das decisões de primeiro grau.18

Ainda sobre o assunto, o referido doutrinador salienta que a ação de impugnação de mandato eletivo deveria ser objeto de lei específica que viesse a disciplinar o assunto, sendo que, até o momento tal ação é regulada pela Carta Magna.

Assinale-se, ainda, que a ação poderá tornar-se inócua, pela demora de sua tramitação, sujeita a regras e prazos, como qualquer outro feito. Bem por isso, a lei que vier a cuidar da matéria, separadamente ou dentro do Código Eleitoral, deverá estabelecer rito especial, mais célere e mais consentâneo com a natureza da ação e suas conseqüências. Porque tal pode ser a demora que o impugnado acabará por cumprir seu mandato sem que ocorra o desfecho da demanda. Isso poderá tornar letra morta o texto constitucional, que, para não ser cumprido, melhor seria não ter escrito. 19

Entretanto, Joel José Cândido assume entendimento contrário ao defender que “não se há de advogar a necessidade de nova lei para disciplinar essa ação. Não é o caso, tampouco, de regular seu trâmite fazendo incidir o processo civil ordinário”.20

Deste modo, ainda segundo Joel José Cândido a LC 64/09 em seus artigos 3° à 8° demonstra a perfeita viabilidade de que a ação de impugnação de mandato eletivo deve ser processada com base no que dispõe a referida Lei Complementar, devendo apenas realizar algumas adaptações apara atender à igualdade processual e algumas omissões, aplicando-se, neste caso, o Código de Processo Civil.21

Em seu entendimento, Pedro Henrique Távora Niess sustentou:

(...) que as normas do Código de Processo Civil devem ser aplicadas supletivamente. A Lei Complementar n.º 64/90, ao traçar o roteiro da ação de impugnação a pedido de registro de candidato, descreve o figurino adequado para se atingir diploma já expedido – e o mandato dele decorrente - como gizado no seu art.15, verbis: Transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser- lhe-á negado registro de candidato, ou cancelado se já tiver sido, ou declarado nulo o diploma, se já expedido. O fato de referir-se o preceptivo à ação declaratória não impede como evidente, que se lhe aplique o mesmo modelo procedimental. A natureza da ação, considerada em virtude da sentença que persegue, não interfere no rito adotado, cuja descoberta deve fazer-se sob outro prisma.22

Contudo, o Tribunal Superior Eleitoral pacificou o entendimento, segundo o qual a ação de impugnação de mandato eletivo deve tramitar de acordo com o procedimento

18

COSTA apud STOCO, 2006, p.37

19 CÂNDIDO, 2008, p.272.

20 Ibid, p.271. 21

Ibid, p.273.

22 NIESS, Pedro Henrique Távora. Direitos políticos. Elegibilidade, inelegibilidade e ações eleitorais. São

adotado pela ação de impugnação de registro de candidatura, encartado na Lei de Inelegibilidades, LC 64/90, e não no procedimento comum ordinário do processo civil.23

Desde modo, segue a Res. 21.634 de 19.02.2004, que teve como relator o então Ministro Fernando Neves:

Questão de Ordem. Ação de impugnação de mandato eletivo. Art. 14, § 10, da Constituição Federal. Procedimento. Rito ordinário. Código de Processo Civil. Não- observância. Processo eleitoral. Celeridade. Rito ordinário da Lei Complementar nº 64/90. Registro de candidato. Adoção. Eleições 2004.

1. O rito ordinário que deve ser observado na tramitação da ação de impugnação de mandado eletivo, até a sentença, é o da Lei Complementar nº 64/90, não o do Código de Processo Civil, cujas disposições são aplicáveis apenas subsidiariamente. 2. As peculiaridades do processo eleitoral - em especial o prazo certo do mandato - exigem a adoção dos procedimentos céleres próprios do Direito Eleitoral, respeitadas, sempre, as garantias do contraditório e da ampla defesa. (INSTRUÇÃO nº 81, Resolução nº 21634 de 19/02/2004, Relator(a) Min. FERNANDO NEVES DA SILVA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 9/3/2004, Página

122 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 15, Tomo 1, Página 358 )24

Portanto, cumpre ressaltar, “que se faz necessário observar o rito previsto no art. 3° da LC 64/90, especialmente no que se refere aos prazos para recorrer, sempre exíguos na processualística eleitoral”.25

Assim, cabe trazer à colação o que dispõe o artigo 3° da LC 64/90:

Art. 3° Caberá a qualquer candidato, a partido político, coligação ou ao Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da publicação do pedido de registro do candidato, impugná-lo em petição fundamentada.

§ 1° A impugnação, por parte do candidato, partido político ou coligação, não impede a ação do Ministério Público no mesmo sentido.

§ 2° Não poderá impugnar o registro de candidato o representante do Ministério Público que, nos 4 (quatro) anos anteriores, tenha disputado cargo eletivo, integrado diretório de partido ou exercido atividade político-partidária.

§ 3° O impugnante especificará, desde logo, os meios de prova com que pretende demonstrar a veracidade do alegado, arrolando testemunhas, se for o caso, no máximo de 6 (seis).26

Neste contexto, o doutrinador Joel J. Cândido salienta que:

[...] não há, como se viu, necessidade de mais prazos e possibilidades processuais, salvo interesse protelatório censurável. Trata-se de ação específica, de escopo único, determinado, nunca alternativo, com réu certo, em juízo também imutável. E, além do mais, trata-se de ação que, para sua propositura – insista-se – ou tem o autor um mínimo de prova séria, requisito inafastável para o próprio recebimento da inicial, ou correrá risco de ser julgado litigante temerário ou de má-fé, sob a responsabilidade (CF, art. 14, § 11, in fine). Nos casos omissos aplicar-se-á o Código de Processo Civil, como já é remansoso em Direito Eleitoral.27

23 ALMEIDA, 2010, p.433.

24 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Instrução 81 – Brasília. Relator: Min. Fernando Neves da Silva, DF, 19

de fevereiro de 2004. Disponível em: <http://www.tse.gov.br/internet/jurisprudencia/index.htm>. Acesso em: 25 maio 2011.

25 STOCO, 2006, p.37.

26 BRASIL. Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da

Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp64.htm>. Acesso em: 25 maio 2011.

Deste modo, o Tribunal Superior Eleitoral com a promulgação da Resolução acima destacada, deu um passo significativo para o aperfeiçoamento da ordem jurídica, apressando, desta forma, a prestação jurisdicional em matéria vital para a Justiça Eleitoral, em época de severas críticas à morosidade do Poder Judiciário. 28

Documentos relacionados