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Capítulo II Desenvolvimento

3.4 Procedimento de Análise dos Dados

Os dados foram tratados segundo a metodologia qualitativa que, conforme Minayo (1994, p. 21), propõe ao pesquisador debruçar-se sobre um “[...] universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Tal realidade, que não se capta por equações e estatísticas, é fruto de interpretações que o indivíduo tem a respeito de como pensa e sente; e ainda, sobre quem é, como vive e como constrói suas relações consigo mesmo e com o outro (Minayo,

23 Este segundo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi sugerido pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) desta

1994, 2008). O tratamento dos dados, pela proposta de Minayo (2008), foi operacionalizado em três fases, descritas a seguir.

1) Ordenação dos dados

Momento em que se realizou a organização de todos os dados, não só os obtidos por meio das entrevistas, mas também as informações extraídas das ligações telefônicas com cada participante. Recorreu-se também a dados do Estudo 1 que agregavam informações relevantes ao Estudo 2. Segundo Minayo (2008), essa fase propicia o mapa horizontal de todas as descobertas realizadas pelo pesquisador.

Nessa etapa, realizou-se a transcrição de todo o material coletado durante as entrevistas logo após a finalização das mesmas. Paulin (2004) sugere ser interessante que esta tarefa seja feita pelo próprio entrevistador na busca da reprodução mais fiel do acontecimento vivenciado na relação entrevistador-entrevistado. O mesmo deve atentar-se não só em registrar o vocabulário do sujeito, mas também mencionar suas pausas, silêncios, entonações, expressões faciais e emoção (Minayo, 1994; Paulin, 2004). Portanto, cada entrevista foi transcrita na íntegra, sendo consideradas as impressões e interpretações da pesquisadora sobre o “aqui-agora” de cada encontro.

Para Minayo (2008), nesta fase iniciam-se as divisões que caracterizam e diferenciam os participantes. Desse modo, optou-se por representar os dados referentes à idade, estado civil, número de filhos, pessoas que convivem no mesmo espaço familiar, escolaridade, profissão/ocupação; e informações sobre a situação dos filhos: idade, posição na fratria, escolaridade, residência, atividades acadêmicas, estágios e trabalhos (ver Quadro 4).

2) Classificação dos dados

Nessa etapa ocorreu a leitura horizontal e exaustiva (Minayo, 2008) dos dados obtidos. No estudo, a escuta e o processo de transcrição das entrevistas já se configuraram como uma primeira imersão sobre o material. Em um segundo momento, seguiram-se as leituras de todo o material transcrito. Para Minayo (2008), esse exercício do pesquisador, “denominado por alguns autores como ‘leitura flutuante’, permite apreender as estruturas de relevância dos atores sociais, as ideias centrais que tentam transmitir e os momentos-chave e suas posturas sobre o tema em foco” (Minayo, 2008, p. 357). Em um segundo momento, seguiu-se a fase da leitura transversal (Minayo, 2008) de todo o material em busca das unidades de sentido presentes nas narrativas dos participantes. As unidades de sentido foram destacadas segundo critério de “relevância” e “tópicos de informações” e não segundo a

“frequência”, como propõem as análises de conteúdos mais tradicionais (Minayo, 1994, 2008). As unidades de sentido foram refinadas e agrupadas em subcategorias temáticas e, em seguida, sintetizadas em categorias centrais, segundo semelhanças e conexões entre as narrativas dos entrevistados.

Após a realização do primeiro delineamento de categorias, conclusões da equipe da investigação levaram à inclusão de uma nova fase ao procedimento de classificação dos dados. Optou-se por submeter o material coletado à leitura de outro pesquisador qualitativo, que por sua vez delineou outras categorias. O objetivo foi comparar as categorias de cada pesquisador e compor um delineamento que sintetizasse as duas análises. Convém mencionar que se concorda com Richardson (1985/2011) ao considerar que não se deve aplicar critérios de validade quantitativos em pesquisas qualitativas: “[...] dois estatísticos que apliquem o mesmo teste de confiabilidade aos mesmos dados quantitativos seguramente chegarão ao mesmo resultado. É muito improvável, porém, que dois pesquisadores qualitativos produzam a mesma leitura de um mesmo sujeito” (p. 99). Considera-se, inclusive, que em investigações de natureza qualitativa, a cada imersão do pesquisador sobre o material qualitativo, novas possibilidades de leituras surgirão, originando diferentes perspectivas de análises, não necessariamente excludentes. Cumpre assinalar, no entanto, que o procedimento adotado fez parte dos cuidados tomados a fim de se atentar para possíveis “pontos cegos” do trabalho do pesquisador.

A seguir, ilustrados no Quadro 5, apresentam-se os temas narrativos delineados a partir do processo de síntese realizado entre as categorias e subcategorias temáticas construídas na fase do tratamento dos dados.

Temas Narrativos

dos pais

O acompanhamento das trajetórias de carreira dos filhos As primeiras escolhas de carreira dos

filhos. A trajetória de carreira que vem sendo construída pelos filhos e seus projetos de futuro.

O sentido atribuído pelos pais às suas vivências As repercussões das trajetórias

dos filhos na vida dos pais. A atuação dos pais junto aos filhos. O processo da separação emocional pais-filhos.

O sentido atribuído ao Grupo de Orientação de Pais: quatro anos depois

3) Análise final

Nessa fase, examinaram-se os temas narrativos. Para Denzin e Lincoln (1994) o investigador qualitativo é como um “bricoleur” não só em sua coleta de dados, ocasião em que pode se valer de uma coleção de materiais empíricos adquiridos, mas também na fase de análise quando realiza uma “bricolagem”, ancorando-se em uma multiplicidade de referenciais teóricos com finalidade de aprofundar suas interpretações e compreensão dos fenômenos. Assim, o intuito do estudo foi de realizar uma articulação dos temas narrativos com achados de outras investigações e publicações, tendo como subsídios para a interpretação e a discussão os referenciais teóricos adotados. Nesta fase, Minayo (2008) destaca a necessidade de o pesquisador qualitativo buscar responder as questões que permearam o planejamento da investigação e a importância para a qualidade de sua pesquisa da receptividade às novas perguntas que certamente surgirão ao longo de todo o processo de investigação.