• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 – Metodologia

3.4 Procedimento para coleta dos dados

Procuramos constituir um material de análise cuja emissão se aproximasse o máximo possível da fala espontânea e que, simultaneamente, apresentasse o mesmo material de fala, tendo em vista que a intenção era realizar um estudo comparativo.

A utilização de fala espontânea, a princípio, seria ideal, pois poderíamos obter um material de fala constituído do padrão de comunicação habitualmente utilizado pelo informante em questão. No entanto, a utilização de fala espontânea oferece algumas restrições para a análise acústica. Devido à dificuldade de isolamento do ruído nesta situação de fala, perde-se em qualidade acústica, havendo sobreposição de fala e ruído. Outra questão relevante é que, a partir da fala espontânea, não é possível controlar o material de fala específico que se deseja estudar, e isso impossibilita a realização de estudos comparativos com a utilização de um mesmo enunciado para informantes diversos.

Tendo em vista o exposto acima, optamos por um estudo da atitude utilizando o método de indução, que nos permitiu fazer um estudo comparativo utilizando os mesmos enunciados para todos os informantes, por meio de uma fala mais próxima do padrão natural de emissão e sem fornecer nosso próprio padrão entonativo como modelo. Tal método tem sido uma boa opção na impossibilidade de se utilizar fala espontânea. Antunes (2000) acredita que o método de indução permite a produção de um considerável número de enunciados, com o qual se obtém uma pronúncia muito próxima da fala espontânea. Miranda (2001) e Azevedo (2001) também optaram pela utilização do método de indução, o que possibilitou um melhor controle das variáveis, a fim de se realizar um estudo comparativo. Segundo Lopes (2001), o método de indução permite a obtenção de um número significativo de enunciados a serem estudados, além de evitar pronúncias com autocorreções e repetição de palavras.

Outro aspecto importante que devemos levar em conta no estudo das atitudes é o contexto. Para Wichmann (2002), que considera a função atitudinal uma das mais importantes da entonação, as atitudes só podem ser explicadas levando-se em conta características contextuais, uma vez que um mesmo traço entonativo pode ser atitudinalmente neutro ou

indicar atitudes diversas, dependendo da complexa interação entre prosódia, texto e contexto. Podemos dizer, por exemplo, “eu não estou com pressa” de uma forma, se realmente não estamos com pressa; e de forma totalmente diferente se estamos com pressa e precisamos ser agradáveis com o interlocutor. Em concordância com a autora, procuramos introduzir, em nossa metodologia de coleta de dados, um contexto para cada enunciado dito com as diferentes atitudes (dúvida e certeza) e modalidades (interrogativa e declarativa).

Desta forma, os indivíduos foram solicitados a emitir os enunciados previamente apresentados em fichas, inseridos em um contexto específico, procurando produzir uma emissão da forma mais natural possível. Para cada um dos enunciados do corpus, adotamos o seguinte procedimento:

A pesquisadora, inicialmente, tomava nota das pessoas da convivência do informante e daquelas com quem normalmente este costumava sair; material que seria inserido no contexto. Posteriormente, apresentava ao informante uma ficha com o referido enunciado escrito para que ele pudesse ler e memorizar. Após ser memorizado o enunciado, a pesquisadora se certificava se a memorização ocorreu e se a produção do enunciado sairia de forma natural e automática, perguntando ao informante qual era mesmo a frase. Depois disso, conversava com o informante, introduzindo um contexto/ situação, para que ele emitisse o enunciado de acordo com cada atitude (certeza e dúvida) e modalidade (interrogativa e declarativa), conforme ilustrado abaixo. Vale ressaltar que antes da introdução de cada contexto, a pesquisadora explicava a atitude ou a modalidade que seria abordada, na ordem que se segue abaixo.

1- DECLARATIVA:

1.1. “Eu fechei a janela.”

“Imagine a seguinte situação: fui visitá-lo(a); nós saímos de sua casa e, como de hábito, você fechou a janela. Quando chegou lá fora, vimos que o tempo estava fechando – parecia que iria chover. Aí você pensou: ainda bem que eu fechei a janela. Diante da possibilidade de chuva, eu, que estava com você, pergunto-lhe se você fechou a janela. Você sabe que fechou a janela – foi a última coisa que você fez antes de sair de casa. Pensando nesta situação, responda a minha pergunta (você fechou a janela?) com esta frase (contida na ficha): Eu fechei a janela.”

1.2. “Eu ganhei a panela.”

“Imagine a seguinte situação: foi seu aniversário e alguns parentes e amigos, inclusive eu, fomos lhe visitar na sua casa e levamos alguns presentes. Eu vi a hora que o(a) fulano(a) (nome de algum conhecido) lhe deu uma panela e achei aquele presente estranho – será que era um presente ou você tinha emprestado a panela para o(a) fulano(a) e ele(a) estava te devolvendo? Na verdade, era realmente um presente que o(a) fulano(a) tinha lhe dado. No dia seguinte, eu me encontrei com você e começamos a conversar a respeito do seu aniversário, e eu aproveitei para tirar a minha dúvida a respeito da panela. Pensando nesta situação, responda a minha pergunta (você ganhou a panela?) com esta frase (contida na ficha): Eu ganhei a panela.”

1.3. “Eu comprei a canela.”

“Imagine a seguinte situação: eu estava doente e pedi para você fazer compras para mim. Na lista, havia arroz, feijão, leite, manteiga, ovo e canela, que eu pedi para você comprar para mim. Você foi ao supermercado e comprou tudo. Quando você voltou, eu não estava achando a canela e lhe perguntei se você havia comprado a canela. Você sabe que comprou a canela. Pensando nesta situação, responda a minha pergunta (você comprou a canela?) com esta frase (contida na ficha): Eu comprei a canela.”

2- INTERROGATIVA:

2.1. “Eu fechei a janela?”

“Imagine a seguinte situação: fui visitá-lo(a) e nós saímos de casa e, quando chegou lá fora, vimos que o tempo estava fechando – parecia que iria chover. Diante da possibilidade de chuva, você se questiona se fechou ou não a janela. Você não se lembra se fechou a janela. Como eu estava com você quando saímos de casa, eu vi se você fechou ou não a janela. Pensando nesta situação, me pergunte se você fechou a janela, usando esta frase (contida na ficha): Eu fechei a janela?.”

2.2. “Eu ganhei a panela?”

“Imagine a seguinte situação: foi seu aniversário e alguns parentes e amigos, inclusive eu, fomos visitá-lo(a) na sua casa e levamos alguns presentes. Eu vi a hora que o(a) fulano(a) (nome de algum conhecido) te deu uma panela que eu achei muito boa. No dia seguinte, eu me encontrei com você e começamos a conversar a respeito do seu aniversário, e eu aproveitei para lhe perguntar qual era a marca da panela que você ganhou, porque eu a achei ótima. Mas você não se lembrava de ter ganhado a panela.

Como eu estava no seu aniversário, eu vi se você ganhou ou não a panela. Pensando nesta situação, me pergunte se você ganhou a panela, usando esta frase (contida na ficha): Eu ganhei a panela?”

2.3. “Eu comprei a canela?”

“Imagine a seguinte situação: você fez uma lista para irmos fazer compras no supermercado – nessa lista, havia arroz, feijão, leite, manteiga, ovo e canela. Mais tarde, você resolveu fazer um leite quente com canela para tomarmos, mas não encontrou a canela de jeito nenhum. Aí você se questionou se realmente tinha comprado a canela. Você, então, me pergunta se você comprou a canela, pois eu fui ao supermercado com você e, provavelmente, devo ter visto se você comprou ou não. Pensando nesta situação, me pergunte se você comprou a canela, usando esta frase (contida na ficha): Eu comprei a canela?”

3- CERTEZA:

3.1. “Eu fechei a janela.”

“Imagine a seguinte situação: você saiu de casa, e, como de hábito, fechou a janela. Quando chegou lá fora, viu que o tempo estava fechando – parecia que iria chover. Aí você pensou: ainda bem que eu fechei a janela. Diante da possibilidade de chuva, o(a) fulano(a) (nome da pessoa que estava com você) lhe pergunta se você fechou a janela. Você tem certeza de que fechou a janela – foi a última coisa que você fez antes de sair de casa. Pensando nesta situação, diga esta frase (contida na ficha) – Eu fechei a

janela., como se você estivesse respondendo à seguinte pergunta desta pessoa: Você

3.2. “Eu ganhei a panela.”

“Imagine a seguinte situação: foi seu aniversário e alguns parentes e amigos foram visitá-lo(a) na sua casa e levaram alguns presentes. Depois que todos foram embora, seu filho (ou filha/ esposo/ esposa – uma pessoa da família) quis saber o que foi que você ganhou de presente. Você começa a contar que ganhou uma blusa, um chinelo, uma panela, etc. Seu filho (ou filha/ esposo/ esposa – uma pessoa da família), que não viu quando você ganhou a panela, pergunta se você realmente ganhou este presente. Você tem de certeza que ganhou a panela – foi o(a) fulano(a) (nome de algum conhecido) quem lhe deu. Pensando nesta situação, diga esta frase (contida na ficha) –

Eu ganhei a panela., como se você estivesse respondendo à pergunta do seu filho (ou

filha/ esposo/ esposa – uma pessoa da família): Você tem certeza de que ganhou a panela?”

3.3. “Eu comprei a canela.”

“Imagine a seguinte situação: você fez uma lista para fazer compras no supermercado pela manhã – nessa lista, havia arroz, feijão, leite, manteiga, ovo e canela. À noite, você resolveu tomar um leite quente com canela, mas não encontrava a canela de jeito nenhum. Você tem certeza de que comprou a canela; você lembra direitinho da hora que comprou e da hora que, em casa, tirou a canela da sacola e guardou no armário. Você pergunta a seu filho (ou filha/ esposo/ esposa – uma pessoa da família) onde está a canela e ele lhe pergunta se você realmente comprou a canela. Você tem de certeza que comprou a canela – você tem, inclusive, a notinha do supermercado. Pensando nesta situação, diga esta frase (contida na ficha) – Eu comprei a canela., como se você estivesse respondendo à pergunta do seu filho (ou filha/ esposo/ esposa – uma pessoa da família): Você tem certeza de que comprou a canela?.”

4- DÚVIDA:

4.1. “Eu fechei a janela.”

“Imagine a seguinte situação: você saiu de casa e, quando chegou lá fora, viu que o tempo estava fechando – parecia que iria chover. Diante da possibilidade de chuva, você se questiona se fechou ou não a janela. Você está com dúvida se fechou a janela. Pensando nesta situação, diga esta frase (contida na ficha) – Eu fechei a janela., como se você estivesse com dúvida se fechou ou não a janela.”

4.2. “Eu ganhei a panela.”

”Imagine a seguinte situação: foi seu aniversário e alguns parentes e amigos foram visitá-lo(a) na sua casa e levaram alguns presentes. Depois que todos foram embora, seu filho (ou filha/ esposo/ esposa – uma pessoa da família) quis saber o que foi que você ganhou de presente. Você começa a contar que ganhou uma blusa, um chinelo, etc. Como você não falou da panela, seu filho (ou filha/ esposo/ esposa – uma pessoa da família), que viu quando você ganhou este presente, acrescenta: você também ganhou uma panela. Mas você não está se lembrando de ter ganhado uma panela, e fica em dúvida se realmente ganhou uma panela. Você se questiona se ganhou ou não a panela. Pensando nesta situação, diga esta frase (contida na ficha) – Eu ganhei a

panela., como se você estivesse com dúvida se ganhou ou não a panela.”

4.3. “Eu comprei a canela.”

“Imagine a seguinte situação: você fez uma lista para fazer compras no supermercado pela manhã – nessa lista havia arroz, feijão, leite, manteiga, ovo e canela. À noite,

você resolveu tomar um leite quente com canela, mas não encontrava a canela de jeito nenhum. Aí você ficou em dúvida se realmente tinha comprado a canela. Você está em dúvida se comprou ou não a canela. Você se questiona se comprou ou não a canela. Pensando nesta situação, diga esta frase (contida na ficha) – Eu comprei a canela., como se você estivesse com dúvida se comprou ou não a canela.”