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OCORRÊNCIAS SINAIS EXEMPLOS

2.4 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DO CORPUS

A questão da introspecção, nas pesquisas em LC, é discutida por Gibbs (2006, p. 3). O autor afirma que “as intuições treinadas de linguistas cognitivos têm fornecido insights detalhados para as interações da possível linguagem-na-mente que servem como uma fonte de hipóteses experimentais sobre as operações do inconsciente cognitivo”183. Contudo, o autor questiona ceticamente as conclusões de análises linguístico-cognitivas, afirmando que esse tipo de perspectiva analítica deve ser vista com cuidado, pois, embora os processos introspectivos gerem hipóteses válidas para estudos liguísticos, os “linguistas assumem que as intuições de cada estudioso deveriam ser representativas de todos os falantes da língua, porque cada pessoa, dentro de uma comunidade linguística, presumivelmente compartilha a mesma competência linguística subjacente” (2006, p. 3).184

Gibbs tem razão em questionar a formulação de generalizações a partir de dados provenientes apenas da introspecção do pesquisador-analista, porém eliminar os processos introspectivos, conforme já se mencionou a partir de Fauconnier (1994), não é possível.

Nesse sentido, Talmy (2003, p. 4) esclarece que a introspecção envolve elementos psicológicos, tais como afeição e percepção, e prescinde deles, incluindo “a análise da memória semântica, a associatividade de conceitos, a estrutura de categorias, a geração de inferências e o conhecimento contextual” (p. 4). Esses elementos são imprescindíveis aos que atentam para a estrutura do pensamento, pois, para o autor:185

[A] pesquisa sobre semântica cognitiva é pesquisa sobre conteúdo conceptual e sua organização na linguagem e, consequentemente, sobre a natureza do conteúdo e organização conceptual em geral. [...] O problema da metodologia é aumentada devido ao fato de que a semântica cognitiva centra sua pesquisa na organização conceptual, consequentemente, no conteúdo experienciado na consciência. Isto é, para a semântica cognitiva o objeto principal de estudo em si são os

183

Do original: “the trained intuitions of cognitive linguists have provided detailed insights into possible language-in-mind interactions that serve as the source of experimental hypotheses on the workings of cognitive unconscious”. (GIBBS, 2006, p. 3).

184Do original: “linguists assume that each scholar‟s intuitions should be representative of all speakers of a language, because each person within a linguistic community presumably shares the same underlying linguistic competence” (GIBBS, 2006, p. 3).

fenômenos mentais qualitativos como eles existem na consciência [...] [A] única instrumentação que pode acessar o conteúdo fenomenológico e estrutura da consciência é aquela da introspecção. (TALMY, 2000, p. 4, grifo nosso). 186 Lakoff e Johnson (1999, p. 12), por sua vez, advertem que, nenhum método pode adequadamente acessar o “inconsciente cognitivo” – questão discutida no capítulo 1, parte 1.1, pois o domínio do pensamento é completa e irrevogavelmente inacessível pela introspecção consciente direta.

Portanto, na LC a linguagem, metaforizada como uma “janela para a mente” é um meio privilegiado de acesso indireto às estruturas e aos processos cognitivos, cabendo à introspecção interpretativa do analista um papel mediador, levantando hipóteses e inferências, para entender o que e como constitui-se o nível do inconsciente cognitivo. Por isso, ao se interpretarem os discursos dos sujeitos da pesquisa, em busca do que pode estar subjacente a essas manifestações verbais, especialmente aos modos de expressão metafóricos e metonímicos, a introspecção do analista sempre operará em algum nível.

Além disso, seguindo as considerações feitas por Lima e Feltes (2011, no prelo), as análises aqui propostas, na tentativa de reconstruir estruturas e processos cognitivos – gerados no nível do inconsciente cognitivo – implicados em qualquer processo interpretativo, deve ser entendida como um modelo hipotético que têm o papel de simular tal processo. De acordo com as autoras, a aparente linearidade e sequencialidade de uma análise, como se simulasse um processo passo a passo, em nosso caso não exaustivo, é apenas resultado da própria tentativa de descrição. Lembramos que, conforme discussões apresentadas no capítulo 2, cada análise, apesar de partir de um corpus empiricamente construído, não pode prescindir completamente da introspecção do analista. Não se pode garantir que a análise das expressões linguísticas seja uma simulação do que ocorre em sua “mente-cérebro” no momento em que se manifestam discursivamente. Portanto, na mesma linha das advertências de Lima e Feltes (2011, no prelo), tais simulações devem ser entendidas como apenas plausíveis, segundo um modelo teórico, e, assim, tomadas como hipóteses de trabalho para manter em curso a investigação empírica.

Feitas essas considerações de caráter metodológico, para a análise do corpus segue-se o procedimento abaixo descrito:

186

Do original: “Research on cognitive semantics is research on conceptual content and its organization and its organization in language and, hence, on the nature of conceptual content and organization in general. [...] The issue of methodology is raised by the fact that cognitive semantics centers its research on conceptual organization, hence, on content experienced in consciousness That is, cognitive semantics, the main object of study itself is qualitative mental phenomena as they exist in awareness. […] the only instrumentality that can access the phenomenological content and structure of consciousness is that of introspection.” (TALMY, 2000, p. 4)

(1º) Todas as entrevistas são separadas conforme o critério urbano, rurbano e rural.

(2º) As entrevistas são agrupadas para análise conforme o critério anterior e a ordem cronológica que foram efetuadas pela entrevistadora.

(3º) Em cada entrevista, são selecionados os turnos de fala relevantes do discurso, respeitando os pares adjacentes, que compõem cada núcleo de análise.

(4º) (a) Quando os turnos de fala são curtos, os turnos correspondem aos trechos analisáveis. (b) Com turnos de fala mais longos, tendo em vista a praticidade e organização das análises, os pares adjacentes não foram estritamente respeitados, pois alguns turnos apresentam grande quantidade de fragmentos analisáveis assim como temáticas diferentes. Nesses casos, os turnos foram fragmentados em mais de um trecho, geralmente obedecendo ao critério de temática do discurso. Salienta-se que, quando isso ocorre, são retomadas, na análise, as perguntas que geram esses trechos a fim de que o contexto não seja neglicenciado.

(5º) São selecionados os fragmentos (também chamados de segmentos) analisáveis. (6º) São destacados os fragmentos, sublinhando e negritando-os.

(7º) Os fragmentos são numerados, no início de cada segmento, entre parênteses, negritados, obedecendo à seguinte notação: número do trecho analisado, seguido de letra correspondente ao fragmento analisado (conforme ordem alfabética).

No próximo capítulo, apresentam-se as análises e os resultados desta investigação, por meio de trechos transcritos do corpus e analisados à luz da Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados e seus desdobramentos teóricos, priorizando-se os modelos metonímicos e metafóricos.

3 ANÁLISE

Neste capítulo, são feitas as análises dos trechos selecionados a partir das vinte entrevistas que compõem a amostra desta dissertação, conforme os procedimentos apresentados no capítulo anterior. Os fragmentos são iniciados pela letra “L”, seguida de um número, conforme notação do quadro abaixo (também presente no capítulo 2 desta dissertação). L1 Entrevistadora L2 M,U,52,M,SI L14 L15 L2 D,R,75,F,FI J,R,42,F,MC M,U,52,M,SI L3 J,RU,50,F,SC L16 L2 O,R,73,M,FI M,U,52,M,SI

L4 C,U,44,F,FI L17 R,RU,46, M,FI

L5 C,U,42,M,MC L18 T,R,69,F,FC L6 L,U,54,F,MC L19 L20 G,R,65,M, FI O,R,74,M,FI L7 L8 I,U,48,F,FC J,U,20,F,SC L9 M,U,53,M,SC L21 L22 J,R,52,M,FI V,R,43,F,FI L10 S,U,34,M,SI L11 L,U,46,M,SI L23 L24 O,R,48,M,SI I,61,M,FC L12 A,U,63,F,SC L13 J,U,49,M,SC L25 L26 L27 L3 H,R,74,M,FI A,R,75,F,FI T,R,46,F,FI J,RU,50,F,SC L28 C,RU,45,F,SC

Quadro 1: Locutores das entrevistas e notação específica.

Cada fragmento inicia-se por meio de uma numeração entre parênteses, negritados, obedecendo à seguinte notação: número do trecho analisado, seguido de letra correspondente ao fragmento analisado (conforme ordem alfabética).

Como explicado no capítulo anterior, seguem-se inicialmente as análises de trechos das entrevistas de sujeitos urbanos, seguidas das análises das entrevistas dos sujeitos rurbanos e rurais, respectivamente.