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2 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

2.1 VARIÁVEIS RURAL, URBANO E RURBANO: DEFINIÇÃO OPERACIONAL

Com relação à escolha dos informantes que constituem a amostra, o critério que fundamentou a seleção dos entrevistados foi o seu grau de pertencimento a uma região. Quando se deseja estruturar limites, fronteiras, identidades, regiões, etc., uma das problemáticas discutidas diz respeito à conceitualização das zonas urbana e rural apresentadas como critério de definição do objeto de pesquisa. Essa discussão é objeto de estudo em diversas áreas ligadas às Ciências Sociais, como apresenta o geógrafo Douglas Reis:

São inúmeras as dificuldades conceituais e metodológicas impostas, há tempos, aos formuladores de políticas de planejamento público, aos demógrafos e aos pesquisadores de diversas áreas do conhecimento que, obrigatoriamente, se deparam com as inadequações existentes na definição do que seja rural e urbano no Brasil. (REIS, 2006, p. 2)

A definição de urbano e rural no Brasil de hoje – diferentemente do passado131, em que os espaços se dividiam visual e nitidamente através dos tipos de habitação, da fonte de renda, das vestimentas, do comportamento e até da linguagem dos habitantes – apresenta-se como “um espaço rural multifuncional com a introdução de uma maior diversificação

131 Observe-se que: “A utilização que os autores clássicos (como por exemplo, Marx e Weber) davam ao corte urbano/rural relacionava-se ao conflito entre duas realidades sociais diferentes (uma em declínio, outra em ascensão) em função do progresso das forças capitalistas que minavam a velha ordem feudal.” (SILVA, 2009, p. 2)

econômica, em meio a novas formas de produção e subsistência” (REIS, 2006, p. 2), em função das necessidades e da expansão demográfica e física do meio urbano.

Não se pode mais, atualmente, identificar tais zonas através de critérios estabelecidos por meio somente das atividades econômicas já que “as cidades não podem mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem os campos com a agricultura e a pecuária” (SILVA, 2009, p. 1). Além disso, há uma intensa relação entre essas zonas, tanto no fornecimento de alimentos quanto na provisão de “bens e serviços, entre os quais vale a pena destacar a oferta e o cuidado de recursos naturais, os espaços para o descanso, e as contribuições à manutenção e desenvolvimento da cultura”, como afirma Rocha (2009, s/p).

A preocupação dos estudiosos da área, como esclarecem Brito, Freitas e Soares (2004, p. 1), “não é meramente [a de] encontrar um limite demográfico, mas de elaborar critérios que tornem mais fidedignas as definições operacionais de urbano e de rural”. Nos últimos anos, a queda do valor do setor agrícola tradicional (com uso da mão-de-obra, sem auxílio de componentes químicos e biológicos no trabalho com a terra), em face da intensa urbanização e expansão tecnológica, é uma das causas de se constituir um meio rural caracterizado como uma continuidade do meio urbano, devido ao transbordamento dos limites da cidade. Tal visão pode ser ratificada principalmente pelo ponto de vista espacial, já que as fronteiras físicas, em muitos lugares, não existem mais.

Outra contribuição para a dificuldade de se conceitualizar essa dicotomia urbano/rural provém de discussões das próprias Ciências Sociais que procuram encontrar teoricamente, nessa esfera, tipos ideais dessas áreas, o que, com processos como a globalização, não é mais possível. Girardi (2008, s/p) destaca duas correntes que abordam as definições urbano e rural: uma dicotômica, em que o campo se opõe à cidade; e outra de continuum, em que a industrialização é o elemento que aproxima o meio rural do urbano.

Dentre as diferentes perspectivas expostas por Girardi (2008, s/p), autores da abordagem dicotômica, como Sorokin, Zimmermann e Galpin (apud, GIRARDI, 2008, s/p), classificam as zonas através dos seguintes critérios:

(i) diferenças ocupacionais ou principais atividades em que se concentra a população economicamente ativa;

(ii) diferenças ambientais, estando a área rural mais dependente da natureza; (iii) diferenças no tamanho das populações;

(iv) diferenças na densidade populacional;

(v) diferenças na homogeneidade e na heterogeneidade das populações; (vi) diferenças na diferenciação, estratificação e complexidade social;

(vii) diferenças na mobilidade social e (viii) diferenças na direção da migração.

A abordagem do continuum também vê campo e cidade como áreas diferentes, porém numa relação gradativamente intensificada. Conforme Girardi (2008, s/p), nessa perspectiva, aparecem duas vertentes: uma que se focaliza no urbano se transbordando e, por isso, considerando o meio rural como algo em decadência132, determinando seu fim; e por outro lado, uma vertente que procura conjugar os dois meios, estabelecendo não o que muitos autores consideram como um “rural urbanizado”, mas um meio rural transformado também pela ação do tempo no aprimoramento de técnicas (sejam elas agrícolas, pecuárias, etc.) e da evolução das tecnologias, dos sistemas financeiros, dos meios de comunicação, etc.

Numa perspectiva mais dicotômica, o IBGE aponta “oito classes de localização da área de domicílio nos censos para contabilizar a população rural e urbana”, como apresenta Girardi (2008, s/p). A população urbana, conforme os critérios do IBGE, é aquela que ocupa:

(a) Áreas urbanizadas de cidades ou vilas: são aquelas legalmente definidas como urbanas, caracterizadas por construções, arruamentos e intensa ocupação humana; as áreas afetadas por transformações decorrentes do desenvolvimento urbano, e aquelas reservadas à expansão urbana.

(b) Áreas não-urbanizadas de cidades ou vilas: são aquelas legalmente definidas como urbanas, caracterizadas por ocupação predominantemente de caráter rural. (c) Áreas urbanas isoladas: “áreas definidas por lei municipal, e separadas da sede municipal ou distrital por área rural ou por um outro limite legal.”

A população rural, por sua vez, é classificada através de outros cinco tipos de localizações da área:

(a) Aglomerado de extensão urbana: são os assentamentos situados em áreas fora do perímetro urbano legal, mas desenvolvidos a partir da expansão de uma cidade ou vila, ou por elas englobados em sua expansão. Por constituírem uma simples extensão da área efetivamente urbanizada, atribui-se, por definição, caráter urbano aos aglomerados rurais deste tipo. Tais assentamentos podem ser constituídos por loteamentos já habitados, conjuntos

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Mesmo que não seja generalizável, “o meio rural brasileiro já não pode mais ser analisado apenas como o conjunto das atividades agropecuárias e agroindustriais, pois ganhou novas funções. O aparecimento (e a expansão) dessas “novas” atividades rurais – agrícolas e não agrícolas, altamente intensivas e de pequena escala – tem propiciado outras oportunidades para muitos produtores que não podem mais serem chamados de agricultores ou pecuaristas e que, muitas vezes, não são nem mesmo produtores familiares, uma vez que a maioria dos membros da família está ocupada em outras atividades não-agrícolas e/ou urbanas.” (SILVA apud GIRARDI, 2008, s/p.)

habitacionais, aglomerados de moradias ditas subnormais ou núcleos desenvolvidos em torno de estabelecimentos industriais, comerciais ou de serviços.

(b) Povoado: é o aglomerado rural isolado que corresponde a aglomerados sem caráter privado ou empresarial, ou seja, não vinculados a um único proprietário do solo (empresa agrícola, indústrias, usinas, etc.), cujos moradores exercem atividades econômicas, quer primárias (extrativismo vegetal, animal e mineral; e atividades agropecuárias), terciárias (equipamentos e serviços) ou, mesmo, secundárias (industriais em geral), no próprio aglomerado ou fora dele. O aglomerado rural isolado do tipo povoado é caracterizado pela existência de serviços para atender aos moradores do próprio aglomerado ou de áreas rurais próximas. É, assim, considerada como critério definidor deste tipo de aglomerado, a existência de um número mínimo de serviços ou equipamentos.

(c) Núcleo: é o aglomerado rural isolado vinculado a um único proprietário do solo (empresa agrícola, indústria, usina, etc.) dispondo ou não dos serviços ou equipamentos definidores dos povoados. É considerado, pois, como característica definidora deste tipo de aglomerado rural isolado, seu caráter privado ou empresarial.

(d) Outros aglomerados: são os aglomerados que não dispõem, no todo ou em parte, dos serviços ou equipamentos definidores dos povoados e que não estão vinculados a um único proprietário (empresa agrícola, indústria, usina, etc.).

(e) Área rural exceto aglomerado: são as áreas não classificadas como urbanas ou aglomerados rurais.

Não muito distante do teor dessas classificações, a Prefeitura de Caxias do Sul em seu Plano Diretor, pela lei complementar nº 290, artigos 7º a 10º, de 24 de setembro de 2007, classifica área rural e urbana133.

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Art. 7º A zona urbana do Município é composta pela área urbana que integra o Primeiro Distrito bem como pela área urbana dos demais distritos destinada a abrigar, prioritariamente, atividades urbanas afetas ao desenvolvimento da cidade.

Art. 8º A zona urbana do Primeiro Distrito apresenta três escalas:

I - regiões administrativas: divisão da área urbana em unidades que permitam a sua melhor estruturação no atendimento das diretrizes de escalonamento;

II - bairros: unidades que agrupam um ou mais parcelamentos para a qualificação na implantação das políticas do escalonamento urbano; e

III - loteamentos: divisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias públicas ou logradouros públicos, ou com prolongamento, modificação ou ampliação das vias públicas ou logradouros públicos existentes.

§ 1º As regiões administrativas são divididas em bairros.

§ 2º O centro de região administrativa tem a finalidade de incentivar o desenvolvimento da densificação populacional e de atividades de comércio e prestação de serviços.

Art. 9º A zona rural é composta pela área rural do Primeiro Distrito e pela área rural dos demais distritos, compreendendo a porção do Município destinada a abrigar as atividades produtivas primárias, agroindustriais, residenciais e de serviços relacionados à área da saúde, terapêuticos e geriátricos, admitindo atividades urbanas para atendimento das comunidades rurais e aquelas voltadas ao lazer e ao turismo.

As tentativas de definição de rural/urbano existem desde o período pós-industrial, quando, em função de suas práticas econômicas e culturais, se gerou um status quo urbano em transição. A zona rural atualmente não precisa necessariamente estar apenas ligada às atividades agropecuárias, afinal “o desenvolvimento torna as famílias rurais cada vez mais pluriativas e multifuncionais, sem que sejam rompidos muitos de seus laços com sítios e fazendas” (VEIGA, 2002, p.88).

Além disso, há uma constante adaptação da nova zona rural, baseada no que Pozenato (1990, p. 98) chama de “mecanismo de filtragem”, onde elementos da cultura “nova” (a urbana em relação à tradicional rural) são percebidos e inseridos ou não pela sociedade pré- existente (no caso, a rural), coordenados racionalmente tanto por critérios como apego e fidelidade às tradições, como os sentimentos envolvidos na produção e propriedade da terra; tal como as lentas adaptações à economia agressiva imposta pela cidade. Assim, Pozenato (1990) trata dos níveis de adaptação urbana a que um sujeito rural está exposto e muitas vezes é pressionado a se tornar: “o camponês rejeita determinada coisa, não porque objetivamente ela o prejudica, mas porque dentro da ordem de representações dele, ela não se encaixa, não tem espaço, não faz sentido” (p. 99).

Pozenato (1990, p. 95) alerta também para as transformações do mundo rural. Este está se tornando um ambiente nostálgico, origem de elucidações bucólicas na literatura e de idealizações teóricas nos estudos antropológicos, pois “quando se observa o mundo rural, não com a perspectiva de recuperar um paraíso perdido ou em vias de perdição, mas com a perspectiva de tentar compreender, analisar o processo”, há uma catalisação de sentimentos de pena. Esse sentimento, conforme o autor, tem surgido nos teóricos da área nos últimos 30 anos, ao verificarem que “as coisas (estão) se modificando, se transformando, desaparecendo” (POZENATO, 1990, p. 95). Isso reflete, sobretudo, uma constante desfragmentação de um sistema de valores e costumes que se estruturava ideologicamente em determinadas comunidades, resultado de construções culturais estabelecidas através do tempo em grupos que consentiam suas racionalidades na sociedade, dentro do que o autor sugere como “princípio da intersubjetividade” (p. 52).

Noutra perspectiva, a antropóloga Carneiro (1998) estudou as organizações sociais dos jovens nos campos e nas cidades, comparando uma cidade do Rio Grande do Sul e outra do Rio de Janeiro, no início da década de 90. A autora constatou, para aqueles que optam ou são forçados a sair do meio rural para estudar ou trabalhar nas “cidades”, que não há um Art. 10º Os distritos e respectivas sedes distritais obedecerão às regras estabelecidas na presente Lei, até a elaboração de planos diretores distritais específicos.

desligamento absoluto da região de origem, mas uma constante readaptação de valores assim como busca pela conciliação entre diferentes culturas:

A migração, temporária ou definitiva, para a cidade expõe os jovens ao contato com um sistema variado de valores que são absorvidos, ou rejeitados, atuando tanto no sentido de reforçar os laços identitários com a cultura original quanto no sentido de negá-los. Essa mobilidade simbólica, que permite sentir-se pertencente a uma e a outra cultura, supõe uma margem de negociação entre níveis distintos da realidade, como por exemplo entre os valores da chamada "cultura italiana", ou simplesmente "a nossa cultura", associados às relações afetivas com a família; e um projeto individualizado que pressupõe uma autonomia face às redes familiares e uma relação impessoal com o mercado de trabalho e outros setores da sociedade. (CARNEIRO, 1998, 21-22)

Reitera-se, a partir disso, uma possibilidade de integração entre as duas realidades quando o

conflito entre os interesses familiares e os projetos individuais resulta em negociações que têm como referência um sistema de valores que combina o universo simbólico "tradicional" - mantido e atualizado pela família - e os da "modernidade", adquiridos na sociabilidade da cidade. (CARNEIRO, 1998, p. 26)

As trocas simbólicas entre as zonas urbana e rural se constituem na aceitação e valorização da sociedade pré-existente (nos casos estudados, a zona rural), onde os indivíduos consideram ou não aspectos econômicos e, inevitavelmente, culturais da zona vizinha, baseados na simples dicotomia entre aceitação e rejeição. Nesse caso, acontece o processo de “rurbanização”, discutido inicialmente por Gilberto Freyre (1956) em estudo que expunha sua preocupação com relação à educação “desnivelada” entre região urbana e rural em Pernambuco. O autor idealiza a educação como meio de unificação entre sujeitos urbanos e rurais, mesclando, de maneira aparentemente forçada, as duas culturas:

É nêsse esfôrço (sic) de transferência de valores urbanos, ou de sua transregionalização - vá o neologismo - para espaços rurais, que devemos nos empenhar com o nosso melhor ânimo, num Estado, como o de Pernambuco, que vem há anos sofrendo do que já se denominou de inchação recifense. Inchação recifense acompanhada de depauperação do interior rural. [...] A rurbanização do ensino - dos seus temas, dos seus métodos, das suas práticas - não para opor-se a extrema idealização da vida rural à glorificação da urbana, mas para procurar-se dar ao ensino nacional, regional ou estadual, o seu verdadeiro sentido de ensino íntegro e harmônio, que se empenhe tanto na valorização dos homens e das coisas rurais quanto na valorização dos homens e das coisas urbanas, considerando-as complementares. (s/p)

Numa perspectiva social com preocupações de ordem ecológica, Freyre estabelece teoricamente uma mediação entre os conceitos-polos, no caso rural e urbano, possibilitando a hibridização dessas duas zonas, como destaca Froehlich (2000):

O processo de „rurbanização‟ pregado por Freyre viria para possibilitar uma real integração dos espaços nacionais, diminuindo desigualdades e ampliando as

possibilidades de contatos culturais, recreativos, econômicos e sociais, caracterizando-se por uma política sistemática de integração (s/p).

Portanto, observou-se que os elementos culturais de uma determinada região, expressos através do tipo de trabalho, de influências midiáticas e de aspectos ligados aos costumes e valores, como elementos do “princípio da intersubjetividade”, conforme Pozenato (1990), são o meio com o qual podem ser definidas essas zonas, construindo um conjunto de sinais que compõem um significado (POZENATO, 1990, p. 19). Essas manifestações culturais fornecem aos pesquisadores elementos das experiências estéticas, possivelmente oriundas de outras experiências corporais, tais como sensoriais e perceptivas, que traduzem a legitimação de determinados signos. Cada indivíduo manifestará, por sua vez, aspectos, histórias, influências que a comunidade com que ele teve mais contato proporcionou.

A revisão teórica dos tipos de comunidade aqui levantada não visa apenas à classificação das zonas, mas primordialmente à classificação dos sujeitos que as compõem. É por meio da análise dos fatores subjacentes a cada indivíduo, que a categoria se torna válida para a pesquisa. Para isso, seguimos como critérios de seleção dos sujeitos-informantes das entrevistas, os seguintes elementos:

(i) o tipo de atividade econômica em que o indivíduo se envolve;

(ii) que elementos culturais são mais pertinentes na formação sociocultural do sujeito e (iii) como o sujeito se autodenomina, ou seja, se incorpora o estereótipo do colono, se vive o multipluralismo do urbano ou se se situa entre os dois ambientes (em que o próprio indivíduo dizia: “eu sou da zona rural”, “eu sou colono”, “eu sou urbano”, “sempre vivi na cidade”, etc.).

Os limites de zona urbana e rural delimitados de forma geográfica, política ou jurídica não forneceram, portanto, elementos classificatórios suficientes na busca e na seleção de sujeitos. Com relação à seleção dos sujeitos, a maior dificuldade de classificação encontra-se com relação aos sujeitos denominados rurbanos. Três sujeitos da amostra, categorizados inicialmente como indivíduos da zona urbana, viveram sua infância e adolescência na zona rural, ou seja, tiveram sua formação cultural no campo/na colônia e, depois da maioridade, cursaram Ensino Médio e/ou Superior na zona urbana, passando a residir e trabalhar nela, assim como os exemplos apresentados por Carneiro (1998). Esses indivíduos não perderam contato com o meio rural, fazendo desse espaço a principal fonte de seu lazer e local onde, semanalmente, visitam seus familiares, participam de atividades da comunidade, organizam eventos nas paróquias, etc. Esse contato sazonal, promovido pela constante troca de zonas, mostrou que os aspectos culturais do rural juntamente com a perspectiva urbana de condução

das atividades profissionais estão mescladas, principalmente, nesses indivíduos que, por isso, foram classificados como rurbanos.

Considera-se, portanto, que os processos culturais, conforme Barrios (1986, p. 14), são uma das ações que promovem a geração de “representações, valores, modelos, interesses, aspirações, crenças e mitos interdependentes, os quais incidem sobre a prática do cotidiano e obrigam a decidir entre duas opções: manter e reproduzir a ordem existente ou transformá-la em novas maneiras de fazer e pensar”. É numa relação dialética com o espaço que o homem estabelece sua consciência do mesmo, ou seja, conforme Moraes (1986, p.45), o homem estabelece uma “apropriação intelectual do espaço [que] deverá ser posta como momento necessário da „construção‟ do espaço material, num processo dinâmico e contínuo da relação sociedade/espaço”. Nessa construção do espaço com o espaço, há aqueles indivíduos que transitam entre os dois, recolhendo deles as construções culturais e ideológicas que o constituem identitariamente indivíduos rurais, urbanos e rurbanos.

2.2 LINGUÍSTICA COGNITIVA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA: A QUESTÃO DOS