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3. METODOLOGIA

3.4. Procedimentos de análise

Considerando a utilização da Teoria das Representações Sociais como fundamento teórico para a realização deste estudo e da abordagem qualitativa como guia metodológico, pautada numa concepção de ciência que reconhece o papel ativo do sujeito na produção do conhecimento, optou-se, como foi mencionado anteriormente, pela utilização de entrevistas para a coleta de dados e informações. Para interpretar esses dados, recorreu-se como procedimento à análise de conteúdos, cujo objetivo é a busca do sentido ou dos sentidos de um texto.

A Análise de Conteúdo é considerada por Bardin:

Um conjunto de técnicas de analises de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens... A intenção da analise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e de recepção das mensagens, inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos, ou não) (BARDIN, 1977 apud FRANCO, 2003, p. 20).

A Análise de Conteúdo assenta-se nos pressupostos de uma concepção crítica e dinâmica da linguagem, é uma modalidade de interpretação que propõe formas de análise que possibilite extrair significados expressos ou latentes de um texto. Conforme Bardin (1988, p. 28), apelar para esses instrumentos de investigação laboriosa de documentos tem por pretensão rejeitar a “ilusão da transparência dos

fatos sociais, recusando ou tentando afastar os perigos da compreensão espontânea”,

o que exige uma atitude de “vigilância crítica”, rigor metodológico e o emprego de técnicas de ruptura adequadas.

Segundo Chizzotti (2006, p. 113), a Análise de Conteúdo “visa decompor as

unidades léxicas ou temáticas de um texto, codificadas sobre algumas categorias, compostas por indicadores que permitam uma enumeração das unidades e, a partir

Esse procedimento de análise das comunicações é considerado por Mazzotti

(1998, p. 170) como um “processo complexo, não linear, que implica um trabalho de

redução, organização e interpretação dos dados que se inicia já na fase exploratória e

acompanha toda a investigação”. Nesse sentido, a contextualização assume um dos

principais requisitos, considerada por Franco (2003, p. 24) como o “pano de fundo” no sentido de garantir a relevância dos resultados.

De acordo com a análise do conteúdo das entrevistas, fundamentando-se em Franco (2003), os dados foram inicialmente organizados através de uma pré-análise. Essa autora, referenciando-se em Bardin (1977), indicou três incumbências que essa primeira fase deve cumprir: escolha dos documentos, formulação de hipóteses e, ou, dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final. Reconhece, no entanto, que esses três fatores não se sucedem segundo uma ordem cronológica, mas se mantêm estreitamente ligados uns aos outros.

A etapa de pré-análise do conteúdo das mensagens foi realizada através de: 1) leitura flutuante; 2) recorte das falas dos entrevistados, fundamentando nos eixos temáticos definidos pelos objetivos deste estudo; e 3) identificação dos indicadores, focalizando os respectivos contrastes e interfaces. Uma exemplificação do processo de tabulação dos dados e de pré-análise está apresentada no Apêndice E.

Posteriormente, realizou-se a categorização semântica, considerada por

Franco (2003, p. 51) como “uma operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios definidos”. Esse processo de categorização subsidiou a análise dos dados e possibilitou as inferências acerca das representações dos entrevistados.

A categorização, previamente definida, partiu dos indicadores identificados a partir dos eixos temáticos, que por sua vez emergiram dos objetivos deste estudo: ser professor, ser professor do ensino médio, experiências vivenciadas, interlocutores, espaços socioeducativos, saberes docentes constituídos, desafios e possibilidades vislumbrados nos contextos de formação. Houve uma categoria de análise que emergiu da fala dos entrevistados: organização e condições do trabalho docente. Estes se organizaram em três eixos temáticos de análise: ser professor, aprendizado profissional da docência, desafios e possibilidades no âmbito da aprendizagem profissional, conforme pode ser observado no Organograma 1.

Organograma 1 - Eixos da entrevista e eixos estruturantes de análise

Chizzotti (2006) considerou as categorias um “conceito ou atributo, com um grau de generalidade, que confere unidade a um agrupamento de palavras ou a um campo do conhecimento, em função da qual o conteúdo é classificado, quantificado,

ordenado ou qualificado” (p. 117). Elas são codificadas, uma vez que os dados brutos

são sistematicamente reunidos e condensados em unidades que permitam a descrição objetiva das características mais relevantes do conteúdo.

Segundo Mazzotti (1994), para que a pesquisa educacional possa ter maior impacto sobre a prática educativa, esta precisa adotar “um olhar psicossocial” e buscar compreender os processos simbólicos que ocorrem na interação educativa. Nesse sentido, considera-se que:

O estudo das representações sociais parece ser um caminho promissor para atingir esses propósitos, na medida em que investiga justamente como se formam e como funcionam os sistemas de referência que utilizamos para classificar pessoas e grupos para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana (MAZZOTTI, 1994, p. 60).

É importante ressaltar que a linguagem como expressão da existência humana que elabora e desenvolve representações sociais no dinamismo interacional é tomada como instrumento de investigação. São justamente os elementos de significação constitutivos da mensagem, possibilitados pela análise do seu conteúdo, que permitem produzir as inferências, no sentido de buscar responder à questão norteadora deste estudo, sobre a representação social dos professores do ensino médio acerca dos processos de constituição de sua aprendizagem profissional.