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Anteriormente, descrevemos procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa. O desenho de cada um dos procedimentos obedeceu à busca por indicadores de PDS nas crianças participantes, unidade de análise utilizada na presente pesquisa. Da mesma forma, buscamos indicadores que os pais e professoras pudessem informar sobre significações de si das crianças, durante as entrevistas. Os procedimentos de análise tomaram como base a análise microgenética (Branco & Valsiner, 1997). Inicialmente, com uma visão do todo, realizamos uma análise orientada por processos de abdução e, progressivamente, buscamos inferir das várias ações e expressões apresentadas indicadores de posicionamento pertinentes, aprofundando a análise, de maneira exaustiva, na dinâmica de significação das crianças participantes. Após finalizar a construção dos dados no Tempo 2, selecionamos as três crianças para os estudos de caso na Escola A do EF. Optamos por não incluir crianças da escola B porque essa escola atravessou por múltiplas mudanças com relação à professora. Os diferentes níveis de análises são descritos a seguir.

Nível 1: Transcrição

Foram transcritas todas as informações construídas nos procedimentos metodológicos dos Tempos 1 e 2 sobre cada criança da pesquisa, incluindo os pais e professoras. Estas transcrições forneceram um primeiro panorama sobre a riqueza das informações de cada uma. Este nível foi realizado com as sete crianças participantes da pesquisa. Foi criado um arquivo de Word para cada um dos procedimentos e pastas independentes para os Tempos 1 e 2. Posteriormente, revisamos cada um dos documentos transcritos, lendo, de forma geral, os achados. A partir dessa primeira revisão geral, foram selecionados três estudos de caso por conta da riqueza deles, relacionada à produção de indicadores de posicionamentos de si, assim como também pelas facilidades de ingresso da pesquisadora à instituição de EF. Os três estudos selecionados possuíam características diferenciadas quanto a suas trajetórias de desenvolvimento e à maneira de lidar com o processo de transição.

Nível 2: Análise de tópicos das narrativas

O objetivo deste nível foi identificar os temas centrais sobre os quais foi construída a narrativa das crianças em cada um dos procedimentos metodológicos que

Nível 1: Transcrição de todas as informações construídas nos procedimentos.

Nível 2: Análise de tópicos das narrativas.

Nível 3: Análise das interações.

Nível 4: Triangulação de informações.

envolviam narrativas da criança, dos pais e da professora, a saber, entrevistas individuais, escola de bonecos, diário de desenhos e contos. Os afetos e sentimentos associados a cada tópico eram fundamentais para destacar a qualidade das significações realizadas pelas crianças e pelos adultos. Por exemplo, no caso de Taís, no Tempo 1, os temas que mais se destacavam estavam relacionados à sua aceitação por parte dos colegas de sala de aula e à tristeza gerada pela ausência de seu pai. Já no Tempo 2, mudanças no interior dos mesmos temas e novos temas emergiram. Para realizar este nível de análise, construímos um protocolo de registro de informação com o tópico da narrativa como no Anexo 10.

O tópico de análise era definido com base nos temas principais sobre os quais a criança, pais ou professora construíam as narrativas. A descrição era retomada da transcrição literal e se fazia uma análise interpretativa sobre cada tópico descrito. No final da análise de cada procedimento, realizava-se uma síntese das emergências de posicionamentos nos tópicos analisados.

Nível 3: Análise das interações

Neste nível, foram transcritas e posteriormente analisadas todas as situações de interação nos vídeos, realizados em sala de aula, e as observações. O protocolo utilizado envolvia o número da sessão, o tópico sobre o qual se desenvolvia a interação, a descrição da interação e a análise (ver Anexo 11). Os tópicos foram agrupados em interações similares para realizar as análises e identificação dos Posicionamentos Dinâmicos de Si (PDS).

Após registrar as interações e analisá-las, realizava-se uma síntese dos tópicos que mais se destacavam e dos posicionamentos emergentes nesses tópicos.

Nível 4: Triangulação de informações

Neste nível, foram extraídos dos níveis 2 e 3 os posicionamentos emergentes em cada um dos procedimentos metodológicos, buscando regularidades e elementos de maior destaque. Os aspectos afetivos presentes nas narrativas e interações foram fundamentais na triangulação das informações, pois representavam o valor que a criança ou o adulto estavam dando a um tópico específico. Foi criado um arquivo para cada criança, onde condensamos todas as informações referentes às análises interpretativas e aos possíveis posicionamentos identificados em cada uma.

Nível 5: Identificação de CAS, clusters e PDS.

Como iremos detalhar na seção dos Resultados, construímos um modelo para explicar a configuração do sistema de Self dialógico com conceitos, como Campos Afetivo-semióticos (CAS), clusters de significação e Posicionamentos Dinâmicos de Si (PDS). Esse modelo, que será explicado no início do Resultados, permitiu realizar uma análise detalhada da configuração inicial do sistema de Self, na EI, e das mudanças acontecidas com o ingresso das crianças no EF. Assim, identificamos, neste nível de análise, os CAS correspondentes a cada estudo de caso, com base nos posicionamentos que mais se destacavam e que pareciam ter as maiores cargas afetivas. Por exemplo, no caso de Taís, vimos que o aspecto que mais predominava estava relacionado à ambivalência da criança entre ser aceita e ser rejeitada, o que levou a definir a oposição ‗A t o vs R j o‘ omo um Campo Afetivo-Semiótico importante para a menina. Neste CAS, o ompon nt ‗A t o‘ r pr s nt um cluster (ou polo) de significação, ou seja, ele agrupa um conjunto de significados associados similares entre si. Em cada um desses clusters, circulam, então, os Posicionamentos Dinâmicos de Si (PDS) característicos daquela criança, que foram, assim, identificados e analisados neste último nível de análise, antes de passarmos à Discussão dos três estudos de caso.

4.6 A Construção de Conceitos Teórico-Analíticos: Campos Afetivos-Semióticos