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3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA O ESTUDO DA INTERTEXTUALIDADE E

4.2 Procedimentos de Análise

A partir dos teóricos em que nos apoiamos para a construção do corpus (CHARAUDEAU, 2011; CRESWEL, 2010; MAINGUENEAU, 2011), para o entendimento da intertextualidade em geral e da intertextualidade na forma de citação em particular (KOCH, BENTES, CAVALCANTE, 2012), da divulgação científica midiática (CHARAUDEAU, 2016) e, ainda, da identificação das fontes dos discursos citados (CHARAUDEAU, 2013; MAINGUENEAU, 2011), partimos para a composição dos nossos procedimentos de análise:

i. Analisar as ocorrências de intertextualidade na forma de citação em situação geral e em situação específica de comunicação (a Revista Galileu online, aba ciência), caracterizada pelas condições de finalidade

(as visadas de informação e captação), de identidade dos parceiros (divulgador e destinatário-alvo) e da temática posta em discussão. ii. Descrever, classificar os discursos citados:

a) Discurso direto (com aspas, sem aspas)63

b) Discurso indireto64

c) Modalização em discurso segundo (segundo X, para X, etc.) d) Ilha textual

e) Representar em quadro específico a discriminação dos discursos citados. Esse levantamento quantitativo é muito produtivo para a consolidação da análise qualitativa. Em termos qualitativos, ao final de cada análise apresentamos um quadro resumidor do resultado. Esses quadros compreendem os tipos de discurso (“discurso direto”, “discurso indireto”, “modalização em discurso segundo” e “ilha textual), e as categorias “efeito valorativo”, “modo de identificação” e “visadas”. iii. Observar e analisar as ocorrências dos fins discursivos do DCM:

a) Visada de informação (presença de estratégias de credibilidade e de legitimidade nos argumentos de autoridade)

b) Visada de captação (presença de estratégias de emotividade nos títulos, subtítulos e primeiros parágrafos)

iv. Analisar os discursos citados (ii) observando como estão sujeitos às finalidades “fazer saber” e “fazer sentir” para inscrever a ciência na Revista Galileu online. Lembremos que as análises seguem uma lógica interpretativa que contempla: os três domínios discursivos na intersecção dos quais se situa o DCM, o discurso cientifico, o didático e o midiático; a restrição de seriedade (visada de informação), a restrição de emocionalidade (visada de captação); os efeitos produzidos (autenticidade, distanciamento, objetividade, seriedade) pelos discursos citados; a construção de estratégias de legitimação, credibilidade e captação pela intertextualidade na forma de citação.

63 Não incluiremos outras modalidades de discurso direto como o enunciador genérico e o discurso

direto livre. (MAINGUENEAU, 2011, p. 146-148).

64 Não incluiremos o discurso indireto livre nem o resumo com citações apontados por Maingueneau

(2011, p. 152-154). Contudo, incluiremos outras variantes de discurso indireto usadas nas notícias, as quais, embora não tenham sido exemplificadas por Maingueneau, são reconhecidas por ele: “Com o discurso indireto, o enunciador citante tem uma infinidade de maneiras para traduzir as falas citadas [...]”. (MAINGUENEAU, 2011, p. 149).

Apresentamos as categorias e subcategorias que compreendem as etapas de pesquisa que vão desde a leitura cuidadosa dos textos até a interpretação última do corpus. Em busca de respostas a nossas perguntas de pesquisa, consideramos satisfatórias as etapas acima, uma vez que levantar uma (possível) relação entre a intertextualidade e as finalidades discursivas (“fazer saber” e “fazer sentir”) constitui uma tarefa complexa.

Todo esse processo corre pelos trâmites que nos exigem uma descrição das citações; em seguida, cientes dos propósitos dos fins discursivos do DCM, submetermos o corpus à análise, ou seja, investigar até que ponto as citações estão sujeitas às visadas de informação e captação do DCM na Galileu online. Noutros termos, indagamos: “Em que medida a intertextualidade serve às visadas de informação e captação do discurso de midiatização da ciência?”

Uma vez que a intertextualidade sempre está ligada a uma fonte, inserimos na pesquisa um estudo sobre a denominação dos atores convocados para falar nas notícias. Como diz Charaudeau (2013, p. 170), “O problema que se coloca aqui, para o consumidor de informação, é saber o crédito que pode dar a uma informação cujo locutor de origem é designado de maneira coletiva, anônima ou vaga [...]”.

No próximo capítulo, procedemos à análise do corpus a partir do exame da intertextualidade e sua relação com a dupla visada de informação e captação do discurso midiático.

5 ANÁLISE DO

CORPUS

Nossa pesquisa traz como objeto de estudo notícias de divulgação científica produzidas pela Revista Galileu online no ano de 2016. Conforme esclarecemos na metodologia, submetemos à análise somente o critério intertextualidade na forma de citação no quadro de instruções da situação de comunicação do discurso midiático. (CHARAUDEAU, 2010).

Nosso corpus é composto de 20 notícias cujos resultados quantitativos resultaram em 57 discursos diretos com aspas, 6 discursos diretos sem aspas, 34 discursos indiretos, 24 modalizações em discurso segundo e 6 ilhas textuais, conforme demonstramos na tabela abaixo (a numeração à esquerda corresponde à ordem das notícias apresentadas na metodologia). Antes, porém, esclarecemos que a quantidade (20 textos) encontra justificativa no fato de que os textos da Galileu online apresentam um traço bastante frequente65, o discurso relatado em todos eles. Assim, 20 textos são

suficientes para representar essa singularidade do corpus geral e, por decorrência, 4 textos bastam não só para sustentá-la (a singularidade), mas também para representar os 4 temas (astronomia, pesquisa, saúde, meio ambiente) com quatro autores diferentes.

Tabela 1 - O discurso relatado

TEXTOS DISCURSO DIRETO DISCURSO

INDIRETO MDS ILHA TEXTUAL

Com aspas Sem aspas

[1] 04 - 03 02 01 [2] 02 - 03 02 - [3] - - 05 01 - [4] 03 - 01 03 - [5] 02 - 01 - - [6] 01 - 02 01 - [7] 01 01 01 01 - [8] 04 - - 01 - [9] 01 - 02 02 02 [10] 02 - 01 - - [11] 02 - 09 01 -

65 A propósito, diz Sardinha: “Em dois estudos, ele enfoca especificamente a questão do número de textos

mínimos para se constituir uma amostra representativa. No primeiro, Biber (1990) comparou as frequências de vários traços linguísticos em amostras de vários tamanhos, e computou correlações entre as amostras pequenas e o corpus. As correlações indicaram que as amostras de 10 textos mantiveram as características dos traços em questão conforme aparecem no corpus. Portanto, uma amostra de 10 textos seria suficiente para representar o corpus”. (Sardinha, 2002, p. 107).

[12] 02 - 01 - - [13] - - 02 - 01 [14] 05 - 01 - - [15] 04 - - 01 - [16] 03 - - - - [17] 09 02 01 05 01 [18] 01 - - - - [19] 08 01 01 03 - [20] 01 02 - 01 01 Total 57 06 34 24 06

Fonte: Elaborado pelo autor.

Diante deste levantamento das citações, cabe uma pergunta: “Quem fala na Galileu online?” Praticamente sem exceção, todas as citações estão relacionadas a vozes que representam a ciência. São pesquisadores, coletiva ou individualmente falando, instituições, agências, os próprios resultados científicos representados por seus responsáveis; relatórios, ou vozes de profissionais cuja autoridade lhes permite representar o conhecimento científico. No decorrer da pesquisa, os locutores de origem vão merecer o devido comentário segundo o ponto de vista que o locutor produtor lhes atribuir, além de terem sua identidade revelada nos quadros de apresentação dos discursos relatados no final de cada análise das notícias.

Para o estudo qualitativo, selecionamos 4 notícias: (i) “Voltar à Terra é como ter a pior ressaca do mundo”, diz astronauta (Nathan Fernandes – jun. 2016 – anexo a); (ii) Quase dois terços dos brasileiros nunca poderão ver a Via Láctea (Lucas Alencar – jun. 2016 – anexo b); (iii) 7 provas de que ler faz bem para sua saúde (Humberto Abdo – dez. 2016 – anexo c); (iv) Oceanos em 2050 vão ter mais plásticos do que peixe (Agência Brasil – jan. 2016 – anexo d).66

5.1 Análise da Notícia “Voltar à Terra é como ter a pior ressaca do mundo’, diz