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A pesquisa foi desenvolvida no ano letivo de 2015, de março a novembro, por aproximadamente 90 dias letivos, num total 280 horas. Após a escolha da instituição de educação infantil, que foi realizada com base na confirmação da matrícula de criança surda na mesma fizemos, inicialmente, o contato por telefone com a instituição e o agendamento de uma visita de apresentação e esclarecimento com a direção.

Essa conversa teve o intuito de apresentar a pesquisa e seus objetivos. Foi entregue uma cópia impressa do projeto e fomos comunicadas de que haveria uma reunião com a equipe, com discussão sobre a realização da pesquisa e, depois, a direção

retomaria o contato. Nesse primeiro contato, fomos apresentadas ao espaço físico da escola e a alguns profissionais que encontramos durante esse primeiro momento.

Na visitação, a intenção foi explicar sobre a pesquisa, seus os objetivos, as ações pretendidas, além de ouvir as dúvidas e pontuações dos profissionais da instituição. Sentamos com os profissionais da educação especial (professora bilíngue e professora surda) para uma breve conversa sobre a trajetória da escola e as vivências em anos anteriores com as crianças surdas.

Aguardamos o retorno da instituição, que foi realizado após a análise da pesquisa pelos seus profissionais. Quando autorizadas pela direção, esclarecemos a toda a equipe da instituição sobre a investigação e sobre os procedimentos a serem utilizados. Encaminhamos para aprovação o termo de consentimento livre e esclarecido e agendamos as observações, filmagens e entrevistas.

Retornamos também a conversa com a equipe bilíngue sobre a frequência e atendimentos direcionados às crianças surdas e aproveitamos para organizar, minuciosamente, as nossas ações na instituição de educação infantil.

No período matutino, havia a frequência de uma criança surda, que já estava na escola há mais de um ano. Nesse período, essa criança participava do grupo III/ IV e no período vespertino participava do programa escola de tempo integral e do AEE.

A outra criança surda iniciou seus estudos em abril na instituição e frequentava o Grupo II, durante o ano a equipe bilíngue conversou com a família sobre o contraturno para o AEE, condicionando-o ao período adaptação da criança àquela instituição de educação infantil. Após esse período, os pais foram comunicados várias vezes e perguntados sobre o motivo pelo qual não estavam comparecendo, se era preciso alterar o dia ou algo do tipo para que esse atendimento acontecesse, mas não obtiveram resposta. Acompanharíamos também essa criança no contraturno alguns dias, porém até o mês de novembro de 2015, essa criança ainda não havia comparecido ao contraturno para esse atendimento.

Desde o início da nossa presença na instituição, procuramos nos informar sobre a organização dos espaços e tempos, não nos preocupando somente com a

observação dos processos, mas colocando-nos também como participantes nos planejamentos, nas oficinas de Libras, nos projetos nas turmas e nos encontros com pais ou responsáveis.

Lembramos que todo o procedimento metodológico da pesquisa, isto é, o passo a passo, foi informado e acordado com o grupo, ficando algumas decisões a nosso cargo.

Percebemos que as famílias eram bem participativas, pois parecia existir um bom diálogo entre instituição e família. Provavelmente, isso foi possível em virtude de algumas atividades desenvolvidas com as famílias, o que confirmamos com a nossa participação no planejamento e de outras formas (como a proposta de momento com os pais e de encontros da equipe da educação especial com as famílias, momentos tivemos também oportunidade de acompanhar).

Além do nosso envolvimento com as atividades, de planejamento e outras, optamos por acompanhar o processo de acolhimento de uma das crianças surdas, que ainda fazia uso da fralda e o seu vínculo com o “travesseirinho”.

No decorrer da pesquisa, fomos percebendo o interesse dos profissionais da instituição pelo seu desenvolvimento, especialmente o da diretora, que sempre demonstrava esse interesse ao perguntar sobre ela. Consideramos que tal interesse demonstrava uma forma de acolhimento do trabalho realizado e não um controle sobre o processo, pois nos parecia ser realizado de forma descontraída e não havendo necessidade que relatássemos detalhes e, além disso, porque fomos convidadas a participar de todos os eventos da escola.

Vale ressaltar os desafios e potencialidades na pesquisa, do contato com essas realidades, mas, acima de tudo, com as crianças, em uma instituição que já tem vivências e experiências com crianças surdas. Os dois são filhos de pais ouvintes, ambos com irmãos surdos mais velhos, o que nos fez deparar com infâncias tão significativas e singulares.

Inicialmente, fomos quatro vezes por semana na escola para conhecer, observar e conhecer a rotina, os profissionais e o funcionamento da instituição.

Fomos identificadas como pertencentes à equipe de educação especial, portanto, orientadas a guardar os materiais na SRM. Além disso, em alguns momentos, fomos solicitadas e, em outros momentos, também nos colocamos à disposição para contribuir nas atividades e nos repasses de recados aos professores, etc. Percebemos que, por causa de nossa trajetória profissional e dos nossos conhecimentos, o lugar destinado a nós na instituição era o da equipe de educação especial. Pudemos confirmar essa nossa suposição com alguns enunciados como esse que destacamos a seguir: “Ah, é pesquisa sobre surdos, então é com a equipe bilíngue”.

Inicialmente, pareceu-nos que havia uma divisão ou uma ocupação de espaço que indicava quem eram os profissionais da escola e que eram os profissionais da equipe bilíngue. Essa divisão também podia ser interpretada da seguinte forma: quem trabalha com os estudantes e quem trabalha com os surdos. Isso indicava, possivelmente, uma concepção, por parte desses profissionais, de que os surdos não são estudantes, consequentemente, quem estaria autorizada a falar sobre eles era somente a equipe bilíngue.

Realizamos observações participativas na sala de atividades, nos momentos das atividades de artes e de educação física, no refeitório, no pátio, no parquinho e em algumas atividades na sala de informática. Em comparação com os outros momentos observados, as atividades na sala de informática foram as mais reduzidas, pois concentramos as observações em dias em que pudéssemos observar na sala de atividades e o AEE desenvolvido na SRM.

As oficinas de Libras aconteciam nas sextas-feiras, porém, havia certa flexibilidade de acordo com o planejamento. O reconhecimento e a credibilidade em relação ao trabalho da equipe bilíngue eram bem visíveis em função da mobilidade que a equipe tinha com as professoras regentes e os dinamizadores (artes, educação física, informática). Penso que esse reconhecimento e essa credibilidade por parte dos profissionais da instituição só potencializavam o trabalho dessa equipe. No

entanto, isso não nos pareceu suficiente para confirmar que o trabalho realizado não tinha suas contradições, mas destacamos de antemão que o diálogo entre direção, pedagogas, professoras regentes e equipe bilíngue (professora surda e professora bilíngue) parecia-nos favorecedor à educação das crianças surdas.

Destacamos aqui também a questão da frequência das crianças nessa instituição de educação infantil: No primeiro semestre, notamos que as duas crianças ainda faltavam, houve dias em que estivemos na instituição, porém uma ou outra não estava e, às vezes, até as duas não estavam. Então, aproveitávamos para observar a rotina sem a presença delas.

Foi-nos possível sintetizar a organização da rotina dos atendimentos vivenciada pelas crianças e profissionais da instituição em um quadro:

Turno Lanche/Almoço Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Manhã G III/IV Maria Lanche- 07:20 Almoço- 09:30 07:40 Pátio 10:10 Ed. Física 07:20 Artes 08:10 Ed. Física 10:10 Artes 09:50 Informática 07:20 Ed. Física 10:00 Pátio Tarde Integral/ Lúcia Lanche – 13:20 Jantar – 15:20 14:10 Artes 16:00 Pátio 15:20 Artes 14:10 Ed. Física 15:20 Ed. Física 14:10 Ed. Física 14:10 Informática AEE Janaina e Elaine

AEE AEE AEE Planejamento (PL) Oficinas de Libras Tarde G II Andréia/ Suzana Lanche – 13:20 Jantar – 15:20 16:10 Ed. Física 13:20 Ed. Física 14:10 Pátio 16:10 Artes 13:20 Ed. Física 14:10 Artes 16:10 Informática QUADRO I – Síntese da rotina dos atendimentos elaborado pela pesquisadora com base nos dados do CMEI

Percebemos que, nos momentos em que não estavam nas atividades específicas, especializadas e/ ou no refeitório (lanche/ almoço/ lanche/ jantar), as crianças se encontravam na sala de atividades. Os horários dos atendimentos especializados e

as demais atividades eram combinados entre os profissionais, a fim de garantir a alimentação e a participação das crianças em todas as atividades. Percebemos que existia uma negociação e uma flexibilidade quando os horários de alimentação ficavam próximos aos dos atendimentos especializados.

Os atendimentos pela equipe de educação especial, que envolvia a professora surda e a professora bilíngue, aconteciam de segunda a quarta-feira. Na quinta-feira ocorria o Planejamento (PL) e nas sextas-feiras eram realizadas as oficinas de Libras, elas aconteciam nas turmas das crianças surdas, com a duração de vinte a trinta minutos e com a participação de todos os colegas, das professoras regentes e dos auxiliares. Essa rotina parecia flexível, pois devia seguir o planejamento realizado entre equipe da educação especial, professores regentes e pedagogas.

A rotina também parecia ser organizada para que, em alguns momentos, as duas crianças atendidas pudessem participar de todas as atividades e ter a intervenção pedagógica ora da professora bilíngue ora da professora surda, bem como, dependendo da atividade, a participação das duas.

Notamos ainda que parecia fazer parte também de uma das intervenções e movimentos da equipe, a participação, em certas atividades de alguns momentos na aula de artes, educação física ou até mesmo de alguma atividade na sala de atividades, das duas crianças surdas, atividades essas que eram previamente planejadas.

Percebemos que, em função do desenvolvimento de práticas pedagógicas na sala de atividades, o AEE sofria alterações para que os professores pudessem atender a sala. Diante o exposto, organizamos e desenvolvemos nossa pesquisa na instituição de educação infantil.

Em linhas gerais, o primeiro momento foi o de conhecer a instituição e seus profissionais, solicitar autorização à direção, aos profissionais e aos familiares das crianças.

Em um segundo momento nos foi permitido realizar observações participantes dos diferentes espaços, sobretudo, da sala de atividades que as crianças frequentavam.

Ao adentrarmos na instituição, fomos desafiadas a analisar e compreender situações que se constituem no encontro entre contextos diversos (instituição/família/ trabalho/ comunidade), em que várias personagens estão, direta ou indiretamente, envolvidas (crianças, familiares, professores, pedagogos, Secretaria de Educação), cada qual com perspectivas próprias.

Assim, fomos preliminarmente convocadas a pesquisar e compreender os sentidos e significados produzidos, as relações dialógicas desenvolvidas, a constituição da história e do contexto local, entre outras coisas, para, dessa forma, tentar estabelecer relações e propor ideias para o entendimento da dinâmica de funcionamento do lócus de investigação e seus componentes.