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CAPÍTULO V PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

5.8. Procedimentos da análise da informação recolhida

Os dados resultantes das entrevistas da análise documental e da observação são objetos de análise de conteúdo como produtos naturais (oral-textuais) e documentais construídos no decurso da recolha de dados. Segundo Olabuenaga e Ispizúa (1989) a análise de conteúdo é uma técnica para ler e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos, que analisados adequadamente nos abrem as portas ao conhecimento de aspectos e fenômenos da vida social de outro modo inacessíveis. A matéria-prima da análise de conteúdo pode constituir-se de qualquer material oriundo de comunicação verbal ou não-verbal, como cartas, cartazes, jornais, revistas, informes, livros, relatos autobiográficos, discos, gravações, entrevistas, diários pessoais, filmes, fotografias, vídeos, etc. Contudo os dados advindos dessas diversificadas fontes chegam ao investigador em estado bruto, necessitando, então ser processados para, dessa maneira, facilitar o trabalho de compreensão, interpretação e inferência a que aspira a análise de conteúdo.

Conforme autores supra a análise de conteúdo em sua vertente qualitativa, parte de uma série de pressupostos, os quais, no exame de um texto, servem de suporte para captar seu sentido simbólico. Este sentido nem sempre é manifesto e o seu significado não é único. Poderá ser enfocado em função de diferentes perspectivas. Por isso, um texto contém muitos significados e, exige um esforço mental e intelectual, pois: (a) o sentido que o autor pretende expressar pode coincidir com o sentido percebido pelo leitor do mesmo; (b) o sentido do texto poderá ser diferente de acordo com cada leitor; (c) um mesmo autor poderá emitir uma mensagem, sendo que diferentes leitores poderão captá-la com sentidos diferentes; (d) um texto pode expressar um sentido do qual o próprio autor não esteja consciente. Além disto, é importante salientar que sempre será possível investigar os textos dentro de múltiplas perspectivas, conforme expressa

Krippendorf, 1990, p.30) que ―em qualquer mensagem escrita, simultaneamente, podem ser computadas letras, palavras e orações; podem categorizar-se as frases, descrever a estrutura lógica das expressões, verificar as associações, denotações, conotações e também podem formular-se interpretações psiquiátricas, sociológicas ou políticas‖.

Enquanto que Moraes (1999) diz que deve-se ainda lembrar que, embora o consenso ou o acordo intersubjetivo sobre o que significa uma mensagem simplifique a análise de conteúdo, essa coincidência dos significados não é indispensável. Os valores e a linguagem natural do entrevistado e do pesquisador, bem como a linguagem cultural e os seus significados, exercem uma influência sobre os dados da qual o pesquisador não pode fugir. De certo modo a análise de conteúdo, é uma interpretação pessoal por parte do pesquisador com relação à percepção que tem dos dados. Não é possível uma leitura neutra. Toda leitura se constitui numa interpretação.

Conforme Caregnato e Mutti (2006) a maioria dos autores refere-se à análise de conteúdo (AC) como sendo uma técnica de pesquisa que trabalha com a palavra, permitindo de forma prática e objetiva produzir inferências do conteúdo da comunicação de um texto replicáveis ao seu contexto social. Na AC conforme esses autores o texto é um meio de expressão do sujeito, onde o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases) que se repetem, inferindo uma expressão que as representem. Nesse contexto, não há sentido sem interpretação. Portanto deverá sempre existir uma interpretação para dar visibilidade ao sentido que o sujeito pretendeu transmitir no seu discurso. Na interpretação é importante lembrar que o analista é um intérprete, que faz uma leitura também discursiva influenciada pelo seu afeto, sua posição, suas crenças, suas experiências e vivências; portanto, a interpretação nunca será absoluta e única, pois também produzirá seu sentido.

Diante do exposto, percebe-se que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que tem como objetivo ultrapassar as incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados. Como afirma Chizzotti (2006, p. 98) ―o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas‖.

Existem diversas formas de documentação do material coletado, na maioria das vezes conforme Flick (2009) constituindo-se de material textual: notas de campo, diário de pesquisa,

fichas de documentação, transcrição etc. Entretanto, o material também pode ser documentado por meio de fotos, filmes, áudios e outros, pois todas as formas de documentação têm relevância no processo de pesquisa, possibilitando uma adequada análise. Neste o trabalho explorou-se de forma substantiva a análise de conteúdo das entrevistas, documentos normativos da escola (MINED) e dos registos de observação.

Como a análise de conteúdo constitui uma técnica que trabalha os dados coletados, objetivando a identificação do que está sendo dito a respeito de determinado tema, para isso Vergara (2005) e Chizzotti (2006) afirmam que há a necessidade da descodificação do que está sendo comunicado. Para a descodificação dos documentos, o pesquisador pode utilizar vários procedimentos, procurando identificar o mais apropriado para o material a ser analisado, como análise léxica, análise de categorias, análise da enunciação, análise de conotações.

Para o processamento de análise de dados em si passar-se-à por três etapas essenciais conforme aborda Bardin (2006 cit. In Mozzato e Grzybovski (2011): 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

Bardin (2006) explica que a pré-análise é a fase em que se organiza o material a ser analisado com o objetivo de torná-lo operacional, sistematizando as idéias iniciais. Trata-se da organização propriamente dita por meio de quatro etapas: (a) leitura flutuante, que é o estabelecimento de contato com os documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer o texto; (b) escolha dos documentos, que consiste na demarcação do que será analisado; (c) formulação das hipóteses e dos objetivos; (d) referenciação dos índices e elaboração de indicadores, que envolve a determinação de indicadores por meio de recortes de texto nos documentos de análise.

Argumenta ainda a autora que estamos a citar dizendo que a exploração do material constitui a segunda fase, que consiste na exploração do material com a definição de categorias (sistemas de codificação) e a identificação das unidades de registro (unidade de significação a codificar corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade base, visando à categorização e à contagem frequencial) e das unidades de contexto nos documentos (unidade de compreensão para codificar a unida de registro que corresponde ao segmento da mensagem, a fim de compreender a significação exata da unidade de registo). A exploração do material

consiste numa etapa importante, porque vai possibilitar ou não a riqueza das interpretações e inferências. Esta é a fase da descrição analítica, a qual diz respeito ao corpus (qualquer material textual coletado) submetido a um estudo aprofundado, orientado pelas questões de investigação e referenciais teóricos. Dessa forma, a codificação, a classificação e a categorização são básicas nesta fase.

A terceira fase diz respeito ao tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Esta etapa é destinada ao tratamento dos resultados; ocorre nela à condensação e o destaque das informações para análise, culminando nas interpretações inferenciais; é o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica (Bardin, 2006).

Tendo em vista as diferentes fases da análise de conteúdo proposta por Bardin (2006), destacam-se como a própria autora a fez, as dimensões da codificação e categorização que possibilitam e facilitam as interpretações e as inferências. No que tange à codificação, corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão.

Entretanto, por mais que se devam respeitar certas regras como diz Bardin (2006) e que se salientem as diferentes fases e etapas no emprego na técnica, a análise de conteúdo não deve ser considerada e trabalhada como modelo exato e rígido. Ela rejeita esta idéia de rigidez e de completude, deixando claro que a sua proposta da análise de conteúdo acaba oscilando entre dois pólos que envolvem a investigação científica: o rigor da objetividade, da cientificidade, e a riqueza da subjetividade. Nesse sentido, a técnica tem como propósito o ultrapassar o senso comum do subjetivismo e alcançar o rigor científico necessário, mas não a rigidez inválida, que não condiz mais com tempos atuais.

Na base deste postulado começamos o nosso trabalho de análise das entrevistas seguindo algumas etapas por nós definidas a partir das leituras realizadas às diversas perspectivas para o desenvolvimento do processo de análise de conteúdo de diferentes autores, mas tendo como referência, essencialmente, Bardin (2006). Assim, para a compreensão do significado da análise do conteúdo configurou-se em cinco etapas dialeticamente relacionadas: 1) identificação das ideias principais; 2) seleção das unidades de análise; 3) corresponde a definição das dimensões

de análise de cada categoria de sujeitos previamente estabelecidos; 4) a definição das categorias e subcategorias de análise. É a etapa em que as categorias e subcategorias são agrupadas em função da suas dimensões da análise presentes nos textos das entrevistas e 5) corresponde a etapa de análise, interpretação e inferência dos resultados.

A primeira etapa trata de identificação das ideias principais expressas no texto da entrevista (ideias e frases com significado) e avaliação das possibilidades de análise (previsão do tipo de unidades de análise a utilizar e apreensão de certas singularidades que poderão dar origem às categorias. Segundo Bardin (2006) é a fase em que se organiza o material a ser analisado com o objetivo de torná-lo operacional, sistematizando as ideias iniciais. Trata-se da organização propriamente dita por meio de quatro fases: leitura flutuante - que é o estabelecimento de contato com os documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer o texto; escolha dos documentos - que consiste na demarcação do que será analisado; formulação das questões de investigação; referenciação dos índices e elaboração de indicadores - que envolve a determinação de indicadores por meio de recortes de texto nos documentos de análise.

A segunda etapa refere-se à seleção das unidades de análise que consiste na identificação das unidades de registo (unidade de significação que corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade base, visando à categorização) e das unidades de contexto nos documentos (unidade de compreensão para registo que corresponde ao segmento da mensagem, a fim de compreender a significação exata da unidade de registro).

A terceira etapa corresponde à definição das dimensões de análise de cada categoria conforme os sujeitos previamente estabelecidos.

A quarta etapa corresponde a definição das categorias e subcategorias de análise. É a etapa em que as categorias e subcategorias são agrupadas em função da suas dimensões da análise presentes nos textos das entrevistas. É uma etapa muito importante, pois a qualidade de uma análise de conteúdo depende de suas categorias. A categorização conforme Oliveira, Ens e Andrade (2008) gera classes que reúnem um grupo de elementos da unidade de registo. Portanto, os critérios para a categorização podem ser semânticos; sintáticos; léxicos ou expressivos. Nos quadros abaixo as categorias foram agrupadas conforme os critérios semânticos.

A quinta etapa é a análise e interpretação dos resultados obtidos. Análise das entrevistas a partir dos quadros de análise e interpretação do discurso a partir das regularidades de opiniões, atitudes e acontecimentos significativos, e elaboração de um texto interpretativo dos resultados obtidos. Portanto, a etapa que diz respeito ao tratamento dos resultados, interpretação e inferências, onde ocorre à condensação e o destaque das informações para análise. É o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica que culmina nas interpretações e inferênciais. É nessa etapa que se procederá ao cruzamento de dados obtidos com a recolha documental.