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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.4 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

Após a construção dos dados da pesquisa, o tratamento dos mesmos foi realizado a partir da análise temática, uma das modalidades da análise de conteúdo (BARDIN, 2011; MINAYO, 2008). Segundo Minayo (2008, p. 316), “a análise temática consiste em descobrir os núcleos do sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência significam alguma coisa para o objeto analítico visado”. De acordo com Bardin (2011, p.135), “o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura”. Desta forma, a ideia de tema permite a junção de unidades de relações, de núcleos de sentido, que pode ser representada por meio de uma frase, de uma palavra ou de um resumo.

Segundo Bardin (2011, p. 135),

O tema, enquanto unidade de registro, corresponde a uma regra de recorte (do sentido e não da forma) que não é fornecida, visto que o recorte depende do nível de análise e não de manifestações formais reguladas. Não é possível existir uma definição de análise temática, da mesma maneira que existe uma definição de análise lingüística.

Então, para conseguir perceber melhor a construção de sentidos dos profissionais nas falas elaboradas na construção dos dados da pesquisa, a escolha das unidades de análise foi mais extensa do que comumente se costuma ver em análise de conteúdo.

A análise temática foi realizada em três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados obtidos e interpretados (MINAYO, 2008). Na pré- análise, foi realizada uma leitura flutuante e, posteriormente, uma leitura exaustiva do material produzido na pesquisa a partir da transcrição das entrevistas individuais semi- estruturadas e dos dois grupos focais. As anotações de campo não foram submetidas ao processo da análise de conteúdo, pois foram utilizadas apenas como recurso auxiliar para melhor contextualização da construção dos dados da pesquisa.

Desta forma, foi realizada a constituição do corpus da pesquisa. A partir da pré- análise do material foram definidas duas dimensões para a exploração do material e tratamento dos resultados: a dimensão de organização e de funcionamento do Apoio Matricial em Saúde mental na Estratégia de Saúde da Família; e a dimensão dos sentidos construídos pelos profissionais sobre questões importantes relacionadas ao Apoio Matricial em Saúde Mental nos CSF.

Já na segunda etapa da análise temática foi realizada a exploração do material, na qual foi efetivado um processo de codificação de cada transcrição de entrevista e de grupo focal, que será melhor especificado posteriormente. Então, após a codificação, foi realizada a construção de cinco quadros temáticos (APÊNDICES D, E, F, G e H), três para as entrevistas com coordenadores de CSF e dois para os grupos focais realizados durante a pesquisa. A construção dos quadros temáticos possibilitou uma organização dos dados da pesquisa. Além disso, ajudou na identificação das informações e no tratamento e interpretação dos dados.

Sendo assim, na construção dos quadros temáticos, inicialmente foram recortadas as unidades de análise. Posteriormente, as unidades de análise foram organizadas em cada uma das duas dimensões definidas na fase da pré-análise. Finalmente, estas unidades de análise foram reagrupadas em categorias menores que emergiram a partir das temáticas das falas dos profissionais e gestores, bem como dos objetivos da pesquisa.

Com o objetivo de explicitar melhor como foi realizada a organização do material, trarei um exemplo de quadro temático de uma entrevista com coordenadora e outro de um grupo focal. Já que foi utilizado um processo de codificação diferente para esse dois instrumentos na construção dos dados.

Quadro 4 – Exemplo do Quadro temático S6-E6, para explicar como foi a organização e codificação dos

quadros temáticos para análise do material das entrevistas.

Dimensão

Temática Categoria Código Unidade de Análise

Sentidos dos Coordenadores dos CSF sobre

O AM em SM e sua relação com as Residências Médica e Multiprofissional (E6.15.1)- (E6.15.7), Pg. 2

Era maravilhoso. O [...] educador físico, fez um grupo enorme de caminhada aqui, que desmoronou quando ele foi embora. Eles tinham o [...] psicólogo, que dava um apoio muito grande em tudo que a gente precisava aqui era ele. Tudo, tudo. Uma ajuda com um profissional que não estava se dando bem com a população, ele ia, conversava. Tudo. Tudo a gente pedia uma opinião a ele. Tudo ele trazia, estudos pra orientar a gente como agir. Em tudo eles ajudavam. (Resposta à pergunta “Como era a Residência Multiprofissional?”)

Diante desse exemplo, explico, agora, a significação dos códigos utilizados nas entrevistas com os coordenadores. A primeira letra, E, faz referencia ao fato desse quadro temático ter sido elaborado a partir de uma entrevista, o número 6 refere-se à identificação do coordenador de CSF na pesquisa, o próximo número refere-se à pergunta. Já o último número, à linha da pergunta onde se encontra o início da unidade. Desta forma, o Código “(E6.15.1)- (E6.15.7), Pg. 2” representa que, na entrevista com a coordenadora 6, foi retirada uma unidade de análise da sua resposta à pergunta de número 15. Tal unidade de análise vai da primeira à sétima linha da resposta dessa pergunta e encontra-se na página número 2 da transcrição desta entrevista.

Contudo, na discussão dos resultados, antes do código da transcrição, em toda unidade de análise citada, foi incluída também a identificação do quadro temático, bem como o número da página do quadro temático na qual esta unidade de análise se encontra. Como no exemplo abaixo:

O [...] educador físico, fez um grupo enorme de caminhada aqui, que desmoronou quando ele foi embora. Eles tinham o [...] psicólogo, que dava um apoio muito grande em tudo que a gente precisava aqui era ele. Tudo, tudo. Uma ajuda com um profissional que não estava se dando bem com a população, ele ia, conversava. Tudo. Tudo a gente pedia uma opinião a ele. Tudo ele trazia, estudos pra orientar a gente como agir. Em tudo eles ajudavam. (Quadro Temático S6, pg. 2 – (E6.15.1)- (E6.15.7), Pg. 2)

Assim, o código da unidade de análise do exemplo acima, “(Quadro Temático S6, pg. 2 – (E6.15.1)-(E6.15.7), Pg. 2)”, significa que esta unidade de análise encontra-se na página 2 do quadro temático do sujeito S6. Além disso, indica que, na entrevista com a coordenadora 6, esta unidade de análise foi retirada da sua resposta à pergunta de número 15. Também refere que esta unidade de análise vai da primeira à sétima linha da resposta dessa pergunta e encontra-se na página número 2 da transcrição desta entrevista.

Segundo, Bardin (2011, p. 131) a fase da exploração do material é “longa e fastidiosa”. Devo confessar que concordo com a autora, pois o processo de codificação e construção dos quadros temáticos, principalmente dos grupos focais, foi complexo, lento e cansativo. Um dos principais desafios que tentei superar foi a elaboração de códigos que possibilitassem a percepção das interações que aconteceram no decorrer do grupo focal.

Por fim, agora, passarei para os exemplos de codificação do quadro temático dos grupos focais:

Quadro 5 - Exemplo do Quadro temático G2 – Profissionais da ESF, para explicar como foi a organização e

codificação dos quadros temáticos para análise do material dos grupos focais.

Dimensão

Temática Categoria Código Unidade de Análise

Organização e funcionamento do AM em SM CSF Elívia - (Participantes) G2.P7.RQ8.P7- Pg. 12, lin. 11-14

no nosso matriciamento os ACS participam. A gente coleta a história, faz todo o relatório, aí a gente senta primeiro com a equipe médica, aí eles vão discutir junto com a gente. E quando o paciente vê, ele se sente mais aconchegado com a ACS, porque tem mais comunicação.

CSF Emylio

(Participantes) G2.P5.RQ7E- Pg. 11, lin. 35 A gente estipula ser sempre dois pra estar lá e exatamente não ficar muita gente. CSF Emylio

(Participantes)

G2.P6.RQ7- Pg, 11, lin. 38

Tá faltando os ACS né? No começo eles estavam indo. CSF Emylio

(Participantes) G2.P5.C(G2.P6.RQ7)- Pg. 11, lin. 40-46

Pois é, não tá indo o ACS, que eu acho que deveria estar. [...] o próprio espaço físico do posto é insatisfatório, porque o pessoal não cabe naquela sala ali, aí vão os estudantes.

Na codificação dos dados dos grupos focais, todas as páginas foram enumeradas, bem como as linhas de cada página, que, no caso, foram enumeradas de 1 a 50. Os grupos focais foram nomeados de G1, grupo com os apoiadores matriciais, e de G2, grupo com profissionais da ESF. Assim, na codificação, a primeira letra seguida de número faz referência ao grupo (G1 ou G2). Após o primeiro ponto, a segunda letra seguida do número faz referência ao profissional que está falando, que no caso dos participantes dos grupos focais são identificados de P1 até P7 e o facilitador pela letra F. A partir da terceira letra, há variações na tentativa de apontar a interação entre os participantes do grupo focal e também a interação com o facilitador do grupo.

Sendo assim, com o objetivo de deixar mais claro esse processo de codificação elaborei um quadro com variações que são encontradas nos códigos dos grupos focais:

Quadro 6 – Quadro com a explicação dos significados dos códigos encontrados nos quadros temáticos para a

organização do material dos grupos focais. Códigos Significados

G2.P7.RQ8.P7- Pg. 12, lin. 11- 14

Grupo focal com profissionais da ESF (G2), fala do profissional 7 (P7) respondendo à questão número oito (RQ8). Quando tem um ponto e a referência ao profissional após a questão, significa que a pergunta foi direcionada pelo facilitador do grupo para o profissional que está respondendo. Esta unidade de análise encontra-se na página 12 da transcrição desse grupo, inicia-se na linha 11 e termina na linha 14 dessa página.

G2.P5.RQ7E-

Pg. 11, lin. 35 Grupo focal com profissionais da ESF (G2), fala do profissional 5 (P5) respondendo a um esclarecimento da sua resposta à questão 7 (RQ7E). Esta unidade de análise está na página 11 da transcrição do grupo e é encontrada na linha 35.

G2.P6.RQ7- Pg, 11, lin. 38

Grupo focal com profissionais da ESF (G2), fala do profissional respondendo à questão número sete (RQ7). Esta unidade de análise está na linha 38 da página 11 da transcrição desse grupo.

G2.P5.C(G2.P6 .RQ7)- Pg. 11, lin. 40-46

Grupo focal com profissionais da ESF (G2), fala do profissional 5 (P5) que foi emitida como um comentário (C), depois da fala do profissional 6 na reposta à questão 7 (G2.P6.RQ7). Esta unidade de análise é encontrada na página 11 da transcrição desse grupo, inicia-se na linha 40 e termina na linha 46 dessa página.

Na análise dos dados dos grupos focais, quando as unidades de análise são citadas, também é identificado o quadro temático e a página na qual a unidade de análise pode ser identificada no quadro temático, da mesma forma que as citações das unidades de análise das entrevistas.

Passando, então, para a última etapa da análise de conteúdo, foi realizado o tratamento e a interpretação dos resultados obtidos. Segundo Minayo (2008) é a partir deste momento que “o analista propõe inferências e realiza interpretações, inter-relacionando-as com o quadro teórico desenhado inicialmente ou abre outras pistas em torno de novas dimensões teóricas e interpretativas, sugeridas pela leitura do material” (MINAYO, 2008, p. 318).

Desta forma, para facilitar a compreensão de como foram organizados o tratamento e a interpretação dos dados desta pesquisa, os Quadros 7 e 8 demonstram as duas dimensões de análise deste trabalho e as suas respectivas categorias.

Quadro 7 – Quadro com as categorias da Dimensão de organização e funcionamento do Apoio Matricial em

Saúde Mental nos CSF

Dimensão Categoria

Organização e funcionamento do Apoio Matricial em Saúde Mental

- Organização e do funcionamento do Apoio Matricial em Saúde Mental no CSF Elívia

- Organização e do funcionamento do Apoio Matricial em Saúde Mental no CSF Emylio

- Organização e do funcionamento do Apoio Matricial em Saúde Mental no CSF Áurea

Quadro 8 – Quadro com as categorias da Dimensão dos Sentidos Construídos sobre o Apoio Matricial em

Saúde Mental pelos profissionais que participaram da pesquisa.

Para finalizar, ressalto que o projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Sistema Municipal de Saúde Escola, pelas Regionais que participaram da pesquisa e pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Ceará (ANEXO A). Destaco ainda que todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C). Reitero que no decorrer do processo desta pesquisa, foram obedecidas todas as exigências desse Comitê e respeitadas todas as questões necessárias para assegurar a ética e o sigilo dos sujeitos envolvidos na pesquisa, bem como dos dados e informações surgidas a partir desta.

Dimensão dos Sentidos Construídos sobre AM em

SM pelos Profissionais

Categorias

Sentidos Construídos sobre o Apoio Matricial em Saúde Mental pelos Profissionais da ESF

- O Apoio Matricial em Saúde Mental e as questões sociais do campo de atuação;

- As condições de trabalho nos CSF, o apoio da gestão para a realização do trabalho na ESF e a saúde dos trabalhadores;

- O Apoio Matricial em Saúde Mental;

- A interação entre os profissionais que atuam na APS;

- O Apoio Matricial em Saúde Mental e os processos de Educação Permanente.

Sentidos Construídos Sobre Apoio Matricial em Saúde Mental na ESF pelos Profissionais Apoiadores que trabalham nos CAPS

- O Apoio Matricial em Saúde Mental;

- A Interação entre Profissionais no Apoio Matricial em Saúde Mental; - A Gestão e as suas Orientações para o Apoio Matricial em Saúde Mental;

4 FUNCIONAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO APOIO MATRICIAL EM SAÚDE