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Capítulo I. Metodologia

1.4. Procedimentos Gerais

1.4.2. Procedimentos de Análise de Dados

Perante as características deste estudo e ao considerar o seu carácter exploratório e qualitativo, revela-se fundamental discriminar todo o processo que envolveu a análise de dados. Uma vez transcritas todas as entrevistas de forma cuidada e minuciosa, estas foram submetidas a um escrutínio com recurso à técnica da análise de conteúdo. Bardin define a análise de conteúdo como um “conjunto de

técnicas de análise das comunicações” (Bardin, 1977, p. 31), por outras palavras, não

se trata apenas de um instrumento, mas sim de um conjunto de instrumentos adaptáveis a um campo de análise alargado, ou seja, as comunicações nas suas diversas formas. Outros autores postulam ainda que, este tipo de análise é uma técnica de investigação que permite descrever de forma objetiva e sistemática, o conteúdo da comunicação (Berelson, 1952 in Vala, 2003), proporcionando ao investigador a possibilidade de realizar inferências válidas e replicáveis (Krippendorf, 1980 in Vala, 2003).

Segundo Bardin (1977), a análise de conteúdo do tipo exploratório, desenvolve- se em três fases distintas: 1) pré-análise; 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferências e interpretações. Com efeito, na fase da pré-análise, foi efetuada a leitura flutuante de todo o material que compunha o nosso corpus de investigação, mais especificamente, todas as entrevistas previamente submetidas ao processo de transcrição. Depois de realizada a leitura flutuante, ou seja, a leitura intuitiva, aberta a reflexões, ideias e definição de hipóteses, passou-se à segunda fase da análise de conteúdo, mais precisamente à exploração do material, onde foram definidos os temas emergentes, bem como as categorias e subcategorias que os compunham. No que diz respeito à exploração dos dados obtidos, o critério utilizado para a categorização foi semântico, na medida em que o material analisado foi agrupado por temas.

A categorização, ou simplesmente “classificação”, é um passo fundamental na fase de exploração do material. Esta é na prática uma operação essencial à análise de conteúdo, pois visa simplificar determinado assunto para potenciar a perceção do

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mesmo e em última análise, a sua explicação (Vala, 2003). Segundo Bardin (1977, p. 37), as categorias são “(…) rúbricas significativas que permitem a classificação dos

elementos de significação constitutivas, da mensagem.” Em suma, as categorias

permitem agrupar caracteres em função dos elementos que estes partilham ou têm em comum, sob um título mais geral denominado de tema. No que diz respeito à construção do sistema de categorias e subcategorias, este tanto pode ser desenvolvido à priori e com base em pressupostos teóricos, como à posteriori ou ainda com recurso à combinação de ambos. Porém, apesar da existência de um quadro de referência teórico, este não foi utilizado para elaborar o nosso sistema de categorias. Neste caso específico, o sistema foi desenvolvido à posteriori e emergiu de leituras sucessivas, o que quer dizer que a construção das categorias e subcategorias esteve isenta (ainda que não totalmente) da influência dos pressupostos teóricos (Vala, 2003).

Seguidamente à construção do sistema de categorias mais significativas, foi desenvolvida uma grelha de análise temática e categorial (Anexo VI) com o propósito de organizar as categorias por temas e definir critérios de inclusão da informação contida nas entrevistas, nas respectivas subcategorias. Atendendo às características das categorias, designadamente a homogeneidade, exaustividade, exclusividade,

objetividade e adequação/pertinência (Bardin, 1977), tornou-se crucial a elaboração

desta grelha de análise, contendo indicadores que permitiram a inclusão das unidades de análise, ou seja, das verbalizações mais importantes ou evidentes dos/as participantes, nas respetivas categorias e subcategorias, evitando desta forma a falta de rigor na classificação da informação e assegurando a sua validade interna. Uma vez desenvolvida a grelha de análise temática e categorial, veio a etapa do processo de codificação denominada de “corte” (Vala, 2003), caracterizada pela escolha das unidades de registo (U.R.) que queríamos codificar. Ao considerar a definição de unidade de análise e no caso específico das U.R., o tipo de unidade selecionada foi formal e o segmento escolhido foi a frase (Vala, 2003), por considerar-se que, caso o tipo de segmento utilizado fosse reduzido (e.g. palavra), isto conduziria a uma perda de riqueza de informação e em consequência afetaria a interpretação dos dados.

Para realizar o processo de “corte”, foi desenvolvida uma grelha de análise de conteúdo3, que permitia introduzir e classificar as U.R. em função da sua pertença temática e categorial. Este processo foi realizado para todas as entrevistas de forma

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Em anexo encontra-se uma grelha de análise de conteúdo que reúne diversos exemplos de verbalizações (U.R.) dos/as vários participantes. Estas verbalizações foram selecionadas e classificadas em função da sua pertença temática e categorial (cf. Anexo VII).

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individual e permitiu sistematizar os dados e respostas dos/as participantes ao guião de entrevista, facilitando desta forma a análise individual da globalidade das entrevistas. Ou seja, a decomposição do discurso dos/as participantes, favoreceu a posterior interpretação dos dados em função da sua significação. Todo este processo de análise e classificação das entrevistas foi realizado de forma “artesanal”, o que na prática significa que não foi utilizado qualquer tipo de software ou programa estatístico de análise de dados. Quanto às U.R. estas foram sublinhadas com cores distintas, o que permitia identificar a sua pertença a determinada categoria/subcategoria, como tal este foi um processo moroso e que implicou a releitura sucessiva de todas as entrevistas.

Importa salientar que o sistema de categorias, subcategorias e respetivos indicadores, foram definidos por acordo inter-codificadores, o que permitiu assegurar a validade e fidelidade da fase de exploração dos dados. Parece-nos igualmente importante referir que, ao longo de todo este processo, a investigadora submeteu as entrevistas transcritas a leituras sucessivas e exaustivas, com o fim último de se deixar invadir por impressões significativas perante o contacto contínuo com os dados, mantendo desta forma o rigor na análise das entrevistas.

Finalmente e uma vez percorridas as fases de pré-análise e de exploração do

material, chegou-se à última etapa do processo de análise de conteúdo,

nomeadamente a de tratamento, inferência e interpretação dos dados. Esta etapa foi caracterizada pelo tratamento dos dados, de forma a torná-los válidos e significativos, com efeito foi possível refletir acerca das categorias, subcategorias e respetivas U.R. selecionadas. Este processo permitiu igualmente analisar diferenças nos dados e realizar inferências. Neste contexto, como ao longo de todo este processo, o investigador assume um papel fundamental, visto que a análise dos dados está dependente das suas competências para escrutinar as pequenas nuances de significado presentes nos dados e que frequentemente são subtis (Strauss & Corbin, 1990).

Com efeito e no que diz respeito ao tratamento dos dados, optou-se por não recorrer a operações estatísticas para quantificar as U.R.. Esta decisão foi tomada por acordo inter-codificadores em conclusão das várias tentativas de quantificação dos dados, o que os levou a considerar que as respostas dos/as participantes perderiam riqueza e que em suma, isto afetaria as inferências e interpretação dos dados. Ainda que numa fase inicial do desenvolvimento da análise de conteúdo, Bardin (1977) tenha enfatizado veemente a necessidade de quantificar os dados, através do cálculo de frequências e como forma de garantir a validade dos mesmos, mais tarde a própria autora parece retroceder nesta retórica ao afirmar que, a análise

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de conteúdo enquanto “conjunto de técnicas de análise das comunicações” (Bardin, 1977, p. 31), tanto pode ser utilizada para a análise de dados qualitativos com recurso à enumeração (processo este através do qual se procede à quantificação dos dados), como não. A diferença reside no facto de no primeiro caso, o investigador recorrer aos dados ou informação recolhida, com vista à contagem de frequências para posterior análise. No segundo caso a aplicação dos dados diverge. Na realidade, é a ausência ou presença de determinada(s) característica(s) num segmento de comunicação (U.R.) que vai ser analisado e tido em consideração na fase de interpretação dos dados finais (Bardin, 1977). Krippendorf (1980 in Vala, 2003) corrobora também esta nova abordagem ao afirmar que, a quantificação não é sinónimo de rigor, nem garante por si só, a validade e fidedignidade dos dados.

Com base neste pressuposto e depois de sistematizadas as respostas dos participantes, procedeu-se então a uma análise individual de cada entrevista. Este procedimento foi o momento final da análise de conteúdo. Culminou numa reflexão profunda de cada entrevista de forma a escrutinar a informação que se revelou mais significativa, o que permitiu realizar uma síntese individual de todas as entrevistas. Uma vez concluído este processo, a globalidade dos resultados foram analisados com o objetivo de detetar a presença ou ausência de determinadas características relevantes para a investigação em causa, o que possibilitou refletir sobre as pequenas nuances ou grandes disparidades existentes entre os/as participantes e realizar inferências acerca dos dados. No anexo VIII, apresenta-se então a transcrição de duas entrevistas escolhidas aleatoriamente, sendo que uma delas corresponde à transcrição de entrevista de uma boa aluna e outra corresponde a de um mau aluno (cf. anexo VIII).

Em suma, é importante destacar uma vez mais, que ao longo da análise e de todo o processo de investigação, foi fundamental a perspetiva de outro perito e codificador4, para além da própria investigadora, o que contribuiu de forma significativa para a assegurar a validade, fidelidade e rigor da investigação em causa.

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Os meus sinceros agradecimentos vão para a professora Norma, que enquanto perita teve um papel fundamental no desenrolar do processo de análise de conteúdo deste estudo.

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