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4. OS CAMINHOS DA PESQUISA

4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ALCANÇADOS

Para a análise alegada em tal pesquisa acadêmica, somou-se os registros obtidos nas observações às aulas de língua portuguesa, às duas turmas dos anos finais do ensino fundamental do Colégio Estadual Santa Bernadete (7º e 8º ano) com os questionários preenchidos pelas docentes escolhidas em tal investigação. Além disso, foram acrescidos os registros documentais, como anotações de informações contidas nos planos de aula das docentes e às do plano pedagógico institucional, quando disponibilizados, os quais foram relevantes no esclarecimento de possíveis dúvidas.

Ademais do estabelecimento de um problema de pesquisa a partir do entendimento de uma realidade contextualizada, organização de referências temáticas condizentes e a coleta das informações, estejam elas em consonância ou não, o momento de análise de tais dados fez com que a pesquisadora retornasse aos objetivos da pesquisa, a fim de determinar a organização do

aquilo que queremos perceber seja em uma população, em alguma situação específica ou ao

Existem diversas formas de organizar os dados e variáveis em análise. Por esta se tratar de uma pesquisa qualitativa, e ainda voltar-se à Educação, área esta permeada por diversidade, (grifo nosso) a pesquisadora fez uso da objetividade, sem impor à técnica de análise

características e posições pessoais, mas seguindo a premissa de sistematizar os dados pelo processo de triangulação. Ao invés de ajuntar e/ou sequenciar dados de forma estatística, por assim dizer, logicista, a triangulação pode estabelecer ligações entre descobertas obtidas por diferentes fontes, ilustrá-las e torná-las mais compreensíveis; pode também conduzir a

NEVES, 1996, p. 2). Por meio da triangulação, na fase de organização dos dados, foram registradas pela pesquisadora algumas ponderações, consideradas relevantes para o fenômeno estudado. Estas não são classificadas como hipóteses e/ou ilusões a serem desvendadas, mas sim como especulações, ou melhor, categorias de análise, a saber: percepções sobre o ensino- aprendizagem de língua materna, abordagens pedagógicas acerca do ensino de leitura e escrita; movimentação no/do domínio discursivo dos sujeitos envolvidos; contribuições e/ou implicações dos multiletramentos na educação amargosense.

As categorias de análise, em uma pesquisa qualitativa, ao invés de estabelecer apenas uma relação de causa e efeito, ajuda a organizar, distribuir e unir respostas à alguns questionamentos, já que o social possui milhares destes. Como afirmam Lüdke e André (1986, p. 49 A categorização, por si mesma, não esgota à análise. [...]. Para isso, tem-se fazer um esforço de abstração, ultrapassando os dados, tentando estabelecer conexões e relações que Partindo das categorias de análise pré-estabelecidas, pode-se fazer valer do estudo qualitativo.

Tal análise possibilitou a compreensão do modo como se desenvolvem as práticas de letramento no ensino de língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental em uma escola pública de Amargosa-BA e assim apresenta possíveis contribuições teóricas nas diversas discussões, locais e porque não globais, existentes a respeito das múltiplas situações que envolvem a leitura e o uso da escrita no ambiente escolar e também fora dele.

5. PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA EM AMARGOSA-BA: BASES DE UMA

Este capítulo é constituído da análise dos dados. Nele, busca-se descrever de que modo se desenvolvem as práticas de letramento no ensino de língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental, mais especificamente em turmas do 7º e 8º ano, em uma escola pública de Amargosa-BA. Os dados obtidos serão expostos, acompanhados de comentários teóricos condizentes com as informações angariadas.

Ao considerar os registros elencados no diário de campo durante todo o período de observação às aulas de língua portuguesa em uma turma do 7º e 8º ano do ensino fundamental na escola pública delimitada, pode-se atentar que tal escola, baseada na legitimidade do ensino regular e sistemático, acabava por reforçar a ideia do espaço-escola como instituição majoritária dos letramentos. A crença em que tal agência é o local do correto uso da língua, não corrobora para que entenda

2015, p. 77).

Ao nos determos em tais séries escolares, responsáveis por reunir alunos com faixa etária de 12 a 14 anos (classificada como a adolescência, segundo a Lei nº 8.06916, de 1990),

nestas também o professor enfrenta o desafio de trabalhar o significado e o valor de sua disciplina, captando a atenção e instigando a reflexão sobre as questões propostas. No caso do ensino de língua materna, tal objeto, linguagem, é o elemento primordial neste quesito. Ela envolve uma ampla variedade de sistemas semióticos. Só que a construção da tida norma- padrão é impregnada na mente das pessoas (inclusive professoras) e, como afirma Bagno (2007, p. 87, grifo do autor

linguístico abstrato e id

essa mentalidade também é repassada ao público de tais séries.

Boa parte dos comentários em sala de aula sobre a prática de leitura e escrita na disciplina de português reforçavam tal premissa, no sentido de que nas atividades de linguagem o correto era a leitura pontual e, consequentemente, uma escrita conforme as regras da

gramática normativa e com letras legíveis. Esta última modalidade, na maioria das vezes, acaba sobressaindo nas diversas atividades avaliativas.

vocês uma ortografia legível nas 17, realizados pela docente 1AM na

turma do 7º ano, foram observados pela pesquisadora em alguns momentos de sua presença na sala de aula.

Tal docente participante, em sua prática pedagógica nesta turma, fazia uso constante do livro didático disponibilizado pela escola, e assim, propunha atividades de leitura dos textos nele contidos bem como a realização das atividades de escrita seguintes aos textos.

Figura 6: Capa Livro didático 7º ano

Fonte: Livro Português linguagens 7º ano.

A atividade leitura aparecia como um fenômeno padrão e a atividade escrita como um instrumento e um domínio a ser angariado18. Temos aqui um paralelo com as afirmações de

Euzébio e Cerutti-Rizzatti (2013), sobre ato de ler e ato de escrever, sendo este último aquele

que recebe maior valoração, já que ainda tem-se a,

(EUZÉBIO; CERUTTI-RIZZATTI, 2013, p. 14). Podemos presumir que, o que se reforçava era o mecanismo e não as práticas letradas, ou por assim dizer, as práticas próprias da língua.

17 Vide anexo B: B1. 18 Vide anexo B: B2 e B3.

De um modo geral, mesmo em uma turma de alunos iniciando a adolescência, em que a possibilidade de diálogo também se torna essencial na constituição do sujeito, no que tange às práticas de letramento mais efetivas:

Longe da mera necessidade de preencher fichas de leitura, é preciso orientar- se para atividades que produzem sentido, que permitam colocar em estado de revisão crítica o mundo, o indivíduo e a própria linguagem. É o que defende Sônia Kramer, quando propõe que a leitura e a escrita na escola possam se constituir também como experiências (LEAL; AGUIAR, 2018, p. 93).

No que se refere aos comentários realizados pela docente identificada como 2AV bem como os registros postos no diário de campo sobre as observações à sua prática pedagógica na turma do 8º ano, pode-se constatar que tal participante se atém a vivência e ao cotidiano dos alunos, sempre que possível, em suas aulas. Seja nas atividades que ora enfatizam a leitura, ora o trabalho com conteúdos gramaticais, ou ainda àquelas restrita à produção textual (destaque à escrita), a docente demonstra como o ensino-aprendizagem de língua portuguesa é de fundamental importância para todas as áreas do conhecimento e que a leitura, a concordância na escrita e na oralidade proporcionam uma perspectiva crítica sobre si e na coletividade.

Conforme registro em diário de campo da terceira aula observada na turma do 8º ano19,

houve um momento de discussão de determinada questão do livro didático (LD) adotado, em que a docente, ao perceber a dificuldade dos alunos na compreensão do enunciado, relacionou tal questão com um quadro televisivo regional, a fim de que eles estabelecessem uma analogia e assim organizassem o pensamento para a produção escrita.

Seu trabalho constante com turmas dessa série, e mais especificamente no turno vespertino, faz com que apreenda o contexto situacional do público estudantil da escola. O fato da devida escola, durante à tarde, atender estudantes advindos dos mais variados bairros da zona urbana do município, desde o centro até os bairros periféricos, é levado em conta pela docente 2AV

-los das mais diversas formas é essencial para o nosso conhecimento linguístico e cidadão; reivindicar Tais comentários também podem ser encontrados transcritos no diário de campo adotado pela pesquisadora20.

19 Vide anexo C: C2. 20 Vide Anexo C: C1.

Ao lidar também com um público adolescente, a docente comunica que o aprendizado da língua considerada correta, obedecendo a norma-padrão, (e aqui enfatizo as aulas baseadas em conteúdos gramaticais) seja em uma entrevista de emprego, em uma seleção escolar ou ainda na escrita de um documento, é importante para que eles se posicionem na sociedade.

Desta forma, presume-se, mesmo que superficialmente, que para tal docente, as práticas sociais de leitura e escrita podem ser permeadas por valores, desde aqueles relativos às habilidades cognitivas até o convívio c

deixa de ser vista como mera verbalização e passa a ser incorporada, nas análises textuais, a

AQUINO, 2003, p. 15).

O cenário observado nas duas turmas nos expõe que letramento, na perspectiva educacional e pedagógica, por parte das docentes selecionadas, é estreitamente ligado à leitura e a escrita, mais especificamente nos atos que envolvam a língua escrita, diga-se de passagem, aquela gramaticalmente correta.

Em contrapartida, a ideia de que tudo que se encontra expresso em um texto (das mais variadas formas e nuances) tem um motivo a ser considerado, ainda reside como uma habilidade secundária ou até mesmo desnecessária. O porquê das escolhas realizadas por determinado autor de um texto para a produção de sentido(s), além de que a figura do professor ainda preside como importante agente de letramento social carece de constantes reflexões. Freire (2003, p. 11), ao afir

é complexo o trabalho com a língua materna e como as práticas de letramento escolar não são universais e acabadas.

As distintas formas da cultura escrita, suas variadas relações com as práticas orais e outras semioses, além de como a escola é um espaço discursivo constituído por diversidade, desde o ambiente físico aos papéis sociais dos seus membros integrantes, devem-nos sugerir o trabalho constante com à situação, os papéis dos participantes, o modo e o meio do discurso.

contexto de enunciação e contexto sócio-histórico . Só

assim, o texto não atuará como pretexto de um estudo exclusivo e puramente metalinguístico. Os sentidos estão/estarão, por assim dizer, constituídos nas e pelas formações discursivas.

5.2 PORMENORES SIGNIFICATIVOS NOS MOLDES DOS NOVOS ESTUDOS DO