• Nenhum resultado encontrado

Resolução de Conflitos em Contextos de Educação Infantil Bilíngue

Capítulo 2: Ser sujeito: Colaborar e Transformar

2.5 Procedimentos de Análise e I nterpretação

Nesta seção, apresento as categorias que guiarão o processo de análise e interpretação dos dados.

A fim de compreender criticamente como o trabalho com resolução de conflitos pode promover ações colaborativas, nas quais o olhar do eu seja levado em

Resolução de Conflitos em Contextos de Educação Infantil Bilíngue

 

 

conta tanto quanto o olhar do outro é preciso que se considere e se analise também a posição hierárquica que se é construída na escola.

Por mais que as educadoras envolvidas nesta pesquisa se esforcem para mediar as situações conflituosas levando em conta o ponto de vista das crianças e conferindo-lhes papel de co-responsáveis pela resolução de conflitos, é muito comum que as crianças desta faixa etária tentem, em suas ações, conseguir a aprovação do adulto; seja esta feita por um olhar, um sorriso ou um elogio. O discurso das educadoras não costuma ser um discurso de autoridade, impositivo e resistente a se impregnar de outras vozes, mas é importante pontuar que a posição de autoridade ocupada pelas educadoras causa grande impacto nas atitudes das crianças. Este impacto pode ser um fator favorável para a educação das crianças e a colaboração na formação de agentes críticos pois, mesmo inconscientemente, os indivíduos procurarão obter a aprovação de suas educadoras, e esta aprovação acontecerá diante de ações colaborativas.

Ainda assim, considero importante salientar que a intenção do trabalho com resolução de conflitos não é simplesmente criar um repertório de possíveis soluções apaziguadoras de situações conflituosas, mas sim conscientizar as crianças dos sentimentos/desejos/necessidades/vontades dos outros sujeitos que as cercam, dando espaço para o surgimento da solidariedade e da colaboração.

Devido a esta organização hierárquica da relação adulto-criança e professor- aluno, organização esta, que embora hierárquica preza a participação dos participantes na co-construção de conhecimento e na partilha de sentidos e significados, elenquei as categorias de análise apresentadas a seguir, seguindo o modelo de Oliveira (2006). Estas categorias vão ao encontro da prática argumentativa realizada pelas educadoras na sala de aula, que sempre agem de modo a questionar as crianças e levá-las a perceber o papel do outro na interação e agir colaborativamente.

O modelo denominado Tensão Colaborativa, criado por Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira (2006) será utilizado como base para a análise dos dados deste trabalho. A autora alega que, “pela linguagem, seja possível não apenas acompanhar os caminhos pelos quais a reflexão e a ação são entrelaçadas, como também promover e/ou intensificar esse entrelaçamento.” (OLIVEIRA, 2006: 233). Para este

Resolução de Conflitos em Contextos de Educação Infantil Bilíngue

 

 

trabalho, as categorias foram adaptadas para corresponder às necessidades desta pesquisa.

Desta forma, as categorias para analisar organização discursiva elencadas são:

Enunciado Gerador de Tensão Tensão Colaborativa Ação Transformadora

Quadro 13: Categorias de Análise

Abaixo, descrevo e explico as categorias.

2.5.1.Enunciado Gerador De Tensão:

Trata-se de um enunciado gerador de debate colaborativo, produzido pela professora-pesquisadora. Ele é caracterizado pelo uso de perguntas que problematizam os conflitos e suas possíveis resoluções, tais como: “And now?”, “What can we do?”, “We have a problem”.

2.5.2 Tensão Colaborativa:

Com base nos enunciados geradores de tensão, instaura-se a tensão colaborativa. Nesses momentos, explicitam-se, no discurso, as concepções divergentes no grupo. A tensão colaborativa é caracterizada por enunciados de recuperação da fala do outro, de conciliação e/ou confronto e de justificativa.

2.5.3 Ação Transformadora

É nessa instância que ocorrem as ações concretas de mudança, sejam estas propostas pelos alunos ou sugeridas pela professora-pesquisadora, caso os alunos não consigam fazer uma sugestão (muito comum nesta faixa etária). Os enunciados

Resolução de Conflitos em Contextos de Educação Infantil Bilíngue

 

 

aqui se caracterizam pelo uso de elementos descritivos da ação concreta, por exemplo: “Olha teacher, ele me emprestou”, ou “eu vou emprestar para ele”.

Para melhor relacionar estas categorias de análise ao referencial teórico apresentado no Capítulo 1 desta dissertação, elaborei o quadro abaixo (Quadro1). O quadro retoma as perguntas de pesquisa (apresentadas na Introdução, seção 4), as categorias de análise (apresentadas no Capítulo 2, seção anterior) e apresenta as categorias de interpretação selecionadas para a investigação dos dados inspiradas em Pontecorvo (2005), Vygotsky (1930/1984), Liberali e Magalhães (2009) e Orsolini (2005): Perguntas de Pesquisa Categorias de Análise Categorias de Interpretação 1. Trabalhar com resolução de conflitos na educação infantil bilíngue pode promover ações colaborativas? Como? 2. De que forma as ações dos alunos na resolução de conflitos refletem a relação com o trabalho feito com a professora? 1. Enunciado Gerador de Tensão 2. Tensão Colaborativa 3. Ação Transformadora 1. Internalização das Ações 2. Colaboração 3. Conhecimento Social Compartilhado 4. Processo de Negociação e Reflexão 5. Expressão de Afetividade 6. Constituição Como Sujeito

Quadro 14: Perguntas de Pesquisa e Categorias de Análise e Interpretação

As categorias de interpretação descritas no quadro acima visam a observar:

1. Internalização das ações (Vygotsky, 1930/1984): as ações assumidas pelas crianças provém de uma ação social internalizada?

Resolução de Conflitos em Contextos de Educação Infantil Bilíngue

 

 

3. Conhecimento social compartilhado (Pontecorvo,2005): as sugestões de possíveis soluções para um conflito existem/ partem de um conhecimento que já é de domínio do grupo?

4. Processo de Negociação e Reflexão (Orsolini, 2005): há imposição durante a resolução do conflito ou existe um processo de negociação e reflexão dos participantes?

5. Expressão de afetividade (Vygotsky, 1934)as ações realizadas pelos participantes da pesquisa expressam afetividade?

6. Constituição como sujeito (Bakhtin, 1981 e Vygotsky, 1934) é possível notar que as crianças estão se constituindo do discurso do outro (das educadoras) no decorrer de sua educação escolar ao se apropriarem da linguagem e dos valores deste ambiente?

Estas perguntas, que explicam o que será observado pelas categorias de interpretação, foram criadas para guiar o processo de interpretação dos dados. Os aspectos apresentados acima serão retomados na análise e interpretação dos excertos, colaborando também para responder as perguntas de pesquisa.

Para colaborar na compreensão da análise e interpretação dos dados, os turnos serão marcados pelas cores rosa, azul e amarela conforme o quadro das categorias de análise apresentadas acima, representando, respectivamente o enunciado gerador de tensão, a tensão colaborativa e a ação transformadora. Na interpretação dos dados, as categorias de interpretação serão salientadas pelo uso da fonte negrito.

Tendo apresentado as categorias de interpretação e a análise que serviram de guia para a discussão dos excertos selecionados, apresento no capítulo a seguir a análise e interpretação dos dados.