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Procedimentos de organização sistemática da construção

2 TRILHANDO OS CAMINHOS DA PESQUISA

2.7 Procedimentos de organização sistemática da construção

No sentido de compreendermos o objeto de estudo, optamos pelo método da análise de conteúdo enquanto instrumento necessário ao processo interpretativo dos corpora construídos. Para Minayo (1994), a análise de conteúdo, é entendida como expressão relevante para representar os dados de

uma pesquisa qualitativa. Nesta pesquisa, o estudo de caso do tipo etnográfico gerou um enorme volume de corpora que precisaram ser organizados e entendidos por meio de um processo continuado, em busca de identificação de categorias, relações, tendências, caracterizando-se num processo complexo e que não ocorreu de maneira linear, pois implicou em um trabalho de organização e interpretação tendo início desde a fase exploratória da pesquisa e se estendendo por todo o ciclo investigativo. Nesta perspectiva de análise, foi possível elaborar uma versão teórica da realidade pesquisada sendo esta utilizada necessariamente para explicá-la.

Após a constituição dos corpora durante a investigação, iniciamos o processo inicial de categorização, a partir da análise de conteúdo. Neste ponto do texto, apresentamos como se deu esse processo não como modelo a ser seguido, mas na condição de possibilitar o entendimento de organização dos

corpora da referida pesquisa, ou mesmo elucidar como se deu a

sistematização de nossos achados.

O momento de constituição do corpus documental exigiu bastante calma, seguido de leituras atentas e ativas, uma vez que esta é uma atividade primordial no percurso investigativo, pois exige o levantamento completo do material necessário às análises. Assim, todos os registros em notas de campo, transcrição, textos extraídos da proposta pedagógica, plano municipal de educação, planos, planejamentos, e projeto político-pedagógico, os registros do questionário, entrevista e observação, passaram por uma reorganização até chegar aos corpora da pesquisa. Tendo em vista a quantidade de documentos levantados durante esta investigação, realizamos o trabalho a partir de amostras representativas dos documentos até chegarmos a um sistema de categorias que nos pareceu satisfatório, considerando que o objetivo da análise de conteúdo é o de organizar um conjunto de mensagens, num sistema de categorias que traduzam as principais ideias veiculadas pelos documentos em análise. Corresponde a momentos de intuição, que tem por objetivo operacionalizar e sistematizar os pensamentos, no sentido de se conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento, pois estas são operações sucessivas num plano de análise (BARDIN, 2011).

Na fase preliminar de categorização nos guiamos pelos processos de recorte e diferencial vertical, documento a documento, e em seguida pelo

reagrupamento e comparação horizontal dos documentos, estes já constituídos em corpora, a partir de um caráter indutivo de pesquisa. Esta fase se caracterizou enquanto pré-análise da referida investigação. O recorte vertical e diferencial trata do esmiuçamento de todos os documentos transcritos, nos quais procuramos desvendar seus significados. Este processo iniciou-se logo após as transcrições das observações, entrevistas, análise documental e aplicação de questionário, organizando-os enquanto produtos primários de análise, sendo este um procedimento que nos exigiu ainda tempo, disponibilidade e bastante atenção.

Do processo de recorte vertical, passamos ao reagrupamento e comparação horizontal. Finalizado o referido processo, enveredamos pela reformulação destes, e pela busca de aperfeiçoamento, reelaborando então em mapa conceitual. Este nos serviu de guia para a construção de uma matriz geral, sendo essa formada por temas e categorias. Assim, os dados construídos inicialmente passaram pela referida espécie de recorte, na qual os relatos foram decompostos, para em seguida, serem recompostos para melhor expressar seu significado. Apresentamos a seguir, com o intuito de melhor visualização, o mapa conceitual que caracterizou nosso itinerário investigativo:

FIGURA 1: MAPA CONCEITUAL DA PESQUISA MAPA CONCEITUAL DO PROCESSO INVESTIGATIVO

FONTE: Elaborado pela pesquisadora

MOTIVAÇÃO PARA A PESQUISA: Continuidade dos estudos; anteriores; Curiosidade epistemológica; Inquietações sobre o tema; Sentimento de pesquisadora na área; PROCESSO EXPLORATÓRIO: Objetivos; Objeto; Questão de partida: Pressuposto; Busca incessante de embasamento teórico e empírico; CAMINHO METODOLÓGICO: Observação participante; Utilização de procedimentos de construção dos corpora;

Análise documental: Entrevista semi- estruturada; Questionário; Procedimento de organização e análise dos corpora Análise de conteúdo;

Elaboração das matrizes;

Interpretativa e reflexiva: escuta sensível;

Triangulação;

Apresentação dos achados da pesquisa;

Contributos da tese;

Os elementos recortados se constituíram em unidades de análise, que foram aproximadas e confrontadas entre si, atendendo o segundo objetivo da análise de conteúdo, que é o de elaborar um texto que traduza pontos comuns e divergentes das mensagens analisadas, no sentido de avançarmos na interpretação final por meio da discussão dos resultados da pesquisa e, posteriormente, na eventual teorização, enquanto desdobramento da pesquisa a partir da triangulação dos corpora em um processo interpretativo e reflexivo. Sobre essa questão, Amado (2013) nos alerta que tudo isso deverá ser feito num conjunto de etapas que devem obedecer a alguma ordem e sistematicidade.

Desse modo, o trabalho de sistematização dos corpora construídos nesta investigação ocorreu a partir de quatro etapas. As etapas não ocorreram de maneira linear, mas se imbricaram entre si, durante todo o processo investigativo: a) a primeira se deu por meio das transcrições, tanto das observações, quanto das entrevistas e documentos analisados, e questionários, seguida das leituras exploratórias dos mesmos; b) a segunda etapa se caracterizou pela organização dos documentos em um processo de recorte, seguida de sucessivas revisões do processo; c) a terceira etapa ocorreu com o reagrupamento dos recortes, emergindo assim o mapa conceitual da pesquisa, que por fim se desdobrou na elaboração das matrizes, na qual se esboçam as categorias; d) a quarta etapa ocorreu com a interpretação refinada das categorias elaboradas. Esta etapa se constituiu num processo de construção teórica que respaldou os resultados da pesquisa, no sentido de contribuirmos com a modalidade em estudo, bem como com a produção do conhecimento na área.

O momento de categorização da investigação resultou em longos períodos de estudos atentos, disciplina intelectual e interpretação das unidades de registro, por meio das transcrições realizadas, que foram levadas para a matriz e se condensaram, apresentando os dados construídos e posteriormente refinados. Este trabalho se assemelha à atividade de um artesão na construção de um mosaico, no qual as peças se imbricam como uma arte e vão formando um todo nunca visto, mas de grande importância aos olhos dos/as interessados/as.

Outro ponto a ser mencionado é que juntamente com a organização das observações, também agrupamos os corpora que resultaram da análise documental e questionário. Assim, todo o corpus, enquanto material de análise, foi codificado da seguinte forma: DOC1- Fichas de matrículas e Questionários, DOC2- Entrevistas, DOC3- Observações, DOC4- Planos de aulas; DOC5- Planejamentos; DOC6- Proposta Pedagógica para a Educação Básica de Jovens e Adultos do Estado de Alagoas.DOC 07- Projeto Político-Pedagógico da Escola. DOC 08- Plano Municipal de Educação. Nesta sistematização, organizamos as matrizes representando cada documento. Para categorizar as observações, levamos em consideração as circunstâncias ocorridas durante os momentos de observação da ação das professoras em sua sala de aula, à luz do objeto de estudo. Assim, consideramos as atitudes didáticas e metodológicas destas com enfoque na relação com as diferenças socioculturais dos/as educandos/as.

Quanto às análises das observações participantes, estas foram transcritas mediante roteiro pré-estabelecido, de acordo com os objetivos da investigação. Buscamos apreender o máximo de conhecimento sobre o evento estudado durante suas ocorrências na sala de aula da EJA. Então, organizamos a sistematização do material por meio da análise de conteúdo também, caracterizando o documento resultante deste, a partir de transcrições e comentários da pesquisadora, repensando os eventos recorrentes, fazendo recortes, categorizando. Após o processo inicial de categorização da pesquisa em discussão, continuamos numa fase mais complexa, também a mais criativa, pois se tratou do momento final de categorização, como enfatiza André (2010). Desse modo, o percurso metodológico sustentado na análise de conteúdo nos possibilitou a elaboração de uma síntese, por meio de um processo de interpretação, direcionando o estudo em temas e categorias que emergiram dos procedimentos da investigação, de acordo com o quadro a seguir:

QUADRO 2: Organização sistemática das categorias

TEMAS CATEGORIAS

1- A ação docente na EJA;

1.1. Saber fazer do professorado orquestrado pelo habitus;

1.2. Atividade de ensino organizada na estratégia de aulas expositivas e de trabalho em grupo;

1. Aspectos do currículo na EJA;

2.1. Currículo oficial e a diversidade cultural; 2.2. Currículo oculto de caráter linear; conteudista; turístico, oscilante e homogeneizador;

FONTE: Elaborado pela pesquisadora

Enfatizamos que esse processo de investigação se caracterizou num movimento de vaivém, elevando o estado empírico da pesquisa para o teórico, o teórico para o empírico, resultando num momento dialético, na busca incessante de dar significado aos corpora. Além deste movimento, consideramos esse percurso investigativo como uma arte que se vislumbra, e que se dá num ato dialógico, e ao mesmo tempo acompanhado de tantos/as outros/as pesquisadores/as, autores/as, estudiosos/as que, tão distantes, alguns até mesmo em outros continentes, pois se fizeram presentes a todo instante, no pensamento, nas interações de ideias, nos diálogos que travamos entre estes até chegar ao arcabouço final da pesquisa. Ressaltamos que o trabalho não cessou desde o período exploratório da pesquisa, exigindo-nos um enorme esforço e perseverança, num processo de trabalho que segundo Amado (2013), embora seja rigoroso, não deixa de se constituir em momentos de tentativas, na busca de respostas à questão proposta pela pesquisa.

A ação docente do/a professor/a da EJA e sua relação com as diferenças socioculturais dos/as alunos/as situam-se no plano de evidenciarmos a referida ação, tendo como pano de fundo as categorias acima mencionadas. Como já explicitamos, entendemos que os aspectos que

sustentam as ações das professoras investigadas são de suma importância para justificá-las, e se vinculam à intenção propriamente dita da investigação - compreender o objeto de estudo tendo em vista o aprofundamento dos referidos aspectos, atrelada à necessidade de desvelarmos o currículo que vem se delineando na modalidade em pauta, a partir de uma interpretação rigorosa. Na próxima sessão as discussões estão voltadas para as categorias acima representadas no quadro de sistematização.