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3 OS CONCEITOS ESTRUTURANTES E MEDIADORES

3.5 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

A descrição, análise e interpretação do nosso objeto de pesquisa se realizam com base na pesquisa bibliográfica, iconográfica e, especialmente, através da observação de fotografias dos conjuntos urbanísticos, assim como da observação direta dos monumentos isolados em trabalho de campo e extraídas do Inventário4 do IPAC de 1982, anteriormente referido, além de outras fontes.

Trata-se de imagens que reúnem um painel com fotos panorâmicas dos centros históricos das referidas cidades, além de fotos de monumentos isolados. Nossa intenção é a de reuni-las com o objetivo de observarmos de forma conjunta e daí detectarmos as similaridades de padrões arquitetônicos e concomitância temporal, fatores que subsidiarão nossa tese. Na página eletrônica do IPAC encontramos informações 5 importantes sobre o referido documento6.

4O inventário acima referido foi realizado com apoio financeiro do Governo Federal, através do Programa das

Cidades Históricas do Nordeste e com apoio também da Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador (CONDER). A execução ficou a cargo do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), com a colaboração do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (FPACBa); do Centro de Estudos de Arquitetura Baiana (CEAB) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como se vê, trata-se de um importantíssimo estudo, que teve vários agentes estatais envolvidos, especialmente em nível federal e estadual.

5 O Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia, também conhecido como IPAC/SIC, foi executado na

década de setenta do século XX, sob coordenação do arquiteto Paulo Ormindo de Azevedo, através da Secretaria da Indústria e Comércio/Coordenação de Fomento ao Turismo, Governo do Estado da Bahia. Constituiu-se como iniciativa pioneira no Brasil, utilizando como base o sistema desenvolvido pelo Conselho de Cooperação Cultural da Europa para o fichamento de monumentos, o qual era usado por várias nações. O Inventário baiano aprimorou o método do referido Conselho, definindo sua própria metodologia de levantamento e avaliação dos bens culturais. Trata-se de um inventário sistemático que inclui não apenas os bens tombados, mas também monumentos que à época não eram reconhecidos como tal, mas já eram considerados como ameaçados. No IPAC/SIC, os monumentos foram agrupados segundo grandes categorias:

1. Arquitetura religiosa assistencial ou funerária; 2. Arquitetura militar;

3. Arquitetura civil de função pública; 4. Arquitetura civil de função privada;

Bertrand (2014) assevera o seguinte sobre a relação entre o Geógrafo pesquisador e o uso da fotografia como procedimento de pesquisa:

Em Geografia, assim como em Fotografia, há de início o olhar. Mais precisamente olhares múltiplos, cruzados, que varrem e exploram o visível, e o interrogam no anseio de tudo abraçar. O real torna-se uma paisagem. Em seguida vem o momento do ato fotográfico. Ele é uma escolha. Escolha do melhor ângulo de visão, que irá relatar, se não a realidade, pelo menos a nossa percepção num dado momento. De modo mais ou menos explícito, relatará aquilo que queremos demonstrar. E mediante uma dupla objetiva primeiramente a do olho do pesquisador; depois, a do aparelho fotográfico. A fotografia capta, enquadra e fixa uma imagem. Ela jamais é neutra (BERTRAND, 2014, p. 6).

Concordamos com assertiva acima, pois por trás de uma imagem fixa, existem várias categorias basilares para a interpretação em Geografia, tais como a forma, o processo, a estrutura e a função, embutida numa paisagem, que jamais seria possível apreendê-la apenas pela fotografia. Entretanto, por outro lado concordamos que a imagem, quando analisada e precedida por uma análise geohistórica bem estruturada do ponto de vista científico, pode nos oferecer pistas importantíssimas na interpretação das paisagens.

Neste sentido, corroboramos com a visão de Costa (2014), para quem,

[...] “Consciência, imagem, imaginário e imaginação perfazem o domínio dos sentidos, da significação e da percepção das coisas do mundo” [...] Então, a paisagem, enquanto expressão concreta da estrutura social, produz e é produzida por estes sentidos que também forjam imagens e imaginários da memória (COSTA, 2014, p. 86).

5. Arquitetura industrial ou agrícola.

Lançado o primeiro volume em 1975, o Inventário passou a ser um instrumento técnico-administrativo de referência para a valorização e preservação do patrimônio cultural baiano, destinado a facilitar a tarefa de preservação no Estado. Sete volumes compõe o Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia:

Volume I – Monumentos do Município do Salvador;

Volume II – Monumentos e Sítios do Recôncavo, I Parte; Volume III – Monumentos e Sítios do Recôncavo, II Parte;

Volume IV – Monumentos e Sítios da Serra Geral e ChapadaDiamantina; Volume V – Monumentos e Sítios do Litoral Sul;

Volume VI – Monumentos e Sítios das Mesorregiões Nordeste, Vale SanFranciscano e Extremo Oeste Baianos; Volume VII – Monumentos da Região Pastoril Disponível em: <http://patrimonio.ipac.ba.gov.br/documentacao- e-memoria/ipac-sic/>. Acesso em 05/09/2014, grifo nosso).

6 Os volumes impressos do Inventário de proteção do acervo cultural; monumentos e sítios do Recôncavo (I

parte. 2ª ed, v.2, de 1982; II parte. 1ª ed. v. 3), também de 1982; foram utilizados como referência teórica e empírica em todo o processo de pesquisa.

A assertiva acima vai ao encontro do que preconiza Bertrand (2014, p. 6), quando afirma que “[...] fotografar é um ato de criação e a imagem fotográfica é um artefato – detalhe que costumamos esquecer, ou minimizamos, quando utilizando-a como documento, desejamos comenta-la”. O referido autor nos indica que a fotografia deve ser usada com “espírito crítico” e “preocupação”, pois se trata de um documento complexo, fruto do olhar e não apenas “a imagem de um objeto; é também o espelho do fotógrafo”. Ou seja, da percepção do sujeito em relação ao objeto.

Nesse sentido, em nosso procedimento de pesquisa a iconografia - fotografias de época e atuais, além de imagens pictóricas – foram usadas como elementos fundamentais de apoio ao texto. Porém, com o cuidado de não extrapolar nas interpretações das mesmas, principalmente, as fotografias por nós elaboradas. No caso das fotos e imagens utilizadas como fontes secundárias, especialmente àquelas oriundas do Inventário do IPAC, as descrições foram basicamente reproduzidas do referido documento, seguidas de análise crítica, contextualizadas com os objetivos de pesquisa. Escolhemos aquelas fotos que para nós, melhor representaram a narrativa espacial e o uso do espaço urbano e regional. Daí partimos para a nossa narrativa.

Para Loizos (2008, p. 138) a imagem “[...] oferece um registro restrito, mais poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais – concretos, materiais”. Considera que a pesquisa social, que contempla complexas questões teóricas e abstratas pode empregar a informação visual como dado primário, embora os registros fotográficos não possuam a tridimensionalidade da realidade. Eles são bidimensionais, pois se apresentam de forma simplificada, dependente, reduzida das realidades que os originaram. É uma escala secundária de análise, por isso os problemas aparecem, já que nada mais são “[...] que representações, ou traços, de um complexo maior de ações passadas” (LOIZOS, 2008, p. 138).

Escolhemos duas dimensões de análise iconográfica para o patrimônio edificado nas cidades pesquisadas: os monumentos isolados e os conjuntos urbanísticos. A primeira dimensão se constitui de duas categorias de edifícios: os de função pública e administrativa (Casas de Câmara e Cadeia e Paços Municipais); e os edifícios de função religiosa (Igrejas Matrizes). Esses edifícios se destacam na paisagem urbana e foram erigidos antes do período estipulado do nosso recorte temporal. A segunda dimensão de análise inclui os conjuntos de edifícios e arruamentos residenciais erguidos entre 1823 e 1889.

O nosso trabalho de campo serviu de base para obtermos uma ideia da atual situação dos sítios e monumentos pesquisados, - muito embora este não seja o objetivo principal da

pesquisa, mas torna-se de fundamental importância para o que propomos como produto da mesma, - no que tange ao estado de conservação -, suas transformações e permanências.

Como a pesquisa tem como foco o patrimônio urbano, aqueles edifícios que representaram a materialidade da cultura e da economia açucareira que se situam ou situavam- se na zona rural, ficaram de fora da nossa análise. É o caso de muitos edifícios de “casas grandes” de antigos engenhos espalhadas por fazendas em todo o Recôncavo.

Feitas as devidas premissas teórico-metodológicas anteriormente vistas, no capítulo dois e três, no próximo capítulo tratamos da formação territorial e política do Recôncavo Baiano no contexto de sua formação socioespacial, que é a categoria da tese e que se dá na escala nacional. Guardadas as devidas proporções da formação socioespacial e socioeconômica na dimensão escalar das regiões, no processo de consolidação do território brasileiro. Portanto, para compreender a produção do espaço das cidades históricas portuárias do Recôncavo Baiano, se faz necessária a compreensão inicial do contexto geohistórico no qual se formaram, em sua totalidade. É o que veremos a seguir.

4 – O RECÔNCAVO BAIANO NO CONTEXTO GEOHISTÓRICO DA