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4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.2 Procedimentos e instrumento

Optamos por realizar entrevistas de Relato Oral de Vida que, segundo Lang, Campos e Demartini (2001), caracteriza-se por uma solicitação feita pelo

pesquisador para que o narrador conte sua história de vida, enfatizando características, fases ou aspectos que estivessem relacionados com o objeto da pesquisa, dando-lhe, no entanto, liberdade para a construção do seu relato. Dessa forma, pedimos aos nossos narradores que contassem suas histórias de vida enfatizando a sua militância ambiental.

Essa é uma modalidade de entrevista que possibilita um estudo sobre a vida das pessoas, penetrando em sua trajetória histórica e compreendendo a dinâmica das relações que estabeleceram ao longo de suas existências, podendo, inclusive, mostrar os diversos posicionamentos identitários que os participantes adotam na elaboração da própria história, as diferentes instituições sociais com as quais se relacionaram e como essas relações colaboraram para a construção da sua identidade pessoal. Portanto, decidimo-nos pelo relato de vida por ver nele a possibilidade de fazer a reconstrução de um processo sociocultural por meio de uma experiência particular, qual seja a construção de uma identidade política influenciada por um discurso ambiental.

Assim, analisamos os relatos orais de vida dos depoentes considerando-os como interpretações individuais de uma experiência social:

As histórias de vida continuam sendo instrumentos fundamentais para a compreensão e análise de relações sociais, de processos culturais e do jogo sempre combinado entre atores individuais e experiências sociais, entre objetividade e subjetividade (KOFES, 1994, p. 140).

Por essa razão, Kofes (1994) propõe que consideremos as histórias de vida como uma fonte de informação (pois o sujeito fala sobre uma experiência que ultrapassa a ele mesmo), como uma evocação (visto que mostra a dimensão subjetiva e interpretativa de quem narra) e também como uma reflexão (uma vez que contém uma análise sobre a experiência vivida). Um aspecto interessante que precisa ser levado em consideração quando se trabalha com histórias de vida é que elas sintetizam tanto a singularidade do sujeito (quando este fala sobre suas interpretações e interesses), quanto a interação entre o pesquisador e o entrevistado, mas traz também uma referência objetiva, que transcende o sujeito e fala sobre o social.

Buscamos dar um caráter conversacional às entrevistas, que tiveram duração de uma ou duas horas, a depender da disponibilidade do depoente. Quando percebíamos que o entrevistado já estava ficando cansado de falar, interrompíamos a gravação e perguntávamos sobre a possibilidade de um novo encontro, numa outra data, para dar continuidade a sua entrevista. Essa estratégia se mostrou proveitosa por duas razões: primeiro, para evitar o cansaço do entrevistado, pois, ele se tornava mais conciso à medida que o diálogo se estendia; e também porque, no segundo encontro, já não éramos completamente desconhecidos e ele revelava-se mais à vontade para falar sobre si.

Com seis dos participantes que residiam em Manaus (AM), o segundo encontro não foi possível. Como eles faziam parte de ONGs que tinham trabalhos com populações tradicionais no meio da floresta, precisavam viajar regularmente e podiam ficar fora da cidade por mais de 30 ou 40 dias. Vale lembrar que há uma dificuldade de transporte no Amazonas, onde o trânsito entre cidades é realizado principalmente por via fluvial, que demanda mais tempo e logística. Com esses depoentes, nós ouvimos o seu relato oral de vida em um único momento, no qual procuramos aproveitar o máximo que pudemos. Essas são entrevistas um pouco mais longas, com mais de duas horas de duração.

Os participantes foram contatados e selecionados a partir do uso do procedimento “bola de neve”, no qual um sujeito indica outro, que por sua vez indica mais um, e assim por diante. Ou seja, a partir de uma fonte primeira, outros militantes foram indicados e convidados a participar; estes, por sua vez, recomendaram outros possíveis depoentes. Uma vez aceito o convite, realizamos as entrevistas, que foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra.

Para conduzir melhor esse momento, à medida que o depoente estava relatando sua vida, ficávamos atentos a alguns pontos de interesse e, quando sentíamos a necessidade, nós o estimulávamos a trazer mais informações para o seu relato. Procuramos considerar tanto os aspectos de suas histórias pessoais, passando pela formação profissional e o trabalho que realiza com o meio ambiente, quanto as suas impressões sobre o ambientalismo e o político. Assim, iniciávamos perguntando sobre o seu trabalho com o meio ambiente, pedindo uma descrição das atividades, como havia começado e o que motivou o seu envolvimento com o ambientalismo. Foram nossos interesses também as suas impressões sobre o

ambientalismo no Brasil e, ainda, sobre a sua relação com a política, tanto em nível local quanto nacional, inclusive sobre a agenda ambiental dos atuais partidos políticos.

Nesse sentido, é importante frisar que, numa entrevista de análise de discurso, o entrevistador adota uma postura ativa, diferentemente do que acontece em outras abordagens metodológicas. Ele, diante das respostas dos depoentes, pode fazer novos questionamentos e intervenções, pedindo mais elucidações, explicações etc. Wetherell e Potter (1992) lembram que, numa abordagem discursiva, as entrevistas são tratadas como uma interação social e, nessa direção, o entrevistador contribui tanto quanto o entrevistado, pois ambos estão construindo versões que compõem uma variedade de fontes interpretativas: “Ambos são tópicos analíticos de interesse” (p. 99). Desse modo, a ideia de que o pesquisador deve adotar uma postura neutra e distante não é interessante para os nossos objetivos.