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Os procedimentos relacionados à pesquisa empírica foram conduzidos a partir do instrumento definido por nós, que foi a entrevista semiestruturada. Assim, o modo de ação referente ao trabalho de campo tomou por base os fundamentos da pesquisa qualitativa sob as lentes da abordagem histórico-cultural, que sinaliza a importância de considerarmos que, em

meio a uma gama de propostas de desenvolvimento das entrevistas, é preciso compreendê-la não como sendo apenas uma técnica de recolher dados, mas como um “processo dialético” no qual devem prevalecer relações baseadas no diálogo, no respeito, especialmente por entendermos que investigamos processos humanos e não coisas, objetos em si mesmos, o que vai ao encontro das proposições de Bakhtin (2003) para a relação entre pesquisador e sujeitos pesquisados, ao enfatizar a ética responsiva que se traduz na responsabilidade do pesquisador com seus sujeitos participantes.

A partir do proposto por Bakhtin (2003), podemos pensar a entrevista como situações de interação, de encontro e diálogo entre pesquisador e pesquisados em que se busca a produção de discursos, de enunciados nos quais possamos identificar sentidos atribuídos às temáticas em foco.

Nesses termos, as entrevistas semiestruturadas podem propiciar a criação de situações em que há abertura e flexibilidade necessárias à assunção de posições por parte dos entrevistados a partir das questões ou temas propostos pelos pesquisadores. André e Ludcke (1996, p.34) esclarecem que “[...] o tipo de entrevista mais adequado para pesquisas na área de educação são aquelas que se aproximam dos esquemas mais livres, menos estruturados”. Por isso, a escolha da entrevista semiestruturada.

As entrevistas desenvolvidas foram do tipo individual, por entendermos que os sujeitos ficariam mais à vontade para construírem suas respostas, seus “textos” singulares, mas também pela dificuldade encontrada em realizar encontros com profissionais que atuam em instituições diferentes, em condições diversas. As entrevistas foram gravadas e transcritas mediante escuta cuidadosa e rigorosa, com vistas a construir um corpus de dados legítimos e próprios dos sujeitos a ser analisado com riqueza e profundidade.

Ao nos aproximarmos dos sujeitos, apresentamos nossa pesquisa, bem como o termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice 1) para participação no trabalho e, a partir do roteiro da entrevista (Apêndice 3), desenvolvemos o trabalho, em um encontro que aconteceu nas respectivas instituições, onde atuam os formadores.

Os temas do roteiro, que se encontram no Apêndice 3, versam em torno do objeto de nossa investigação: “Sentidos da formação de professores alfabetizadores em cursos de Pedagogia”. Esse formato garante que não façamos do momento da entrevista uma mera aplicação de questionário. Assim, priorizamos aprofundar elementos referentes aos temas que

poderiam nos ajudar a compreender o nosso objeto – formação de alfabetizadores em cursos de Pedagogia. Os temas não são questões fixas e prontas para o entrevistado responder. Consistem em quase “um convite” ao entrevistado para falar com tempo para refletir. As entrevistas possibilitam empreender um trabalho coletivo no qual a linguagem – a palavra – é o instrumento principal da interação: “[...] a entrevista é a interação, uma troca de ideias e de significados em que várias realidades e percepções são exploradas”. (GASKELL, 2010, p.73).

O diálogo, compreendido segundo a perspectiva de Bakhtin, é a base no processo de investigação que tem a entrevista como procedimento, especialmente porque as falas dos sujeitos são reveladoras de suas características particulares. Como assinala Freitas (2002, p.28), “[...] na verdade, a entrevista é uma produção de linguagem, uma vez que esta se realiza pela interação verbal, cuja realidade fundamental é o seu caráter dialógico”. Dessa perspectiva, Bakhtin (1992) considera que no momento das entrevistas são produzidos discursos entendidos como uma unidade real da comunicação. Dessa forma, a entrevista é como um espaço de produção de enunciados que se alternam e em que se constroem sentidos na interação das pessoas envolvidas.

É importante lembrar que os sub-temas constituíram-se como roteiro da entrevista e emergiram dos temas centrais: O que é alfabetização? O que é Formação docente? Como formar professores alfabetizadores em cursos de Pedagogia?

Em relação ao primeiro tema (O que é alfabetização?) os desdobramentos relativos ao mesmo, constituem-se basicamente de questões relacionadas à trajetória para tornar-se professor do curso de Pedagogia (pertença/histórica) o que envolve a busca por compreender as experiências que contribuíram para ser professor do curso e da disciplina de alfabetização (motivações, expectativas). Segue-se um percurso para compreender as significações dos sujeitos em relação à alfabetização como área de ensino e de pesquisa, com seus desafios.

No segundo tema central (O que é formação docente?) a intenção foi identificar como compreendem a formação de professores, sobretudo no contexto do curso de Pedagogia, para apreender os sentidos e ao mesmo tempo sua atividade como formador no curso. Entender o que pesam, sentem e fazem em relação a como se forma professores. E por fim, o terceiro tema central (Como formar alfabetizadores em cursos de Pedagogia?) constituído por elementos ou sub-temas que contribuem para apreensão dos sentidos, dos sujeitos em relação

às questões mais especificas da formação de professores alfabetizadores no contexto de cursos de Pedagogia.

Assim, discutimos alfabetização e formação docente, a fim de apreender as bases sobre as quais os sujeitos constituem seus sentidos sobre a formação de alfabetizadores sobre as possibilidades e desafios.

É importante destacar que, os desdobramentos dos temas e sub-temas - conforme consta no (APÊNDICE 2) - não se constituem como elementos rígidos, mas como, um norte para não perdemos de vista alguns aspectos importantes, bem como a garantia, de que alguns princípios da abordagem histórico-cultural fossem levados em conta dentre os quais destacamos: considerar os sujeitos em seus contextos histórico, social e cultural, garantir um diálogo e, não, um interrogatório, e promover um clima de confiança, uma escuta atenta e um olhar apurado diante do dito e do não dito, dos sentidos e sem sentidos, que permearam esses encontros.