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DO EXERCÍCIO DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR PÚBLICO E LABORAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.3. Procedimentos especiais:

1.3.1. Abandono do trabalho e procedimento por falta de assiduidade (172):

Considera-se abandono do trabalho a ausência do trabalhador ao serviço acompanhada de factos que, com toda a probabilidade, revelem a intenção de o não retomar, presumindo-se suficientes a ausência ao serviço durante 10 dias úteis seguidos, sem que o empregador recebido comunicação da sua ausência, salvo prova da ocorrência de motivo de força maior impeditiva dessa mesma comunicação (n.ºs 1, 2 e 3 do art. 450.º do CT). Por outro lado, será levantado um procedimento por falta de assiduidade (constante no art. 72.º do EDFA), sempre que um funcionário ou agente deixe de comparecer ao serviço durante 5 dias seguidos ou 10 dias interpolados sem justificação, salvo se fizer se aquele fizer prova de motivos atendíveis, pois caso contrário, aquele será demitido (arts. 71.º e 72.º do EDFA); este é um dos procedimentos especiais a que se reporta o n.º 1 do art. 35.º do EDFA. Mais uma vez,

1 – Data da Infracção: O procedimento disciplinar prescreverá se não for instaurado no prazo de 1 ano a contar da data em que a infracção for cometida.

2 – Conhecimento da infracção pelo superior hierárquico; Instauração imediata do procedimento de através da nomeação do instrutor; início da instrução: A instrução tem lugar, logo que o instrutor nomeado dá conhecimento à entidade empregadora do inicio do procedimento, terminando com o arquivamento ou com a emissão da nota de culpa. Uma solução possível será equiparar esta fase de instrução, constante no EDFA, com o procedimento prévio de inquérito do CT. Note-se que o prazo de 60/65 dias tem que ver com o seguinte: no procedimento prévio de inquérito o período mínimo é de 60 dias (30+30), podendo ser excedido dependendo da duração daquele; por outro lado, no EDFA, o período máximo para a duração da instrução é de 65 dias (10+45+5+5), sendo assim este o limite máximo.

3 – Termo da instrução: Nota de culpa; Arquivamento ou Prescrição: Coloca-se aqui o seguinte problema: o procedimento prévio de inquérito serve para fundamentar a nota de culpa. Como é que se poderá chegar então à solução de arquivamento? A solução passa, no caso dos contratados, deixar passar o prazo de 30 dias do processo de prévio de inquérito, o que fará prescrever o procedimento, chegando-se à mesma solução que o arquivamento.

4 – Defesa: Deve ser realizada no prazo de 10 dias úteis (este é o prazo constante no CT).

5 – Produção de prova oferecida pelo arguido; Relatório Final do Instrutor: O prazo de elaboração é corresponde ao limite mínimo de 25 dias (20(Prova)+5(Relatório)) e ao limite máximo de 60 (40+20), uma vez que o CT não apresenta prazo.

6 – Decisão: O prazo de 30 dias corresponde ao constante no CT.

estamos perante regimes diferentes. “Desapareceu no actual Estatuto o processo por

abandono de lugar (vd art. 71.º do anterior Estatuto) que se presumia logo que o funcionário desse cinco faltas seguidas depois de manifestar a intenção de abandono ou faltasse injustificadamente durante trinta dias independente daquela manifestação de intenção. Verifica-se, assim, que é mais simples, mas também rigoroso, o actual regime. Neste não há qualquer presunção legal de abandono pelo o que será mais fácil ao faltoso provar a impossibilidade de justificação atempada das faltas ao serviço. O que o legislador considera é que aquele número de faltas é fundamento (objectivo) para a cessação da relação de serviço” (173). O abandono do trabalho exige a verificação cumulativa da ausência do trabalhador ao serviço e a ocorrência de factos que revelem a intenção a intenção do trabalhador de não retomar o serviço; na realidade, traduz-se numa “declaração rescisória tácita por parte do trabalhador resultando de factos que,

com toda a probabilidade, revelam uma vontade negocial com certo conteúdo, carecendo normalmente de tal significado os casos por doença (…) cabendo à entidade patronal, o ónus da prova do facto positivo base da referida presunção: ausência do trabalhador durante pelo menos 15 dias seguidos (…) e, se antes da remessa da comunicação escrita registada com aviso de recepção, o trabalhador se apresentar ao trabalho, quebrou-se o período de ausência susceptível de conduzir ao abandono de trabalho” (174). Sendo, conforme se referiu, uma situação de denúncia tácita do contrato de trabalho, o abandono, pela falta de aviso prévio que necessariamente envolve, obriga igualmente o trabalhador a uma indemnização pelos prejuízos causados, a qual não pode ser inferior ao montante referido no art. 448.º do CT (n.º 4 do art. 450.º do CT).

Por fim, refira-se uma palavra no que respeita à intenção da CLBRL relativamente a este ponto: Assim, o facto de constatarem nesta sede que, muitos dos litígios decorrem da circunstância de que à ausência justificada do trabalhador por período determinado (implicando a suspensão do contrato de trabalho), quando cessado este, seguia-se uma completa omissão da justificação da sua ausência, pelo que propõem um aditamento ao n.º 3 do art. 228.º do CT, obrigando uma repetição da comunicação e justificação das ausências por parte do trabalhador (175); uma vez mais,

procura-se a celeridade e simplificação do procedimento disciplinar.

173 RIBEIRO, op. cit., p. 95. 174 Cfr. Ac. STJ, de 22/10/96 175 CLBRL, op. cit.,p. 116.

1.3.2. Procedimento de inquérito:

O procedimento de inquérito é ordenado para se apurar se num serviço foram efectivamente praticados factos de que há rumor público ou denúncia popular e qual o seu carácter e imputação. O inquérito pode concluir pela prova de que os factos indicados foram efectivamente praticados e pela individualização dos seus autores, instaurando-se o respectivo procedimento disciplinar. Têm competência para ordenar Inquéritos os órgãos executivos, no âmbito do poder local.

Uma questão que se coloca é a de saber qual o regime a aplicar no procedimento de inquérito. Ora, o n.º 1 do art. 87.º do EDFA refere que, “concluída a instrução do

processo, deve o inquiridor (…) elaborar, no prazo de 10 dias, o seu relatório, que remeterá à respectiva (…) autarquia local para ser presente à entidade que o mandou instaurar, salvo se houver motivo para instauração de processo disciplinar nos termos do n.º 3 e 4 deste artigo” (sublinhado nosso).

Do exposto podemos concluir pela existência de um procedimento de inquérito: (1) Verificação dos factos pela entidade competente para instaurar o procedimento  (2) Instrução (arts. 45.º e ss., por remissão do n.º 4 do art. 87.º)  (3) Elaboração do relatório (10 dias)  (4) Envio imediato do relatório à Autarquia Local (entenda-se superior hierárquico)  (5) Envio à entidade competente que mandou instaurar o procedimento.

1.3.3. Procedimento de meras averiguações:

Este expediente destina-se à obtenção de elementos necessários à adequada qualificação de eventuais faltas ou irregularidades verificadas nos serviços, para ulterior procedimento. Trata-se de um procedimento expedito e menos solene (176) para situações ainda não definidas nem suficientemente demarcadas, ou seja, quando não se sabe correcta e concretamente o que seja. O desencadeamento deste procedimento não é prejudicado pelo prosseguimento de processos de Inquérito ou de Sindicância, pois que todos se completam, no objectivo de moralizar os serviços através da correcção e censura das distorções existentes. Têm competência para a instauração destes procedimentos os directores-gerais ou equiparados, órgãos executivos, ou quaisquer

funcionários com funções de direcção ou chefia ou competentes para a instauração de procedimentos disciplinares.

1.3.4. Procedimento de sindicância (devassa):

O processo de sindicância é uma ampla investigação destinada a averiguar como funciona certo serviço e qual o grau de observância de disciplina por parte de todos os seus agentes. Note-se que, a Sindicância pode conduzir à descoberta de muitas infracções à disciplina e dos seus presumíveis autores. Têm competência para ordenar Sindicâncias os órgãos executivos, no âmbito do poder local. No que respeita ao procedimento vale aqui o que se disse para o procedimento de inquérito, com as especialidades relativas aos anúncios (art. 86.º do EDFA).

2. CASE STUDY – EXERCÍCIO DO PODER DISCIPLINAR NA CÂMARA