• Nenhum resultado encontrado

DO EXERCÍCIO DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR PÚBLICO E LABORAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.2. Procedimento comum:

1.2.6. Unidade de procedimentos?

Chegados a este ponto levanta-se uma questão essencial: será possível uma unificação de regimes - EDFA e CT - em termos de procedimento disciplinar? Torna-se pois necessário confrontar os regimes e verificarmos os pontos comuns.

1.2.6.1. Procedimento disciplinar no EDFA (167):

167 Em jeito de legenda:

1 – Data da Infracção: o procedimento disciplinar prescreverá se não for instaurado no prazo de 3 anos a contar da data em que a infracção houver sido cometida (n.º 1 do art. 4.º do EDFA).

2 – Conhecimento da infracção pelo superior hierárquico.

3 – Instauração do procedimento através da nomeação do instrutor: terá que ser instaurado no prazo máximo de 3 meses a partir do conhecimento do superior hierárquico e dentro do prazo de 3 anos a contar da data da infracção, sob pena de prescrição (n.ºs 1 e 2 do art. 4.º; a instauração do processo tem início com a nomeação do instrutor (art. 51.º).

4 – Início do procedimento pelo instrutor no prazo máximo de 10 dias a contar da sua notificação (n.º 1 do art. 45.º).

5 – Termo da instrução: A instrução deve ter a duração máxima de 45 dias, só podendo ser excedida por despacho da entidade que o mandou instaurar, sob proposta fundamentada do instrutor, nos casos de excepcional complexidade (n.º 1 do art. 45.º). Note-se que os prazos aqui fixados são prazos administrativos; para além disso, tratam-se de prazos disciplinares, e não peremptórios, o que significa que, ultrapassados esses prazos, a consequência que daí pode advir é a aplicação de sanções de natureza disciplinar ao instrutor (o Estatuto Disciplinar anterior a 1979 fixava multas), mas os actos praticados continuam a ser plenamente válidos.

6 – Arquivamento: Se o instrutor entender que não é de se exigir responsabilidade disciplinar, elaborará no prazo de 5 dias o seu relatório, remetendo à entidade que o mandou instaurar, propondo que o arquive (n.º 1 do art. 57.º).

7 – Acusação: Se o instrutor entender que deverá deduzir acusação, deverá fazê-lo do prazo de 10 dias a contar do terminus da instrução, indicando as infracções e as penas a aplicar (n.º 2 do art. 57.º).

8 – Defesa: Logo após a notificação pessoal do arguido do conteúdo da acusação (ou por intermédio de carta registada), será fixado um prazo entre os 10 e os 20 dias, para apresentar a sua defesa, expondo-a de forma clara e concisa (n.º 1 do art. 59.º e n.º 1 do art. 63.º).

9 – Produção de prova oferecida pelo arguido: O instrutor deverá reunir as testemunhas e os demais elementos de prova oferecidos pelo arguido, no prazo de 20 dias (o qual pode ser prorrogado até 40 dias) (n.º 1 do art. 64.º).

|- (3 an) -| |---- (10d) ---|

|--|-(3m)-|-(10d)-|-(45d)-|-(5d)-|-(5d)-|-(10/20d)-|-(20/40d)-|-(5/20d)-|-(30/70d)-|

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

1.2.6.2. Tipologia do procedimento disciplinar no CT:

Existem dois tipos de procedimentos: o procedimento comum e o procedimento especial. O procedimento comum é relativo a todas as sanções constantes no art. 366.º do CT, salvo o despedimento com justa causa (n.º 1 do art. 371.º); o procedimento especial corresponde ao procedimento de despedimento com justa causa (arts. 411.º ss) (168).

É precisamente no procedimento comum que se suscitam mais problemas de interpretação do regime a aplicar.

Veja-se a título de exemplo, o disposto no n.º 1 do art. 371.º do CT: “A sanção

disciplinar não pode ser aplicada sem audiência prévia do trabalhador”. Ora, se assim

é, então terá que haver forçosamente uma fase de defesa do trabalhador. Mas defesa do quê e para quê? Defesa de uma acusação, para depois tomar-se uma decisão. Mais em

10 – Relatório Final do Instrutor: O instrutor elaborará, no prazo de 5 dias (pode ser prorrogado até 20 dias), um relatório completo donde conste a existência material das faltas, sua qualificação e gravidade, bem como a pena que achar por conveniente aplicar (n.ºs 1 e 2 do art. 65.º).

11 – Decisão: A entidade competente decidirá no prazo de 30 dias a contar ou da data de recepção do relatório do instrutor (al. a) do n.º 4 do art. 66.º); ou do termo do prazo quando solicite novas diligências (o prazo máximo é de 30 dias) (a.b)); ou do prazo de 10 dias da emissão do parecer do superior hierárquico do arguido (al. c)).

168 Qual será então a especialidade no procedimento disciplinar com vista ao despedimento com justa

causa, relativamente ao procedimento comum? A este respeito refere MONTEIRO FERNANDES: “Pode, fundamentadamente, perguntar-se se esse procedimento (especial) é aplicável a qualquer acção disciplinar, mesmo quando a infracção verificada não seja susceptível de integrar, justa causa de despedimento. Já sustentámos que sim, mas perante um contexto diverso do actual. Anteriormente, poderia raciocinar-se assim: potencialmente, qualquer procedimento disciplinar comporta, a priori, a hipótese de aplicação do despedimento; e não é concebível que se devesse retornar sobre uma tramitação já seguida para reiniciar o processo, pelo facto de se passar a considerar adequada a sanção de despedimento. Mas a redacção dada pela L 48/77 ao art. 11.º/1 LDesp., substancialmente retomada no art. 10.º/1 NLDesp., veio alterar os dados da questão. Juntamente com a nota de culpa, a entidade patronal deverá emitir comunicação da intenção de proceder ao despedimento (…) feita a aludida comunicação, e só se o tiver sido, o processo é susceptível de conduzir à decisão de despedimento. Nada impede, a nosso ver, que, não havendo intenção de despedir (por falta de correspondência objectiva entre os factos e a noção de justa causa), a tramitação seguida não coincida com a do art. 10.º/1 NLDesp.. Mas essa não coincidência apenas dirá respeito, como é evidente, aos passos não essenciais do processo, nomeadamente aos prazos fixados naquele artigo. Têm-se como essenciais – isto é, condicionantes da validade do procedimento disciplinar -, a dedução da nota de culpa, bem como a audiência do arguido (art. 31.º/3 da LCT), entendida como a oportunidade de se defender e produzir prova.” . Cfr. FERNANDES, António Monteiro, Direito do Trabalho, 11.ª Ed. Almedina, Coimbra, 1999, pp. 260-262.

detalhe, podemos dizer que, a defesa, seguindo o constante no regime especial, não visa senão a produção de prova a requerimento daquele, pelo que devemos acrescentar mais esta fase ao regime; por outro lado, nada impede que tenhamos um procedimento prévio para fundamentarmos a acusação (169).

Face ao exposto, e em conclusão, podemos ter no procedimento comum, pelo menos cinco fases: Procedimento Prévio (facultativa); Acusação; Defesa; Produção de Prova; e Decisão. Trata-se pois de um regime semelhante ao do procedimento especial.

1.2.6.3. Procedimento disciplinar especial no CT (170):

169 Senão vejamos o que diz ABÍLIO NETO a propósito do n.º 3 do art. 31.º da LCT de 1969

(corresponde actualmente ao n.º 1 do art. 371.º do CT) (169): “Não tendo a legislação do trabalho –

compreensivelmente, aliás – consagrado um esquema típico, sempre se poderá dizer que, embora sem sujeição a fórmulas rígidas e não se impondo sequer a redução a escrito do processado, há que observar, em todo o procedimento disciplinar, as três fases seguintes: a) Inquérito, investigação ou instrução, destinada a reunir os elementos de prova da existência do facto punível e determinação do responsável; b) Defesa, na qual será dada ao arguido conhecimento da acusação, através da nota de culpa se o processo tiver sido escrito, e se lhe facultará o respectivo exame, assinalando-se-lhe, de seguida, um prazo razoável dentro do qual deverá apresentar a defesa e indicar todos os elementos probatórios de que disponha (v.g., testemunhas e documentos) e requerer a realização de novas diligências); c) finalmente, apreciação e resolução do caso.” – Cfr. NETO, Abílio Contrato de Trabalho – notas práticas, 15.ª Ed., Ediforum, Lisboa, 1998, p. 201.

170 Em jeito de legenda:

1 – Data da Infracção: o procedimento disciplinar prescreverá se não for instaurado no prazo de 1 ano a contar da data em que a infracção houver sido cometida (n.º 2 do art. 372.º do CT); a partir do momento em que há um procedimento de inquérito prévio necessário para fundamentar a nota de culpa ou a partir da comunicação da nota de culpa ao trabalhador, a contagem do prazo de prescrição de 1 ano interrompe- se (n.º 4 do art. 411.º e 412.º)

2 – Conhecimento da infracção pelo superior hierárquico: Muito embora o procedimento disciplinar deva ser exercido no prazo de 60 dias a contar do conhecimento do superior hierárquico (n.º 1 do art. 372.º), sob pena de prescrição, este interrompe-se nos mesmos termos referidos no n.º 4 do art. 411.º e art. 412.º do CT; note-se que, trata-se efectivamente de um prazo de prescrição e não de caducidade porque neste o prazo não se interrompe (art. 328.º do CC).

3 – Instauração do procedimento prévio de inquérito: Trata-se de uma fase facultativa fazendo interromper os prazos do art. 372.º do CT, desde que sirva para fundamentar a nota de culpa. Não obstante, o prazo interrompe-se mas a duração desta interrupção não deve ser excessiva: trinta dias até ao início do inquérito e outros trinta desde a conclusão do inquérito para a notificação da nota de culpa; o período para a duração do inquérito não está fixado, mas deve ser célere tendo em conta a obrigação de iniciar e conduzir o inquérito de forma diligente.

4 – Comunicação da nota de culpa: Nos casos em que se verifique algum comportamento susceptível de integrar o conceito de justa causa constante no n.º 1 do art. 396.º do CT, o empregador comunica por escrito o trabalhador, a comissão de trabalhadores e associação sindical (se for representante sindical) da sua intenção de proceder ao despedimento daquele (n.ºs 1, 2 e 3 do art. 411.º). A comunicação interrompe a contagem dos prazos constantes no art. 372.º.

5 – Resposta à nota de culpa (Defesa): O trabalhador dispõe de 10 dias úteis para consultar o processo e responder à nota de culpa, deduzindo os elementos que considere relevantes e solicitar as diligências probatórias que se mostrem pertinentes para o esclarecimento da verdade (art. 413.º).

6 – Instrução (Produção de prova): O empregador, por si ou através de instrutor que tenha nomeado, procede às diligências probatórias requeridas na resposta nota de culpa, a menos que as considere dilatórias (n.º 1 do art. 414.º do CT). Esta fase que o CT denomina de “Instrução”, equivale no fundo à produção de prova no EDFA: é o trabalhador que vai dizer quais as diligências probatórias a realizar.

|-- (1 ano *) –|?|---| |--- (60d) ---|

|---|-(30d)-|?|-(30d)-| -(10d)-|-(???)-|-(5d)-|--(30 dias)--| 1 2 3 4 5 6 7 8

1.2.6.4. Da possível unidade de procedimentos:

Face ao exposto, questiona-se se será possível um regime unitário de procedimentos (EDFA e CT)? Entendemos que sim. Verificamos que, o que diferencia ambos os regimes é que, enquanto no EDFA há toda uma fase de instrução para saber da viabilidade da acusação; já no CT, faz-se, desde logo, a nota de culpa. Porém, pensamos que, aquela fase de instrução pode ser feita no CT, na fase do procedimento prévio de inquérito, desde que se respeite os respectivos prazos.

Assim, comparando o regime do EDFA:

|- (3 na) -| |---- (10d) ---| |--|-(3m)-|-(10d)-|-(45d)-|-(5d)-|-(5d)-|-(10/20d)-|-(20/40d)-|-(5/20d)-|-(30/70d)-| 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 E, comparando o regime do CT: |-- (1 ano *) –|?|---| |--- (60d) ---| |---|-(30d)-|?|-(30d)-| -(10d)-|-(???)-|-(5d)-|--(30 dias)--| 1 2 3 4 5 6 7 8 Podemos representar um regime comum (171):

Note-se que, o CT não diz qual o prazo para concluir esta fase; pensamos que, nada impede que utilizemos, a título meramente orientador, o prazo constante no EDFA relativo a esta fase (20 a 40 dias).

7 – Comunicação à comissão de trabalhadores e à associação sindical: Concluídas as diligências probatórias o processo é apresentado à comissão de trabalhadores ou à associação sindical, caso estas existam, para se pronunciarem através de parecer fundamentado, no prazo de 5 dias (n.º 3 do art. 414.º).

8 – Decisão: Concluídas as diligências probatórias ou o prazo constante na fase anterior, caso haja lugar, o empregador dispõe de 30 dias para proferir a decisão (fundamentada e por escrito), sob pena de caducidade do direito de aplicar a sanção, devendo de imediato ser comunicada ao trabalhador (comissão de trabalhadores e associação sindical) para que esta produza efeitos (arts. 415.º e 416.º).

171 Em jeito de legenda, considerando ainda que, relativamente aos prazos foram tidos em conta os

limites mínimos e máximos dos respectivos regimes, servindo os que se apresentam apenas como orientadores:

|-(1 ano)-|--- (60/65 d) ---|-- (10d*)--|-(25/60d)|-(30d) -|

|---|-(Instrução=Proc. Prévio) -|---|---|---|

1 2 3 4 5 6