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Os dados obtidos foram codificados e analisados através do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 16.0. Foi realizada a estatística descritiva dos dados para a descrição da amostra e variáveis, utilizando-se para tal a média (x), desvio-padrão (sd), os valores máximo e mínimo.

Como a amostra do nosso estudo é reduzida, decidimos aplicar um teste não paramétrico, tendo sido seleccionado o teste de Mann-Whitney para comparar as médias.

Utilizou-se também a regressão linear simples para determinar a influência de uma variável sobre outra.

Para todos os procedimentos estatísticos estabelecemos um nível de significância de 5%.

Neste capítulo serão apresentados, analisados e comparados os resultados obtidos.

No momento da realização desta análise, tivemos em consideração o nível de actividade física dos avaliados. Assim, a escolha dos grupos recaiu em indivíduos que não efectuassem qualquer tipo de actividade física regular e organizada (Grupo de Controlo - GC) e o Grupo Experimental (GE), ao qual pertencem os sujeitos que praticam ballet clássico.

Com o presente protocolo experimental pretendeu-se efectuar um estudo comparativo entre os dois grupos, no que diz respeito à DMO e hábitos alimentares. Assim, numa primeira fase, procedemos à apresentação e análise dos resultados obtidos relativamente à DMO da coluna lombar, da pélvis e do valor total.

O quadro n.º 2 apresenta as características do GC (n=10) e do GE (n=10), bem como as comparações entre as médias.

Grupo Controlo Grupo Experimental

N 10 10 x ± sd Min - Máx x ± sd Min - Máx P Idade 15,60 ± 0,52 15 - 16 15,60 ± 0,52 15 - 16 1 ,000 Peso (Kg) 58,99 ± 7,56 46 - 70,20 50,00 ± 4,37 44,90 - 58,10 0,011 Altura (m) 1,60 ± 0,53 1,51 - 1,68 1,58 ± 0,06 1,50 - 1,69 0,471 IMC (Kg/m2) 22,98 ± 2,08 19,15 - 25 20,04 ± 1,32 16,49 - 21,08 0,005

X, média; sd, desvio-padrão; Min., valor mínimo; Máx., valor máximo; p, resultado da comparação (Mann-Whitney) entre o Grupo de Controlo e o Grupo Experimental, p≤0,05.

Quadro 2 - Médias, desvios-padrão, valores mínimo e máximo das variáveis idade, peso, altura e IMC do Grupo de Controlo e do Grupo Experimental.

Através da observação do quadro n.º 3, podemos constatar que não existem diferenças entre o GC e o GE no que respeita à idade, sendo que esta se situa entre os 15 e os 16 anos, tendo ambos os grupos a mesma média (x=15,60). Deste modo, não existem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos no que respeita à idade.

No que diz respeito ao peso dos indivíduos, verificamos que o GE apresenta um valor médio inferior (x=50,00 Kg) comparativamente ao GC (x=58,99 Kg), existindo diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos (p=0,011). O mesmo ocorre no que diz respeito à variável IMC, apresentando o GE um valor médio inferior (x=20,04 Kg/m2), existindo

diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos (p=0,005). Por sua vez, as médias relativamente à altura são muito semelhantes em ambos os grupos, GE (x=1,58 m); GC (x=1,60 m). Deste modo, face à proximidade dos valores médios da variável entre os grupos, não existem diferenças estatisticamente significativas.

Os quadros abaixo figurados (quadro n.º3, 4 e 5) apresentam os resultados das médias, desvios-padrão, valores mínimos e máximos da DMO dos locais anatómicos mensurados, bem como o valor de p, ou seja, a verificação ou não de diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos criados.

Quadro 3 - Médias, desvios-padrão, valores mínimo e máximo da variável DMO da coluna lombar dos Grupos de Controlo e Experimental. Valor estatística inferencial de Mann-Whitney para comparação entre grupos. Grupo N x ± sd Min - Máx P DMO da coluna lombar (g/m2) Controlo 10 1,01 ± 0,80 0,92 - 1,13 0,596 Experimental 10 0,99 ± 0,06 0,88 - 1,07

X, média; sd, desvio-padrão; Min., valor mínimo; Máx., valor máximo; p, resultado da comparação (Mann-Whitney) entre o Grupo de Controlo e o Grupo Experimental, p≤0,05.

Pela análise do quadro n.º 3, e no que respeita à DMO da coluna lombar, podemos constatar que não existem diferenças significativas. O GC apresenta uma média (x=1,01g/m2) muito semelhante à média (x=0,99 g/m2) do GE, o que resulta na não existência de diferenças significativas entre os grupos (p=0,596).

O quadro seguinte revela os valores referentes à DMO da pélvis.

Procedendo-se à comparação entre as médias dos GC e do GE no âmbito da DMO da pélvis, não detectamos a existência de diferenças estatisticamente significativas (p=0,565), contudo, o GC (x=0,99 g/m2) apresenta um valor médio superior ao valor médio do GE (x=0,92 g/m2).

De seguida procedemos à análise da DMO do corpo total.

Quadro 4 - Médias, desvios-padrão, valores mínimo e máximo da variável DMO da pélvis dos Grupos de Controlo e Experimental. Valor estatística inferencial de Mann-Whitney para comparação entre grupos.

Grupo N x ± sd Min - Máx P DMO da pélvis (g/m2) Controlo 10 0,99 ± 0,04 0,96 - 1,06 0,565 Experimental 10 0,92 ± 0,07 0,81 - 1,07

X, média; sd, desvio-padrão; Min., valor mínimo; Máx., valor máximo; p, resultado da comparação (Mann-Whitney) entre o Grupo de Controlo e o Grupo Experimental, p≤0,05.

Quadro 5 - Médias, desvios-padrão, valores mínimo e máximo da variável DMO total dos Grupos de Controlo e Experimental. Valor estatística inferencial de Mann-Whitney para comparação entre grupos.

Grupo N x ± sd Min - Máx P DMO total (g/m2) Controlo 10 1,06 ± 0,45 1 - 1,12 0,405 Experimental 10 1,04 ± 0,05 0,96 - 1,13

X, média; sd, desvio-padrão; Min., valor mínimo; Máx., valor máximo; p, resultado da comparação (Mann-Whitney) entre o Grupo de Controlo e o Grupo Experimental, p≤0,05.

A comparação entre as médias da DMO total dos GC e do GE , revela a ausência de diferenças estatisticamente significativas, apesar do GC (x=1,06 g/ m2) apresentar um valor médio ligeiramente superior ao valor médio do GE (x=1,04 g/m2).

De seguida, procedemos à análise da regressão linear entre as diferentes variáveis, no sentido de averiguar a influência de uma variável sobre a outra. Neste sentido, os quadros n.º 6 e 7 apresentam os valores de regressão obtidos entre as diferentes variáveis para o GC e GE, respectivamente.

Ao comparar os valores de correlação obtidos entre as diferentes

variáveis evidenciam-se resultados estatisticamente significativos (p <0,05) entre a altura e todos os indicadores de massa óssea. Por sua vez, a variável

Ao comparar os valores de regressão obtidos entre as diferentes variáveis no GC, não se evidenciaram resultados estatisticamente significativos (p≥0,05) em nenhuma variável, o que significa que a DMO da coluna lombar, pélvis e total não podem ser explicadas pelo IMC, peso e altura.

Quadro 6 - Regressão entre a DMO da coluna lombar, pélvis e total com o IMC, peso e altura, no Grupo de Controlo.

IMC Peso Altura

DMO Coluna Lombar F 0,015 0,003 0,049 p 0,906 0,958 0,831 DMO Pélvis F 1,591 0,421 0,012 p 0,243 0,535 0,916 DMO Total F 4,219 0,655 0,109 p 0,074 0,442 0,749

Como podemos constatar no quadro acima, também não existem diferenças estatisticamente significativas no que respeita à regressão entre as diferentes variáveis (p≥0,05) no GE, e, portanto, a DMO da coluna lombar, pélvis e total não podem ser explicadas pelo IMC, peso e altura.

Uma vez efectuada a apresentação e análise dos resultados obtidos relativamente à DMO da coluna lombar, da pélvis e do valor total, procedemos à apresentação e análise dos valores obtidos relativamente aos hábitos alimentares. Assim, o quadro abaixo figurado apresenta os resultados das médias, desvios-padrão, valores mínimos e máximos dos diferentes nutrientes, bem como o valor de p, ou seja, a verificação ou não de diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos criados.

Quadro 7 - Regressão entre DMO da coluna lombar, pélvis e total com o IMC, peso e altura, no Grupo Experimental.

IMC Peso Altura

DMO Coluna Lombar F 1,26 0,56 0,003 p 0,294 0,819 0,957 DMO Pélvis F 0,008 0,789 0,962 p 0,933 0,401 0,356 DMO Total F 2,596 0,573 0,138 p 0,146 0,471 0,72

Pela análise do quadro n.º 8, podemos constatar a presença de diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre as variáveis energia, proteínas, cálcio e fósforo, apresentando o GE uma média inferior ao GC (respectivamente, 947 ± 109,36; 49,17 ± 6,08; 351,28 ± 117,63; 750 ± 188,73).

Por outro lado, não existem diferenças estatisticamente significativas (p>0,05) entre os grupos no que respeita às quantidades ingeridas de fibra e vitamina D. Contudo, relativamente ao consumo de fibras, o GE apresenta uma média ligeiramente superior quando comparada com o GC (24,79 ± 8,47 e 24,43 ± 5,75, respectivamente), apresentando, por sua vez, uma média inferior no que respeita ao consumo de vitamina D (10,35 ± 8,62).

Quadro 8 - Médias, desvios-padrão, valores mínimo e máximo das variáveis energia, proteínas, cálcio, fósforo, fibra e vitamina D do Grupo de Controlo e do Grupo Experimental.

Grupo Controlo Grupo Experimental

N 10 10 x ± sd Min - Máx x ± sd Min - Máx P Energia Energia (Kcal/dia) 2645,36 ± 208,7 1733,09-2367,38 947 ± 109,36 757,11-1154,02 0,001 Proteínas Proteínas (g/dia) 109,45 ± 24,54 80,29-157,75 49,17 ± 6,08 39,99-56,92 0,001 Cálcio Cálcio (mg/dia) 740,69 ± 143,07 586,83-1062,60 351,28 ± 117,63 153,66-508,44 0,001 Fósforo Fósforo (mg/dia) 1437,97 ± 303,81 1028,19-1939,66 750 ± 188,73 445,86-1029,75 0,001 Fibra Fibra (g/dia) 24,43 ± 5,75 9,22-28,36 24,79 ± 8,47 5,29-32,19 0,545 Vitamina D Vitamina D (µg/dia) 15,83 ± 6,59 19,31-12,38 10,35 ± 8,62 4,91-9,61 1,001

X, média; sd, desvio-padrão; Min., valor mínimo; Máx., valor máximo; p, resultado da comparação (Mann-Whitney) entre o Grupo de Controlo e o Grupo Experimental, p≤0,05.

Os quadros seguintes (quadro n.º 9 e 10) mostram se as variáveis nutricionais explicam ou não os valores encontrados para a DMO entre cada um dos grupos analisados.

O quadro anterior apresenta a regressão entre as diferentes variáveis no GC. Através da sua análise podemos verificar que a DMO da coluna lombar, pélvis e total não são explicadas pelo consumo energético, proteínas, cálcio, fósforo, fibra e vitamina D, uma vez que o valor de prova (p) é superior a 0,05 para todas as variáveis. Por sua vez, no quadro seguinte figura a regressão entre as diferentes variáveis no GE, e, através da sua análise, podemos igualmente constatar que a DMO da coluna lombar, pélvis e total não podem ser explicadas pelo consumo energético, proteínas, cálcio, fósforo, fibra e vitamina D (p≥0,05).

Quadro 9 - Regressão entre a DMO da coluna lombar, pélvis e total, com a energia, proteínas, cálcio, fósforo, fibra e vitamina D, no Grupo de Controlo.

Energia Proteínas Cálcio Fósforo Fibra Vitamina D

DMO Coluna Lombar F 1,849 0,111 1,558 0,041 1,446 0,101 p 0,211 0,749 0,247 0,847 0,264 0,76 DMO Pélvis F 0,074 0,481 0,134 0,948 0,001 0,025 p 0,793 0,508 0,724 0,359 0,987 0,878 DMO Total F 0,576 0,083 0,231 0,121 0,001 0,001 p 0,471 0,781 0,644 0,736 0,995 0,991

Quadro 10 - Regressão entre a DMO da coluna lombar, pélvis e total com a energia, proteínas, cálcio, fósforo, fibra e vitamina D, no Grupo Experimental.

Energia Proteínas Cálcio Fósforo Fibra Vitamina D

DMO Coluna Lombar F 0,911 2,381 0,478 0,107 0,662 0,083 p 0,368 0,161 0,509 0,753 0,439 0,78 DMO Pélvis F 3,544 0,005 0,479 1,509 2,385 0,647 p 0,097 0,944 0,508 0,254 0,161 0,444 DMO Total F 2,795 0,808 0,197 0,087 0,461 0,367 p 0,133 0,395 0,669 0,775 0,516 0,561

Este estudo teve como objectivo comparar os valores de DMO entre um grupo de bailarinas clássicas e um grupo de não praticantes. Especificamente, procuramos averiguar se existem diferenças significativas entre os grupos relativamente à DMO da coluna lombar, pélvis e corpo total. Também procuramos verificar e comparar o consumo energético, a quantidade ingerida de cálcio, fósforo, proteínas, fibras e vitamina D, bem como averiguar se estas variáveis podem explicar os valores encontrados para a DMO nas diferentes regiões anatómicas mensuradas.

Na literatura está descrito que uma alimentação adequada e a prática de actividades físicas de alto impacto com uma forte componente de força, parecem terem associadas uma maior DMO que outras modalidades. Assim, é suportado pela literatura que uma nutrição e actividade física adequadas são factores indissociáveis que contribuem para um melhor desempenho dos praticantes, bem como para a sua saúde óssea. De facto, estudos afirmam que o acréscimo de DMO ocorre, em larga medida, durante a adolescência (Mackelvie, Khan & Mckay, 2002), dependendo da alimentação e actividade física (Teegarden et al., 1995).

Contudo, os resultados do nosso estudo revelaram a inexistência de diferenças estatisticamente significativas entre praticantes de ballet clássico e não praticantes no que respeita à DMO da coluna lombar, pélvis e corpo total. Corroborando os nossos dados, Tsai et al. (2001) verificaram em amostras idênticas às nossas (bailarinas, 16,3 ± 0,5 anos; não praticantes, 16,6±0,8 anos) que os valores médios da DMO da coluna lombar eram idênticos entre os grupos. Paradoxalmente, o estudo de Tsai et al. (2001) verificou que o PC e IMC eram significativamente diferentes entre os grupos. As razões aduzidas por estes autores para justificarem a similitude da DMO entre os grupos residiu no facto de que o baixo PC e baixo IMC das bailarinas serem compensados pelos efeitos positivos da prática da actividade. Verifica-se, assim, a existência

de um equilíbrio entre os factores que influenciam positivamente a DMO (actividade de impacto) e os que a influenciam negativamente (baixo IMC e baixo PC).

Young et al. (1994) também evidenciaram a inexistência de diferenças na DMO da coluna lombar e corpo total entre um grupo de bailarinas (idade 17±0,2 anos) e um grupo de controlo com a mesma idade, sugerindo a existência de um equilíbrio entre os indicadores antropométricos (potencialmente negativos) e os efeitos positivos das actividades de alto impacto.

Assim, os estudos de Tsai et al. (2001) e Young et al. (1994) apontam no sentido de que o eventual aumento da DMO em praticantes de ballet, induzido pelas sessões de alto impacto mecânico, é contrariado pelo baixo PC e baixo IMC que normalmente estão relacionados com carências nutricionais.

Os estudos atrás citados parecem apoiar os resultados obtidos no nosso estudo, pois também encontramos diferenças estatisticamente significativas relativamente ao PC (p=0,011) e IMC (p=0,005) entre os dois grupos. Contudo, quando aplicada a regressão linear no sentido de averiguar se estas variáveis podem explicar os valores obtidos na DMO, os resultados não foram estatisticamente significativos, e, assim, não podemos concluir acerca da relação directa entre os factores antropométricos (PC e IMC) e a DMO.

Por outro lado, Valentino et al. (2001) concluíram no seu estudo que bailarinas não apresentavam uma DMO mais elevada que o GC, porque as bailarinas evidenciavam irregularidades nos ciclos menstruais e uma menarca tardia. Para estes autores, os efeitos positivos da prática são anulados pelos distúrbios menstruais, resultando num efeito negativo na DMO. Contudo, não podemos afirmar se estes resultados corroboram ou não com o nosso estudo, pois não avaliamos os ciclos menstruais e idade da menarca.

Contrariando os nossos resultados surgem os estudos efectuados por Bennell et al. (2000); Kilicarslan et al. (2007); Lichtenbelt, Fogelholm, Ottenheijm e Westerterp (1995); Matthews et al. (2005); William, Phil, Wong e Lam (2005); Yannakoulia et al. (2004), que concluíram que bailarinas clássicas apresentam uma DMO da coluna lombar, pélvis e corpo total mais elevada que

os grupos de controlo. Estes autores justificam essas diferenças afirmando que as bailarinas são sujeitas a um tipo de treino bastante duro e exigente, com momentos de alto impacto e sustentação do PC, sendo estes aspectos fundamentais para o crescimento ósseo.

De facto, sendo o ballet considerado uma actividade de impacto e que exige elevados níveis de força (Khan et al., 1998; Tsai et al., 2001), umas das consequências do treino deveria ser um ganho mais acentuado da DMO, e, assim, seria de esperar que os resultados do nosso estudo revelassem valores superiores no grupo experimental. No entanto, é importante também considerarmos o efeito da alimentação na DMO, pois é comum observar nas bailarinas distúrbios na sua dieta, apresentando este aspecto um efeito negativo na DMO.

Neste sentido, é necessário considerar que no caso específico do ballet, as exigências ambientais sobre a silhueta morfológica têm sido apontadas como um forte precursor de distúrbios alimentares. E, de acordo com Macieira (2008), os hábitos alimentares das bailarinas poderão traduzir-se em comportamentos alimentares pouco racionais e perigosos. De facto, são vários os estudos que apontam para uma maior prevalência de distúrbios do comportamento alimentar na população de bailarinas face aos seus pares não praticantes (Abraham, 1996; Braisted, Mellin, Gong & Irwin, 1985; Evers, 1987; Shebendach & Golden, 1998). De acordo com Muñoz et al. (1998) e Tsai et al. (2001) estes distúrbios alimentares apresentam repercussões a vários níveis, inclusive a nível ósseo.

Analisando os resultados do nosso estudo no âmbito da nutrição, podemos constatar que existem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos avaliados. O grupo de bailarinas (GE) apresenta um consumo energético bastante inferior (x=947 ± 109,36 Kcal) quando comparado com o grupo de não praticantes (GC) (x= 2645,36 ± 208,7 Kcal), evidenciando-se igualmente diferenças relevantes no que respeita ao consumo de cálcio (p=0,001), proteínas (p=0,001) e fósforo (p=0,001), sendo os valores superiores no grupo de controlo. Por outro lado, não se verificaram diferenças

estatisticamente significativas entre os grupos no que respeita ao consumo de fibras e vitamina D (respectivamente, p=0,545; p=1,001).

Lichtenbelt et al. (1995) mostraram que as bailarinas apresentam uma ingestão de cálcio menor que um grupo de controlo, não havendo, contudo, qualquer relação entre a ingestão de cálcio com os valores de DMO encontrados no estudo. Também Yannakoulia et al. (2004) sugerem que os valores de cálcio não estão relacionados com a DMO, bem como a ingestão calórica e de proteínas.

Contudo, Valentino et al. (2001) constataram que as bailarinas apresentam um consumo energético bastante menor quando comparado com um grupo de controlo, e que este factor estaria correlacionado com a DMO, sendo que um baixo consumo energético poderá explicar uma diminuição dos valores de DMO.

No que respeita ao consumo de fibras, fósforo e vitamina D não foram encontrados estudos no ballet que relacionassem estes nutrientes com a DMO.

Relativamente ao nosso estudo, constamos que nenhuma variável nutricional explica os valores encontrados para a DMO. De facto, quando aplicada a regressão linear, e à semelhança do que acontece com o PC e IMC, os resultados não são significativos (p>0,05), o que indica que a alimentação também não é o factor responsável pelo não aumento na DMO. Assim, surge a questão: quais os factores que explicarão uma DMO semelhante (e não superior) entre os grupos apesar da componente de força e alto impacto associado ao ballet?

Para responder a esta questão é necessário analisarmos com algum cuidado o tipo e intensidade de treino a que as jovens bailarinas pertencentes ao grupo experimental são sujeitas.

Existem várias escolas para o ensino do ballet clássico, sendo que todas elas enfatizam as suas metodologias no treino progressivo. Assim, os praticantes desta actividade deverão iniciar a sua prática na infância, existindo uma evolução no processo de treino à medida que os estudantes vão avançando na sua aprendizagem.

As bailarinas que participaram no nosso estudo são estudantes da Royal Academy of Dance [RAD] (escola inglesa), e, para esta escola, o ensino do ballet clássico envolve uma forte disciplina e uma abordagem sistemática. De acordo com a RAD, o ensino de cada movimento da técnica clássica deverá seguir uma progressão lógica para a sua forma mais avançada. Então, o treino de ballet não assume a mesma intensidade ao longo da formação da bailarina, existindo uma progressão e uma ordem que têm de ser cumpridas no ensino da técnica. Assim, numa fase inicial (infância e início da adolescência) o treino clássico assenta o seu ensino nas questões posturais (posições dos pés, membros inferiores (MI) e membros superiores (MS)), não envolvendo momentos de grande impacto. Os momentos de grande impacto e que exigem elevados níveis de força surgem apenas mais tarde, quando elementos como os exercícios de saltos (Petit Allegro, Allegro e Grand Allegro), recepções ao solo a um pé (Sissone, Petit Jeté, Grand Jeté, Pas de Chat), equilíbrios (Rises, Arabesque, Attitude, Retiré, Retiré Passé, Rond de Jambe en l´air, Développé), e trabalho de pontas enfatizam o treino da bailarina. Assim, vemos que o tipo de treino que poderá influenciar positivamente a DMO não faz parte de toda a formação da bailarina, sendo este um aspecto que poderá justificar a inexistência de diferenças estatisticamente significativas nos grupos avaliados no nosso estudo, pois, de acordo com Alves e Lima (2008) a idade óptima para potencializar o ganho ósseo ocorre no início da adolescência (por volta dos 10/ 12 anos) devido ao aumento das concentrações de estrogénio e HC (Morris, Naughton, Gibbs, Carlson & Wark, 1997). Também Cadogan, Blumsohn, Barker e Eastell (1998) concluíram no seu estudo que no início da adolescência assiste-se a uma aceleração do ganho de massa óssea, sendo a puberdade um momento oportuno para serem dados estímulos ósseos. Assim, Kriska et al. (1988) citado por Brandão e Vieira (1999) referem que a DMO não se associa à actividade física recente, mas com o padrão de actividade física exercida no início da adolescência. Neste sentido, tendo em consideração as características do treino de ballet, provavelmente este não proporcionou às

bailarinas da nossa amostra os estímulos necessários para uma melhoria na massa óssea no momento mais favorável ao ganho ósseo.

Todavia, não podemos esquecer que a actividade física não é o único factor que pode ter uma influência na DMO, sendo que a alimentação também assume igualmente um papel importante. Assim, uma dieta adequada durante a adolescência também é importante para a óptima mineralização do osso (Nichols et al., 2007). Neste sentido, apesar de termos registado o consumo alimentar da amostra, não podemos saber quais eram os seus hábitos alimentares no período fundamental para o ganho ósseo, e, portanto, não podemos retirar nenhuma conclusão referente a este aspecto.

Por tudo referenciado, vemos que as características do treino de ballet na infância poderão justificar o motivo pelo qual as bailarinas não apresentam uma DMO mais elevada que o grupo de não praticantes. Todavia, já foram citados estudos que mostram que bailarinas apresentam uma DMO mais elevada que um grupo de controlo (Bennell et al., 2000; Kilicarslan et al., 2007; Lichtenbelt et al.,1995; Matthews et al., 2005; William et al., 2005; Yannakoulia et al., 2004), então, é importante analisarmos estes estudos de modo a compreendermos os resultados por nós obtidos. Assim, numa análise mais cuidada a estes estudos, verificamos que as amostras utilizadas eram compostas por bailarinas profissionais, estando sujeitas a grandes volumes de treino. De facto, tratando-se de profissionais que ambicionam um lugar numa companhia de bailado, as cargas de treino diárias e semanais diferem bastante das cargas de treino aplicadas às bailarinas da nossa amostra. Os quadros que se seguem salientam essas diferenças.

Quadro 11 - Tipo de treino e cargas de treino de uma bailarina profissional

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado

9h30

11h20 Ballet Ballet Ballet Ballet Ballet Ballet

11h30

12h30 Pontas Pontas Pontas Pontas Pontas Ballet

12h30

13h30 Almoço Almoço Almoço Almoço Almoço

13h30

15h00 Ballet Reportório Reportório Reportório Coreografia 15h30

17h00

Pas de

Deux Ballet

Pas de

Deux Ballet Coreografia

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado

9h30 11h20 11h30 12h30 Pontas 12h30 13h30 17h30

19h30 Ballet Ballet Ballet

19h30 21h30 Ballet/ Pontas Ballet/ Pontas

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