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2.3 – PROCEDIMENTOS, INSTRUMENTOS E O TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES

CAPÍTULO I – DESVELANDO ASPECTOS TEÓRICOS

2.3 – PROCEDIMENTOS, INSTRUMENTOS E O TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES

Os meios utilizados para a coleta das informações para transformar em dados foram a análise bibliográfica centrada nas pesquisas realizadas sobre formação profissional e identidade profissional, bem como a realização de entrevistas semi-estruturadas com os professores formadores. Trabalhei com suas histórias de vida enquanto pessoas profissionais, usei essas histórias de vida como método, visto entender, a partir dos autores enfocados, que elas confirmam um entrelaçamento compreensivo entre teoria e prática. Fiz uso das histórias de vida autobiografadas, por compreender que esse é um procedimento rico em diálogos e informações, permitindo-me encarar tais diálogos com mais consistência, em função de serem oriundos da própria realidade vivida por esses professores.

Monteiro, ao tratar sobre o relato autobiográfico, define que ele “dá maior liberdade de expressão do sujeito narrador, ao mesmo tempo que revê a própria vida. (...) dá a

possibilidade de decidir o modo de registro” (2002, p.20). Diante desse entendimento, a autora conclui que a história de vida “permite não só ao próprio sujeito pesquisado refletir sua existência pessoal e profissional como serve de fonte de reflexão e auto reflexão para outros professores/as” (2002, p.21). Comprovação das afirmações de Monteiro são encontrados no decorrer das análises, assim como nos próprios relatos efetuados pelos entrevistados, não obstante, não detalharei determinados aspectos no presente momento, mas faço questão de destacar que, durante as entrevistas, constatei que a proximidade existente entre mim e os professores enfocados permitiu uma maior fluência no desenvolvimento das gravações, durante as quais pude observar não só as falas, mas, também, as expressões faciais e gestuais dos professores.

Procurei, enquanto pesquisadora, ter todos os cuidados necessários para alcançar veracidade naquilo que me dispus a pesquisar. A escolha dos professores se deu por serem da Universidade do Estado do Pará, fazerem parte dos cursos de licenciaturas e já exercerem a docência superior há mais de dez anos, considerando-se que esses professores já vivenciaram uma grande parcela de tempo na construção de suas identidades profissionais. Parti, também, do pressuposto de que esses(as) professores(as) formadores(as) tiveram maiores oportunidades de produzir conhecimento dentro de suas áreas específicas e de desenvolver, no decorrer do currículo dos cursos de licenciaturas, práticas formativas e ensinar formas de exercício da profissão, isso considerando a posição de Huberman (2000 p.47), que, em seu estudo sobre carreira docente, como visto anteriormente, conclui que, a partir de aproximadamente sete anos de carreira, o docente sente o quê?, entre outras questões de maior diversificação, proporcionada por uma maior segurança e estabilidade. Esses fatores permitem ao profissional um maior dinamismo e

maior empenho na área pedagógica. Essas, entre outras questões apresentadas pelo autor, vieram solidificar em mim a decisão de escolha dos informantes tomando o tempo de carreira, nos cursos de licenciaturas, como critério de seleção.

Para amostragem desta pesquisa, coletei histórias de vida e efetuei entrevistas com quatro (04) professores: um de psicologia, um de pedagogia e dois de matemática. No que diz respeito às áreas específicas dos sujeitos pesquisados, o Prof. Rui é especialista, e a Porfª Luzenilda é mestra, ambos são da área de matemática. A Profª Nilda é doutora da área de psicologia. O Prof. Roberto é mestre da área pedagógica.

Antes de realizar as gravações, fiz alguns contatos iniciais com os entrevistados nos quais esclareço os objetivos da pesquisa, assim como procurei esclarece-los sobre o tema investigado, conforme documento em anexo.

No diálogo com os(as) professores(as), procurei estabelecer alguns pontos que considerava relevantes eles identificarem em suas trajetórias pessoal e profissional, partindo de sua infância até chegar à realidade atual. Deixei evidente aos professores que eles eram livres para contarem suas histórias. A princípio, pretendia não identificar os professores, porém eles sempre relatavam que não havia nenhum problema em revelar suas identidades, fazendo-me mudar de estratégia. Assim, solicitei aos entrevistados um documento assinado por eles, no que fui aquiescida, e, juntos, “saltamos por sobre os muros da universidade”, a partir de suas histórias de vida. Os registros foram feitos de acordo com a disponibilidade oferecida pelos entrevistados. O Professor Rui Barbosa deu sua entrevista em seu apartamento, no que foi utilizado cerca de duas horas entre gravação e entrevista. A entrevista da Professora Luzenilda foi feita no CCSE/UEPA, em umas de nossas salas de orientação, sendo necessárias por volta de duas horas e vinte minutos para

as gravações e diálogos. A do Prof. José Roberto ocorreu em sua sala de vice-direção do CCSE/UEPA, foram utilizadas,aproximadamente, três horas entre diálogos e gravação. A Profª Nilda Bentes se auto-biografou, mas, também, concedeu-me informações complementares as quais foram colhidas em sua residência e integradas em nossa pesquisa.

Dentre os(as) professores(as) escolhidos, todos estão atuando em sala de aula, exceto o Prof. Rui, o qual está aguardando a aposentadoria. Todos, de alguma maneira, exercem, paralelamente à docência, atividades administrativas, como vice-direção, coordenações, representações em colegiados etc. Todos estão ou já estiveram envolvidos com pesquisa.

Os professores estão no meio ou em fim de carreira. Decidi trabalhar com professores nessas fases por considerar que me permitirão conhecer fatos do início, do meio e do fim de suas jornadas profissionais e as circunstâncias que permearam esses fatos. Compreender aberturas e fechamentos que marcaram suas histórias, assim como os fatos pessoais que estiveram envoltos nesses percursos de vida profissional, os quais foram percebidos, experimentados, enfim, vividos por eles(as).

Vale ressaltar que as experiências marcadas pelas histórias de vidas desses professores, que se encontram em meio ou em fim de carreira, nos permitem perceber as riquezas de construção e desconstrução de seus saberes e fazeres, no eterno devir da identidade do professor.

As transcrições foram feitas na íntegra. Após, procurei fazer o encadeamento lógico e didático do que ouvi, buscando ser fiel às declarações dos entrevistados. Em outro momento, enviei as narrativas digitadas aos entrevistados para que lessem, visto termos

firmado o compromisso de assim proceder, considerando essa uma questão ética. Os informantes, de posse do material transcrito, tiveram total liberdade para retirar ou acrescentar o que lhes conviesse, considerando tratar-se de pesquisa qualitativa com o objetivo estudar a construção da identidade profissional docente superior.

A análise das informações foram coletadas por meio de entrevistas e de narrativas de suas histórias de vida, buscando identificar e perceber pontos pertinentes que se fizeram presentes ao longo de suas construções identitárias, assim como possíveis conexões que permeiam as identidades pessoal e profissional. Procurei fazer essa coleta usando as técnicas da análise de conteúdo. Bardin defende que “pertencem, pois, ao domínio da análise do conteúdo, todas as iniciativas que, a partir de um conjunto de técnicas parciais mas complementares, consistam na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da expressão deste conteúdo” (1977,p.42). A escolha dessa técnica se deu por eu acreditar que me permitiria uma melhor garimpagem e compreensão dos conteúdos revelados nas histórias de vidas, assim como a possibilidade de percepção da expressão destes conteúdos.

Busquei estar atenta, ao ler as entrevistas e escutar as gravações, observando expressões, tensões, supressão de falas, entusiasmo e reflexões comuns que os entrevistados revelavam em suas narrativas. Após a transcrição das falas, parti para a elaboração do agrupamento e da categorização do que foi verbalizado. Para tal, elaborei o que chamei de mapeamento, a partir de algumas categorias, sendo que as principais são: trajetória pessoal, com seus devidos desdobramentos, como infância, relacionamento familiar, escolar, dentre outros; e trajetória profissional, levando em consideração especialmente a formação inicial, o tempo de carreira e as várias experiências as quais

permearam a construção da identidade profissional dos professores entrevistados, construindo, assim, o corpus da presente investigação. Desse modo, buscava entender as dimensões pessoal e profissional que estruturavam os sujeitos envolvidos.

Após demarcar cada ponto evidenciado nas categorias, parti para o agrupamento deles no intuito de compreendê-los. Fui buscando, no conteúdo de suas histórias de infância, de adolescência, de vida adulta e profissional, pontos de aproximação de fatos, de conceitos, de saberes e de fazeres.

Uma de minhas dificuldades foi em função de o narrador contar os fatos de acordo com o fluir de sua memória, contar as mesmas coisas de diferentes maneiras, bem como se posicionar em determinado espaço histórico de sua vida e, de repente, retornar a outro, em um constante vaivém de seus sentimentos. E, ao analisar cada história, eu demarcava cuidadosamente, ao longo desses fatos, um determinado tempo, como por exemplo: as infâncias, que foram descritas, no início , meio e fim durante as narrativas. E eu precisava está atenta para não perdê-los ao longo das histórias de vidas. Procurei, nas análises, ordenar as informações cronologicamente, o que implicou em uma organização dos discursos dos narradores ao longo dos relatos de suas histórias de vida.

Considerando que cada história tinha sua singularidade, optei, em um primeiro momento, trabalhar uma a uma, o que demandou um longo tempo nas análises; em segundo momento, trabalhei agrupando conjuntamente os informantes e, num terceiro, busquei a síntese do que cada história revelou sobre a construção das identidades dos professores entrevistados.

A intenção desse estudo foi delinear como os professores constroem sua identidade profissional docente, sem perder de vista que é inerente a essa identidade a construção da

identidade pessoal de cada profissional. Huberman afirma “,Ora, quando se trata de procurar pontos comuns entre os indivíduos, convém restringir um tanto o alcance das situações” (2000, p.55). Dessa forma, escolhi professores os quais têm um mesmo nível de ensino e todos trabalhando em cursos de Licenciatura em uma mesma universidade. Procurei evitar amostragem em relação às questões e, quando a usei, já havia apontado a questão aos professores. Trabalhei com professores de gerações diferenciadas, com lembranças relatadas por docente com cerca de 70 anos e por outros com cerca de 37anos. O que implica entender que, apesar de serem de gerações distintas, podem ter vivido acontecimentos sociais e históricos idênticos ou diferentes.

Instituir os quadros a partir das categorias que fluíam das narrativas, analisá-las e interpretá-las foi desafiador. A princípio tive dúvida, aflição e insegurança de como proceder a análise e a interpretação das histórias de vida. Considerei relevante nas análises trazer para o texto recortes das histórias de vida para permitir ao leitor uma melhor percepção do conteúdo da mensagem que estava sendo analisada, bem como, também, fazer sua interpretação.

Procurei analisar os resultados com base no referencial teórico desenvolvido. Busquei inseri-los como subsídios, com o fito de compreender o processo de construção da identidade profissional docente.

Optei realizar essa pesquisa por meio das histórias de vida dos entrevistados por acreditar serem mais ricas em informações, fatos, conflitos e assertivas, e que revelariam maiores possibilidades de percepções da construção das identidades docentes. Assim como permitiriam a mim e a outros lançarmos um olhar sobre nós próprios a partir da história do outro, buscando construir e desconstruir nossas identidades docentes de forma constante

CAPITULO III - APRECIANDO A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DE