• Nenhum resultado encontrado

A partir da construção de um pré-projeto de pesquisa, com vista a observar a interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento de crianças e adolescentes na classe hospitalar da Policlínica (Alecrim), foi realizado o primeiro contato com a coordenadora da classe hospitalar da Casa de Apoio a Criança com

Câncer Durval Paiva, que para fins desse estudo nomearemos de C1, na Casa Durval Paiva. Após aprovação da mesma, em conjunto com direção da instituição, se deu o encontro com as professoras na Policlínica. O espaço conta com quatro professoras regulares e uma itinerante, com atuação semanal. A pesquisa foi desenvolvida com duas professoras, no turno vespertino, conforme disponibilidade das mesmas, que aqui serão nomeadas de P1 e P2.

No período de setembro a outubro de 2019 foram realizadas entrevistas abertas, face a face com as entrevistadas e anotações no diário de campo, concomitante a observação participante, visando conhecer o trabalho das professoras, bem como seus recursos pedagógicos e contextos de atendimento, tanto no que se refere ao espaço de atendimento, quanto nas características próprias, sociais e emocionais das crianças e adolescentes em processo de internação. Após período de observação, de acordo com as necessidades constatadas, em consonância com os objetivos da pesquisa relacionado à proposta de trabalho das entrevistadas, foram fornecidos materiais e adaptações de baixo custo, bem como mobiliário para realização das atividades pedagógicas no leito.

O mobiliário disponibilizado foi uma mesa articulável e funcional, modelo GETA (Grupo de Estudos em Tecnologia Assistiva da UFRN), criada no primeiro semestre desse ano, para desenvolvimento das atividades escolares de crianças e adolescentes hospitalizados, em qualquer situação de atendimento, mas especialmente, nos leitos das enfermarias. As adaptações de baixo custo foram: um adaptador de escrita, para lápis, com apoio ergonômico, de silicone colorido, que já se encontra a venda em livrarias e na internet e um adaptador para tesoura escolar, de fabricação própria que substitui o encaixe dos dedos por uma mola plástica, semirrígida, que une os orifícios de encaixe dos dedos. Os materiais pedagógicos, também foram confeccionados, de baixo custo, limpável (plastificados), com uso de velcro, nove pregadores de lavanderia coloridos (plásticos) e duas canetinhas de quadro branco (comercializadas em livrarias), para auxiliar no processo de alfabetização. São eles: um jogo de formação de sílabas correspondente a sua figura; um disco com números e quantidades correspondentes para usar com o pregador; jogo de discos com letras iniciais de palavras; pranchas com figuras para identificação da letra inicial para usar com as canetinhas; e livro adaptado com passador de páginas feito com palitos de picolé.

Por fim, foi realizada a entrevista semiestruturada ou também conhecida como entrevista semiaberta, para coleta de dados sobre a experiência vivenciada na pesquisa.

Para Gil (2008) a entrevista é uma forma de interação social, portanto uma maneira de diálogo assimétrico, não apenas para coleta de dados, mas também para um diagnóstico situacional e possível orientação sobre determinado tema.

Nessa perspectiva, a entrevista para Minayo é:

[...] um instrumento privilegiado de coleta de informações para as Ciências Sociais é a possibilidade que tem a fala de ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e, ao mesmo tempo, ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações grupais, em condições históricas, sócioeconômicas e culturais específicas (MINAYO, 2008, p.204).

Assim, a escolha inicial da entrevista aberta se deu pela possibilidade dos assuntos tratados surgirem, não necessariamente em uma sequência rígida, mas pelas próprias constatações, preocupações, necessidades, relevâncias e ênfase que o entrevistado dá ao assunto em pauta (MINAYO, 2008). A observação como técnica de coleta de dados é um elemento fundamental para pesquisa qualitativa. Assim, o contexto de observação participante foi essencial para o desenvolvimento desse estudo. De acordo com Gil (2008), esse tipo de observação permite uma participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada, a partir do interior dele mesmo.

Para desenvolvimento e registro da observação participante, durante o estudo, foi utilizado o instrumento diário de campo, ou seja, um pequeno caderno de anotações, utilizado em todas as observações para registro de informações. Nele são escritas as impressões pessoais, que podem se modificar com o tempo, resultados de conversas informais, observações de comportamentos contraditórios com as falas, ou não, bem como manifestações dos interlocutores quanto aos pontos investigados, a própria rotina do ambiente, dentre outros aspectos relevantes para a pesquisa (MINAYO, 2008).

Para coleta de dados, sobre a experiência vivenciada, foi realizada a entrevista semiestruturada, através do aplicativo whatsapp, por mensagens de áudio, via telefone celular, visando otimizar o tempo de realização. Gil (2008) afirma que a entrevista por telefone, vem sendo desenvolvida nas ultimas décadas, e já são aceitas como procedimento adequado para pesquisa social.

[...] é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida em que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa (TRIVIÑOS, 1990, p. 146).

Os dados obtidos foram analisados pela técnica de análise temática do conteúdo proposta por MINAYO (2008), que se desdobra nas seguintes etapas: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

A pré-análise é a fase de “[...] escolha dos documentos a serem analisados; na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa, reformulando-as frente ao material coletado; e na elaboração de indicadores que orientem a interpretação final (MINAYO, 2000)”. É desenvolvida para sistematizar as ideias trazidas pelo referencial teórico e estabelecer indicadores para interpretação dos dados coletados.

A segunda fase, exploração do material, consiste na operação de codificação. Minayo (2008, p. 317) ratifica que, essa etapa, “Consiste essencialmente numa operação classificatória que visa alcançar o núcleo de compreensão do texto”. Para isso, de acordo com a mesma autora, é necessário que se estabeleça categorias. A categorização é um “[...] processo de redução do texto a palavras e expressões significativas (Minayo, 2008, p. 317)”. Assim, o texto das entrevistas e de todo material coletado é recortado em unidades de registro.

O tratamento dos resultados obtidos e interpretação consistem na terceira fase. Minayo (2008, p.318) relata que nesse momento o “[...] analista propõe inferências e realiza interpretações, inter-relacionando-as com o quadro teórico desenhado inicialmente ou abre pistas em torno de novas dimensões teóricas e interpretativas, sugeridas pela leitura do material”.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Análises da interface entre a terapia ocupacional e a pedagogia no atendimento

Documentos relacionados