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CICLO AGRUPAMENTO

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Indicadores Preliminares

O fato que instigou a realização deste estudo originou-se das incertezas reveladas por professores diante das transformações pelas quais passaram as publicações didáticas no Brasil, a partir de sucessivos modelos teóricos e de linhas de pesquisa – que vão da lingüística estrutural à análise do discurso, passando pelo gerativismo, pela lingüística de texto e pela teoria dos gêneros discursivos, entre outros – que influenciaram/influenciam o ensino da língua materna.

Considerando-se que o ensino de português centraliza-se, sobretudo, no livro didático, a pesquisa realizada concentrou-se nas propostas de produção de texto apresentadas por autores de livro didáticos de língua portuguesa da 5ª série do Ensino Fundamental, ciclo da escolarização básica que se caracteriza por ser o início de uma nova etapa naquela esfera de ensino – as séries finais do Ensino Fundamental; em que se espera que o aluno já tenha desenvolvido as habilidades elementares da produção escrita trabalhadas nas séries iniciais.

3.1.1 Questões da pesquisa

Que fator(es) contribui(em) para que as atividades de produção de texto no âmbito escolar sejam desmotivante para o aluno? O livro didático de Língua Portuguesa tem oferecido subsídios para que as propostas de produção escritas na escola apresentem-se fundamentalmente como atividades sociointerativas?

3.1.2 Hipótese

Levanta-se a hipótese de que as atividades de produção de texto propostas pelos livros didáticos de português, ainda que sob influência, a partir de 1990, dos pressupostos da teoria da comunicação e da pragmática, desconsideram a produção escrita como atividade de interação verbal.

A segunda hipótese que instigou a realização deste estudo é a de que as propostas de atividades de produção do texto escrito dos livros didáticos de Língua Portuguesa de 5ª

série, em sua maioria, não contribuem efetivamente para estimular o aluno para a necessidade ou desejo de interagir com seus pares através do texto escrito, pelo fato de elas não sugerirem realmente atos de interação verbal, tal como se constituem os textos que circulam em outras esferas da sociedade.

3.1.3 Objeto de análise

O corpus de análise desta pesquisa concentra-se nas propostas de produção de texto escrito, apresentadas por 6 livros didáticos de Língua Portuguesa, destinados ao ensino da 5ª série do Ensino Fundamental, sendo eles:

1.3.1 Entre palavras, Ferreira, 1998

1.3.2 Olhe a língua!, Garcia & Amoroso, 1999 1.3.3 Leitura do mundo, Teixeira & Discini, 2000

1.3.4 Português - idéias e linguagem, Delmanto & Castro, 2001 1.3.5 Português - uma proposta para o letramento, Soares, 2002 1.3.6 Todos os textos, Cereja & Magalhães, 2003

3.1.4 Critérios de seleção dos livros didáticos

Os critérios que, em particular, nortearam a escolha dos livros anteriormente citados, foram os seguintes:

1.4.1. O período de publicação dos livros, que compreende a segunda metade da década de noventa por completo e o início de 2000, sendo tal período efervescente em termos de publicações didáticas surgidas, as quais supostamente devem revelar concepções voltadas para a perspectiva sociointerativa da linguagem;

1.4.2. a diversificação de autores, que revela o interesse econômico e comercial de editoras em busca de espaço no lucrativo mercado brasileiro, no que se refere a publicações didáticas.

1.4.3 A indicação de alguns desses livros pelo guia de livros didáticos do MEC, que a partir da segunda metade da década de noventa, passou a influenciar extremamente a adoção dos livros didáticos na escola brasileira como organizadores das atividades desenvolvidas no ensino de Língua Portuguesa.

3.1.5. Critérios de escolha do nível de escolaridade

A 5ª série do Ensino Fundamental é uma etapa da escolaridade que marca a transição para um novo ciclo de aprendizagem no ensino formal de português, ciclo que apresenta um desinteresse crescente pela produção do texto escrito, por parte do aluno, como asseguram pais e professores. Neste quadro, avalia-se a contribuição das seqüências temáticas desenvolvidas pelos livros didáticos para a motivação dos alunos desta etapa escolar pelo trabalho com a produção do texto escrito.

3.1.6. Etapas e procedimentos

Numa etapa inicial deste trabalho, delimitado o aspecto a ser investigado, procuramos analisá-lo quanto à sua relevância para o cenário atual do ensino da língua portuguesa na escola brasileira.

Apesar de numerosas as pesquisas que focalizam a produção de textos no ensino da língua materna, ainda se constata junto a estudiosos e professores brasileiros, as dificuldades e a desmotivação que os estudantes sentem para produzir textos escritos em todo o seu percurso escolar.

Sabe-se que o objetivo do trabalho com a produção de texto no Ensino Fundamental e Médio é a formação de alunos-escritores competentes que sejam capazes de construir textos coerentes, coesos e eficazes quanto a seus propósitos. Ademais, os Parâmetros

Curriculares Nacionais do 3 e 4 ciclos, que introduzem as diretrizes sobre o ensino da

língua portuguesa, consideram que

ao produzir um texto, o autor precisa coordenar uma série de aspectos: o que dizer, a quem dizer, como dizer” [..], pois “nas atividades de produção que envolvem autoria ou criação, a tarefa do sujeito torna-se mais complexa, porque precisa articular ambos os planos: o do conteúdo – o que dizer – e o da expressão- como dizer. (pp. 75 e 76) É evidente, entretanto, que produzir textos eficientes não é tarefa das mais fáceis para o aluno. Além desse fato, há outras dificuldades para se chegar a esse objetivo. Uma delas se deve a que, freqüentemente, a escola não tem proporcionado situações reais de interlocução, momentos em que se exijam práticas funcionais de leitura e de escrita. Outra, ao fato de algumas escolas oferecerem, ainda hoje, um ensino de produção de textos, voltado para o professor; ou seja, o aluno escreve para o professor, tentando atender à solicitação que lhe é feita, sem nenhum vínculo com a função social da escrita.

Entretanto, grande número de estudioso e professores, independentemente da realidade dos fatos do ensino de produção de textos no Brasil, tem contribuído com análises produtivas do problema e com procedimentos didáticos coerentes com os atuais paradigmas teóricos sobre o ensino de língua. Contudo, essas contribuições não atingiram efetivamente o universo escolar brasileiro em sua totalidade, ou pelo menos não tiveram a repercussão necessária nesse universo, por conta da ineficiência na aplicação dos princípios teóricos às práticas da linguagem escrita.

Os dados apresentados, aliados a experiências pessoais no Ensino Fundamental e Médio e a de colegas nos diferentes segmentos da educação básica tanto na rede pública como na rede privada, que ratificam a existência e a extensão do problema, confirmaram a sua relevância para os estudos contemporâneos da lingüística aplicada.

Coletados os dados, nos concentramos em analisá-los na tentativa de testar a validade de nossa hipótese. Fizemos o levantamento também de alguns dados apresentados nos livros pesquisados, na tentativa de perceber a adesão ou não de seus autores, de forma explícita ou implícita, à concepção de língua e de linguagem considerada, neste trabalho, como aquela mais adequada para nortear os processos de ensino e aprendizagem de línguas, em seu fundamento.