• Nenhum resultado encontrado

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2 CONCEITOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Uma limitação importante de qualquer na análise da evolução da desigualdade de renda no território catarinense é a falta de informações estatísticas que cubram um período histórico considerável. As informações disponíveis, limitadas ao curto período compreendido entre 1981 e 2009, impedem conclusões mais sólidas. Assim, para superar as limitações impostas pelos dados, a pesquisa foi dividida em duas fases. Na primeira, buscou-se analisar a posição relativa de Santa Catarina na evolução da distribuição da renda domiciliar per capita no Brasil entre 1981 e 2009. Para tanto, foram utilizados quatro índices de desigualdade amplamente difundidos: Coeficiente de Gini; Índice de Theil; Razão entre as rendas dos 10% mais ricos e a dos 40% mais pobres (R10+/40-); e

Razão entre as renda dos 20% mais ricos e a dos 20% mais pobres (R20+/20-). Estes índices são calculados a partir das informações da Pesquisa Nacional por Amostra e Domicilio (PNAD) e estão disponíveis na base de dados eletrônica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Na segunda parte, que busca dimensionar a desigualdade na distribuição de renda no território catarinense para o período anterior a 1981, utilizando-se o PIB microrregional per capita como proxy de renda, pode-se observar, a partir da construção dos índices de Williamson, Gini e L de Theil, a evolução da disparidade interregional da renda ao longo do período 1939-1980.

Convém observar que a utilização do PIB per capita como uma aproximação da renda é válida devido ao fato de que economias cujo principal fator de produção é o trabalho, apresentam forte correlação positiva entre produto dos diferentes setores produtivos da economia (agricultura, indústria e serviços) e o total das despesas com a remuneração em cada um dos setores supracitados. Contudo, como advertido anteriormente, ao adotar o PIB microrregional per capita como proxy de renda não é possível avaliar a distribuição individual dos rendimentos. Assim, a avaliação que se faz após estimar os índices de desigualdade é uma avaliação da distribuição espacial da renda, tendo como pressuposto que, em economias incipientes, isto é, onde o principal fator de produção é o trabalho, a variação no PIB afeta diretamente o nível da renda familiar.

Também convém observar que existem vários indicadores sintéticos que permitem avaliar a evolução na distribuição da renda, e mesmo que a tendência observada seja a mesma, a utilização de um ou outro índice conduz a diferentes resultados e conclusões em termos da evolução da desigualdade. A escolha dos indicadores utilizados neste trabalho é, portanto, puramente arbitrária, embora justificada.

2.6.1 Etapas da Pesquisa

Comparando a trajetória dos indicadores de desigualdade de renda de Santa Catarina com os de outras unidades da federação e mesmo com o Brasil como um todo para o período compreendido entre 1981 e 2009, notou-se que mesmo tendo partido de patamares mais baixos, os índices do estado catarinense mantêm ao longo do período uma tendência de queda no nível de concentração de renda, registrando, em 2002, o menor grau de desigualdade de renda entre os estados brasileiros, o que também se observou nos anos subsequentes,

independentemente do indicador utilizado (coeficiente de Gini, índice de Theil, R10+/40-, R20+/20-).

Posteriormente, procurando identificar se a baixa desigualdade observada entre os anos 1981 e 2009 é, de fato, um traço estrutura do espaço catarinense, buscou-se avaliar a distribuição da renda no território catarinense para anos anteriores a 1981. Para tanto, utilizando- se dos dados dos Censos demográficos e econômicos relativos aos anos de 1939, 1940, 1949, 1950, 1959, 1960, 1970 e 1980 realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estimou-se os índices de Gini, L de Theil e Williamson.

Calculados os indicadores, constatou-se uma tendência – senão de baixa – de menor desigualdade na distribuição da renda no território catarinense ao longo do período compreendido entre 1939-1980. Foi realizada então uma ampla pesquisa bibliográfica que buscava compreender as possíveis explicações do fenômeno observado. Tal pesquisa envolveu a análise de teses, dissertações, artigos acadêmicos e relatórios que tratam do tema, com destaque para as contribuições de Azzoni (1997), Barros e Mendonça (1996), Barros, Mendonça e Duarte (1997), Tilly (1999), Ferreira (2000), Sokoloff (2000), Engerman e Sokoloff (2000 e 2002), Hoffmann (2001), Sen (2001), Acemoglu, Johnson e Robinson (2002, 2005), Sokoloff e Engerman (1997, 2002), Banco Mundial (2004) e PNUD (2010).

A análise desta obras permitiu a compreensão de que a desigualdade econômica é causa e conseqüência da desigualdade de poder, que em grande parte da América Latina, e particularmente no Brasil, tem como raiz histórica o instituto do latifúndio e da escravidão. No caso específico do Brasil, esta relação está, implícita e explicitamente, apresentada nas obras de Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Nelson Werneck Sodré, Stuart Schwartz, Lígia Osório Silva, entre outros importantes interpretes da formação do Brasil.

A partir do conjunto de informações extraídas das obras destes autores, foi possível pesquisar na história de Santa Catarina os elementos que permitiriam uma melhor compreensão da estrutura distributiva do território catarinense. Também nesta etapa a investigação desenvolveu-se a partir de uma ampla pesquisa bibliográfica, onde se destacam as importantes contribuições, entre outros, de Paulo José Miguel de Brito, Oswaldo Cabral, Walter Piazza e Aujor Ávila da Luz. Seguindo suas indicações recorreu-se, ainda que timidamente e com

pouco conhecimento, ao habitat natural do historiador: os arquivos históricos.

As poucas informações recolhidas no Arquivo Público do Estado de Santa Catarina (APESC), no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, no Arquivo do Museu Nacional de Imigração e Colonização e no Arquivo Municipal de Blumenau, quando somadas às dos autores que tratam da formação geral de Santa Catarina e, também, às interpretações daqueles que tratam da formação e evolução econômica catarinense (notadamente o estudo intitulado “Evolução Histórico-econômica de Santa Catarina”, publicado, em 1980, pelo CEAG/SC, e as contribuições de Armen Mamigonian, Alcides Goularti Filho, Idaulo José da Cunha, Luiza Renaux Hering, Ondina Pereira Bossle) permitiram compreender, a partir da análise da história sócio- cultural e sócio-institucional, o que chamamos de Raízes da

3 EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DA RENDA EM SANTA