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A presente pesquisa se utilizou da abordagem da Teoria Ator-Rede para explicar a controvérsia da cobertura das olimpíadas de 2016 através da transmissão ao vivo através de

live stream via dispositivos digitais móveis pelo canal SportTV e a repercussão sobre o

jornalismo e suas práticas e preceitos. A primeira etapa se constituiu de observação a fim de perceber quais tecnologias de streaming seriam utilizadas pelo canal durante os jogos e se essa utilização geraria material jornalístico suficiente para darmos prosseguimento ao objeto de estudo proposto, além de coleta de dados a partir do acompanhamento sistemático da cobertura (transmissões via Live e Periscope, os comentários e o salvamento de telas e de

links para vídeos).

O período da coleta de dados compreendeu do dia 05 ao dia 21 de agosto de 2016. Como ao término dos jogos o canal havia realizado 129 transmissões via Live e apenas 9 via Periscope, decidimos fechar o escopo para a análise dos vídeos gerados apenas através da ferramenta Live. Como o Facebook permite que o conteúdo transmitido via Live seja reacessado posteriormente, não houve necessidade de captura de vídeos. Por isso, a coleta do material se deu a partir do salvamento dos links para todas as transmissões do canal SporTV no período delimitado, separando-os por data.

A segunda etapa da pesquisa ocorreu a partir da organização e análise do material, constituído dos rastros da cobertura (o material coletado) a partir da Cartografia das Controvérsias. Sendo assim, foram identificadas os actantes (atores humanos e não-humanos) envolvidos nas ações como repórteres, apresentadores, o cameraman público no estádio, audiência acompanhando através da TV e das redes sociais, como não-humanos a infraestrutura da cobertura, o microfone, a rede social Facebook, as câmeras e as interações resultantes.

Portanto, neste trabalho aplicamos a Cartografia de Controvérsias como metodologia a fim de compreender como se deram as transmissões via Live do canal SporTV durante o período dos jogos olímpicos Rio 2016. A controvérsia definida para análise é justamente o nascimento de um novo produto jornalístico, em uma plataforma nova, sem padrões definidos a serem seguidos, um tipo de transmissão que se encaixa como produto pós-industrial, por estar livre do engessamento muitas vezes imposto pela mídia de massa de matriz industrial. Ao analisarmos as 129 transmissões via Live do canal, rastros das associações de todos os atores envolvidos, podemos perceber padrões que surgem, problemáticas e observar as ações

de humanos e não-humanos, constatando, assim, o redesenho de algumas características de uma transmissão jornalística ao vivo. Inicialmente, apresentamos alguns dados quantitativos a fim de contextualizar o universo da cobertura através da plataforma Live ao longo das olimpíadas. Então fazemos a análise descritiva de alguns momentos nos quais podemos observar uma nova prática jornalística se construindo e, portanto, a construção do social a partir da abertura da caixa-preta. Apropriando-se de uma metáfora utilizada por Santaella e Cardoso (2015), investigamos esse produto jornalístico a fim de observar o fenótipo (em genética, a adaptação diante de um novo ambiente, a novas organizações) em contraponto às características genotípicas (as que são herdadas de práticas antigas e consolidadas).

Entendemos a cobertura jornalística via Live como uma caixa-cinza, não por ser algo que chegou a ser uma caixa-preta e, pelo surgimento de uma controvérsia, se desestabilizou e foi posto em debate, mas por ser uma prática recente que nem sequer chegou a se pontualizar. Desse modo, as novas transmissões são a controvérsia, quando postas em perspectiva (como uma transmissão com função pós-massiva) com os padrões do jornalismo massivos, e também a caixa-cinza, por serem práticas de uma rede sociotécnica que estão em processo de disputa rumo a uma possível pontualização. Logo, nossa pesquisa trata de, ao observar o fenômeno em construção, identificar os actantes e intermediários e como se dá essa relação entre eles para daí perceber quais pontos continuam em tensão e quais apresentam estabilização e quais os papéis que homem e atores não-humanos assumem nesse novo produto midiático de transmissão jornalística ao vivo.

Observou-se durante a realização dos jogos a utilização de dispositivos móveis, sobretudo smartphones, na transmissão de conteúdo jornalístico, através de aplicativos de redes sociais como Twitter, Periscope, Facebook (incluindo o recurso Live), Snapchat, Instagram (Figuras 3, 4, 5 e 6).

Figuras 3 e 4 - Apropriações do aplicativo Instagram na cobertura dos jogos Rio 2016

Fonte: Captura de telas do aplicativo Instagram

Figuras 5 e 6 - Snapchat também foi utilizado no jornalismo na cobertura das olimpíadas

Dentro dos aplicativos para dispositivos digitais móveis utilizados na cobertura jornalística das Olimpíadas se encontra o objetos de análise desta dissertação, qual seja o Facebook (através do Live). Durante a realização dos jogos, algumas organizações se apropriaram das potencialidades de ferramentas que possibilitam transmissões ao vivo via

stream em suas rotinas produtivas. Dos canais dedicados a esportes, a FOX Sports realizou

algumas transmissões via Periscope, a ESPN Brasil utilizou tanto Live quanto Periscope também de modo esporádico. O SporTV, canal aqui investigado, realizou uma cobertura com uso mais frequente dos aplicativos que oferecem recurso de live stream.

Como dito anteriormente, pela maior representatividade quantitativa em relação às transmissões feitas via Periscope, esta pesquisa se apoiou em análises das transmissões via Live do Facebook a fim de, à luz da Teoria Ator-Rede, rastrear as associações sociotécnicas e encontrar actantes e intermediários entre os atores humanos e não-humanos para perceber como vem se desenhando essa modalidade do jornalismo.

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