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PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E OPERACIONALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES.

Para realização deste trabalho, o procedimento básico constou de uma seqüência metodológica em etapas distintas (ver figura 10), por vezes realizadas simultaneamente, utilizando, ainda, materiais adequados à necessidade para o cumprimento dos objetivos propostos para realização da pesquisa. O tempo de partida foi o atual, no entanto o resgate do processo histórico de formação da área em questão foi imprescindível.

Para fins experimentais e analíticos, foram trabalhados três municípios ao longo do Vale do Acaraú, traçando um perfil longitudional no mesmo (ver figura 9) e tendo na compartimentação do relevo o requisito adotado. Elegeram- se o município de Monsenhor Tabosa (localizado em um maciço residual), o município de Varjota (localizado na superfície sertaneja) e o município de Morrinhos (localizado na zona de tabuleiro litorâneo), para fins experimentais.

Figura 10: roteiro metodológico Elaboração: Falcão Sobrinho, José.

a) Material bibliográfico

Nesse momento, adquiri informações as mais diversas possíveis, a fim de aprofundar a temática em questão, bem como a fundamentação teórica. Foram considerados os aspectos da dinâmica do semi-árido, sua estrutura, seus processos naturais e aspectos relacionados à ação da sociedade. Considerou-se, nesta etapa, os trabalhos realizados na área em questão, bem como outros registros em áreas do semi-árido e, por fim, uma busca de trabalhos já desenvolvidos que contemplem o entendimento do cenário das paisagens do estado do Ceará.

Busquei dados pluviométricos, junto à Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME), numa série temporal de 22 anos. Através da análise temporal das chuvas, foi possível obter informações sobre as influências das águas e sobre as condições atmosféricas como parte do sistema formador das paisagens.

Para análise da Bacia do Rio Acaraú, foram coletadas informações sobre as condições hidrológicas: açudagem e áreas de irrigação. Para tanto, coletaram-se dados no Anuário Estatístico do Ceará-IPECE. (período 1984 a 2005). Na ocasião, foi possível obter os dados da produção agrícola e principais atividades agrícolas inseridos na área em questão, nas duas últimas décadas. Nos anos de 1992, 1992 e 1996, os dados não foram levantados pelo citado órgão.

b) Para se ter uma dimensão do cenário das paisagens em nível geral da Bacia do rio Acaraú, Utilizei:

• Imagens orbitais Landsat 7, wrs218061/63, bandas 5, 4 e 3, datadas de agosto de 2.002.

• Folhas Sistemáticas da DSG/SUDENE, escala 1:100.000, 1972.

• Mapa da compartimentação geoambiental do estado do Ceará, escala 1:600.000, 2005.

• Os mapas foram elaborados a partir da aplicação de técnicas de geoprocessamento disponíveis nos GIS ArcGIS 9.0 e SPRING 4.2

• Mapa de reconhecimento de solos do estado do Ceará, escala 1:600.000, 1972.

• Mapa das áreas susceptíveis ao processo de desertificação no estado do Ceará, escala 1:800.000. FUNCEME, 1992.

• Mapas do RADAMBRASIL, Folhas Fortaleza e Natal/Jaguaribe, escala 1:1.000.000 (1981)

• Levantamento Exploratório-Reconhecimento de Solos do Estado do Ceará, escala 1:600.000 (1978).

Mediante o material, foi possível realizar a carta topográfica na escala de 1:200.000, com um intervalo de 100m de altitude para cada cota delimitada As curvas de níveis foram traçadas com uma eqüidistância de 40m. De posse do recurso digital, através do Sistema de Informação Geográfica, foi possível a elaboração das demais cartas; declividade, geomorfologia, geologia, solo e áreas degradadas susceptíveis ao processo de desertificação.

A carta de declividade foi elaborada em percentagem (%) e, em função do relevo apresentar uma ampla extensa de superfície aplainada, poucas foram as mudanças no intervalo de classe. Em princípio, utilizou-se as categorias adotadas por Ross (1994), alterando apenas mais uma categoria, que corresponderia a um intervalo superior a > 50%. A última classe corresponderia ao fator agronômico determinado na proposta de Lesph et. al (1991).

Quadro 4: Índice de declividade das vertentes

Classe de fragilidade Declividade

1 – Muito fraca < 6% 2 – Fraca 6,01 – 12% 3 – Média 12,01 – 20% 4 – Forte 20,01 – 30% 5 - Muito Forte 30,1 – 50% 6 – Intensamene forte > 50%

Org. Falcão Sobrinho, José

Elaborada com base em Ross (1992) e Lesph et al (1991)

A carta geomorfológica foi pautada a partir da compreensão do relevo de forma integrada no cenário da paisagem, buscando inter-relacionar as formas maiores às pequenas formas à medida que a escala oferecia recursos para tal. Com isso, foi associada ao relevo, a geologia e solo predominante, com amparo a indicação de Ross (1992) e Souza (1994).

As demais cartas, geologia e geologia, foram delimitadas na escala de 1:200.000, com base na carta topográfica.

c) Trabalhos de campo

Esta etapa foi baseada em três momentos: a) a experimentação, para fins de quantificar o processo erosivo b) a coleta de espécies vegetais e, c) a aplicação de questionários e entrevistas com os agricultores, a fim de se conhecer mais de perto a realidade local.

a) A experimentação do processo erosivo em campo

O primeiro passo foi à escolha da área para montagem do experimento, obedecendo a compartimentação geomorfológica: maciço residual úmido (M.R.U.), superfície sertaneja (S.S.) e zona litorânea (Z.L.), para fins de dados estatísticos e analíticos.

O experimento foi montado no município de Monsenhor Tabosa, cuja localização é Latitude (S) 4º 47’ 22’’ e Longitude (W) 40º 03’48’’. Este município

está localizado na Serra das Matas, e que contém as características mais representativas da serra. Sobre a estrutura geológica a área, situa-se no Complexo Tamboril-Santa Quitéria, prevalecendo uma associação de granito- migmatitica, conforme CPRM (1993).

No ambiente da superfície sertaneja, a escolha da área foi um pouco mais difícil. As características dos municípios que contemplam o Vale do Acaraú são aproximadas, em um primeiro olhar. Desta forma optou-se por Varjota, cuja localização é Latitude (S) 4º 11’ 40’’ e Longitude (W) 40º 28’ 36’’, seguindo os critérios mencionados a seguir.

No ambiente da zona litorânea, optou-se pela área do município de Morrinhos cuja localização é Latitude (S) 3º 13’ 46’’ e Longitude (W) 40º 07’30’’, por apresentar características mais homogêneas em relação á área de tabuleiros.

Com base em Falcão Sobrinho e Falcão (2004), foram delimitas três áreas para objeto de estudo em cada município: a) uma área que tenha sido conservada há pelo menos 10 anos, sem intervenção antrópica; b) uma área em pousio, há pelo menos três anos e c) uma área com uso contínuo, ou seja, que esteja sendo praticado um tipo de cultura ao longo de vários anos, no caso, plantio de milho que é a cultura mais empregada no semi-árido cearense.

Foi feita uma limpeza do terreno para uniformizar a área experimental, com uso de uma enxada.

Como critério, adotamos a orientação de Falcão Sobrinho e Falcão (2004), com base nos seguintes procedimentos: O experimento foi realizado em uma área de fácil acesso, em um sítio evitando influência externa, principalmente a circulação de animais; as vertentes apresentassem declividades com semelhanças; as áreas foram representativas às condições de uso comumente encontradas na região, ou seja, prática de queimada no desbravamento e plantio sem cobertura do solo, no caso o milho ou o feijão, acrescentou-se uma área em pousio e uma outra área que estivesse com uma cobertura vegetal a pelos menos 5 anos.

Para quantificar as taxas erosivas montamos duas parcelas experimentais (2m x 10m) em cada área, conforme Guerra (1996), sendo as mesmas divididas no cumprimento, ao meio, por uma outra chapa alumínio, ficando cada parcela, uma em solo sem vegetação e outra em solo com vegetação, situadas em uma declividade de 12o, medidas com um clinômetro.

Cada área mantinha a seguinte distância aproximada: de 100m entre uma ou outra. Foram utilizadas placas de alumínio com 2 a 4 mm de espessura com 50 cm de largura, sendo enterrado 10 cm e 40 cm acima do solo. Na parte inferior, foi conectada uma calha para receber o material erodido. Galões de plásticos foram interligados as calhas (ver figura ilustrativa de número 11), para captar a água com sedimentos, quando ultrapassado o limite de coleta da calha.

Figura 11: Parcela experimentação em Monsenhor Tabosa. (Dezembro/2003)

O monitoramento do processo erosivo foi realizado diariamente durante um período chuvoso, de janeiro a julho. Coletaram-se os sedimentos, em cada calha e nos galões coletores. Efetuaram-se a medição, a pesagem e a análise da composição granulométrica dos sedimentos e quantidade de matéria orgânica recolhidos. A quantidade de material em cada parcela que continha vegetação não foi expressiva, com isso as análises dos dados reportaram as demais parcelas. O índice de precipitação foi realizado com o auxílio de um pluviômetro. Conforme Bertoni e Lombardi Neto (1999), para a determinação das perdas por erosão, sob chuva natural, com talhos munidos de sistemas coletores, os

resultados tornar-se-iam mais representativos, ainda, com as determinações por um tempo mais prolongado. No caso, o experimento foi realizado no período de dois anos, em 2004 e 2005, somente no período chuvoso, em que os pequenos agricultores utilizam a pratica da agricultura.

O passo seguinte nas atividades em campo. Consistiu na coleta de material vegetal para fins de identificação. Na ocasião, o contato com a comunidade local foi fundamental e decisiva para a escolha da área.

Iniciamos a pesquisa com a reconstituição da vegetação nativa, com entrevista a 100 moradores para fins de registros referentes à vegetação, que, outrora, pudesse figurar o local das três áreas. Na oportunidade, realizaram-se coletas botânicas de espécies lenhosas. As espécies foram identificadas através de literatura especializada, por comparação com o material da EAC/UFC. As exsicatas foram incorporadas ao acervo do Herbário da Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA. “Prof. Francisco José de Abreu Matos”.

A aplicação dos questionários e entrevistas foi à fase em que se pode manter um contato direto com o agricultor. A primeira etapa consistiu no contato direto com a comunidade local para fins de organizar a escolha da área a ser trabalha, considerando sempre o pequeno agricultor, ou seja, área que tivessem até 10 ha de terra disponível, o que foi possível ter conhecimento através de centenas de quilômetros quadrados percorridos e em contato direto com o agricultor.

As temáticas inseridas no questionário foram: (a) dados cadastrais o agricultor, características físicas da propriedade; (b) formação do agricultor, a relação com a mão-de-obra; (c) atividades exploráveis na área; (d) infra-estrutura do estabelecimento; (e) preparo e manejo da terra e (f) fator econômico do agricultor e a percepção do agricultor sobre o uso da terra. Para cada item citado, fez-se a subdivisão dos mesmos em tópicos. A fase da entrevistas procedeu ao do questionário, onde de forma espontânea o agricultor expressava livremente o seu pensar. Isso só era possível com a obtenção da confiança do entrevistado.

Tratando-se de um elevado número de entrevistados, no total de trezentos, sendo cem em cada área, quantidade esta expressiva, resolveu-se generalizar a forma de tratamento, no decorrer do presente relatório de tese. Para tanto, foram criados alguns personagens, identificados através dos nomes mais usuais em todas as áreas: os Josés, os Joões, os Antônios e as Marias. Quanto as Marias, refiro-me há algumas mulheres que trabalham na terra ajudando o marido.

Para o levantamento das informações sobre os vários tipos de intervenções da paisagem, efetuei trabalho de campo, percorrendo toda área da bacia hidrográfica, relatando e fotografando as várias formas de uso da terra, os agentes transformadores e o resgate da situação real em que se encontrava o cenário da paisagem.

d) Etapa de laboratório

Esta etapa consistiu na análise do material coletado em campo.

O solo erodido foi pedaso e enviadas amostras ao Centro de Estudos Tecnológicos (CENTEC) onde foi feito análise de física, determinando os valores de areia, silte e argila, bem como a densidade e porosidade. A análise química consistiu na identificação dos nutrientes: matéria orgânica, cálcio, potássio, magnésio, pH, sódio e saturação de bases.