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O RELEVO NA CONSTITUIÇÃO DAS PAISAGENS DO VALE DO ACARAÚ

F) Atividade de gabinete:

5. O RELEVO NA CONSTITUIÇÃO DAS PAISAGENS DO VALE DO ACARAÚ

O relevo do Estado Ceará foi discutido no projeto RADAMBRASIL, em 1981, em uma escala de 1.1.000.000. Posteriormente Souza (1988) propôs uma classificação das unidades morfoestruturais, denominando as grandes formas do relevo em (a) áreas sedimentares, compostas pela Chapada do Apodi, a Chapada do Araripe a Chapada da Ibiapaba; (b) Depressão sertaneja constituída por uma ampla superfície sertaneja, pontilhadas por maciços e inselbergs e (c) a zona litorânea, subdividida nos tabuleiros e planícies litorâneas.

A carta hipsometrica permite correlacionar as unidades morfológicas com os 3 níveis de compartimentação geomorfológica, ou seja: o nível de 0 a 100 m, que corresponde a: 1) zona litorânea: subdividida em (a) tabuleiros sublitorâneos, (b) a planície litorânea e (c) a planície ribeirinha. 2) o nível de 100 a 400m, que insere a superfície sertaneja, (inserem-se nesse ambiente os pequenos maciços secos com altitude até 500m e 3) os maciços residuais úmidos com altitudes até 1.000m. (Ver mapas hipsométrico e geomorfológico em anexo).

Referida classificação vai ao encontro quando se trabalha os aspectos geológicos, os quais serão abordados no próximo tópico. Sem procurar entrar no mérito de tal classificação, até porque a mesma atende a um critério estrutural, ou seja, pautam-se nos dados morfo-estruturais, sendo a geologia o fator preponderante para tal classificação, resolvemos visualizar os aspectos geomorfólogicos da bacia o rio Acaraú a partir de uma compartimentação gomorfológica relacionada a sua ocupação antrópica, ao aspecto cultural inserido no ambiente acadêmico e na própria sociedade.

Com isso, é comum falar em sertão quando se aborda a superfície sertaneja; falar em serra, quando se trata de um ambiente elevado e úmido; e, falar em litoral, quando se caminha em direção aos tabuleiros ao encontro da zona de praia. Esta classificação que não deixa de atender a critérios de ordem

de feição, condicionada a um aspecto estrutural, se faz presente no intuitivo do indivíduo, merecendo destaque em nível de avaliação.

Compondo o cenário da paisagem do Vale do Acaraú, ou popularmente, encontram-se algumas áreas de maciços residuais úmidos, que são a serra da Meruoca e a serra das Matas, ilhadas em meio a uma superfície sertaneja que drena uma dimensão territorial de dezenove municípios e faz contato com a zona litorânea, a qual tem nos tabuleiros litorâneos e na planície litorânea sua subdivisão, composta por cinco municípios.

Para cada compartimentação, existem as peculiaridades nas formas de relevo e de ocupação, condicionadas por processos diversos.

Os maciços residuais úmidos são tidos como uma área que foi resistente aos processos erosivos no decorre de eventos climáticos. São áreas que quebram a monotonia no cenário da paisagem da superfície sertaneja, em formas de maciços cristalinos. Possuem extensão variada e altitudes que, em geral, situam-se acima dos 800m, conforme mapa geomorfológico em anexo, as cotas que ultrapassam 1.000m são raras.

Ressalta-se que estas formas dos relevos constituídos pelos maciços residuais úmidos do estado do Ceará obedecem a uma estrutura, a qual corresponde a intrusões graníticas e rochas metamórficas, de acordo com Souza (1988).

A serra das matas é composta por elevações que chegam a 1.00m de altitude, intercaladas com patamares que oscilam entre 500 a 700m, amparados por migmatitos, conforme mapa geológico do estado do Ceará, elaborado pelo CRPM (2003) e, que segundo RADAMBRASIL (1981) apresenta efeitos do tectonismo plástico e ruptural.

Merece destacar que as cristas ressaltam a altivez das formas da serra e se estendem sobre a área do platô, ultrapassando o nível de 850m.

O posicionamento da serra das Matas tem um importante papel na rede de drenagem em todo o estado. Apresenta as nascentes do rio Quixeramobim, que compõe a maior bacia do estado do Ceará e deságua a leste do mesmo. E o outro grande rio, que compõem a segunda maior bacia hidrográfica, é o rio Acaraú.

Mesmo sendo drenada por dois grandes rios, a referida serra não apresenta na atualidade, características de brejos de cimeira, em função de seu alto nível de degradação dos fatores ambientais: de solo, de vegetação, de recursos hídricos, condições típicas de outros “brejos” de cimeira do Ceará.

As drenagens dos rios que compõem as bacias são delimitadas pelas elevações mais extensas que funcionam como divisores de água.

Observam-se, neste ambiente, uma forma de relevo menos acidentado na porção central, com topos convexos e formas tabulares. É comum a presença de solos Podzólicos (Argissolos), com espessuras que chegam a mais de 1 metro. A vegetação, nessa área, corresponde a um porte elevado, arbóreo, ainda que resquício e pontual, existem algumas variações de espécies.

São as áreas ocupadas primariamente por florestas e que justificariam a toponímia do compartimento em questão.

Nos demais setores, as feições de cristas e vales profundos constituem as evidências principais.

Para leste da Serra, há uma grande freqüência de matacões, mesmo nas áreas mais elevadas, as formas aguçadas orientadas segundo a direção SE- NW. Prevalecem nesse ambiente os solos Litólicos (Neossolos Litólicos). As encostas desnudas e aparentemente as feições de declives são mais acentuadas. A vegetação é de porte arbustivo com larga incidência de plantas da caatinga, compartilhando com uma vegetação de palma forrageira.

Tais condições, em muito, são oriundas de um processo de ocupação da área, onde as vertentes foram desmatadas e substituídas por culturas secundárias, desde a agricultura de subsistência como o milho e o feijão até o emprego do algodão, da mamona e do café. Em um processo de desmatamento, são verificadas a erosão e denudação das vertentes (ver figura 12).

Figura 12: Vertentes desnudas na serra das Matas. (agosto/95)

Na serra da Meruoca-Rosário, a apresentação de suas feições, sobrepostas por demais elementos da paisagem, comporta-se de maneira diferenciada em relação a serra das Matas. E muito comum encontrarmos áreas de brejos ou cimeiras. Sua maior proximidade com o mar, favorecem ao barramento das brisas, associada a uma condição natural de preservação, fruto de uma ocupação de sítio e segundas residências. Propiciou, assim, o estagnamento de uma ocupação similar a serra das Matas.

As áreas de “brejo” foram ameaçadas ao longo da ocupação na serra, devido à incidência da babaçu, associada à forma de uso do solo para fins da agricultura de subsistência, pautada no milho e feijão, sendo os processos de erosão influenciados pelo plantio em fileiras.

Sua localização geográfica tornou um determinante no equilíbrio de uso do solo, pois se situa a 20 km de Sobral, e foi eleita como uma área de fins de semana para esta comunidade, não tendo, na atualidade, um intenso uso de solo agrícola, conforme relata Falcão Sobrinho e Falcão (2002).

A referida área compreende uma área de “stock” granítico, Segundo citado no RADAMBRASIL (1981) e Souza (1988), cujas características correspondem a um granito de coloração avermelhada e granulação grosseira.

Apresenta, entre suas particularidades, um prolongamento de falhas, o maior dos quais dispondo-se em direção SW-NE, constituído, assim, limite ocidental do “graben” Jaibaras, conforme Atlas Geológico do DRPM/CPRM (1973).

Esse ambiente é favorecido pelo maior índice de precipitação em relação aos demais ambientes que compõem o Vale do Acaraú, em seu topo, que chega a mais de 900m de altitude é facilmente perceptível à obstrução dos nevoeiros, o que favorece a índices de precipitação superiores a 1.000mm e, conseqüentemente, em uma associação de eventos favorece ao surgimento dos brejos e cimeira.

Em tais condições, os processos de morfogênese química estabelecem sobre as rochas, dando características arredondadas em grandes extensões. Estando de acordo com Souza (1988) pode mencionar que a mesma apresenta uma dissecação nas formas de topos aguçados e convexos, expondo-se largas porções de relevos semi-mamelonizados.

Contudo, esta morfologia dá-se pela ação dos processos areolares, tendo ainda a presença de vales em V, proveniente de uma incisão linear. Comporta, ainda, no cenário de suas paisagens planícies alveolares colmatadas por depósitos alúvio-coluviais

Os solos Podzólicos Vermelho Amarelos (Argissolos) são facilmente perceptíveis nas áreas mais elevadas, e dão suporte a uma vegetação tipicamente de floresta e que, de longe, contrasta com o cinza da vegetação da caatinga, pontilhando o cenário da paisagem da superfície sertaneja.

Nas áreas de uma ocupação mais intensa e desenfreada nas formas de uso, onde o intenso emprego do café e do algodão e posteriormente de um intenso cultivo do milho e do feijão, algumas características são contrastante. Conforme cita a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 1973), a serra da Meruoca apresenta um relevo montanhoso com escarpas abruptas, geralmente nuas em blocos de rocha soltas e empilhadas de forma caótica.

Interessa verificar que tal situação configura-se a sotavento da serra, onde o agricultor verifica uma diminuição da precipitação, conforme já citado por Falcão Sobrinho e Falcão (2002), os quais já alertavam para uma dispersão de plantas da caatinga. Nesse ambiente, algumas características que mais de perto se assemelham àquelas encontradas nas depressões sertanejas.

Os autores já evidenciaram a presença de matacões em várias localidades nesse setor da serra, sendo afloramentos de rochas pontilhados ao seu redor por cultuas de milho abandonadas e associadas a espécies da caatinga que ocupam áreas elevadas da serra. Nas partes mais baixas, é comum a presença de solos Litólicos (Neossolos Litólicos).

Além disso, é importante que se frise que a questão da desertificação ou da degradação ambiental não vai se restringir apenas aos sertões. Esse ambiente que foi considerado um oásis na produção agrícola, de produtos alimentares desde a exportação a consumo de subsistência, tem sido também fortemente degradado. O que se tem de enclaves de matas que compunham a vegetação primária das serras úmidas é praticamente nada de hoje. Ocorrem, então, os relevos acidentados, na medida em que ocorrem desmatamentos. O impacto da erosão pluvial é muito mais significativo. Isso se traduz no carreamento contínuo dos solos, até mesmo sendo considerado como um ambiente que já se evidenciam áreas em processo de desertificação o que antes era enclave, hoje representam áreas de transição no contexto do semi-árido cearense.

È importante que se verifique que, na serra das Matas e na serra da Meruoca, os declives das encostas da serra chegam a atingir uma variação entre 25% a 45% nas partes mais elevadas. Este fato leva-nos a uma análise em que o tamanho e a quantidade do material em suspensão arrastado pela água dependem da velocidade com que ela escorre, e essa velocidade é uma resultante do comprimento do lançante e do grau do declive do terreno. A esse respeito, Guerra (1996) afirma que apesar dos processos erosivos nas encostas ser um problema em escala mundial, a erosão dos solos ocorre de forma mais séria nos países em desenvolvimento, com regime de chuvas tropicais, sendo considerada por Blaikie (1985) uma causa e conseqüência do subdesenvolvimento. Com isso, o fator uso do solo torna-se um modelador do relevo.

Para Guerra (1996), os desequilíbrios que se registram na paisagem das encostas, estão relacionados diretamente com as chuvas. A concentração das chuvas, associadas aos fortes declives, aos espessos mantos de intemperismo e ao desmatamento pode criar áreas potenciais de erosão e de movimentos de massa, fornecedoras de sedimentos para os leitos fluviais. Ainda, o volume da precipitação anual e o número de dias chuvosos espelham a influência do relevo, uma vez que os valores de precipitação aumentam em direção às áreas mais montanhosas das bacias hidrográficas.

Seixas (1985), tratando de vertentes, relata que as perdas de solo por enxurradas e por erosão são conseqüências inevitáveis das queimadas uma vez que deixam os solos expostos, o que se verifica na serra da Meruoca. Ainda segundo o autor, citando West (1965) afirma que em regiões montanhosas e sujeitas às chuvas intensas após as queimas, os resultados podem ser catastróficos. Em regiões áridas e semi-áridas, o efeito da queima gera grandes prejuízos, em virtude de serem áreas com graves problemas de água, e as queimadas geram perdas de solos por deflúvios.

A camada mais superficial das encostas, possuidora de vida microbiana, constitui o solo que, muitas vezes, por uso irracional, pode atingir

elevado estágio de degradação. Dentre as causas mais conhecidas, incluem-se, a erosão, acidificação, acumulação de metais pesados, redução de nutrientes e de matéria orgânica. Encostas desprovidas de vegetação, chuvas concentradas, contato-solo-rocha abrupto, descontinuidades litológicas e pedológicas, encostas íngremes, são, ainda, algumas condições naturais que podem acelerar os processos de degradação nas encostas (Guerra, 1995).

Na serra das Matas e na serra da Meruoca, o problema de desmatamento nas vertentes (ver figura 13) torna-se um agravante ao processo erosivo, por se tratar de um ambiente com elevado índice de declividade. Este fato e associado ao suporte geológico, ou seja, a uma estrutura do cristalino, que dificulta a infiltração da água, o que aumenta o escoamento superficial e, conseqüentemente, intensifica a erosão do solo.

Do ponto de vista agronômico, a grande maioria das terras da serra das Matas e da serra da Meruoca, em função de sua acentuada declividade, seria enquadrada em classes não recomendadas para a agricultura. O seu aproveitamento agrícola, somente poderia ser feito mediante técnicas agrícolas especiais de cultivo como curvas de nível, terraceamento e agrossilvicultura.

Figura 13: Vertentes sem vegetação na serra das Matas (agosto/2005)

Ainda, sobre áreas úmidas, o Vale do Acaraú insere uma pequena área de ambiente sedimentar pertencente a serra da Ibiapaba. Considerada um pé-de- serra, o referido ambiente contempla o cenário da paisagem com uma feição

tabular, apresentando solos com espessuras superiores a 1,50m, constituídos de solos Latossolos ou Podzólicos Vermelho Amarelos, revestidos por uma vegetação de caatinga arbórea e resquícios de florestas.

A superfície sertaneja é uma área deprimida localizada entre os ambientes elevados. Sua extensão no estado do Ceará corresponde, a um total de 92% da área total do estado. No Vale do Acaraú, sua dimensão ocupada aproximadamente o mesmo percentual. No conjunto dos municípios que se inserem na mesma, se tem em sua totalidade um elevado percentual de áreas consideradas semi-áridas (Quadro 5).

Quadro 5: Abrangência dos municípios no semi-árido Município Compartimenção

geomorfológica

% de área semiárida

Acaraú Zona litorânea 76,7

Bela Cruz Zona litorânea 100,0

Catunda Superf. sertaneja 100,0

Cariré Superf. sertaneja 100,0

Cruz Zona litorânea 54,3

Forquilha Superf. sertaneja 100,0

Graça Superf. sertaneja 100,0

Groaíras Superf. sertaneja 100,0

Hidrolândia Superf. sertaneja 100,0

Ipú Superf. sertaneja 67,0

Ipueiras Superf. sertaneja 99,1

Marco Zona litorânea 100,0

Massapê Superf. sertaneja 98,5

Meruoca Maciço res.úmido 12,6

Mons. Tabosa Maciço res.úmido 100,0

Morrinhos Zona litorânea 100,0

Mucambo Superf. sertaneja 73,0

Nova Russas Superf. sertaneja 100,0

Pacujá Superf. sertaneja 100,0

Pires Ferreira Superf. sertaneja 77,5

Reriutaba Superf. sertaneja 61,4

Santana do Acaraú Superf. sertaneja 100,0

Sobral Superf. sertaneja 97,0

Santa Quitéria Superf. sertaneja 100,0

Tamboril Superf. sertaneja 100,0

Varjota Superf. sertaneja 100,0

Com altitude inferior a 400m, a superfície sertaneja é área de aplainamento resultante do trabalho erosivo em que, indistintamente, diferentes litologias, põem em destaque as rochas mais resistentes. Expõe, entre suas formas, formações residuais, constituídos por pequenos maciços secos, que, de forma isolada compõe o cenário da paisagem do Vale do Acaraú, tendo uma maior concentração no município de Santa Quitéria.

No aspecto geral, a morfologia das superfícies sertanejas caracteriza- se pela presença de amplas rampas de pedimento que se inclinam da base dos relevos residuais em extensão ao litoral. Com isso, a altitude vai gradativamente diminuindo. Conforme se pode verificar no mapa altimétrico (em anexo), as áreas mais elevadas iniciam-se no sopé da serra das Matas e vai diminuindo, gradativamente, quando se desloca à zona litorânea.

Conforme Ab’Saber (1956), tendo evoluído sob condições climáticas semi-áridas, a superfície sertaneja apresenta como revestimento generalizado a caatinga, com capacidade mínima de deter ou atenuar a ação erosiva.

Apresenta, ainda, uma reduzida espessura do manto de alteração das rochas, fruto de um processo intempérico físico, com presença freqüente dos interflúvios.

As pequenas elevações inseridas na superfície sertaneja, localizadas a Norte da serra das Matas são frutos de um trabalho da erosão (RADAMBRASIL, 1981), com suas cristas quartzíticas que se expõem no cenário da paisagem. Os níveis altimétricos desses relevos variam entre 350-500m (figura 14), o que, de certa maneira, impede a incipiência de precipitações mais elevadas.

Figura 14: Maciço seco na superfície sertaneja (set/05)

Essas elevações perzafem imaginar áreas de serras arqueadas, que foram degradas por forte força erosiva e hoje, constituem-se em ambientes impermeáveis, mal conservados, de aspecto caótico, com intrusão de rochas ígneas, atestando a orientação das velhas montanhas, em uma relíquia de cadeias de serras.

A superfície sertaneja do vale do Acaraú, compreendida entre as serras das Matas e serra da Meruoca, possui uma altitude média entre 100 a 300 m. Geomorfologicamente, é marcada pela topografia levemente ondulada. Na maior parte do ano esta submetida às deficiências hídricas, fato este que é associado ao entalhe dos fundos dos vales, não superiores a 3 m, já que as águas percorrem a superfície apenas no período chuvoso ( ver figura 15).

Figura 15: Água acumulada na superfície sertaneja. (agosto/2005)

A partir da margem esquerda do rio Acaraú para oeste, quando contacta com o pé-de-serra do Planalto da Ibiapaba, engloba-se, na superfície sertaneja (figura 16), do ponto de vista geomorfológico, setores bastante complexos, tanto do ponto de vista de composição litológica como geotectonica. O pré-Cambriano Indiviso abrange o complexo gnáissico-ligmatítico associado a quartzitos e calcários cristalinos. Estas rochas contactam com litologias do “Graben” de Jaibaras que se orienta de SW para NE, verifiando maior freqüência de conglomerados, arenitos e folhelhos. Não obstante, a acentuada variedade de rochas e às evidências da tectônica ruptural, pode-se afirmar que, do ponto de vista geomorfológico, os efeitos dos processos de pediplanação chegaram a configurar o desenvolvimento de um dos setores mais homogêneos na superfície sertaneja. Isso se traduz pela presença de pedimentos bem conservados onde os relevos residuais praticamente inexistem. Mesmo nas linhas de contato entre o embasamento cristalino e o Grupo Jaibaras são marcadas pelos processos degradacionais responsáveis pelo desenvolvimento de uma vasta superfície de erosão.

Uma longa extensão de área é recoberta por solos da classe dos Bruno Não Cálcicos (Luvissolos Crômicos), Litólicos (Neossolos Litólicos) e Solonetzicos (Gleissolos Melânicos), de acordo com a SEPLAN (1994).

Figura 16: Aspecto da superfície sertaneja Santa Quitéria (jul/05)

Já no setor do médio Acaraú, podemos acompanhar o percurso do rio de Groaíras, um dos maiores afluentes do rio Acaraú. Abarca a área de domínio

exclusivo do complexo gnáissico-migmatítico com inclusões de granitos, conforme DNPM (2003). É o setor da depressão periférica ocidental onde é mais freqüente a presença de inselbergs. Estes residuais se mostram, em geral, alinhados conforme uma direção preferencial SE-SW.

A rede de drenagem obedece à estrutura sobre a drenagem, o rio Groaíras é um exemplo que forma a mais destacável sub-bacia do Acaraú. Acha- se adaptado ao extremo alinhamento de falha mencionado. Os solos são distribuídos em sua maioria pelos Planosolos (Planossolos) e Regossolos (Neossolos neolítico) de acordo com a SEPLAN (1994).

Com relação à área litorânea, a terceira comportamentação geomorfológica por nós estudada, destaca que a mesma é fruto de um intenso e contínuo processo de acumulação. Para um melhor entendimento selecionamos algumas sub-compartimentos: tabuleiros litorâneos, planície fluvial, planície fluvio marinha, planície litorânea (dunas e paleodunas).

Os tabuleiros sub-litorâneos são constituídos por sedimentos plio- pleitocênicos do Grupo Barreiras, representam o mais típico glacis de deposição do território cearense. Inclinando-se suavemente do interior para o litoral, a superfície dos tabuleiros situa-se, quase sempre, abaixo dos 100m de altitude. Fracamente pela drenagem, os tabuleiros sublitorâneos são constituídos por amplos retalhos de superfícies horizontais, separados por vertentes pouco pronunciadas, donde o caráter inoperante dos interflúvios

De acordo com o RADAMBRASIL (1981), dispostos em discordância sobre os terrenos do embasamento cristalino, e constituídos por materiais de diferentes resistências, os depósitos que formam os tabuleiros dão origem, em alguns locais, a falésias vivas, a exemplo das já mencionadas quando da descrição da planície litorânea. Cabe destacar, na estrutura dos tabuleiros, a presença de cobertura de areias não edafizadas e de concreções ferruginosas