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Capítulo 4. Estudo comparativo do efeito da aplicação de alta pressão isostática

4.2.4 Processamento por maturação controlada

As amostras de exsudado bruto do cajueiro com tamanho de 2 a 5,66 mm foram acondicionadas em bandejas de alumínio e colocadas em estufa a 110 ºC por 24 h (condição 1) e 48 h (condição 2). Após esse tempo, a goma do cajueiro foi isolada conforme metodologia descrita na seção 4.2.5.

4.2.5 Isolamento da goma a partir do exsudado bruto do cajueiro

Primeiramente, o exsudado bruto do cajueiro foi dissolvido em água destilada na concentração de 10% (m/m), a temperatura ambiente de aproximadamente 23 ºC, sob agitação em agitador magnético por 24 h.

Após dissolução, a solução foi filtrada em peneira com aberturas de aproximadamente 1 mm², o filtrado foi centrifugado a 15.317 x g por 10 min a 10 °C em centrífuga AllegraTM 25R (Beckman CoulterTM, EUA) com a finalidade de

remover pequenas impurezas que não foram retiradas durante a filtração. O sobrenadante foi precipitado em etanol 96 °GL a 16 °C na proporção de 2:3 (solução de goma:etanol). Em seguida, foi realizada uma nova centrifugação e o sobrenadante descartado. O precipitado foi disposto em bandejas de alumínio e

submetido a secagem em estufa com circulação de ar forçado (Nova Ética, Brasil) a 50 °C por 24 h. Após a secagem, a goma foi moída em moinho A11 Basic (IKATM, Alemanha) para obtenção do pó.

4.2.6 Cromatografia de exclusão de tamanho

A determinação da massa molecular foi realizada por cromatografia de exclusão de tamanho com detecção de índice refrativo. Pululanas (Polymer Laboratories, Reino Unido) com massas moleculares de 11880, 22800, 112000 e 212000 Da foram usadas como padrões analíticos para obtenção da curva de calibração com R² = 0,9933 (Figura 4).

Figura 4. Curva de calibração para determinação da massa molecular das

amostras de goma do cajueiro processada por alta pressão isostática com aquecimento e maturação controlada, e sem processamento.

Soluções de goma do cajueiro modificada e sem modificação, e dos padrões analíticos foram preparadas em 0,1 M NaCl (0,3%, m/v) sob agitação magnética a temperatura ambiente (aproximadamente 23 °C) até completa solubilização. Posteriormente, as soluções foram mantidas a 6 °C por 24 h para inteira hidratação. A fase eluente consistiu de uma solução 0,1 M de NaCl em água destilada desgaseificada. Todas as soluções foram filtradas em membranas

de filtro com 0,45 µm de abertura para remover agregados e reduzir o bloqueio da coluna e do detector (Kravtchenko et al., 1992). As amostras foram injetadas (100 μL, 0,4 mL/min.) a 35 °C em um sistema cromatográfico de exclusão de tamanho (Agilent Technologies 1260 infinity, EUA) usando uma coluna Superdex 200 (faixa de separação MM = 1 x 103 - 1 x 105 para dextranas e MM = 1 x 104 – 6 x 105 para

proteínas globulares) (GE Healthcare Life Sciences, EUA). As amostras foram analisadas em duplicata. Os dados foram obtidos através do Software Openlab CDS ChemStation edition para sistemas LC & LC/MS (Agilent Technologies, EUA).

4.2.7 Determinação da composição de monossacarídeos e ligações entre estes

A determinação da composição de monossacarídeos neutros foi obtida conforme método alditol acetato descrito por Pettolino et al. (2012). O método utilizado para determinação dos monossacarídeos ácidos, TMS - trimethylsilyl methylglycosides, foi descrito por York et al. (1986). A análise das ligações entre os monossacarídeos foi realizada adicionando uma etapa de metilação antes da hidrólise no método de determinação dos açúcares neutros, conforme descrito por Pettolino et al. (2012).

Os monossacarídeos parcialmente metilados e acetilados constituintes da goma do cajueiro foram quantificados por cromatografia gasosa em cromatógrafo com detector de ionização de chama acoplado a um detector de espectrometria de massas (Agilent Technologies, EUA). A coluna capilar utilizada foi SP-2330 (Supelco, EUA). O gás de arraste utilizado foi hélio na velocidade de 1,9 m/s. O volume de injeção da amostra foi 2 µL com divisão de fluxo de 1:20. O injetor foi operado a 240 °C e o detector a 300 °C. A temperatura inicial do forno foi de 100 °C por 2 min, posteriormente, houve uma taxa de aquecimento de 8 °C por min, até atingir a temperatura de 240 °C onde permaneceu por 20 min. A composição de monossacarídeos ácidos urônicos foi quantificada em um cromatógrafo gasoso com detector de chamas Agilent 6890 (Agilent Technologies, EUA) equipado com uma coluna capilar DB-5, nas seguintes condições: temperatura inicial do forno de

160 °C por 3 min, seguido por uma taxa de aquecimento de 3 °C por min até atingir 260 °C, sendo mantido a essa temperatura por 15 min. A temperatura do injetor foi de 240 °C, temperatura do detector 300 °C e velocidade de fluxo de 1 mL/min. Para a determinação das ligações entre os monossacarídeos, considerou- se a base de resposta de carbono efetivo descrito por Sweet, Shapiro e Albersheim (1975). As análises de determinação dos monossacarídeos presentes na goma do cajueiro e das ligações entre esses foram realizadas em triplicata.

4.2.8 Reologia

Soluções de goma do cajueiro processada por API com aquecimento e maturação controlada, e sem processamento em água destilada (20 mL, 10% m/v) foram preparadas em tubos de ensaio com capacidade para 50 mL e mantidas em banho-maria a 60 °C por 4 h, os tubos contendo as amostras foram agitados em vortex modelo 771 (Fisatom, Brasil) por 1 min e mantidos em banho-maria por mais 2 h para que houvesse a máxima solubilização da goma. Posteriormente, as suspensões foram mantidas a 6 °C até o dia seguinte para completa hidratação da goma. Antes de serem avaliadas, as amostras foram agitadas em vortex por 5 s e uma quantidade suficiente da solução foi adicionada ao equipamento para análise, bolhas de ar incorporadas à amostra foram cuidadosamente retiradas com auxílio de uma pipeta Pasteur.

Curvas de fluxo de tensão de cisalhamento (σ) x taxa de deformação ( ) foram obtidas utilizando um reômetro com tensão controlada AR2000ex (TA Instruments, EUA) com a finalidade de caracterizar o comportamento reológico das gomas processadas.

Para os ensaios foi utilizada a geometria cone-placa com 2° de inclinação e 6 cm de diâmetro de base e temperatura de 25 °C mantida através do sistema Peltier. Os ensaios de fluxo foram realizados com curvas descendentes escalonadas de 300 a 0,1 s-1 a fim de garantir o estado estacionário. As análises

4.2.9 Calorimetria diferencial de varredura (DSC)

A análise calorimétrica das amostras modificadas e controle foi realizada em um equipamento DSC (TA Instruments, 060 WS, Thermal Analyzer, Shimadzu, Japão). Os cadinhos de alumínio (Sinc do Brasil Ltda, Brasil) foram colocados em balança analítica, as amostras foram pesadas (5 mg), tampadas, fechadas em prensa (Shimadzu, Japão) e analisadas.

A temperatura inicial de aquecimento foi de 30 °C, a taxa de aquecimento de 10 °C por min até atingir a temperatura de 400 °C, onde permaneceu por 1 min. Utilizou-se uma atmosfera de nitrogênio a uma vazão de 30 mL/min. A massa foi corrigida em relação a umidade presente na amostra. As análises foram realizadas em duplicata.

4.2.10 Análises estatísticas

As similaridades e diferenças entre os dados obtidos nas repetições dos processos e dos diferentes tratamentos foram observadas por Análise de Variância (ANOVA) e teste de médias de Tukey com o programa Statistica® 7

(Statsoft, EUA).

4.3 Resultados e Discussão

Nas seções a seguir, estão apresentados os resultados das análises descritas na metodologia.

4.3.1 Processamento por alta pressão isostática com aquecimento

Os perfis de temperatura x tempo do processamento por alta pressão isostática (API) com aquecimento do exsudado bruto do cajueiro submetido a pressão de 600 MPa por 6 e 12 h estão apresentados na Figura 5.

Figura 5. Perfil temperatura x tempo do processamento de alta pressão isostática

(API) com aquecimento nos tempos 6 (amostra 6 h) e 12 h (amostra 12 h) a 600 MPa.

A temperatura de 60 °C apresentou pequenas variações durante o processamento. Isso pode estar relacionado à manutenção da pressão, em que o equipamento necessita ficar continuamente bombeando água provocando variações de temperatura.

4.3.2 Cromatografia de exclusão de tamanho

Os cromatogramas da análise de exclusão de tamanho para a amostra controle e amostra processada por API com aquecimento por 12 h estão apresentados na Figura 6.

Conforme pode ser visualizado na Figura 6, tanto a amostra controle (A) quanto a amostra processada por API por 12 h (B) apresentaram 4 picos em tempos distintos, sinalizando que a goma do cajueiro é composta por uma mistura de polissacarídeos/heteropolissacarídeos de diferentes tamanhos. As frações maiores são identificadas primeiro e as menores por último.

Figura 6. Cromatogramas das amostras controle (A) e processada por alta

pressão isostática (API) com aquecimento por 12 h (B).

O modelo obtido na curva de calibração somente permitiu obter a massa molecular das frações evidenciadas nos picos 2 e 3, cujos valores estão apresentados na Tabela 1, pois os demais tinham tamanhos superior ou inferior aos padrões de pululanas utilizados. Comparando esses resultados, pode-se observar que não houve variação no tamanho das frações do pico 3 (p>0,05). Contudo, houve um aumento (p≤0,05) na massa molecular da fração do pico 2 quando o exsudado do cajueiro foi processado tanto por API isostática quanto por maturação controlada, não havendo diferença (p>0,05) entre os processos. Isso também pode ser evidenciado na Figura 6, o pico 2 surge antes na amostra processada por API (Figura 6-B) do que para a amostra controle (Figura 6-A), indicando maior massa molecular.

Al-Assaf et al. (2009) já haviam demonstrado que o processo de maturação controlada foi capaz de aumentar a massa molecular da goma arábica e destacaram o aumento não inferior a 17% da fração proteína arabinogalactana (PAG), complexo proteína-polissacarídeo responsável pela propriedade emulsificante da goma. O complexo proteína-polissacarídeo da goma do cajueiro

corresponde ao pico 1 do cromatograma da Figura 6 de acordo com Paula et al., (1998). Entretanto, este não pode ser analisado, pois estava fora dos extremos do modelo obtido com a curva de calibração. Esse aumento da massa molecular da goma arábica foi atribuído ao favorecimento de ligações entre monossacarídeos (arabinose e galactose) produzindo dissacarídeos (arabinogalactana) e junção destes com fragmentos proteicos (Al-Assaf et al., 2009).

Tabela 1. Massa molecular (Da) e ligações entre monossacarídeos (%mol) das

amostras de goma do cajueiro processadas por API com aquecimento a 600 MPa por 6 e 12 h e maturação controlada a 110 °C por 24 e 48 h.

Massa molecular (Da)

Controle

Alta pressão isostática Maturação controlada

6 h 12 h 24 h 48 h

Pico 2 4,34 x 104 A 4,38 x 104 B 4,38 x 104 B 4,38 x 104 B 4,37 x 104 AB

Pico 3 2,08 x 104 A 2,07 x 104 A 2,07 x 104 A 2,05 x 104 A 2,05 x 104 A Ligações entre monossacarídeos (% mol)

Controle

Alta pressão isostática Maturação controlada

6 h 12 h 24 h 48 h Terminal-L- arabinofuranosil → 2,74 ± 0,53A 2,34 ± 0,19A 1,95 ± 0,07A 2,34 ± 0,37A 2,81 ± 0,38A 1→2-L- arabinofuranosil 0,39 ± 0,06A 0,96 ± 0,18B 1,08 ± 0,10B 0,82 ± 0,14B 0,73 ± 0,14AB 1→3-L- arabinofuranosil 1,12 ± 0,05 A 0,95 ± 0,15AB 1,23 ± 0,10A 1,09 ± 0,12A 0,71 ± 0,08B Terminal-D- glucopiranosil→ 12,93 ± 0,96A 5,74 ± 0,68BC 6,67 ± 0,07B 11,21 ± 1,24A 4,00 ± 0,81C 1→3-D- glucopiranosil ND* 7,20** 6,26** 1,72 ± 0,17 8,92**

Terminal-D- galactopiranosil → 15,53 ± 0,12 A 15,60 ± 1,37A 15,27 ± 0,46A 12,06 ± 0,93B 11,58 ± 0,47B 1→3-D- galactopiranosil 6,50 ± 0,74 A 6,68 ± 0,93A 7,84 ± 1,03A 6,16 ± 1,22A 6,34 ± 1,22A 1→4-D- galactopiranosil 9,04 ± 0,87ABC 10,44 ± 1,04BC 10,74 ± 0,96C 8,38 ± 0,28AB 8,23 ± 0,54A 1→6-D- galactopiranosil 20,63 ± 2,77 A 18,75 ± 1,21A 16,94 ± 1,20A 29,55 ± 2,46B 31,43 ± 1,02B 1→3,6-D- galactopiranosil 22,21 ± 0,96A 22,44 ± 1,39A 23,12 ± 0,72A 17,75 ± 0,26B 16,50 ± 1,08B 2,3,4→6-deoxi- manopiranosil 2,31 ± 0,34 2,31** 2,31** ND* ND*

Guo et al. (2015) utilizaram três diferentes métodos para extração de pectina (API, homogeneizador de alto cisalhamento e extração térmica tradicional) e obtiveram pectinas de diferentes massas moleculares. A extração por API produziu amostras de pectinas com maior massa molecular. Contudo, os autores não mencionaram se isso ocorreu devido a um aumento da cadeia polimérica decorrente do processo, o que estaria em acordo com o presente trabalho, ou a uma seleção de substâncias pécticas de maior massa.

Entretanto, Guo et al. (2015) avaliaram o efeito da API sobre as características estruturais e físico-químicas de amido extraído da semente de lótus e observou um decréscimo na sua massa molecular conforme aumentou a pressão de 0 a 600 MPa, porém o diâmetro dos grânulos de amido aumentou.

A composição monossacarídica e os tipos de ligações entre monossacarídeos presentes nas amostras controle, processada por API com aquecimento por 6 e 12 h, e processada por maturação controlada a 110 °C por 24 e 48 h também estão apresentados na Tabela 1.

A quantidade dos monossacarídeos presentes na goma do cajueiro foram 73,9 mol% de galactose, 12,93 mol% de glicose, 4,25 mol% de arabinose, 2,31 mol% de ramnose, 1,59 mol% de fucose, 1,31 mol% de ácido glicurônico e 3,59

mol% de ácido galacturônico. Foram consideradas substâncias traços na goma do cajueiro o ácido galacturônico, o ácido glicurônico e a fucose por somente estar presente em 3,59% de uma amostra da triplicata e estarem em concentração inferior a 2%, respectivamente.

A galactose, principal açúcar presente na goma do cajueiro, apresentou cinco diferentes tipos de ligações, sendo as ligações 1→6 e 1→3,6 as mais encontradas (Tabela 1). A glicose foi o segundo açúcar mais frequente na goma do cajueiro, sendo em sua totalidade identificado na(s) posição(ões) terminal(is) da(s) cadeia(s). A ligação terminal também foi a mais encontrada para arabinose em todas as amostras, mas esta também se apresentou com ligações 1→2 e 1→3. Enquanto que para ramnose (deoxy-L-mannopiranosil), a ligação mais encontrada foi 2,3,4→6.

Ambos os processos (API e maturação controlada) promoveram um aumento na concentração da ligação 1→2 da arabinose e uma redução na ligação terminal da glicose. Contudo, foi o processo de maturação controlada que mais promoveu modificação na estrutura da goma, pois reduziu a concentração das ligações terminal e 1→3,6 da galactose e aumentou o número de ligações 1→6 (Tabela 1).

Ma e Mu (2016) processaram fibra de cominho desengordurada por API a 200 MPa por 25 e 15 min a 30 e 50°C e observaram que a API aumentou a quantidade dos açúcares ramnose, arabinose, xilose, ácido galacturônico e ácido glicurônico e reduziu o teor de glicose, quando esta foi comparada com a amostra não processada. Essa redução na concentração de glicose esteve em acordo com o obtido no presente estudo.

4.3.3. Reologia

A Figura 7 apresenta as curvas de fluxo obtidas para a goma do cajueiro não processada (controle) e processada por API a 600 MPa com aquecimento a 60 °C por 6 e 12 h, e por maturação controlada a 110 °C durante 24 e 48 h na concentração de 10% (m/v) e nas taxas de deformação ( ) de 0,1 a 300 s-1.

* Os pontos representam as médias dos resultados obtidos e as barras verticais indicam o desvio padrão de cada valor.

Figura 7. Comportamento ao fluxo (25 °C) de soluções de goma do cajueiro (10%

m/v) não processada (Controle), processadas por API na pressão de 600 MPa com aquecimento (60 °C) por 6 h (API 6 h) e 12 h (API 12 h) e processadas por maturação controlada a 110 °C durante 24 h (Maturação 24 h) e 48 h (Maturação 48 h). σ e são tensão de cisalhamento e taxa de deformação, respectivamente.

Houve um aumento das medidas de tensão de cisalhamento (σ) com o aumento da taxa de deformação ( ) para todas as soluções de goma (Figura 7). O aumento não linear caracterizou o comportamento ao fluxo das soluções de goma do cajueiro controle e processadas como fluidos pseudoplásticos sem tensão inicial. Dessa forma, utilizou-se o modelo da Lei da Potência (Ostwald-de-Waele) (Equação 1) para explicar tais comportamentos.

Onde, k é o índice de consistência, n o índice de comportamento ao fluxo, σ é a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação.

Ainda, analisando a Figura 7, observa-se que as tensões de cisalhamento nas amostras processadas foram inferiores ao da amostra controle considerando uma mesma taxa de deformação. A redução da tensão ocorre, provavelmente, ao fato da goma sofrer alteração em sua conformação (Porto et al., 2015). Considerando que a viscosidade aparente (ɳa) é diretamente proporcional à

tensão de cisalhamento, ou seja, quanto maior a tensão, maior a viscosidade aparente (Equação 2), pode-se afirmar que as amostras que apresentaram menor viscosidade aparente foram as amostras processadas por API, não diferenciando as amostras de 6 e 12 h. Sendo assim, o uso de 6 h no processo de modificação seria mais apropriado, pois além de causar o mesmo efeito, há um menor gasto de energia, menor desgaste de equipamento e menor tempo de processo.

Onde, ƞa é viscosidade aparente, σ é tensão de cisalhamento, n é índice

de comportamento ao fluxo, taxa de deformação e k é índice de consistência. A reduzida viscosidade aparente de hidrocolóides em altas concentrações, muitas vezes, é uma característica apreciada pela indústria de alimentos. Primeiramente, por permitir a produção de soluções com elevados teores de sólidos totais sem dificultar e encarecer o processo de bombeamento ou modificar consideravelmente a textura dos produtos. Segundo por poder facilitar a mobilidade da goma do cajueiro, como agente emulsificante, até a interface óleo- água, produzindo emulsões com menores tamanhos de gotículas de óleo e, consequentemente, mais estáveis (Porto; Cristianini, 2014).

A Tabela 2 apresenta os resultados dos índices de consistência (k) e de comportamento do fluxo (n) da goma do cajueiro (10% m/v) controle (sem processamento), processada por API a 600 MPa (60 °C) por 6 (API 6 h) e 12 h (API 12 h) e processada por maturação controlada a 110 °C por 24 (Maturação 24 h) e 48 h (maturação 48 h).

Tabela 2. Índices de consistência (k) e de comportamento ao fluxo (n) da goma do

cajueiro (10% m/v) controle (sem processamento), processada por API a 600 MPa com aquecimento a 60 °C por 6 h (API 6 h) e 12 h (API 12 h), e processada por maturação controlada a 110 °C por 24 h (Mat 24 h) e 48 h (Mat 48 h).

Parâmetros reológicos

Processos de modificação

Controle API 6 h API 12 h Mat 24 h Mat 48 h

k 0,010 ± 0,000A 0,003 ± 0,000B 0,003 ± 0,000B 0,007 ± 0,000C 0,009 ± 0,000D n 0,873 ± 0,001AC 0,966 ± 0,013B 0,968 ± 0,007B 0,885 ± 0,002C 0,860 ± 0,003A R2 0,999 0,999 0,999 0,999 0,999

*Letras iguais na mesma linha indicam que as amostras não diferiram a um nível de 5% de significância entre os diferentes processos.

De acordo com os resultados da Tabela 2, o processamento por API promoveu uma redução no índice de consistência de 70% (p≤0,05), não se diferenciando os processos de 6 e 12 h (p>0,05). Enquanto que o processamento por maturação controlada reduziu o valor de k em 30% (maturação controlada 24 h) e em 10% (maturação controlada 48 h) (p≤0,05). Já para os resultados de índice de comportamento ao fluxo, o processo de maturação controlada não promoveu diferença nos valores de n quando comparado à amostra controle (p>0,05). Enquanto que o processo por API promoveu uma solução de goma do cajueiro com comportamento mais próximo ao de um fluido Newtoniano (n=1) (p≤0,05), não havendo diferença entre as amostras processadas por 6 h (n=0,966) e 12 h (n=0,968). Uma possível explicação para a maior semelhança das amostras processadas por API com um fluido Newtoniano pode estar relacionada a uma modificação estrutural do polímero para uma configuração mais linear, pois substâncias lineares são mais facilmente alinhadas ao fluxo que as não lineares, apresentando, assim, menor comportamento pseudoplástico (Porto et al., 2015). A

mesma razão anterior pode ser aplicada para explicar o menor índice de consistências das amostras processadas por API (Laneuville et al., 2013).

Ahmed e Ramaswamy (2004) submeteram soluções de goma xantana (0,25-1,25 %) ao processamento por API. As pressões variaram de 80 a 400 MPa com um aumento de 80 MPa por um tempo de residência de 30 min. Os autores também observaram um comportamento pseudoplástico nas soluções de goma, mas com tensão inicial. O índice de comportamento não variou com o aumento da pressão, mas houve um aumento no índice de consistência. Enquanto que para o presente estudo, houve um efeito contrário, o processo de API a 600 MPa reduziu o índice de consistência.

Panteloglou et al. (2010) submeteram uma solução de goma arábica (40%) a 800 MPa por 10 minutos sob diferentes pH e observaram uma alteração positiva ou negativa no comportamento reológico da goma dependendo do pH. Contudo, os ensaios realizados foram de viscoelasticidade para comparar a força do gel formado com goma arábica, não servindo para efeito comparativo com o comportamento ao fluxo da goma do cajueiro do presente estudo.

Guo et al. (2014) obtiveram pectinas com maior viscosidade aparente quando extraídas sob API em relação a pectinas adquiridas por outros métodos de extração como térmico e homogeneizador de alto cisalhamento, este comportamento pode estar relacionado à massa molecular que também foi superior para essas amostras. Embora a massa molecular da goma do cajueiro também tenha sido superior quando processada por API, a sua viscosidade aparente foi inferior. Isto pode ser explicado pelo fato da goma do cajueiro ter possivelmente se apresentado com uma estrutura mais linear, facilitando seu alinhamento, conforme dito anteriormente.

Quanto ao processamento por maturação controlada, Li et al. (2009) compararam o comportamento ao fluxo de soluções de goma arábica com diferentes concentrações de água e adicionadas de ureia (6 M) sem processamento e processada por maturação controlada e observaram que a presença de ureia não influenciou no comportamento ao fluxo da goma maturada como influenciou a goma controle. Este comportamento foi atribuído a maior

compactação da goma maturada. Entretanto, nada foi mencionado se as amostras apresentaram viscosidade aparente diferentes para que pudessem ser comparadas com o presente estudo, embora de acordo com as figuras presentes no trabalho pareça não haver diferenças entre as amostras.

Cirre et al. (2014) avaliaram o comportamento ao fluxo de soluções de goma de fibra de milho desengordurada e sem amido processada por maturação controlada e sem processamento, e constataram que a goma maturada apresentou viscosidade aparente muito superior a goma sem tratamento. Uma explicação para os comportamentos diferentes entre a goma do cajueiro e goma arábica em relação a goma da fibra de milho, é que o preparo das amostras foi diferente. Enquanto que o processo por API para a goma do cajueiro e goma arábica foi realizado no exsudado bruto de planta, na goma de fibra de milho o tratamento ocorreu na amostra isolada. Além disso, a goma arábica, assim como a goma do cajueiro, possui estruturas moleculares mais globulares e compactas, as quais as tornam mais resistentes a processos de modificação (Villay et al., 2012).

4.3.4 Calorimetria diferencial de varredura (DSC)

Os termogramas da análise de DSC apresentaram picos largos, inerentes de amostras amorfas como a goma do cajueiro, onde três picos endotérmicos foram identificados, dessolvatação, melting e decomposição completa (Figura 8), o que está em acordo com o observado por Okoyey et al. (2012). O mesmo perfil de termograma foi encontrado para todas as amostras. Os resultados dos picos endotérmicos de dessolvatação, melting e decomposição estão apresentados na Tabela 3. Somente a entalpia de dessolvatação foi possível de ser medida nas amostras processadas por API 12 h; as demais apresentaram elevada variação, impossibilitando uma análise de resultados adequada, sendo assim, a amostra API 12 h foi suprimida.

Figura 8. Termogramas: Controle (goma não processada); API 6 h (goma do

cajueiro processada por alta pressão isostática na pressão de 600 MPa a 60 °C durante 6 h); Maturação 24 h (goma do cajueiro processada por maturação controlada a 110 °C durante 24 h); Maturação 48 h (goma do cajueiro processada

por maturação controlada a 110 °C durante 48 h).

Tabela 3. Entalpias de dessolvatação, melting e decomposição completa da goma

do cajueiro controle (sem processamento), processada por API 6 h a 60 °C e por maturação controlada a 110 °C por 24 e 48 h.

Amostras

Entalpia (J/g)

Dessolvatação Melting Decomposição

completa

Controle 136,31 ± 7,55A 2,84 ± 0,24A 12,08 ± 1,45A

API 6 h 132,09 ± 12,07A 2,30 ± 0,23B 20,51 ± 2,66B

Maturação 24 h 130,32 ± 10,82A 0,31 ± 0,06C 13,01 ± 2,39A

Maturação 48 h 135,24 ± 4,54A 0,24 ± 0,04C 5,88 ± 0,65C *Letras iguais na mesma coluna indicam que as amostras não diferiram a um nível de 5% de significância entre os diferentes processos.

A partir da Tabela 3, a entalpia de dessolvatação não variou (p>0,05) para nenhuma das amostras controle e processadas, demonstrando que os processamentos por API e por maturação não foram capazes de alterar as propriedades calorimétricas da goma do cajueiro quanto a dessolvatação. Para a entalpia de melting houve uma redução de 19% quando a amostra foi processada por API 6 h em comparação a amostra controle. Já quando a amostra foi processada por maturação controlada durante 24 e 48 h, houve uma redução na

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