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Processo de Bolonha chega à América

A logística dos cursos de Jornalismo 3.1 Processo de Bolonha

8. Escola Superior de Comunicação Social: oferece curso específico em Jornalismo e seu plano de curso está adequado ao Processo de Bolonha O primeiro ciclo

3.5. Processo de Bolonha chega à América

A discussão sobre o Processo de Bolonha não se restringiu ao espaço europeu. A proposta inicial, como se mostrou acima, iniciou com 29 países e, em 2004, contava com 40 países signatários, segundo informações do engenheiro português, professor da Universidade Técnica de Lisboa e ex-presidente do Comitê de Educação do Conselho da União Européia (UE), Pedro Lourtie. O professor, ao proferir uma conferência no Seminário realizado pela Escola Politécnica da Universidade São Paulo, Brasil, informou que o Processo de Bolonha já contava com 4 mil instituições de ensino superior e 12,5 milhões de estudantes 25. O interesse por parte das nações em se integrarem à proposta aumentou no decorrer dos anos e, em 2007, somam-se 46 países, de acordo com as informações do endereço eletrônico oficial do Processo de Bolonha 26. (ANEXO I)

Ainda no final da década de 90, a discussão envolvendo o Processo de Bolonha atravessou o oceano Atlântico e chegou a América, ou melhor, em alguns países latino-americanos. Entretanto, no início, as reflexões eram localizadas e muitas limitadas ao intercâmbio estudantil. Aos poucos, a globalização e o fortalecimento de países e de blocos econômicos também preocuparam os países latino-americanos, não apenas nos aspectos políticos e econômicos. Estes países passaram a querer garantir seu lugar no novo contexto mundial, levando em consideração o mercado de trabalho, o intercâmbio acadêmico, bem como o desenvolvimento de tecnologia. A preocupação dos reitores de universidades latino-americanas foi de introduzir uma cultura nas instituições de ensino superior que privilegiasse programas de internacionalização acadêmica e a criação de mecanismos que tornasse isso viável. Países do Mercosul e da Comunidade Andina travaram encontros periódicos, na busca de acompanhar as modificações educacionais no espaço europeu e suas repercussões no espaço latino- americano. O objetivo não era, a princípio, uma participação direta no Processo Bolonha, mas sim, em transpor suas contribuições para a criação de um espaço latino, integrando os países envolvidos e a possibilidade de criar outro bloco no contexto mundial.

25 Informações retiradas do Jornal da USP, edição de 16 a 21 de novembro de 2004 publicado no

endereço http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2004/jusp707/pag05.htm, acessado em 6 de dezembro de 2007.

Em setembro de 2006, o Mercosul iniciou um processo de integração educacional, denominado como Mercosul Educacional, com o propósito de permitir a mobilidade de estudantes e professores e o reconhecimento de todos os países e instituições como parceiros. Os Ministérios da Educação dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai 27) estabeleceram as metas do Mercosul Educacional para o ensino superior, sendo elas:

 Colocar em funcionamento o Mecanismo Experimental de Reconhecimento para as

carreiras de graduação em Agronomia, Engenharia e Medicina;

 Aumentar a sua aplicação para as outras carreiras;

 Aprovar um acordo de reconhecimento de cursos de graduação;  Implementar um programa de capacitação de pares avaliadores;  Aprovar um acordo de mobilidade;

 Colocar em funcionamento um Programa de mobilidade de estudantes, docentes,

pesquisadores e administradores;

 Eliminar as restrições legais que dificultam a implementação do Programa de

Mobilidade;

 Implementar um programa de pós-graduação em políticas públicas;  Operar um banco de dados de programas de pós-graduação na região;

 Consolidar os programas de pós-graduação da região no marco do Protocolo de

Integração Educativa para a Formação de Recursos Humanos em nível de Pós- graduação entre os países-membros do Mercosul;

 Coordenar junto à Reunião especializada em Ciência e Tecnologia do Mercosul, em

desenvolvimento de atividades de interesses comuns;

 Implementar ações conjuntas na área de formação docente, com a Comissão Regional

Coordenadora de Educação Básica;

 Aprovar um acordo de reconhecimento de títulos de nível terciário no universitário

para a continuidade de estudos nos países do Mercosul.28

As atividades seriam desenvolvidas em três frentes, na busca de melhorar a qualidade e a formação de recursos humanos: um sistema de reconhecimento de carreiras; a criação de um espaço comum de ensino superior com programas de mobilidade estudantil e de docentes, envolvendo ações de gestão acadêmica e institucional por parte dos governos e das instituições; e a cooperação interinstitucional

27 O projeto pretende envolver também o Chile e a Bolívia.

desenvolvendo programas colaborativos de graduação e pós-graduação em pesquisas conjuntas.

No Brasil, as repercussões imediatas frente ao Processo de Bolonha e as discussões do Mercosul Educacional foram: redução da carga horária curricular da graduação; ampliação dos programas de doutoramento; e a adequação da grade curricular possibilitando dupla diplomação. Em 18 de junho de 2007, o Conselho Nacional de Educação através da Resolução CES/CNE nº2 dispôs sobre a carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade presencial. Ficou estabelecido:

a) Grupo de Carga Horária Mínima de 2.400h: limites mínimos para integralização de 3 (três) ou 4 (quatro) anos.

b) Grupo de Carga Horária Mínima de 2.700h: limites mínimos para integralização de 3,5 (três e meio) ou 4 (quatro) anos.

c) Grupo de Carga Horária Mínima entre 3.000h e 3.200h: limite mínimo para integralização de 4 (quatro) anos.

d) Grupo de Carga Horária Mínima entre 3.600 e 4.000h: limite mínimo para integralização de 5 (cinco) anos.

e) Grupo de Carga Horária Mínima de 7.200h: limite mínimo para integralização de 6 (seis) anos.

A Resolução reduziu, assim, a carga horária de muitos cursos, entre eles os de Comunicação Social.

Carga horária mínima dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade presencial

Curso Carga Horária Mínima

Administração 3.000 Agronomia 3.600 Arquitetura e Urbanismo 3.600 Arquivologia 2.400 Artes Visuais 2.400 Biblioteconomia 2.400 Ciências Contábeis 3.000 Ciências Econômicas 3.000

Ciências Sociais 2.400 Cinema e Audiovisual 2.700 Computação e Informática 3.000 Comunicação Social 2.700 Dança 2.400 Design 2.400 Direito 3.700 Economia Doméstica 2.400 Engenharia Agrícola 3.600 Engenharia de Pesca 3.600 Engenharia Florestal 3.600 Engenharias 3.600 Estatística 3.000 Filosofia 2.400 Física 2.400 Geografia 2.400 Geologia 3.600 História 2.400 Letras 2.400 Matemática 2.400 Medicina 7.200 Medicina Veterinária 4.000 Meteorologia 3.000 Museologia 2.400 Música 2.400 Oceanografia 3.000 Odontologia 4.000 Psicologia 4.000 Química 2.400 Secretariado Executivo 2.400 Serviço Social 3.000

Sistema de Informação 3.000

Teatro 2.400

Turismo 2.400

Zootecnia 3.600

Diário Oficial da União 19/6/2007, Seção 1, pág. 6, com incorreção do original (DOU de 17/09/2007 – Seção I - p.23)

Outra alteração, anterior à mencionada acima, foi a implantação de sistemas avaliativos para garantir um padrão de qualidade de ensino. A lei Nº 10.861, de 14 de abril de 2004, instituiu, no Brasil, a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES), que é um órgão colegiado para coordenar o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Representantes da CONAES participaram, nos dias 21 e 22 de junho de 2007, em Madri (Espanha), do Seminário do Espaço Comum de Educação Superior (Alcue29) da América Latina, União Européia e Caribe, no qual discutiu-se a criação de mecanismos semelhantes de avaliação da educação superior, para facilitar a mobilidade acadêmica entre instituições superiores dos países envolvidos.30

As atribuições da CONAES são:

I - propor e avaliar as dinâmicas, procedimentos e mecanismos da avaliação institucional, de cursos e de desempenho dos estudantes;

II - estabelecer diretrizes para organização e designação de comissões de avaliação, analisar relatórios, elaborar pareceres e encaminhar recomendações às instâncias competentes; III - formular propostas para o desenvolvimento das instituições de educação superior, com base nas análises e recomendações produzidas nos processos de avaliação; IV - articular-se com os sistemas estaduais de ensino, visando a estabelecer ações e critérios comuns de avaliação e supervisão da educação superior;

V - submeter anualmente à aprovação do Ministro de Estado da Educação a relação dos cursos a cujos estudantes será aplicado o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes ENADE;

29 Alcue significa Espaço Comum de Educação Superior, envolvendo países da União Européia, América

Latina e Caribe. O objetivo do Alcue é promover ações que estimulem o intercâmbio de estudantes, professores, pesquisadores, pessoal técnico e de gestão além da interação de instituições de educação superior.

30 Fonte: http://portal.mec.gov.br, site oficial do Ministério da Educação/Brasil, acessado em 7 de

VI - elaborar o seu regimento, a ser aprovado em ato do Ministro de Estado da Educação; VII - realizar reuniões ordinárias mensais e extraordinárias, sempre que convocadas pelo Ministro de Estado da Educação.31

A avaliação do ensino superior no Brasil, pelo MEC (Ministério da Educação), teve início, como se mostrou no capítulo 2, durante a década de 1990. Contudo, ela sofreu alterações, foi se aprimorando e, em abril de 2004, criou-se o SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) que tem como um dos componentes a Avaliação Institucional. Seus objetivos são: melhorar a qualidade da educação superior; expandir sua oferta; aumentar a eficácia institucional e efetividade acadêmica e social; e aprofundar os compromissos e responsabilidades sociais das instituições de ensino superior. Estas avaliações dividem-se em duas modalidades - a auto-avaliação e a avaliação externa – com o objetivo de integrar as várias dimensões da realidade analisada, assegurando as coerências conceitual, epistemológica e prática.

As instituições de ensino superior, por sua vez, estão se adequando ao padrão de qualidade exigido pelo Ministério de Educação, por motivos diversos, seja para atrair alunos ou por acreditar que este padrão de ensino acadêmico condiz com as exigências do mercado de trabalho nacional e global. Há controvérsias sobre os crivos da avaliação, principalmente por parte do alunado das universidades públicas. Muitos boicotam o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes - ENADE, um dos instrumentos de avaliação do SINAES, que tem como objetivo aferir o rendimento dos alunos em relação aos conteúdos pragmáticos, suas habilidades e competências. Ele é realizado por amostragem de alunos ingressantes e concluintes. A nota obtida na prova consta no currículo escolar dos alunos e também é incluída entre os outros instrumentos de avaliação das instituições de ensino, fazendo parte da média final. Portanto, o boicote dos alunos repercute na avaliação da instituição de ensino, que fica prejudicada em sua pontuação geral.

Em 2006, alunos dos cursos de comunicação social participaram do ENADE. Ao todo foram 268 instituições inscritas na prova de jornalismo. Contudo, este número não reflete o universo das escolas de jornalismo do país. Segundo dados do Censo do Ensino Superior, referente ao ano de 2003, somavam 443 instituições de ensino ofereciam o curso de jornalismo, sendo 74 públicas e 369 privadas 32. O ENADE é um instrumento legal, ligado ao MEC e cobre, por princípio, todo o território nacional. Por

31 Idem nota 30.

32 Segundo a FENAJ, os dados podem estar incluindo outras habilitações em comunicação social como

esta razão, optou-se por definir como amostra deste estudo, para a análise das grades curriculares do curso de jornalismo, as dez instituições de ensino que melhor se classificaram nas provas do ENADE. São elas:

 Universidade Federal de Santa Catarina;  Universidade Federal de Santa Maria;  Universidade Salgado de Oliveira;  Universidade Estadual de Ponta Grossa;

 Faculdade de Ciências Econômicas – FACAMP;  Universidade Estadual do Centro Oeste;

 Instituto de Ensino Superior COC – Faculdades COC;  Centro Universitário Franciscano;

 Pontífica Universidade Católica de Minas Gerais;  Universidade Estadual de Londrina.

3.6. Instituições públicas e privadas disputam a classificação entre as melhores do