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Processo de trabalho relacionado às questões administrativas

de 24 horas E nós ficamos assim no meio, mediando porque para a

3.4.3 Processo de trabalho relacionado às questões administrativas

O trabalhador da CIHDOTT, além da atuação no fluxo para doação de córneas e no fluxo para doação de múltiplos órgãos, é responsável por toda a parte administrativa e por diversas outras tarefas e atividades. Uma das atividades principais é a capacitação. Ao longo do planejamento de todo o ano, esse mesmo trabalhador que acompanha os fluxos de doação, promove capacitação sobre o tema doação e protocolo de morte encefálica na maioria dos setores do hospital.

Dentre as atividades administrativas, o trabalhador é responsável por: confecção de relatórios mensais, semestrais e anuais enviados à CNCDO Oeste; estatística mensal e anual

das doações; elaboração de escalas de trabalho; relatórios de faturamento; montagem e conferência de prontuários dos doadores; organização das Campanhas anuais que ocorrem no mês de Setembro – Mês do Doador; confecção e atualização de protocolos de morte encefálica e de procedimento operacional padrão – POPs; dentre outras atividades pertinentes ao setor.

O processo de trabalho da equipe da CIHDOTT é extremamente complexo. Exige capacitação específica e contínua dos trabalhadores, além de exigir também tomadas de decisões importantes ao longo de todo o percurso. A divisão das tarefas dentro do setor foi relatada de forma equânime entre todas as trabalhadoras: todas executam as mesmas atividades, o que mostra a característica do trabalhador “polivalente e multifuncional” do mundo do trabalho na atualidade, aquele trabalhador versátil, que executa diferentes tarefas, e realiza sozinho diversas funções. Este modelo de trabalhador reflete a lógica do capital e do processo produtivo capitalista, da reestruturação produtiva, uma vez que se utiliza do trabalhador ao máximo, expondo-o assim, ao trabalho precarizado (ANTUNES, 2004, 2008; SANTANA et al., 2013; SELIGMANN-SILVA, 2011), como se pode observarabaixo:

“A gente faz basicamente a mesma coisa, assim, todas abordam, todas

solicitam exames, todas discutem os casos, com os outros profissionais, por

exemplo, como eu não sou médica, eu preciso do apoio de um médico. Eu discuto com a coordenadora ou mesmo com o profissional que está dando a assistência ao paciente. A parte mais burocrática, os relatórios, todas fazem”. (Rogéria)

A divisão e operacionalização das tarefas evidencia a vivência de precarização: um dos efeitos do neoliberalismo na saúde dos trabalhadores, vivido como desgaste mental e a corrosão da subjetividade. Atualmente, há estudos que mostram que o neoliberalismo não se reduz a um sistema econômico, a práticas que definem o capitalismo contemporâneo na sua característica globalizada, mas sim o neoliberalismo como forma de vida que enquanto tal compreende uma gramática de reconhecimento e uma política para o sofrimento, de modo que se pode extrair mais produção e mais gozo do próprio sofrimento (DUNKER, 2015; SILVA JR, 2017). Desse modo, o que estrutura o projeto neoliberal são ideais e valores derivados dos princípios da concorrência e que, a partir de certos mecanismos, se instalam nas relações sociais, como por exemplo, o mecanismo de dominação perversa. Então, a vida passa a ser uma relação onde tudo é mercado. E a pessoa passa a ser o empreendedor de si mesmo. A

A análise do processo de trabalho na CIHDOTT HCU demonstrou que o trabalhador está exposto aos seguintes riscos de agravos à saúde:

1) Riscos de acidentes: quedas da própria altura e das escadas, podendo gerar lesões corporais, contusões e traumatismos.

2) Riscos biomecânicos: Permanência prolongada em pé, grande distância percorrida, adoção de posturas inadequadas e movimentos repetitivos, podendo ocasionar dores, problemas de coluna e lesões físicas (LER/DORT).

3) Riscos biológicos: vírus, bactérias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos próprios do ambiente hospitalar, assim como pelo manuseio do órgão ou tecido para o transplante, podendo gerar doenças infecto-contagiosas.

3) Riscos para saúde mental: Derivados da organização do trabalho como: jornada de trabalho excessiva (com destaque para os plantões extras não remunerados, em especial à distância, o que explora o trabalhador e invade sua vida privada) e dimensionamento inadequado de pessoal que interferem no processo de trabalho, em especial, no modo operatório das tarefas, provocando alterações no ritmo de trabalho e na carga de trabalho, gerando sobrecarga e pressões, além do cotidiano conflituoso relativo ao axioma vida e morte, principalmente, nas relações interpessoais com as famílias e da convivência com situações que geram medo e estado de alerta permanentes, que somados aos constrangimentos cotidianos e situações de humilhação nas relações com as equipes intra e extra hospital, as falhas na logística de doação, assim como a falta de estrutura física (com destaque para sala da CIHDOTT HCU inadequada para receber as famílias) e material (uma impressora; exames de sangue necessários ao processo de doação; recursos materiais no centro cirúrgico e restrição de exames complementares em vários dias da semana), podem ocasionar sofrimento psíquico, fadiga, estresse, irritabilidade, ansiedade, angústia, insônia, alterações de comportamento e transtornos mentais.

Este quadro caracteriza o processo de desgaste dos trabalhadores, em particular, o desgaste mental, foco desta pesquisa. Deste modo, é necessário reorganizar o processo de trabalho na CIHDOTT, com o objetivo de extinguir os riscos de agravos advindos das condições e do processo de trabalho nocivos à saúde, restabelecendo a promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, em especial, a saúde mental.

Frente aos problemas identificados na organização do processo de trabalho, as trabalhadoras sugeriram diversas mudanças necessárias à melhoria das condições de trabalho, com destaque para a sala da CIHDOTT, que poderia ser um ambiente mais confortável para

atender e acolher a família durante a entrevista e durante todo o processo de doação; a colocação de uma impressora no setor pata facilitar e agilizar o processo de doação; a criação de uma política do hospital em relação ao processo de doação de órgãos e tecidos; melhorias no transporte de órgãos e na comunicação com a CNCDO.