• Nenhum resultado encontrado

Conselho Nacional de Justiça

3.6 Processo Eletrônico no Brasil

A iniciativa mais importante no campo de governo eletrônico, por parte do Poder Judiciário brasileiro, foi o chamado processo eletrônico. Segundo Cunha Júnior (2003) existiam dois modelos alternativos de informatização do processo judicial brasileiro. O primeiro, representado pelo Projeto de Lei 5.828 de 2001, apresentado pela Associação dos Juízes Federais (AJUFE), era denominado idealista. Partia do pressuposto de que a informatização só deveria ser buscada quando o acesso à tecnologia da informação fosse universal, ou seja, quando todo cidadão tivesse acesso à internet e uma conta de e-mail. Partindo dessa premissa, defendia a informatização simultânea de todos os atos, como forma de dar maior celeridade à prestação jurisdicional, vez que já tinha como previamente resolvida a questão da exclusão digital. A outra corrente era denominada pragmática, sendo representada

119 pelo substitutivo do Senador Osmar Dias e defendida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Partia do pressuposto de que a segurança dos atos judiciais devia ser a principal preocupação, quando se trata da questão da informatização.

A promulgação da Lei 11.419/06, a chamada Lei do Processo Eletrônico, representou uma vitória da primeira corrente (REINALDO FILHO, 2007), mas a implementação do processo eletrônico tem se mostrado acima de tudo pragmática, represando suas potencialidades a partir de questões técnicas referentes à segurança e à inexistência de amplo acesso à Internet por parte da população brasileira (MARCACINI e COSTA, 2007).

O advento da Lei 11.280 de 16 de fevereiro de 2006 e da Lei 11.419 de 20 de dezembro de 2006 contribuiu para a mudança no quadro de desarticulação do processo de informatização da Justiça Brasileira. A redação do parágrafo único do art. 154 do Código de Processo Civil, alterado pela Lei 11.280/06, dispunha que:

Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil (grifo do autor)

Esse parágrafo único foi revogado com a entrada em vigência da Lei 11.419/06 (MARCACINI e COSTA, 2007). O art.1º da Lei 11.419/06, por sua vez dispõe: “O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei”. A mesma Lei, em seu art. 8º, apresenta regra mais específica sobre a automação processual:

os órgãos do Poder Judiciário poderão desenvolver sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de autos

120

total ou parcialmente digitais, utilizando, preferencialmente, a rede mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas (grifo do autor).

Em ambos os casos, não há obrigação de implementar o chamado processo eletrônico. Como bem coloca Lopes (2008, p.3): “É, pois, facultado aos tribunais desenvolver seus próprios sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais, de forma parcial ou integralmente digital (ou digitalizada), acessíveis por meio da Internet ou Intranet, com a devida certificação digital, para conferir validade e autenticidade do documento”. Ainda que os dispositivos legais tenham caráter meramente autorizador, é possível depreender que se trata de um caminho a ser necessariamente trilhado pelos tribunais, sob pena de agravamento da atual situação de obsolescência de muitos deles, com a conseqüente incapacidade de absorver a crescente demanda pela prestação jurisdicional.

Essa percepção é recente. Se ainda hoje é possível constatar resistência interna ao processo de informatização dos tribunais, há poucos anos havia até questionamento quanto à legalidade da mesma. Em 2005, a Procuradoria da República no Distrito Federal, ajuizou ação requerendo suspensão e anulação do programa “Justiça sem Papel”, questionando sua legalidade e constitucionalidade. Para os procuradores, o programa, realizado por convênio entre o Ministério da Justiça e a Fundação Getulio Vargas, financiado pela Souza Cruz, ofenderia a independência e imparcialidade do Poder Judiciário, cuja informatização deveria ser totalmente suportada pelo Estado (FGV Projetos, 2007).

Uma das conseqüências da evolução do processo de informatização do Poder Judiciário Brasileiro, notadamente a partir da sua segunda fase, é a migração para sistemas centralizados, em detrimento das iniciativas isoladas de uso particular. Assim sendo, a norma legal apenas declara uma tendência histórica, sem reforçá-la, como parecem crer alguns autores. Mantida a liberdade que possui cada tribunal para o desenvolvimento de sistemas, ainda que no âmbito interno desses tribunais

121 os sistemas sejam uniformizados, seria possível que o processo eletrônico fosse implementado por meio de quase uma centena de diferentes sistemas, se cada tribunal desenvolvesse seu próprio sistema para esse fim.

O legislador, ao consagrar a liberdade de escolha do modelo de automação processual, respeitando a autonomia dos tribunais hoje presente no ordenamento jurídico, transportou para este novo momento o antigo paradigma. Assim sendo, à primeira vista, seria natural esperar que as iniciativas de automação processual em direção ao estágio de processo eletrônico tivessem pouca integração, como foi característico do processo de informatização até agora. Apesar da Lei 11.419/06 ter, como já foi dito, permitido a descentralização e autonomia das iniciativas de informatização, pode-se constatar a presença de iniciativas de informatização estruturadas e coordenadas.

Entre as iniciativas de informatização da Justiça brasileira, destaca-se o Processo Judicial Digital (Projudi) que, entre 2006 e 201049, consistiu na mais importante

iniciativa de informatização do país, a partir do estímulo conferido pelo CNJ à sua adoção de forma coordenada pelos tribunais brasileiros. O Projudi é um sistema de automação processual, voltado para a tramitação em meio eletrônico de processos judiciais. Inicialmente, se chamava Processo Digital no Juizado do Consumidor (Prodigicon) e era um projeto de conclusão de curso de dois estudantes de Ciências da Computação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) – André Luis Cavalcanti Moreira e Leandro de Lima Lira –, cuja abrangência de aplicação era restrita a processos de juizados especiais cíveis em matéria de direito do consumidor50.

49 Aqui o marco inicial é a seleção do Projudi pelo CNJ e sua doação ao mesmo, em

setembro de 2006. Já o marco final é a primeira implantação do PJe, em abril de 2010. Esses marcos são arbitrários, mas possibilitam precisar o período no qual o Projudi foi a principal iniciativa de informatização do Poder Judiciário Brasileiro.

50 No presente trabalho o nome Projudi é utilizado como substituto de Prodigicon, mesmo na

fase que o sistema não possuía aquele nome, a fim de facilitar o entendimento do leitor. O nome Prodigicon só é enfatizado quando da própria mudança de nome.

122 Sua primeira versão, ainda com o nome Prodigicon, foi implantada no Juizado do Consumidor da Comarca de Campina Grande na Paraíba. Durante essa implantação, o sistema foi alterado para que pudesse ser utilizado em outros tipos de processo. Em 2005, teve seu nome alterado para Projudi e foi instalado em outras unidades do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. O mesmo sistema encontra-se, hoje, em operação, no mesmo Tribunal, sob o nome de e-Jus51.

Em 2006, os desenvolvedores do sistema, que já o haviam cedido o sistema gratuitamente para o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) 52, cederam o sistema ao CNJ53, desta vez em doação que incluiu o código fonte e os direitos autorais referentes ao software – registrado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sob o nome Prodigicon. Desde então, o CNJ assumiu papel de destaque no cenário da difusão do processo eletrônico no Brasil, por meio do estímulo à adoção do Projudi.

Porém, ao difundir o Projudi entre os tribunais, o CNJ optou por fazê-lo sem seu desenvolvimento estar completo. Por isso, distribuiu também o código-fonte e a documentação, para que os próprios tribunais pudessem promover o aprimoramento do sistema e adaptação às realidades locais, em especial a conexão com base de dados locais previamente existentes, uma vez que o Projudi foi desenvolvido em linguagem Java e era independente de base de dados.

Como parte do processo de implantação do Projudi nos tribunais, as adaptações do sistema se mostraram necessárias frente à fragilidade do mesmo, ainda em estágio

51 Disponível em <https://ejus.tjpb.jus.br/projudi/>. Acesso em 9 de janeiro de 2010.

52 Disponível em <http://www.tjpb.jus.br/carga_diario/carga_documentos.download?

p_file=287_0001_arq_arquivo.pdf>. Acesso em 9 de janeiro de 2010

53 Disponível em <http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/termo_coop/

123 embrionário e com muitas falhas. Contudo, os diversos tribunais promoveram ajustes e adaptações individuais, sem qualquer iniciativa centralizada de colaboração ou mesmo controle de alterações. Assim, o sonho de definição de um único sistema de processo eletrônico no Brasil caiu por terra com as múltiplas versões do Projudi em uso em todo o Brasil.

124 4 DE CAMPINA GRANDE A JOÃO PESSOA

O presente capítulo descreve a trajetória do Projudi de seu nascimento, em Campina Grande, até sua implantação no Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), em João Pessoa. O capítulo de divide em três fases desta trajetória. A primeira fase, Universidade, descreve o próprio nascimento do sistema e seu desenvolvimento inicial. A segunda parte, Juizado, descreve a implantação do sistema no então Juizado Especial do Consumidor de Campina Grande. Já a terceira parte, Tribunal, descreve a chegada do Projudi a João Pessoa e sua implantação no TJPB. Ao final do capítulo, um gráfico temporal permite identificar a ordem cronológica dos principais eventos relatados ao longo das três seções (ver Figura 18, pg. 173).

De Campina Grande a João Pessoa são 132 quilômetros de distância, pouco mais de uma hora pela BR-230 (Figura 6). É uma distância maior que a que separa João Pessoa de Recife, a capital mais próxima, que é de 123 quilômetros. São as duas maiores cidades do Estado da Paraíba. João Pessoa é a capital (desde o tempo que se chamava Parahyba) e tem a maior população (723 mil habitantes)54.

54 Fonte: IBGE, Censo 2010, em

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=250750#, acesso em 23 de março de 2013.

125 Figura 13 – Mapa de Campina Grande a João Pessoa por via rodoviária

Fonte: maps.google.com em 22 de março de 2013.

Assim, nossa história, a história do Projudi, começa em plena caatinga nordestina, longe demais da Capital e seu litoral. Começa também longe dos tribunais, longe dos advogados, na maior universidade da Cidade, a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), cuja origem está na Escola Politécnica de Campina Grande, fundada em 1952.

126 Talvez, se considerarmos a opinião da Newsweek (Abril, 2001), possamos entender melhor a origem desta história, que começa em 2004, três anos após a publicação da reportagem que assim dizia:

Na aridez do Nordeste brasileiro, existe um oásis de chuva e oportunidade. Há meio século, os comerciantes de Campina Grande importaram as primeiras prensas de algodão que fizeram da cidade um importante centro têxtil.

Hoje, essa cidade no meio de lugar nenhum abriga 50 empresas que fabricam de tudo, desde softwares até painéis de publicidade. Campina Grande dita o padrão da indústria tecnológica do Brasil. A chave do sucesso é a Universidade Federal da Paraíba. Em 1967, acadêmicos paraibanos convenceram as autoridades locais a comprarem um mainframe da IBM de US$ 500 mil, criando uma tradição no setor da computação que hoje atrai estudantes de toda a América Latina.

Desde 1984, a Paraíba tem um Parque Tecnológico que já deu origem a 60 empresas que usam alta tecnologia, desde fazendas de criação de camarões até portais de Internet.

Entre os projetos bolados pela universidade está o da Light Infocon que produz softwares usados pela polícia para rastrear traficantes de drogas. O talento local também criou a Coteminas, a mais sofisticada indústria de malhas da América Latina.

O dinheiro gerado pelo setor de tecnologia representa quase 20 por cento dos US$650 milhões da receita da cidade e explica porque a renda média da população local é de US$ 2.500 por ano, o dobro do restante do Nordeste. A tecnologia dá lucro mesmo no meio de lugar nenhum.

4.1 Universidade

Na UFCG, cantada como o berço de inovação tecnológica “no meio de lugar nenhum”, dois alunos cursavam Computação e estavam prestes a terminar seu curso: Leandro Lira e André Moreira. A disciplina de final de curso (Projeto em Computação II), ministrada pelo Prof. Jacques Sauvé e cursada pelos referidos alunos no primeiro semestre de 2004, tinha como objetivo “familiarizar o aluno com o desenvolvimento de software relativamente grande que exija a utilização de um

127 processo de desenvolvimento”55, processo de desenvolvimento este que deu origem

ao Projudi. Nas palavras de seus desenvolvedores:

Então, ele nasceu como uma coisa que... Uma ideia pura, pessoas que queriam fazer algo pra mudar a realidade lá [trecho não compreendido] do interior da Paraíba. Mudasse o Poder Judiciário (entrevista concedida por Leandro Lira ao autor em 12 de junho de 2012).

A ideia foi dele [Leandro Lira], como ele fazia Direito e Computação ele resolveu unir as duas coisas, e ai no projeto de conclusão de curso de computação ele me chamou e a gente começou a desenvolver um projeto, um projeto-piloto pra ser implantado no então Juizado Especial do Consumidor de Campina Grande, que se tornou o Segundo Juizado Especial Cível. Aí, o orientador de Leandro na monografia dele do Direito era o Juiz Titular desse Juizado e nós três começamos a trabalhar nesse projeto [...] (entrevista concedida por André Moreira ao autor em 13 de junho de 2012).

Nessa fase de projeto de final de curso, o sistema que ficaria conhecido como Projudi já possuía suas duas principais características que, no futuro, fariam a diferença: arquitetura web e programação em Java (Figura 14).

55 Programa da disciplina Projeto em Computação II (Anexo 2 – Documento 1). Disponível

128 Figura 14 – Arquitetura do Sistema Projudi

Fonte: Arquivo pessoal de Leandro Lira

A equipe do projeto do então Processo Digital do Consumidor (Prodigicon) contava ainda com Laurislândio Diniz e Rita de Cássia Nascimento56. Ambos participam formalmente da equipe da disciplina, mas não se envolvem diretamente na aplicação prática do sistema. Seus nomes ficam ausentes de todos os relatos e documentos disponíveis, sendo o único testemunho de sua participação os registros existentes no programa da disciplina antes mencionado e no Relatório Final da disciplina de Projeto em Computação II (Anexo 2 – Documento 2).

O Juiz Titular do Juizado Especial do Consumidor de Campina Grande, à época, era o Dr. Antonio Silveira. Ele era professor de Leandro Lira na Faculdade de Direito da

56 Rita de Cássia aparece em uma única foto da apresentação do Projudi ao Tribunal de

129 Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), onde este também concluía seu curso e tinha o Dr. Antonio Silveira como orientador de monografia:

Eu sou professor da Universidade Estadual da Paraíba e na época ministrava uma disciplina que chamava Informática Jurídica. Então, a gente estava no ano de 200457, mais ou menos, e essa disciplina

fazia com que a gente tivesse a oportunidade de conhecer como estava o processo de informatização nos Tribunais. Ainda na iniciativa de processos eletrônicos existia tanto no Brasil como em outros países, mas era muito embrionária, com projetos isolados. E nós, a partir disso, começamos a conversar com Leandro, que é uma das pessoas que você entrevistou, que era estudante de Direito e de Computação final do curso, e nessas aulas discutindo o processo eletrônico eu o chamei para participar dessa iniciativa. (entrevista concedida por Antonio Silveira ao autor em 14 de junho de 2012)

O projeto de conclusão de curso junto à Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) une os alunos Leandro Lira e André Moreira, bem como o magistrado Antonio Silveira, na qualidade de “cliente”, ao projeto do sistema58. O projeto de

conclusão de curso junto à Universidade Federal da Paraíba (UFPB) une o aluno Leandro Lira e o orientador Antonio Silveira ao tema do processo eletrônico59. São

eles que, desde o primeiro momento, imaginam um uso prático para o sistema a ser desenvolvido, além de simplesmente cumprir um requisito necessário à conclusão do curso, ainda que não se pudesse divisar o alcance que viria a ter, conforme atestam em seu depoimento:

[...] nós três começamos a trabalhar nesse projeto, mas visando um escopo bem reduzido mesmo, eram só processos eletrônicos pra um Segundo Juizado [Juizado do Consumidor de Campina Grande]. Não tinha naquele momento pretensão nenhuma de ser um processo

57 Segundo Leandro Lira, em sua revisão ao texto, ele cursou a disciplina de Informática

Jurídica no segundo semestre de 2003.

58 Programa da disciplina Projeto em Computação II (Anexo 2 – Documento 1).

59 A monografia, sob o título “O Processo Eletrônico e sua Implementação na Justiça

130

nacional ou até mesmo um processo para o Tribunal de Justiça (entrevista concedida por André Moreira ao autor em 13 de junho de 2012).

Então, ele nasceu como uma coisa que... Uma ideia pura, pessoas que queria fazer algo pra mudar a realidade lá [trecho não compreendido] do interior da Paraíba. Mudasse o Poder Judiciário. Ele [Antonio Silveira] me convidou pra estagiar na vara dele e o André [Moreira] incorporou o projeto. Então, a gente começou o desenvolvimento... (entrevista concedida por Leandro Lira ao autor em 12 de junho de 2012).

E qual foi a minha motivação nessa iniciativa? Ela tem um caráter também muito prático e vinculado a um trabalho no Juizado do Consumidor em Campina Grande. Nessa época começou... O Juizado de Campina Grande era o único Juizado para uma cidade de trezentos e oitenta mil habitantes. O volume de trabalho lá era enorme, no centro da cidade, no centro do comércio, então as pessoas tinham uma facilidade muito grande de tendo qualquer tipo de problema ajuizar uma ação. Ele estava ali, descia na principal, na avenida principal da cidade, entrava no Juizado e fazia a sua reclamação. Então, o volume de trabalho era muito grande e somado a esse volume de trabalho começaram as ações contra as empresas de telefonia.

[...] Então, eu me deparei com esse quantitativo enorme de ações que desestruturou todo o meu trabalho, por que você tem uma demanda, vamos supor, de recebimento de cem processos por mês e essa demanda quadruplica, dentro do próprio mês. Isso chegou a, num período de seis meses, a gente ter um aumento de mais de quatrocentos por cento no número de processos. Então, isso desestruturou o trabalho. O cartório na época, a Secretaria, quer dizer, do Juizado, não tinha pessoal suficiente, não tinha material suficiente de expediente e trouxe um caos, fazendo com que aquelas demandas que a gente conseguia trabalhar naturalmente fossem totalmente suspensas. Mas e aí, autuar processos no papel, juntar documentos, expedir intimações tudo isso manualmente. Então, a motivação foi essa. Então eu digo que só há uma solução. A gente partir para uma automação, via um sistema de informática. (entrevista concedida por Antonio Silveira ao autor em 14 de junho de 2012)

Desenvolve-se, assim, o projeto de um sistema informatizado de processo eletrônico para uso no Juizado do Consumidor de Campina Grande. Mais do que um projeto de

131 graduação, um sistema para uso prático no TJPB. Leandro Lira se torna estagiário de Antonio Silveira no Juizado, ainda no primeiro semestre de 2004, passando a integrar a equipe deste. Neste sentido, Antonio Silveira tem especial relevo, por ser o elemento que possibilita esse uso prático, conforme declaram Leandro Lira e André Silveira:

Então, ele sempre falava: ‘O que estiver ao alcance da gente, a gente vai fazer, mesmo caso o Tribunal não abarque a idéia, eu como Juiz aqui da minha vara eu posso colocar um projeto-piloto no escopo da minha vara’. Isso me dava muita satisfação e motivação de que, o que a gente fizesse não ia ser perdido, pelo menos seria testado. (entrevista concedida por Leandro Lira ao autor em 12 de junho de 2012).

Teve apoio do Juiz. No começo, quando ainda era apenas um projeto de conclusão de curso, pra testar, criar um sistema que atendesse a essas funcionalidades, que eram muito mais as necessidades dele como Juiz Titular daquele Juizado, a gente trabalhou meio que por conta própria, eu, Leandro e Antônio Silveira, que era o Juiz Titular da época. (entrevista concedida por André Moreira ao autor em 12 de junho de 2012).

Desta etapa de desenvolvimento, poucos registros existem e todos são oriundos dos próprios atores humanos envolvidos. Esses registros já foram aqui mencionados e estão à disposição dos leitores no Anexo 1. Além disso, duas reportagens