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NÚMERO ESTRATÉGIA DESCRIÇÃO

2.3 Representação Gráfica na ANT

Outro ponto importante na tradição da ANT é a representação visual das redes. Há uma longa tradição de representar graficamente as redes estudadas, que gerou uma grande variedade de espécies de representação gráfica. Andrade, Joia, Fornazin e Cavalheiro (2013) realizaram extensa revisão bibliográfica dos estudos baseados em ANT na área de Sistemas de Informação. O resumo da pesquisa encontra-se no Quadro 3. Em seguida ao Quadro, encontramos figuras exemplificativas de cada uma das categorias descritas, conforme numeração referenciada no próprio Quadro.

Quadro 3 – Categorias de Representações Gráficas nos Estudos em ANT

CATEGORIA CARACTERÍSTICAS REFERÊNCIAS

Temporais (Figura 1)

Descritivo; Representa um

encadeamento de eventos; Visão processual enfocando interação temporal. Law (1973; 1982); Faraj et al. (2004); Ramiller (2005); Tuomi (2000). Em rede (Figura 2) Descritivo;

Configuração de uma rede de atores;

Gráficos compostos por nós e setas;

Enfoca como os atores estão relacionados e como

influenciam uns aos outros.

Callon et al. (1983); Latour (1996); Gärtner and Wagner (1996); Dodier and Barbot

(2000); Ramos (2009);

Teles e Joia (2011);

Cresswell et al. (2010); Ramiller (2005).

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CATEGORIA CARACTERÍSTICAS REFERÊNCIAS

De poder (Figura 3)

Interpretação Analítica; Representa forças direcionando o

comportamento dos atores; Enfoca em relações de poder na formação de uma rede de atores.

Law (1983); Callon (1986a), Latour (1997).

De tradução (Figura 4)

Interpretação Analítica; Geralmente representam atores, seus objetivos iniciais e como esses objetivos foram alterados para PPO; Enfoca momentos de tradução.

Callon (1986a); Heeks and Stanforth (2007); Tapha (2012); Faraj et al. (2004); Andrade e Urquhart (2010), Gooding (2006). De coesão (Figura 5) Interpretação Analítica; Representa como patrocinados globais e técnicos locais interagem ao longo do tempo.

Múltiplas dimensões no mesmo gráfico: atores globais, atores locais e trajetória temporal.

Law e Callon (1992); Heeks e Stanforth (2007), Ramos (2009); Teles (2011); Lungo and Igira (2008) E-OU (Figura 6) Interpretação Analítica; Representa progressão de técnicas de tradução para alcançar uma rede de atores. Múltiplas dimensões no mesmo gráfico: técnicas, atores e traduções; Enfoca a possibilidade de traduções.

Latour et al. (1991); Latour (1992); Santos (2005).

58 Figura 1 – Gráfico temporal

59 Figura 2 – Gráfico em rede

Fonte: Callon, Courtial, Turner et al (1983, p. 210)

Figura 3 – Gráfico de poder

60 Figura 4 – Gráfico de tradução

61 Figura 5 – Gráfico de coesão

62 Figura 6 – Gráfico E/OU

Fonte: Latour, Mauguin e Teil (1991, p. 424)

No presente trabalho serão utilizadas representações gráficas temporais, em rede e de coesão. Os três tipos de gráficos escolhidos são encontrados, também, em outros trabalhos da linha de pesquisa a que se filia o autor, como Ramos (2009), Telles (2010), Cavalheiro e Joia (2013) e Fornazin e Joia (2013). Isso demonstra uma coesão interna na escolha das categorias de representação de redes. Dois exemplos do uso de múltiplas representações gráficas em um só trabalho são:

Ramos (2009), ao analisar a política nacional de informática descreve a configuração de redes de atores em sucessivos momentos, para então apresentar a trajetória da política por meio do gráfico de coesão. Ramiller (2005) reúne gráficos de tempo e de redes de atores, evidenciando, assim, como eventos ao longo do tempo configuraram redes de associações. Tais estudos, por meio de uma cadeia de eventos ou de uma rede de atores, buscaram prover uma visão panorâmica do caso em estudo, para então aprofundar a discussão utilizando gráficos com dimensões analíticas, como, por exemplo, poder, tradução e coesão (ANDRADE, JOIA, FORNAZIN, e CAVALHEIRO, 2013, pg. 12)

63 Ainda que a escolha recaia sobre as mesmas categorias, as representações gráficas não são idênticas e representam uma tradução dos autores a partir da teoria previamente existente. Gráficos temporais e de coesão guardam grande semelhança. Já os gráficos de rede são onde encontramos maior diversidade de apresentações. Assim, não há que se falar em uma notação padronizada para estes, que não foi encontrada na pesquisa citada, parecendo ser ainda necessária uma tradução que consiga produzir um padrão gráfico de amplo uso na área de pesquisa e, com isso, uma caixa-preta.

Gráficos temporais apresentam uma visão processual e destacam eventos ao longo de uma linha do tempo. Gráficos temporais podem conter informações que permitam ao leitor situar os eventos e as redes ao longo da trajetória temporal, bem como os movimentos que caracterizam estas redes.

Não é possível, contudo, a partir do gráfico temporal, compreender as relações entre os atores e sua influencia mútua no processo de tradução. Para isso, são utilizados os gráficos de rede. Por seu lado, enquanto os gráficos temporais mostram mudanças ao longo do tempo, os gráficos de rede são estáticos e mostram uma “fotografia” em um dado momento do tempo. Podem ser desenhados tantos gráficos de rede quanto momentos houverem no tempo de existência de uma rede, sendo a escolha dos momentos a serem representados uma decisão arbitrária do pesquisador. Também é uma decisão arbitrária do pesquisador quais atores e relações serão representados no gráfico de rede, posto que não é fácil identificar os limites de uma rede.

As duas categorias de gráficos acima descrevem redes, mas não são analíticas. Assim, no presente trabalho, iremos utilizar o gráfico de coesão para representar, ao longo do tempo, a interação entre atores globais e atores locais. A grande utilização

64 deste tipo de gráfico deve-se à sua capacidade de explicar as trajetórias, e à simples associação entre coesão e sucesso, bem como ausência de coesão e insucesso19.

A representação gráfica das redes de atores fornece uma visão incompleta destas redes (LATOUR, 2005). Este defeito apontado por Latour é uma característica dos modelos. Assim como o mapa é, também, uma representação incompleta de um território. Ainda que incompleto, o modelo é válido se permite realizar análises a partir de sua representação simplificada. De nada serve um mapa do Brasil do tamanho do Brasil, como também de nada serve uma representação da rede que seja a própria rede com todos seus atores e seus tempos.