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PARTE III Resultados e Discussão

5.2. Fundamentos Teóricos, Filosóficos e Pedagógicos

5.2.3. Processo Formativo

Pesquisou-se também a caracterização dos processos formativos (Tabela 7). Há, real ou hipoteticamente, uma articulação entre os perfis do egresso e os processos formativos, ou seja, entre os perfis desejados para os alunos ao término do curso e os processos formativos que dizem respeito aos elementos de que o curso irá dispor para concretizar esse perfil esperado.

Tabela 7:

Lista das características que devem estar presentes no processo formativo (por quantidade de trechos sobre a característica)

Processo formativo Total de

trechos (n) % Relação ao Total de menções ao processo formativo % Relação aos cursos Autonomia discente 13 3,8 28,2

Defesa do tripé universitário 43 12,4 48,7 Formação crítica e compromissada socialmente 64 18,5 64,1 Formação em pesquisa 51 14,7 69,2 Formação generalista 31 9,0 53,8 Formação pluralista 40 11,6 59 Formação tecnicista 7 2,0 12,8 Interdisciplinaridade 33 9,5 48,7 Relação teoria-prática 37 10,7 51,3 Formação profissional 18 5,2 35,9 Formação ética 9 2,6 17,9

Todas as instituições apresentaram inúmeras características do processo formativo sem indicar, necessariamente, uma ligação com os perfis esperados de egresso. Trata-se, portanto, de um aparente contrassenso das IES, na medida em que se parte da ideia de que são as características dos perfis dos egressos que, em tese, deveriam orientar o processo formativo.

Dos 39 cursos que apresentaram as características de seu processo formativo, pelo menos metade das IES (n=19) defende, de forma mais ou menos equânime, um conjunto de sete elementos: o tripé universitário (indissociabilidade entre o ensino- pesquisa-extensão), interdisciplinaridade, foco na relação teoria-prática, formação

generalista (em várias áreas da Psicologia), formação pluralista (nas mais diferentes teorias e correntes da Psicologia), formação compromissada socialmente e formação em pesquisa. Todos os aspectos listados dizem respeito às escolhas feitas com respeito aos dilemas da Psicologia ao longo dos anos. São questões presentes nos debates da categoria, agora materializados nos currículos, após a aprovação das DCNs. Esses aspectos tornam-se o discurso vigente hoje no país acerca de qual direção a formação graduada em Psicologia deveria apontar. Esse trecho ilustra bem o discurso recorrente, que associa uma série dos elementos apontados anteriormente:

apresenta-se uma reestruturação curricular que visa à qualificação da formação através da: Valorização das diferentes perspectivas epistemológicas, teóricas e metodológicas ao longo do curso; Integração entre teoria e prática desde o início do curso, com práticas nas disciplinas e introdução de estágio curricular em nível básico; Valorização da articulação com a rede de instituições públicas, promovendo atividades de inserção e intervenção na comunidade, em micro-práticas, extensão e estágios curriculares; Interface com outros campos de conhecimento, em especial com outras áreas da saúde, para o exercício da interdisciplinaridade; pesquisa, extensão e atividades complementares de graduação

(Curso XXIII)

Proporcionar a formação em ética de modo transversal, isto é, no conjunto das atividades do curso de Psicologia (...).

Proporcionar uma formação generalista em Psicologia baseada em ênfases curriculares e atividades estágios básicos e profissionais. (...) Oferecer aos discentes atividades que garantam uma formação interdisciplinar, articulando conteúdos de áreas vinculadas à formação em Psicologia, incluindo críticas à Psicologia, e que favoreçam o diálogo com outras profissões. Qualificar para a reflexão e a intervenção crítica nos diversos contextos de inserção profissional: informações sobre a realidade social do país, as demandas de serviços psicológicos e sobre as políticas públicas. Formar profissionais que se insiram nas instituições sociais e empresas: organização de um modelo pedagógico capaz de adaptar-se à dinâmica das demandas da sociedade, em que a graduação passa a constituir-se numa etapa de formação inicial no processo contínuo de educação permanente.

(Curso XX)

Algumas nuanças do discurso, no entanto, continuam merecendo atenção, como a alta presença da defesa de uma formação em pesquisa (69,2%) nos cursos. O discurso da formação em pesquisa, bem como a da defesa do tripé universitário, destoa das prescrições para instituições não-universitárias que, regimentalmente, não necessitam responder às três dimensões da formação em Ensino Superior. A presença dessa característica pode sugerir que o que está contido nos fundamentos dos PPCs, sobretudo das IES privadas, não necessariamente será efetivado no cotidiano dos cursos, mas serve para identificar o discurso comumente mais aceito na área. Outra possibilidade é de que

o discurso das IES federais é replicado nas IES privadas, sendo as primeiras a referência para construção dos modelos de currículo em Psicologia no Brasil, já que a defesa da importância da pesquisa para a formação graduada é discurso recorrente nesses espaços (Oliveira 2013; Francisco & Bastos, 2005). Abaixo se podem ver alguns dos trechos relativos ao tema:

O Curso de Psicologia visa a uma formação superior de excelência (...) através da oferta de uma formação sólida dos conhecimentos básicos do núcleo comum e do incentivo à pesquisa, ao uso dos laboratórios, da biblioteca e de novas tecnologias que estimulem o aluno a manter sempre a atitude reflexiva em todas as áreas em que estiver atuando

(Curso I)

O processo de ensino-aprendizagem será norteado pelas seguintes estratégias e métodos: Iniciação científica - a iniciação científica permite aos alunos terem contato com a produção científica de ponta, desenvolvida nos diversos centros de pesquisa do Brasil e exterior, além de estimular a produção e a veiculação do conhecimento nas diversas áreas;

(Curso V)

Da mesma forma que nas características anteriores analisadas (Justificativas e Perfil do Egresso), o compromisso social aparece de forma expressiva no Processo Formativo, estando presente em 64,1% das IES. O discurso aparece de forma

significativa, e recorrente, nos PPCs, valendo remarcar a força que o discurso do compromisso social possui nos fundamentos dos PPCs analisados, o que faz desse elemento o mais marcante nos fundamentos expressos nos diferentes projetos pedagógicos.

5.2.4. Competências

Outro elemento marcante nas Diretrizes atuais são as Competências esperadas dos egressos. A presença da competência nos currículos é uma das novidades das DCNs, que difere do modelo do Currículo Mínimo. No modelo derivado das DCNs, o foco formativo centra-se no aluno (a partir do desenvolvimento das habilidades e competências) em vez de ser no conteúdo, como no modelo anterior. Assim como em outros elementos curriculares, as DCNs com seu ideal de flexibilidade oportuniza aos cursos a ideia de criar as competências esperadas que se adequem a sua proposta pedagógica. No entanto, mesmo com a defesa da flexibilidade, ela apresenta uma lista razoável de sugestões de competências básicas e específicas que os cursos devem tratar. Assim, ao investigar o aspecto das competências nos PPCs coletados, o que se observou foi uma reprodução da lista proposta pelas diretrizes.

Dos 40 PPCs coletados, 37 listam competências que pretendem desenvolver em seus egressos. Desses 37 cursos, 31 (83,8%), ao se referirem às competências, copiam aquelas listadas no documento das DCNs. Dos 31 cursos que reproduzem a listagem contida nas DCNs, apenas 14 acrescentam outras competências que podem ser desenvolvidas nos graduandos, normalmente de forma complementar às sugeridas pelas diretrizes. Ou seja, mesmo esses 14 cursos que apresentam sugestões adicionais, o fazem tendo como corpo principal de competências as sugeridas pelas DCNs. É importante frisar que quando nos referimos a uma cópia das DCNs, na maior parte dos

casos, não estamos falando só em equivalência no conteúdo dos discursos, mas em reprodução literal dos enunciados. A despeito da importância da questão das Competências e Habilidades na formação do psicólogo pós-DCNs, acreditamos que essa discussão não esteja sedimentada o suficiente nos cursos a fim de que os mesmos possam apresentar proposições originais e equivalentes as suas propostas curriculares, optando por realizar uma cópia das sugestões apresentadas pela legislação. Mais uma vez, faz-se mister lembrar que a questão da adequação às DCNs é um ponto essencial nas avaliações das agências de controle, em especial, no SINAES, o que possivelmente justificaria a opção pela cópia literal dos enunciados propostos pelas diretrizes.