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2.3. LOGÍSTICA REVERSA

2.3.1 Processo Logístico Reverso: definição e principais características

A partir de seu conceito e principais características, este tópico tem como foco demonstrar sua não obrigatoriedade, mas considerá-lo como nova estratégia para se destacar no atual mercado competitivo e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

A logística reversa trata de mover o produto da destinação final para o retorno ao ciclo de negócios, ou para disposição final adequada. De acordo com Rogers e Tibben- Lembke (1998, p. 02), adaptando a definição de logística do CLM, definem a logística reversa como: “o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo de matérias-primas, estoque em processo e produtos acabados do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de recapturar valor ou realizar um descarte adequado”. Em Gonçalves-Dias e Teodósio (2006, p. 430), encontra-se que o termo logística reversa é bastante complexo, em seu sentido mais amplo, “significa todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais”. De forma simplificada, “logística reversa pode ser definida como o processo inverso à logística” (DIAS, 2006, p. 467).

Para Leite (2009, p. 17), a logística reversa agrega valores de diferentes tipos e a define como,

área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas: econômico, de prestação de serviços, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, dentre outros.

A logística reversa pode ser definida, segundo Stock (1998, p. 20), a partir de duas abordagens: uma da “logística da empresa”, e outra, na perspectiva da “engenharia logística”.

De uma perspectiva da logística da empresa, o termo se refere ao papel da logística na devolução de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição e reuso de materiais, disposição de resíduos, e reforma, reparo e remanufatura; de uma perspectiva da engenharia logística, se refere à gestão da logística reversa e é um modelo sistemático de negócios que emprega as melhores metodologias de engenharia e gestão logística através da empresa a fim de fechar com lucratividade o ciclo da cadeia de suprimentos.

Conforme Fleischmann et al. (2005, p. 168) sobre este assunto,

[...] bens físicos, não simplesmente desaparecem depois de terem atingido o cliente. Também não o valor incorporado neles. Por isso, muitos bens avançam além do horizonte da cadeia de abastecimento convencional, acionando assim transações comerciais adicionais: produtos usados são vendidos em mercados secundários; produtos desatualizados são atualizados para satisfazer novamente as normas mais recentes; componentes falhos são reparados para servir como peças sobressalentes; estoques não vendidos são recuperados; embalagens reutilizáveis são devolvidas e recarregadas; produtos usados são reciclados em matérias-primas novamente. [...] O conjunto de processos que abriga estes fluxos de mercadorias, que muitas vezes pode ser interpretado como um escoamento a montante (upstream) em sistema convencional da cadeia de abastecimento, é conhecido como “logística reversa”. Ainda, Fleischmann et al. (2005), conforme podemos notar na Figura 2.5, chamam a atenção para a vida útil econômica de um produto, a partir de ações necessárias a serem realizadas depois que o produto não puder servir aos objetivos a que se destina. Segue as principais atividades que compõem a logística reversa, de acordo com os autores, como sendo:

 Coleta – se refere à transação inicial pela qual uma empresa adquire os produtos.

 Inspeção – significa a classificação dos produtos em partes de qualidades distintas e suas alocações a diferentes opções de reuso.

 Reprocessamento – inclui todo o processo de transformação que prepara o produto para o seu uso futuro.

 Disposição – destino para o qual são enviados os produtos.  Redistribuição – significa a remessa para um novo mercado.

Figura 2.5: Cadeia de recuperação de produtos

Fonte: Fleichmann et al. (2005)

Uso Reuso Abastecimento Produção Distribuição Redistribuiç ão Reprocessamen to Seleção Coleta Disposição

Felizardo (2005, p. 53) acrescenta:

A logística reversa não precisa necessariamente ser feita pela empresa que fabricou os produtos, e sim, recolhidos através de empresas que reprocessam o material descartável. Em muitos casos, fazem-se parcerias de fabricantes que preparam sua própria rede para coleta e reprocessamento.

Percebe-se que a logística reversa é um campo importante no que concerne à competitividade para as empresas, consequentemente, possibilidades de garantia da continuidade de mercados futuros (perspectiva econômica) e condições sustentáveis (perspectiva ambiental).

Contudo, Adlmaier e Sellitto (2007, p. 397) descrevem a logística reversa “como a área da logística empresarial que visa a gerenciar, de modo integrado, todos os aspectos logísticos do retorno dos bens ao ciclo produtivo, por meio de canais de distribuição reversos de pós-venda e de pós-consumo, agregando-lhes valor econômico e ambiental”.

Na perspectiva econômica, a logística é diferencial competitivo, podendo provocar impactos, estes para a satisfação das empresas, ao contemplar retorno financeiro, ao mesmo tempo, melhorar níveis de serviço, consequentemente aumentar satisfação dos clientes (REZENDE; DALMACIO; SLOMSKI, 2006).

Ainda, para os autores (2006, p. 04), sua aplicação “pode oferecer um melhor desempenho para redução de custos, pois disponibiliza para as empresas um maior acompanhamento e gerenciamento dos processos operacionais”.

Na perspectiva ambiental, Adlmaier e Sellitto (2007, p. 398) diferenciam, respectivamente, a prática da logística reversa em relação à da gestão ambiental, “[...] haja vista que esta se preocupa principalmente em recolher e processar rejeitos, refugos e resíduos de itens para os quais não há outro uso, enquanto que aquela se concentra em itens com valor a recuperar”.

Ainda, os autores, acrescentam que “A logística reversa tem afinidades com a chamada ‘logística verde’”, esta – segundo Donatto (2008, p. 15) – pode ser chamada de ecologística, que “é a parte da logística que se preocupa com os aspectos e impactos ambientais causados pela atividade logística”.

Para Donato (2008, p. 19), logística reversa “é a área da logística que trata dos aspectos de retornos de produtos, embalagens ou materiais ao centro produtivo. [...] O processo de logística reversa movimenta materiais reaproveitados que retornam ao processo tradicional de suprimento, produção e distribuição”.

Considerando os princípios de sustentabilidade ambiental, a logística reversa assume responsabilidade na logística da produção no que se refere ao destino final dos produtos gerados, de forma a reduzir o impacto ambiental que eles causam. As empresas organizam canais reversos, ou seja, de retorno dos materiais, seja para conserto ou após o seu ciclo de utilização, para terem a melhor destinação, seja por reparo, reutilização ou reciclagem (LEITE, 2009).

Diversos são os motivos e causas, que levam as empresas a atuar mais fortemente na logística reversa, e Rogers e Tibben-Lembke (1999) apontam motivos estratégicos, tais como: razões competitivas, limpeza do canal de distribuição, proteção de margem de lucro, recaptura de valor e recuperação de ativos. A Tabela 2.1 apresenta dados extraídos de pesquisa nos Estados Unidos.

Daher, Silva e Fonseca (2006, p. 63) acrescentam que é prática da logística reversa, “Quaisquer que sejam os motivos que levam uma empresa qualquer a se preocupar com o retorno de seus produtos e/ou materiais e a tentar administrar este fluxo de maneira científica”.

Tabela 2.1 - Motivos estratégicos de empresas operarem os canais reversos

% respondentes Aumento de competitividade

Limpeza de canal – estoques Respeito à legislação Revalorização econômica Recuperação de ativos 65,2 33,4 28,9 27,5 26,5

Fonte: Rogers & Tibben-Lembke (1999, p. 18)

Ceretta, Estrada e Giacobo (2003, p. 13, grifo do autor) salientam de forma sistêmica que a definição de estratégias possibilita à empresa condições potenciais para as atividades contempladas pela logística reversa. São assim definidas:

1) Coletar informações sobre processos reversos da empresa. Etapa inicial que tem o objetivo de verificar como o processo reverso está sendo efetuado pela empresa e quais resultados estão sendo alcançados, também se verificando quais os custos que estão sendo incorridos. Nesta etapa, pode-se verificar se o processo já apresenta algum resultado positivo, como, por exemplo, gerando receita para a empresa.

2) Identificar necessidades de clientes. Nesta etapa, busca-se identificar, através de pesquisas de satisfação, quais as necessidades e expectativas dos clientes no momento de utilizar o serviço de retorno de produtos de sua residência/empresa para o fornecedor.

3) Identificar ações da concorrência. Uma observação apurada dos processos utilizados por empresas que tenham um desempenho considerável no processo de logística reversa pode trazer ensinamentos e contribuições para a elaboração de atividades a serem realizadas pela empresa. Ganham-se tempo e dinheiro no momento em que os erros cometidos pela concorrência podem ser evitados.

4) Verificar a viabilidade do serviço. Etapa crucial de todo o processo, pois uma nova atividade, sem incremento de rentabilidade da empresa, tanto em termos econômicos como em termos estratégicos, torna-se desprezível e inadequada. 5) Posicionar a administração sobre o serviço. Etapa importante de conscientização da administração e dos acionistas da empresa. Toda e qualquer nova atividade que venha se agregar às existentes deve ser apoiada por todos; dessa forma, evita-se que o processo seja prejudicado por desinformações ou, até mesmo, retaliações por alguns membros da empresa.

6) Desenvolver estratégias de logística reversa. Momento em que todas as atenções devem estar voltadas para a criação das estratégias que serão o alicerce para a operação da nova atividade, buscando garantir uma agregação de valor e consequente aumento de competitividade da empresa.

7) Implementar as estratégias de logística reversa. Etapa final em que a atividade é colocada em prática com o objetivo de satisfazer as necessidades e expectativas dos clientes com rentabilidade para a empresa e acionistas. Ao final, tem-se o processo de feedback, garantindo que o ciclo de informações se mantenha constantemente atualizado, facilitando e impulsionando a flexibilidade da estratégia. Contudo, os objetivos estratégicos da logística reversa podem ser agrupados em: econômico, ecológico e legal, os quais serão em linhas gerais os mesmos que nortearão os canais reversos, que se dividem em duas categorias: canais reversos de pós-venda e canais reversos de pós-consumo (LEITE, 2009).

Ainda Daher, Silva e Fonseca (2006) concluem que um sistema de logística reversa, embora contemple elementos comuns de um sistema logístico tradicional, deve ser gerido em separado e como atividade independente. Segundo Krikke (1998, p. 154, grifo nosso), existem quatro diferenças entre os sistemas de logística direto e reverso. São estas:

A primeira diferença é que a logística tradicional à frente é um sistema onde os produtos são puxados (“pull System”), enquanto que na Logística Reversa existe uma combinação entre puxar e empurrar os produtos pela cadeia de suprimentos [...] Como resultado de uma legislação mais restritiva e a maior responsabilidade do produtor, na Logística Reversa a quantidade de lixo produzido (e a distinção entre o reciclável do que é lixo indesejado) não pode ser influenciada pelo produtor e deverá ser igualada à demanda de produtos, já que a quantidade de descarte já é limitada em muitos países.

Em segundo lugar, os fluxos tradicionais de logística são basicamente divergentes, enquanto que os fluxos reversos podem ser fortemente convergentes e divergentes ao mesmo tempo.

Terceiro, os fluxos de retorno seguem um diagrama de processamento pré-definido, no qual produtos descartados são transformados em produtos secundários, componentes e materiais. No fluxo normal, esta transformação acontece em uma unidade de produção, que serve como fornecedora na rede.

Por último, na Logística Reversa os processos de transformação tendem a ser incorporados na rede de distribuição, cobrindo todo o processo de ‘produção’, da oferta (descarte) à demanda (reutilização).

Desta forma, o Quadro 2.2 mostra os vários fatores envolvidos na logística e sua comparação entre logística direta e logística reversa.

Quadro 2.2: Diferenças entre logística direta e logística reversa

LOGÍSTICA DIRETA LOGÍSTICA REVERSA

Previsão de demanda relativamente cara Previsão de demanda mais difícil Grandes quantidades de produtos Pequenas quantidades de produtos

De uma para muitos pontos de distribuição (em geral) De muitos para um ponto de coleta (em geral) Embalagens dos produtos uniforme Embalagens dos produtos não-uniforme Quantidade dos produtos uniforme Quantidade dos produtos não-uniforme Clara opções de rota Rotas não são claras

Opções de destino claras Opções de destino não claras Formação de preço relativamente uniforme Formação de preço muito variável

Importância da velocidade reconhecida Velocidade normalmente não considerada prioridade Custos da distribuição avaliáveis Custos da distribuição difícil de avaliação

Produtos com valor mais alto Produtos com valor mais baixo

Administração de estoques consistente Administração de estoques menos consistente Negociação direta entre as partes Negociação complicada com considerações adicionais Método de marketing bem conhecidos Marketing complicado por diversos fatores

Processo mais transparente Processo menos transparente

Rastreio de informações automatizadas Rastreio de informações numa combinação automatizado e manual

Padrões fiscais (Leis brasileiras) claros e conhecidos Padrões fiscais (Leis brasileiras) nem sempre claros e conhecidos

Fonte: Rogers & Tibben-Lembke (1999)

No entanto, Barbieri e Dias (2002) descrevem a logística reversa como em constante crescimento no Brasil e no mundo, e fica claro que as empresas, cada vez mais, têm

se preocupado em considerar os custos adicionais e as reduções de custos que este processo pode ocasionar.

O processo de implementação da logística reversa ainda é encarado pelas empresas como uma fase de complementação da logística tradicional, visto que a maior parte das empresas não disponibiliza pessoal ou um setor específico para gerenciar essa atividade e usa como argumento o custo extra que ela proporciona. A partir de estudos realizados pelo Grupo de Logística da Universidade de Nevada (EUA) destaca-se como motivo a falta de interesse, conforme Tabela 2.2.

Tabela 2.2 - Barreiras em implementar Logística Reversa

Motivos Porcentagem

Importância da Logística com relação a outros assuntos Políticas da companhia

Falta de sistemas

Assuntos relativos à competitividade Falta de atenção do gerenciamento Recursos financeiros Recursos de pessoal Temas Legais 39,2% 35,0% 34,3% 33,7% 26,8% 19,0% 19,0% 14,10% Fonte: Rogers & Tibben-Lembke (1999)

Segundo Leite (2009), a partir da Figura 2.6, é possível visualizar o processo logístico organizacional que pode ocorrer de duas formas: direta, desde a matéria-prima até o mercado primário, por meio dos atacadistas ou distribuidores, culminando no varejo e consumidor final, e ainda reversa (provedor de matéria-prima secundária), a partir de duas categorias: pós-venda (retorno) e pós-consumo (reciclagem, desmanche, reuso e disposição final). Esta, última forma, será desenhada nas duas próximas seções.

Figura 2.6: Canais de distribuição diretos e reversos

Fonte: Leite (2009, p. 07)