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4.3 As formas de uso da fotografia na pesquisa em Psicologia

4.3.4 A produção de acervo iconográfico

O uso da fotografia para a construção de acervo iconográfico foi identificado em três (3) trabalhos presentes no corpo analítico (PORTO, 2010; NELSON, 2013; NATALE, 2016). No âmbito dessa função, encontram-se dois tipos de uso da fotografia. Sendo a tese de Porto (2010) a aplicação mais tradicional, que tratou de usar fotografias (e outros recursos) para apresentar a história da Brinquedoteca Hapi, e, nesse sentido, como fonte de informação da história desta instituição. Segundo Porto (2010), no âmbito do seu estudo, dentre os suportes de

27 Monitor fisiológico J & J Engineering, modelo I-330-C2.

28 Segundo informa, desenvolveu programa que “produz um impulso TTL de 5 volts, enviando os sinais de marcação dos momentos de exibição das fotografias para o dispositivo I-330-C2 [de registro da resistividade elétrica da pele].

memória utilizados, a fotografia demonstrou-se essencial no processo de contar a história da Brinquedoteca:

Para aproximar-me, como pesquisadora, da história da Brinquedoteca Hapi, debrucei- me sobre imagens congeladas nas fotografias que foram tiradas ao longo da existência desse espaço. E logo compreendi que havia que levar em conta que a fotografia é em si um objeto carregado de história e exige uma reflexão sobre suas características próprias que formam uma linguagem particular sobre os acontecimentos. (PORTO, 2010, p. 17).

Com uso e finalidade diferente da tese de Porto (2010), encontram-se dois trabalhos em que os pesquisadores utilizaram a fotografia para a produção de acervos iconográficos para a composição de bancos de dados autorais, para fins específicos (NELSON, 2013; NATALE, 2016). Vale destacar que ambos os trabalhos também utilizaram a fotografia como estímulo visual29. A identificação desses trabalhos ocorreu mediante verificação da finalidade expressa da produção de um acervo iconográfico. Esse elemento, no âmbito da presente análise, caracteriza essa função da fotografia em relação a forma de uso denominada registro (NEIVA- SILVA; KOLLER, 2002). Visto que, em primeira instância, as fotografias produzidas com a finalidade de compor um banco de dados imagético, são registros fotográficos que seguem o conceito de representação do real. Assim, como dado primário, a fotografia produzida está na classificação do registro imagético, que, posteriormente, passará por outras formas de aplicação.

A produção das fotografias autorais, no âmbito desses trabalhos, apresenta duas finalidades distintas. Primeiro, o uso de fotos autorais, ao invés de imagens localizadas por meio de ferramentas de busca na internet, como estratégia para contornar a questão dos direitos autorais, da pessoa física ou jurídica de imagens presentes nos espaços virtuais (NELSON, 2013). Segundo, a produção de uma base de dados nacional adaptada de um instrumento utilizado na pesquisa acadêmica e científica no contexto internacional (NATALE, 2016).

Nelson (2013) justifica que optou por produzir as imagens que seriam utilizadas em sua pesquisa, em razão de que, grande parte das imagens armazenadas em meios online, com resolução e qualidade técnica, apresenta certificado Copyright, portanto, são protegidas pela Lei de Direitos Autorais. Assim, para Nelson (2013), a produção de suas próprias imagens confere maior autonomia, quanto ao uso realizado:

É interessante, porém, que pesquisadores obtenham maior autonomia no uso de seu material, construindo bancos de dados de estímulos, como fotos, que possam ser usadas livremente para finalidade de pesquisa. Isto também pode garantir que futuramente pesquisadores possam criar instrumentos de avaliação sem necessidade de pedir ou pagar permissão especial para os autores ou até correr o risco de ser negada a utilização do material. (NELSON, 2013, p. 53, grifo meu).

Além disso, Nelson (2013) afirma que, no território nacional, não há banco de dados imagéticos com estímulos faciais emocionais, disponibilizado para o uso acadêmico e científico. Em contrapartida, verifica-se no cenário internacional um grande volume de banco de dados, gratuitos e pagos, com expressões faciais emocionais à disposição do uso acadêmico e científico. Para a produção dos registros fotográficos, Nelson (2013) conta que selecionou palavras associada a uma imagem:

Foram escolhidas palavras com o critério de número de sílabas e acentuação, dissílabas e trissílabas paroxítonas, respectivamente, de estrutura CVCV e CVCVCV (C: consoante; V: vogal). Este tipo de estrutura apresenta uma maior facilidade de emissão. As estruturas de palavras que envolvem a alternância de consoantes com vogais são bastante comuns na linguagem (Locke, 2000). MacNeilage e Davis (2000, 2001) sustentam, inclusive, que a fala foi uma exaptação de funções ligadas a ingestão de alimentos (mastigar, engolir, chupar) e que envolvem ciclos de abrir e fechar a boca. Assim, estas atividades teriam fornecido um quadro básico que teria sido incorporado no ato da fala, tornando o uso da alternância consoante-vogal uma estrutura comum presente na mesma. (NELSON, 2013, p. 53-54).

A produção de um banco de dados de expressões faciais emocionais também foi desenvolvida na tese de Natale (2016). Contudo, diferentemente da proposta de Nelson (2013), essa autora objetivou adaptar ao contexto brasileiro um instrumento pré-existente chamado

Facial Action Coding System – FACS. Segundo afirma, consiste em “um método de classificar

as expressões faciais por meio de um sistema de codificação dos movimentos e/ou conjunto de movimentos de um ou mais dos músculos da face.” (NATALE, 2016, p. 74). Desse modo, propõe com a adaptação desse sistema, “disponibilizar à literatura psicológica brasileira um instrumento capaz de produzir dados científicos sobre as expressões faciais, seus mecanismos e significados contextuais e patológicos” (NATALE, 2016, p. 32).

Verifica-se que, ambos os bancos de dados digitais, tem como proposição futura, serem colocados à disposição da comunidade acadêmica e científica da psicologia brasileira, como instrumentos para a geração de dados científicos por meio de conteúdos imagéticos (NELSON, 2013; NATALE, 2016).