• Nenhum resultado encontrado

2 CAMPESINATO E PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO: transformações, recriações e permanências

2.2 PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO E AS TRANSFORMAÇÕES NO TERRITÓRIO

As transformações ocorridas no espaço agrário de Jaguaquara (BA) estão atreladas à expansão das relações capitalistas no campo brasileiro. A produção do espaço acontece de forma contraditória, mas a sua análise deve ser feita a partir da totalidade, para que possa perceber a importância e a influência do camponês-colono na estrutura fundiária, levando em consideração os processos históricos e das políticas nacionais para a colonização.

A relação do sistema capitalista de produção e a agricultura são realizadas no interior do processo de transformação e apropriação das relações de produção, ocorrendo de diversas maneiras, no qual o capital utiliza e se articula para o seu desenvolvimento, através da sujeição da renda da terra camponesa, que se consolida no processo de acumulação da produção, no trabalho assalariado, na exploração da renda camponesa e na propriedade privada da terra.

A industrialização da agricultura torna-se um marco histórico no campo, se estabelece como significativa mudança no processo de transformação do espaço agrário. O desenvolvimento do capitalismo na agricultura possibilitou aos proprietários de terras e/ou capitalistas as diversas formas de extração da renda da terra, concretizando ora na territorialização ora na monopolização do capital no campo.

O capital está contraditoriamente unificando o que ele separou no início do seu desenvolvimento, que foi a indústria e a agricultura, a exemplo do agronegócio e dos complexos agroindustriais. Processo esse justificado porque o capitalista deixou de ser apenas o dono da fábrica, passando agora a ser também o proprietário de terra, o latifundiário.

Mas, em oposição a essa sujeição e pela garantia de autonomia, ainda que relativa, a classe camponesa que resiste à lógica do capital, se reproduziu em estruturas não-capitalistas e vem garantindo seu território de trabalho e de vida. Este conflito entre capital e campesinato é travado por meio de uma luta desigual, onde o camponês objetiva a conquista de seu espaço de reprodução e o capital, o espaço para exploração de acumulação.

A realidade tem comprovado que ocorre, também, a expansão da agricultura camponesa, levando-se em consideração que essa é uma possibilidade de reprodução do capital, pois ainda que não se territorialize, monopoliza o território camponês, subordinando e apropriando da renda da terra camponesa. “[...], no Brasil, as relações econômicas – institucionais encontram sustentação em formas rentistas, as quais denunciam a natureza contraditória do desenvolvimento capitalista” (PAULINO, 2006, p. 27).

Quando se propõe analisar a questão agrária de determinada localidade, vale refletir os processos históricos de sua formação, inclusive as “amnésias” criadas com o objetivo de camuflar a realidade. Essa “amnésia social” contribuiu para ocultar ou minimizar a presença do campesinato, os movimentos sociais de luta pela terra e pela existência, possibilitando a criação de uma história de passividade no campo.

Enquanto para o modelo europeu no centro do desenvolvimento capitalista está o capital, no modelo brasileiro, profundamente marcado pela tradição da dependência colonial, a terra é essencial para o desenvolvimento capitalista porque propicia uma acumulação de capital com base no tributo e na especulação, isto é, com base na renda da terra (MARTINS, 1994, p.129).

Enquanto o campo foi marcado pelas desigualdades geradas pelo sistema, na figura do latifúndio e do monopólio comercial, as lutas no campo objetivaram criar possibilidades de acesso a terra e a permanência do camponês, garantindo sua autonomia de trabalho.

A concentração fundiária deste país tem início no período colonial, quando acontece a divisão territorial por meio das capitanias hereditárias, e posteriormente o regime de sesmarias. Esses ordenamentos do território foi uma tentativa de transposição da norma reguladora do processo de distribuição de terras e de propriedade da terra, o que permitiu e deu condição para a extração da renda da terra.

O sistema de plantation, pilar da economia no período colonial, estava baseado no tripé monocultura – latifúndio – trabalho escravo, possibilitando o acúmulo de riquezas da aristocracia e da oligarquia agrária. Esse sistema perpetuou por longas décadas, de forma a garantir a produção da monocultura de produtos para exportação; assim, abrindo possibilidade para a extração e exploração da renda da terra.

Desde esse período histórico, o comércio hegemônico domina as relações de produção; a economia movimentada pela circulação de mercadorias, permitindo ainda mais o aumento da produção. Porém, no período colonial, essas mercadorias não se tratam apenas dos produtos tropicais, mas também do forte comércio de escravos, pois a compra do trabalhador escravo permitia a obtenção de lucros antes mesmo da produção de outras mercadorias, se tratava da mercadoria que permitia a reserva de valor e produção de mais mercadorias, isto é, de mais valor.

O trabalhador escravo assumia uma dupla função no sistema escravocrata, ele era fonte de trabalho ao mesmo tempo em que era reserva de valor. Como fonte de trabalho estava pronto para assumir todo e qualquer tipo de trabalho, sua exploração estava regulada pelo montante pago por ele, o seu rendimento e o lucro médio.

Assim, como coloca Germani (1997, p.05), “estavam lançadas as bases de uma nova política econômica que se apoiavam em duas instituições – o sexmo e o engenho – os quais construíram os antigos pilares da antiga sociedade colonial”, ressaltando que nesse período o incentivo agrícola foi dado à produção em larga escala para abastecer o mercado europeu, pois não havia interesses na construção de uma colônia com uma produção agrícola de pequeno porte e caráter diversificado, já que o elemento norteador das políticas européias era o abastecimento mercado exterior. Portanto, a colonização do século XVI objetivou a colonização de caráter absolutamente mercantilista, sem o menor interesse à pequena propriedade.

Essa economia definiu-se por essa determinação da circulação sobre a produção e, sobretudo, pelo fato de que as mercadorias tropicais produzidas não eram as únicas mercadorias dessa economia, mas também o trabalhador escravo o era. O escravo era renda capitalizada, ou seja, seu preço nada mais era do que o lucro que se pretendia extrair dela. Assim, na economia colonial, sob o comando da circulação, o próprio escravo era mercadoria (OLIVEIRA, 1986, p.36).

Na Idade Moderna, a lógica capitalista se apropria de todas as relações, no qual o desenvolvimento do capital se dava em todo o mundo, apoiada e mascarada no discurso civilizatório. Como afirmou Paulino (2006, p.36), “[...] as diferentes formas de organização comunal vão sendo banidas, sobrevindo à lógica mercantil e ao princípio da acumulação ampliada”, instaurando brutamente a aculturação, desenraizamento e desterritorialização dos povos nativos.

Assim, a inserção do Brasil na rota das relações mercantis foi paulatinamente gerando uma classe social cuja identidade está na luta sistemática pela libertação do jugo representado pelo controle privilegiado da terra. A busca da terra livre tem sido uma resposta ao histórico processo de expulsão e migrações impostas pelo avanço do capital.

A influência e determinações inglesas no período colonial e do Império são essenciais para entender o processo de comercialização escravista e “abolição” da escravidão. A Inglaterra, no início do século XVII, foi a principal incentivadora e disseminadora da produção escravista de mercadorias por todo o mundo, movida por interesses comerciais, lucrou imensamente com o tráfico de escravos (negros africanos), principalmente para as Américas.

Ao passo que as colônias se tornavam cada vez mais sinônimo de exportação de mercadorias agrícolas, a Europa vai se tomando, pelos processos e transformações da industrialização, símbolo de modernidade e tecnificação, sendo cenário do desenvolvimento do sistema capitalista de produção no viés dos processos de urbanização, o que viria a influenciar e determinar vários elementos da produção e da economia colonial.

Para sucesso e progresso da industrialização, era necessária a criação de novas necessidades e de um mercado consumidor. Deste modo, fazia-se fundamental para o desenvolvimento industrial acelerado, importantes mudanças nas relações de trabalho, ou seja, a difusão do trabalho livre em todos os ramos da produção representaria a ampliação do mercado consumidor necessário para o desenvolvimento do sistema vigente. Nesse bojo, a pressão externa resultou na proibição do tráfico negreiro, abalando as economias coloniais.

O sistema escravocrata foi movido durante séculos pela hegemonia da circulação sobre a produção, e essa mesma hegemonia acabou por gerar a sua própria crise. Devido ao cenário da crise e às pressões externas, a abolição torna-se a saída capaz de amenizar as contradições do sistema e manter os acordos com os países aliados. No entanto, fazia-se necessária a manutenção das riquezas da oligarquia agrária e política e a continuidade da sujeição do trabalhador.

Pressionado pelos fazendeiros e atrelado à crise na Europa, o governo brasileiro lança projetos de incentivo a imigração de colonos estrangeiros, sobretudo europeus, vislumbrando estimular e aumentar a oferta de força de trabalho livre para as fazendas, principalmente para as de produção de café.

Assim como a crise no cativeiro6, como será colocada adiante, nasce a alternativa para a substituição do trabalho escravo pelo o trabalho livre. O incentivo à imigração veio a calhar para resolver o excedente de força de trabalho e crise na Europa, além das exigências dos fazendeiros brasileiros os quais alegavam que a força de trabalho disponível, ex-escravos e trabalhadores nacionais, não dariam conta do trabalho nas fazendas, fazia-se necessário uma alternativa.

Porém, vale ressaltar que os primeiros núcleos coloniais fundados com imigrantes surgiram antes da independência, marcando o início da imigração para o Brasil. A abertura dos portos, em 1808, permitiu o estabelecimento de estrangeiros no país, atraindo gente interessada, sobretudo nas atividades comerciais de importação - exportação.

No entanto, foi o interesse na colonização que marcou a política imigratória brasileira a partir de 1818, quando D. João VI autorizou a fundação das colônias Leopoldina, na Bahia, e Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, estabelecendo as bases da colonização: a cessão de terras à iniciativa particular com o ônus de promover a localização de colonos, e a ocupação de terras públicas, demarcadas em lotes, sob controle e administração do Estado.

O isolamento em relação ao mercado, a falta de recursos do Estado para investir nesse empreendimento e as pressões contrárias dos latifundiários à implantação de um modelo de agricultura não escravista teriam impedido a realização do objetivo da política de colonização de D. João. Mais do que ocupar o vasto território brasileiro, a vinda de migrantes europeus era motivada por um ideal “civilizador”, que incluía a vinda de camponeses (agricultores familiares livres) e de uma diversidade de técnicos e artesãos que deveriam difundir seus conhecimentos no território brasileiro.

As duas iniciativas de colonização não produziram os resultados esperados, dadas as condições precárias de localização dos colonos, mas sua implantação aponta para os princípios que nortearam essa forma de ocupação territorial, objeto do presente trabalho. Pretendeu-se analisar sucintamente um processo histórico de povoamento pela fixação de famílias de imigrantes em lotes coloniais, ocorrido em Jaguaquara na década de 1950, e a formação camponesa subsequente, apontando suas principais características.

As transformações políticas foram redefinidas, impossibilitando o acesso a terra e passando a ser legitimado e constitucional, isso proporcionou o aumento da propriedade privada da terra, concentrando ainda mais grandes propriedades de terra sob o domínio de

6 A crise do cativeiro aqui colocada está relacionada com o pensamento de Martins (2010), que afirma que quando a terra é livre, o trabalhador é cativo; quando esse trabalhador é livre, essa terra precisa ser cativa; se relaciona com a Lei de Terras de 1850.

poucos. Ao passo que historicamente concentravam-se grandes porções de terras nas mãos de poucos, o acesso a terra pelas massas populares estava cada vez mais distante, agora de forma legal, criando um obstáculo ao acesso a terra para os quem viviam do trabalho na terra.

Foi nessa conjuntura que foi pensado pelo Estado num marco legal de acesso a terra, elaborando a Lei 601, de 18 de setembro de 1850, a conhecida Lei de Terras de 1850. Essa foi resultado de lutas políticas profundas no interior da política do Império. Seus resultados não avançaram para além das condições possíveis, dentro deste ambiente de conflitos políticos e disputas pelo poder do Estado.

Como explica Martins (2010), em sua obra “O Cativeiro da Terra”, quando o homem é cativo, a terra é livre; quando o homem passa a ser livre, a terra torna-se cativa. Nesse momento a terra torna-se efetivamente reserva de valor. A Lei de Terras de 1850 significou a transformação da terra em mercadoria, objetivando o banimento do sujeito camponês do pacto civil. O título sobre a posse significa, no jogo do pacto político, a consolidação da existência camponesa; no campo civil é a identificação jurídico-institucional do pequeno produtor autônomo, significará o controle dos meios de produção, a possibilidade do capital se reproduzir.

A terra passou a ser incorporada à economia comercial, mudando a relação do proprietário com a propriedade. A terra, nessa nova perspectiva, transformou-se em uma valiosa mercadoria, com a capacidade de gerar ainda mais lucro, tanto por seu caráter específico quanto pela sua capacidade de produzir outros bens de consumo. O objetivo era o de dar à terra um caráter mais comercial e não apenas de status social.

Outro elemento que afetou o pequeno proprietário, camponês, foi a cobrança de impostos territoriais; os impostos era uma maneira de reforçar os recursos do Estado Imperial e desestimular os grandes latifúndios improdutivos. Na prática, sabe-se que isso nunca funcionou, pois os grandes proprietários são historicamente ligados ao poder estatal e nunca pagaram pelo direito a terra nesse país.

A terra deve ser de quem nela trabalha, o contrato da terra é a representação do controle sobre o trabalho, sobre o produto do trabalho.

Como sua terra é terra de trabalho, não é terra utilizada como instrumento de exploração da força de trabalho alheia, não é terra de uso capitalista, o que precisa extrair da terra não é regulado pelo lucro médio do capital, mas regulado pela necessidade de reposição da agricultura de tipo camponês. Por isso, a riqueza que cria realiza-se em mãos estranhas às suas, como renda que flui disfarçadamente para os lucros bancários, como alimento de custo reduzido que barateia a reprodução da força de trabalho industrial e incrementa a taxa de lucro das grandes empresas urbanas. (MARTINS,1986, p.176-177).

Mediante a Lei de Terras de 1850 e às condições materiais dos trabalhadores, o Estado impossibilitou que os trabalhadores (ex-escravos, trabalhadores nacionais livres, imigrantes) tivessem acesso a terra mediante a posse ou ocupação dessa terra que não fosse por meio do pagamento. Porém, é sabido que a maioria das propriedades de terra nesse país aconteceu por meio do processo de apossamento, no qual os grandes proprietários se apropriaram de grandes extensões de terras.

A estrutura das leis é imposta e aplicada pelo Estado. Essas leis têm um papel fundamental para a compreensão da aliança existente entre Capital e estado, aliança essa que nada mais é que uma armadilha para exploração, subjugação e expropriação do camponês, no âmbito agrário. O Estado deve ser entendido como o grande mediador dos conflitos existentes entre campesinato e capital. Dessa forma, Moura (1986, p.33) coloca que:

A força da lei está no cerne de constantes conflitos entre campesinato e as classes ou o sistema que o subordina de alguma forma, seja pela convivência conflitiva de antigos códigos, costumeiros que regulam a existência camponesa na família, no trabalho e na terra e que ficam em aberta contradição com os códigos nacionais, seja pela constante procura de novas saídas para pressões sofridas pela vigência de leis do Estado ou de concepções divergentes do que seja direito e justiça.

Dadas e gestadas as mudanças no sistema de produção brasileiro, a utilização do trabalhador ex-escravo apareceria como uma problemática, justificada através do entendimento de que, nesse momento, a força de trabalho passava a ser propriedade do escravo, havendo, com a liberdade, a possibilidade de assumir um sentido de negação desse trabalho, recusando a se submeter a certos processos do “trabalho livre”. Além disso, a disponibilidade e número de trabalhadores livres não dariam conta de atender às necessidades produtivas, assim justificavam-se os projetos e leis de incentivo à imigração.

A nova lei de terras (Lei 601, de 18.9.1850) veio para regular a propriedade da terra e seu art. 1º estabeleceu que a aquisição de terras devolutas (públicas) só podia ser feita por meio da compra. Não será comentado aqui os detalhes da lei e sua regulamentação pelo

Decreto 1318, de 30.1.1854, mas apenas observado que a transformação das terras devolutas em mercadoria trouxe mudança significativa no regime de colonização: os lotes agora só podiam ser concedidos por compra, mesmo nas colônias oficiais, isto é, aquelas sob administração do Estado. A maior parte da regulamentação diz respeito à demarcação, legitimação e venda das terras públicas (tendo em vista o regime anterior de sesmarias). Entretanto, seu efeito sobre a colonização ultrapassa essa questão, pois estabeleceu as regras de funcionamento da Repartição Geral das Terras Públicas, “encarregada de dirigir a medição, divisão, e descrição das terras devolutas, e sua conservação, de fiscalizar a venda e distribuição delas, e de promover a colonização nacional e estrangeira” – conforme o art. 21 da Lei n.601. Apesar da menção aos “nacionais”, na prática prevaleceu a colonização estrangeira, e na expansão posterior das áreas colonizadas, a maior parte dos brasileiros era constituída por descendentes de imigrantes.

Duas questões na Lei merecem destaque: A primeira delas é em relação ao processo que permitiu a concentração da competência sobre as terras devolutas e a colonização em um único órgão subordinado ao Ministério dos Negócios do Império, a Repartição Geral das Terras Públicas (que, na legislação posterior, até mesmo a republicana, mudou de nome muitas vezes, e passou ao Ministério da Agricultura, mas sem alterar suas finalidades). Ainda que as províncias tivessem autonomia para fundar colônias em terras devolutas sob seu controle, estavam subordinadas à legislação maior e sujeitas à regulação e fiscalização exercida por aquela repartição. Entre outras coisas, cabia a ela fixar o preço mínimo da braça quadrada, medida então usada na demarcação dos lotes.

A outra questão trata-se da referência à cessão de terras a título oneroso para empresas particulares, abrindo espaço para a colonização privada por meio de concessões de áreas maiores de terras devolutas para demarcação e venda a colonos. Na verdade, essa forma de colonização foi regulada por contratos celebrados entre empresas criadas com essa finalidade e o governo brasileiro, tornados públicos por decreto e sujeitos a fiscalização. A arregimentação de imigrantes na Europa, ou de colonos em outras regiões coloniais, nesse caso, cabia às empresas, assim como as despesas com a demarcação e localização em lotes coloniais. Nem sempre a venda das terras aos colonos cobriu os gastos, mas a maior parte das empresas teve sucesso, sobretudo após 1889, porque puderam contar com a parcela da população excedente nas regiões coloniais mais antigas, cuja reprodução social na condição camponesa estava ameaçada.

De acordo com a argumentação de seus idealizadores e defensores, atendia “a uma necessidade pública” – povoar os campos incultos com agricultores morigerados, ativos e

submissos às leis e autoridades. Por isso, a ênfase recaiu na imigração de famílias, preferencialmente originárias do meio rural, acostumadas às lidas agrícolas ou com alguma habilidade em artes e ofícios. Claro que nem todos os imigrantes destinados aos núcleos coloniais se enquadravam nesse perfil idealizado, e os problemas enfrentados pelas administrações coloniais, até mesmo movimentos sociais de alcance local ou reclamações, foram imputados a colonos desqualificados como “escória urbana”.

Apesar das críticas à política imigratória do Império, o modo republicano de colonizar não trouxe novidades após 1889. Manteve-se a forma de assentamento em linhas coloniais, a colonização continuou atrelada à imigração e as empresas privadas se multiplicaram. A figura do agenciador contratado pelo governo desapareceu na década de 1880, depois de constatadas irregularidades no recrutamento de imigrantes em alguns países europeus.

Os decretos regulamentam, em separado, três tipos de núcleos: fundados pela União, pelos Estados e por empresas de viação férrea ou fluvial, companhias ou associações e particulares. Estabelecem, também, o direito de o governo federal inspecionar os núcleos não oficiais, mesmo quando os fundadores não receberam recursos públicos. A definição do núcleo apresenta uma situação desejável, porém distante da realidade da maior parte das “colônias”, quase sempre estabelecidas em terras devolutas, embora estivessem previstas desapropriações de propriedades particulares (que deviam ser “adquiridas amigavelmente por compra”), cujo custo podia ser coberto pela venda de lotes. Assim, o acesso a terra era por

Documentos relacionados