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As transformações no espaço agrário de Jaguaquara (BA): instalação do Núcleo Colonial e a (re) criação do campesinato

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

INGRID MICHELLE COELHO SAMPAIO FÉLIX

AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO AGRÁRIO DE JAGUAQUARA

(BA): instalação do Núcleo Colonial e a (re) criação do campesinato

SALVADOR – BAHIA 2013

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AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO AGRÁRIO DE JAGUAQUARA

(BA): instalação do Núcleo Colonial e a (re) criação do campesinato

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, como pré-requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Geografia.

Professora orientadora: Gilca Garcia de Oliveira.

SALVADOR – BAHIA 2013

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___________________________________________________________________ F316 Félix, Ingrid Michelle Coelho Sampaio

As transformações no espaço agrário de Jaguaquara (BA) : instalação do Núcleo Colonial e a (re)criação do campesinato / Ingrid Michelle Coelho Sampaio Félix.- Salvador, 2013.

117 f. : il.

Orientadora: Profa. Dra. Gilca Garcia de Oliveira.

Dissertação (Mestrado em Geografia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal da Bahia, Instituto de Geociências, 2014.

1. Geografia humana - Jaguaquara (BA). 2. Camponeses. 3. Solo - uso. 4. Núcleo Colonial de Jaguaquara. I. Oliveira, Gilca Garcia de. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Geociências. III. Título.

CDU: 911. 3(813.8)

_______________________________________________________________ Elaborada pela Biblioteca do Instituto de Geociências da UFBA.

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A todos os trabalhadores colonos, camponeses, que têm na terra o sentido da vida. Aos meus pais, pela coragem e dedicação. À Mainha Lourdes, mulher, guerreira, que enfrentou a vida e lutou para criar seus filhos.

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Um trabalho que, por vezes, parece solitário, é resultado de um trabalho coletivo de superação, carinho, ajuda e orientação. Esse certamente não seria realizado sem a importante presença de pessoas essenciais e fundamentais para a minha vida.

Estranho na Academia começar com o agradecimento ao princípio-último de todas as coisas. Ainda sem sentido material, agradeço a Jeová Deus pela força e graça diária.

Aos meus pais, Célia e José Neto, e aos meus irmãos, Ingra e Igor, pelo amor incondicional, pela amizade, pelo companheirismo, pela força, mesmo não tendo, muitas vezes, a dimensão dessa caminhada. Apoiaram-me e fizeram-me acreditar que tudo acabaria bem. Vocês dão sentido a minha existência, são o meu equilíbrio, minha vida, permitem que alcance a máxima capacidade de amar.

A minha avó, Lourdes, mulher e guerreira, que me inspira e me encoraja na luta, faz brotar em mim o desejo de encarar a vida. Mainha, te amo imensamente!

Agradeço a toda a minha família, em especial a tio Nadinho, pelo amor paternal e cuidado de sempre; A tia Noélia, pelo amor, cuidado e conselhos de vida; A Tia Marlene, por ter me acolhido e ter cuidado de mim nessa trajetória; A Tia Leninha, pelas orações, apoio e cuidado com a família; A minha prima Elisama, pela convivência, companheirismo e consolidação de uma amizade; A Erivaldinho, pelas risadas em dias tão tumultuados; Ao meu avô Maximino (in memória), por ter despertado em mim, sem mesmo perceber e sem desejar, que havia contradições no campo, que havia explorador e explorado.

Ao querido Manoel, por ser tão companheiro e compreensivo, apoiando e dividindo as angústias e alegrias dessa caminhada.

A Alex Dias, amigo-irmão sempre presente, brutalmente amável, ao meu lado durante os anos acadêmicos. Obrigada pelas conversas, pelos conselhos, pelas boas risadas e pelo amor.

Aos amigos Sayuri e Vandemberg Salvador agradeço pelo carinho de sempre e desejo de felicidade e sucesso.

A Chris Fernandes, amiga mais doida, que nessa trajetória se fez presente, fortalecendo-me em palavras, gestos e cuidados, entendendo o silêncio… só tenho que te agradecer, minha Flor!

Aos amigas Patrícia Amorim e Deisy Rocha, pois mesmo distante, estamos juntos, apoiando no que for preciso. A Marcos Tavares, meu amigo, que foi tão importante para superar dias de tédio na cidade soteropolitana. A Guto, a alma antiga, amigo para todas as

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Ferreira, Dila, Maria Alice, Adriano, André Thibes, Cristiano Ruivo, Hilena, que muito me incentivaram no início do processo.

Aos meus queridos mestres e amigos Alesselma, Janio Diniz, Janio Santos, João Diógenes e Renato Léda, pelas dicas, ensinamentos e incentivos; Meirinha e Espedito Maia, pelo cuidado e carinho que sempre tiveram comigo.

A Suzane Tosta, grande exemplo de força, dedicação e competência, uma inspiração de mulher e profissional, que vem acompanhando e apoiando durante a trajetória na Geografia. Obrigada por ter aceitado a empreitada proposta!

A Guiomar Germani, ora tão mãe, ora até madrasta (risos), obrigada por ter me recebido, me apoiado, me ensinado… obrigada pela possibilidade de desenvolver um trabalho ao grupo, permitindo-me entender as contradições desse campo GeografAR.

A minha orientadora Gilca Garcia, por ter aceitado os tantos desafios, por me desafiar, possibilitando ver as diferenças. Obrigada, foi uma grande experiência!

A Maíra, minha amiga, irmã apresentada pela vida, obrigada pelo amor, pelo apoio, companheirismo, amizade, cuidado. Nessa trajetória você foi um pilar, um anjo, trouxe-me a esperança de que conseguiremos as melhores coisas da vida!

A Tiago e Kássia também tenho muito que agradecer, os dias inusitados, as risadas pelo trágico, sempre tão cuidadosos e amigos, pronto para ajudar, cheios de proteção e zelo.

Ao professor Levi Sampaio, uma pessoa maravilhosa, que contribui muito no mestrado, pelas aulas, conversas no corredor, conselhos e orientações.

A Leo Pessoa, amigo “cara lavada”, dentre tantos choros e risadas, sou grata pelo acolhimento, carinho, cuidado, pela amizade e parceria.

Ao grupo GeografAR, pelo acolhimento e ensinamentos para a vida inteira, em especial a Hernane, Rafaela, Pablício, Zaife, Adriele, Aullus, Denilson e Hingryd. Vocês são fantásticos!

Aos colegas pós-graduação, pelo convívio, pelos ensinamentos, pelos debates, em especial a Rubinho, Eliza, Soraia, Joseane, Rick, Priscila, Emilson, Ana, Adriano, Jamile Amaral, Cadu, Maria Alves, Mariana, Cléo, Paulinha, Flávio, Irani, André, Célio, Avelar, que trouxeram, nos dias cinzas, risadas ensolaradas.

Aos professores do PPGEO – UFBA, pelas lições e a aprendizagem, especialmente aos Professores Antônio Ângelo Fonseca, Alcides Caldas e Diego Maia.

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À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, pela concessão de bolsa de mestrado, possibilitando o financiamento deste estudo.

Aos que vieram depois, mas que me deram força para superar todas as mazelas e descompassos, que estiveram comigo, me apoiando e esperando o fechamento desse ciclo. Meu imenso obrigado – Alexandrina Luz, grande amiga e mestre; Berg Marinho – companheiro para toda uma vida; Raquel Souza – grande incentivadora e conselheira; Patrick – my teacher, camarada.

Enfim, de tantos desafios, dentre muitos “latejos” e aflições, risadas e lágrimas, o mestrado me presenteou com pessoas maravilhosas, ensinamentos eternos, pesquisa de uma realidade fascinante e a certeza de que condição é privilegiada nesse mundo de contradições.

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“Reconhece a queda e não desanima Levanta, sacode a poeira E dá a volta por cima” (Paulo Vanzolini)

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Este trabalho tem como objetivo principal investigar as transformações ocorridas no espaço agrário de Jaguaquara (BA), com a instalação do Núcleo Colonial de Jaguaquara e as condições de (re) criação do campesinato, tomando como base os processo de imigração e a figura do colono. Esta foi uma tentativa de entender a realidade do município em estudo, a partir da experiência da instalação de um núcleo colonial na década de 1950, no qual a conformação da figura do sujeito colono foi fundamental para a sua consolidação, promovendo mudanças no espaço agrário e considerando as mudanças na ocupação do espaço, decorrentes da intensificação da produção para o mercado e a conformação de famílias de colonos que contribuíram para a diversificação da produção e a sua (re) criação na condição de camponeses-colonos. Ao entender a movimentação colonizadora como uma das causas da imigração, anuncia-se a possibilidade de acesso a terra em novas frentes visualizadas como “pioneiras”, ressaltando que o processo imigratório ocorreu conforme uma movimentação interna que pressionava no sentido de atender as necessidades de produção e abastecimento de alimentos para a sociedade que ocupava as cidades – o espaço urbano. Havia, nesse sentido, a necessidade de criar uma categoria de sujeitos produtores que dessem conta de produzir para atender a esse mercado. Por esse motivo, o fenômeno migratório o qual Jaguaquara faz parte, seja como “lugar de destino”, seja como novo “lugar de origem”, não pode ser visto isoladamente, mas sim como o resultado de um processo global de mudanças na produção. A instalação do Núcleo Colonial de Jaguaquara fez parte de um projeto de colonização nacional, no qual objetiva a ocupação de terras, tornando-as produtivas e resolvendo um problema de distribuição de terras, abastecimento de alimentos e recebimentos dos imigrantes europeus, criando mecanismos nos quais trabalhadores livres foram inseridos em um modelo de trabalhador da terra – o colono. Esses sujeitos que se instalaram nas terras da Colônia e se inseriram na lógica de produção de base familiar foram, neste trabalho, tratados como camponeses-colonos, ou simplesmente, colonos. São identificados e classificados como camponeses por se tratar de trabalhadores familiares policultores, que produzem uma agricultura de autoconsumo, associada à produção orientada, em maior ou menor grau, para o mercado.

Palavras-Chave: Produção do Espaço. Campesinato. Camponês-Colono. Núcleo de

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This work aims to investigate the changes in the agrarian space Jaguaquara (BA) with Core installation Colonial Jaguaquara and conditions for the (re) creation of the peasantry, based on the immigration process and the figure of the settler. In an attempt to understand reality Jaguaquara from experience installing a colonial core in the 1950s, in which the conformation of the figure of the settler subject was fundamental to its consolidation, promoting changes in the agrarian landscape of the municipality, including changes in land use resulting from the intensification of production for the market and the conformation of settler families who contributed to the diversification of production and its (re) creating the condition of peasant-settlers. Understanding the colonization movement as one of the causes of immigration, announced the possibility of access to land in new areas viewed as "pioneers," says the immigration process occurred according to an internal movement that pressed in order to meet production needs and food supplies for the company that occupied the cities, the urban space. There was accordingly a need to create a category of subject producers would realize produce to serve this market. For this reason Jaguaquara migration phenomenon in which a part, either as "place of destination", either as new "place of origin", can not be seen in isolation, but rather as the result of an overall process of production changes. The Core installation Colonial Jaguaquara was part of a project of national colonization, in which objective the occupation of land, making them productive and solving a problem of land distribution, food and receipts of European immigrants supply, creating mechanisms where free workers were inserted into a model of the earth work, the colonist. Those subjects who settled in the lands of the Colony and were inserted in the logic family based production, will, in this work, treated as peasant-settlers, or simply settler. Are identified and classified as peasants because it is toolcarriers family workers, who produce agriculture for own consumption associated with the production oriented to a greater or lesser degree, to the market.

Key-Words: Production of Space. Peasantry. Peasant-Colonist. Core Colonization.

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Figura 1 Localização do município de Jaguaquara (BA) e do Núcleo de Colonização

de Jaguaquara ... 21

Figura 2 Decreto de Mudança de nomenclatura – Lei nº 174 ... 60

Figura 3 Estrada de Ferro de Nazaré – Estação JAGUAQUARA (1926) ... 62

Figura 4 Planta do Núcleo Colonial de Jaguaquara ... 70

Figura 5 Rotas dos Navios Italianos para o Brasil ... 71

Figura 6 Embarque dos italianos no porto de Genova para a Bahia ... 72

Figura 7 Grupo de Italianos designados ao Núcleo Colonial de Jaguaquara (maio de 1950) ... 72 Figura 8 Jantar aos colonos recém chegados em Jaguaquara (BA) – 1950 ... 73

Figura 9 Desfile de boas vindas à chegada dos italianos – maio de 1950 ... 74

Figura 10 Chegada dos italianos em Jaguaquara (BA) – maio de 1950 ... 74

Figura 11 Sede do Núcleo Colonial de Jaguaquara ... 76

Figura 12 Chegada dos italianos em Jaguaquara (BA) – dezembro de 1950 ... 77

Figura 13 Baile em comemoração à chegada das famílias italianas – dezembro de 1950... 78 Figura 14 Café produzido pelos Colonos ... 103

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Tabela 1 Jaguaquara (BA): População (1940 a 1970) ... 63

Tabela 2 Estrutura Fundiária de Jaguaquara (BA) – (1940 – 1970) ... 64

Tabela 3 Estrutura Fundiária de Jaguaquara (BA) – (1970 – 2006) ... 100

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Pág

1 INTRODUÇÃO ... 14 2 CAMPESINATO E PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO: transformações,

recriações e permanências ... 22 2.1 CAMPESINATO: discussão do conceito e do sujeito ... 24 2.1.1 Interpretações marxistas e clássicas em torno do campesinato …...……….

2.1.2 Camponeses: estudos brasileiros do conceito e do sujeito ………...… 27 32 2.2 PRODUÇÃO E TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO AGRÁRIO ... 39

3 ESTRUTURA FUNDIÁRIA E AS TRANFORMAÇÕES NAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO NO CAMPO DE JAGUAQUARA ... 58 3.1 ESTRUTURA TERRITORIAL DE JAGUAQUARA: caracterização de área e

processos históricos ... 59 3.2 MUDANÇAS NA AGRICULTURA: a criação do Núcleo Colonial de

Jaguaquara ... 69

4 TRABALHADORES, CAMPONESES E TAMBÉM COLONOS: o processo de (re) criação camponesa e as práticas de distinção no campo jaguaquarense ... 85 4.1 ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL: produção,

comercialização e condições de (re) produção ... 89 4.1.1 As relações de produção e comercialização como possibilidades de

recriação ... 101

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 109 6 REFERÊNCIAS ... 113

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Esta dissertação, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia, tem como objetivo principal investigar as transformações ocorridas no espaço agrário de Jaguaquara (BA) com a instalação do Núcleo Colonial de Jaguaquara e as condições de (re) criação do campesinato, tomando como base os processos de imigração e a figura do colono.

Este trabalho se vincula ao Grupo de Pesquisa GeografAR – Geografia dos Assentamentos na Área Rural, que busca analisar o processo de (re) produção do espaço no campo baiano, entendendo a correlação de forças definidas pelas ações políticas dos sujeitos sociais organizados. Tais processos são percebidos pelas distintas conformações no território, no qual reivindicam ao Estado, através de suas políticas públicas, o direito histórico da conquista e do reconhecimento para a garantia da reprodução social da vida.

O resgate de categorias e conceitos, como campesinato, espaço agrário, imigração e projetos de colonização, foi realizado na tentativa de entender a realidade de Jaguaquara a partir da experiência da instalação de um núcleo colonial na década de 1950, no qual a conformação da figura do sujeito colono foi fundamental para a sua consolidação, promovendo mudanças no espaço agrário do município. Sendo assim, há de considerar as mudanças na ocupação do espaço, decorrentes da intensificação da produção para o mercado e a conformação de famílias de colonos que contribuíram para a diversificação da produção e a sua (re) criação na condição de camponeses-colonos.

Nesse bojo, entende-se que essa questão é de muita importância para a elaboração de teorias agrárias e entendimento da realidade, em que os colonos podem ser uma categoria da classe camponesa para entender o campo e as relações sociais distintas, tendo em vista suas características de reprodução. Daí o interesse da Geografia em seu estudo, não podendo deixar de discutir a temática devido ao seu caráter social e de produção espacial.

A produção do espaço geográfico, analisada a partir da totalidade, é produto das contradições e da dialética social, mediadas pelo trabalho no processo histórico de apropriação e transformação da natureza. O espaço geográfico é a materialidade do processo de trabalho, ou seja, é o espaço produzido pelo procedimento do trabalho, que produz e reproduz as relações sociais e, ao mesmo tempo, é condição para essas, por se tratar de uma unidade dialética; é um processo contínuo de transformação, desenvolvendo-se com a modificação das sociedades.

Ao considerar a movimentação colonizadora como uma das causas da imigração, anuncia-se a possibilidade de acesso a terra em novas frentes visualizadas como “pioneiras”. Mas a imigração ocorreu conforme uma movimentação interna que pressionava no sentido de

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atender às necessidades de produção e abastecimento de alimentos para a sociedade que ocupava as cidades – o espaço urbano. Havia, nesse sentido, a necessidade de criar uma categoria de sujeitos produtores que dessem conta de produzir para atender a esse mercado. Por esse motivo, o fenômeno migratório no qual Jaguaquara faz parte, seja como “lugar de destino”, seja como novo “lugar de origem”, não pode ser visto isoladamente, mas sim como o resultado de um processo global de mudanças na produção.

Entretanto, não se deve deixar de lado a verificação do processo de apropriação e produção do espaço agrário e atuação do capital, pois monopoliza a circulação e comercialização de mercadorias e subordina o camponês – o camponês-colono – , sem perder de vista o significado da terra para a classe camponesa, que significa a base territorial para reprodução material da vida.

A instalação do Núcleo Colonial de Jaguaquara fez parte de um projeto de colonização nacional, no qual objetiva a ocupação de terras, tornando-as produtivas e resolvendo um problema de distribuição de terras, abastecimento de alimentos e recebimentos dos imigrantes europeus, criando mecanismos nos quais trabalhadores livres foram inseridos em um modelo de trabalhador da terra, o colono. Esses sujeitos que se instalaram nas terras da Colônia e se inseriram na lógica de produção de base familiar foram, neste trabalho, tratados como camponeses-colonos, ou simplesmente colonos. São identificados e classificados como camponeses por se tratar de trabalhadores familiares policultores, que produzem uma agricultura de autoconsumo, associada à produção orientada, em maior ou menor grau, para o mercado.

Nessa perspectiva, o camponês é o trabalhador que tem na terra as possibilidades de se reproduzir enquanto sujeito social, que tem a terra como meio de trabalho e como possibilidade para suprir as suas necessidades e de sua família, produzindo, para se reproduzir enquanto sujeito, utilizando prioritariamente a força de trabalho familiar.

Faz-se necessário, portanto, compreender a distinção entre quem trabalha na terra e a tem como meio de trabalho, e a de quem explora de quem nela trabalha e tem a terra como meio de renda. A terra deve ser de quem nela trabalha, o contrato da terra é a representação do controle sobre o trabalho, sobre o produto do trabalho, ou seja, mais um artifício do capital para controlar a renda da terra.

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Metodologia

Esta pesquisa partiu de algumas questões importantes e determinantes que estimulou a se pensar alguns elementos fundamentais para entender as transformações e a produção do campo jaguaquarense, tendo como os principais questionamentos: a) Quais os processos que levaram a implantação de um núcleo colonial em Jaguaquara? b) Quais as transformações ocorridas no espaço agrário de Jaguaquara com a implantação do Núcleo Colonial? c) Até que ponto as relações de produção estabelecidas pelos colonos conseguem sobreviver frente às demandas do mercado? d) Existe um campesinato proveniente do projeto de colonização em Jaguaquara (BA)?

Para responder aos questionamentos levantados como norteadores da pesquisa, estabeleceu-se como objetivo principal analisar a produção do espaço agrário de Jaguaquara - BA a partir das transformações ocorridas com a instalação do Núcleo Colonial de Jaguaquara e da (re) criação do campesinato. Como objetivos secundários:

• Caracterizar o sujeito camponês enquanto classe social;

• Entender as políticas de colonização voltadas para o campo, especificamente no período pós- II Guerra Mundial;

• Identificar as mudanças ocorridas na agricultura jaguaquarense a partir da implantação do Núcleo Colonial de Jaguaquara;

• Caracterizar o sujeito camponês-colono que compõe o Núcleo Colonial;

• Apreender os aspectos da organização econômica e social dos camponeses-colonos. Com base nos objetivos e nas questões que impulsionaram esta pesquisa, procurou-se estabelecer um diálogo com a literatura existente sobre os camponeses, projetos de colonização e com a implantação de um núcleo colonial no município de Jaguaquara (BA), de modo que se possa compreender a trajetória desses sujeitos como camponeses-colonos. Para o entendimento do camponês enquanto classe social, a leitura de bibliografia, considerada clássica em sua definição, foi de extrema importância, ainda que a leitura do campesinato funcione como um modo de vida. Essa bibliografia foi ponto de apoio para o aprofundamento da pesquisa teórica acerca do conceito e do entendimento do sujeito, tendo as produções do pensamento marxista, atual ou não, realizadas por estrangeiros e brasileiros; essas obras compuseram fundamentalmente a bibliografia consultada para a construção do capítulo 2 desta dissertação.

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Ainda no capítulo 2 trabalhou-se na busca pela construção, não de forma linear, da discussão em torno da produção do espaço agrário brasileiro, apontando os elementos que tratam de projetos e políticas nacionais para a colonização, onde são expostas informações que mostram como foi pensada os núcleos de colonização e como esses são visíveis na implantação do núcleo colonial em Jaguaquara (BA).

Um aspecto importante para o desenvolvimento do texto e para a reconstrução histórica dos processos que resultaram na implantação do Núcleo de Colonização, está relacionada à utilização de documentos: procurou-se valorizar as fontes primárias, os “deixando falarem”, porém, não significa que o autor não tenha feito as leituras e colocado as suas interpretações da realidade estudada. Vale ressaltar que os recursos das fontes não tiraram a extrema e valorosa importância que tiveram as entrevistas, os depoimentos concedidos pelas 17 famílias entrevistadas, fundamental para cumprimento dos objetivos aos quais este trabalho se propôs.

Nesse bojo, as entrevistas, declarações, os relatórios e fotografias foram essenciais para documentar a realidade e as posições relativas dos grupos e organizações que compunham o espaço agrário e o Núcleo Colonial de Jaguaquara, sejam eles colonos nacionais ou estrangeiros, sendo camponeses ou não, para assim construir a segunda parte do capítulo 3, esclarecendo que o este projeto foi implantado como parte de uma política nacional de colonização e ocupação de terras, além da proposta de produção para o mercado. O capítulo 3, dentro da proposta do trabalho, buscou alcançar e responder os principais questionamentos sobre a implantação do Núcleo e as significativas mudanças no espaço agrário de Jaguaquara (BA), para isso precisou-se entender a área de forma geral, a formação agrária e estrutura fundiária do município, fazendo referência aos primeiros vinte anos de sua implantação.

O quarto capítulo procura demonstrar, a partir da compreensão das relações comerciais e de produção, a distinção e definição desses sujeitos como camponeses-colonos no contexto social em que estão inseridos, no que diz respeito à sua reprodução social e ao significado que atribuem a terra como meio de produção. Desenvolve-se, assim, em torno da ideia da utilização da força de trabalho familiar como base na organização camponesa. Enfatiza-se, ainda, que o vínculo de camponeses com estruturas de poder mais amplas matiza as suas condições de vida. A partir dos processos de (re) criação camponesa e das práticas de distinção no campo, a proposta firma-se sobre as mudanças recentes no modo de vida e reprodução camponesa, tendo como base os sujeitos que são oriundos do projeto de colonização realizado em Jaguaquara (BA).

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Nesse capítulo 4 foram analisadas as mudanças e elementos fundamentalmente no período posterior a 1970, pelo fato de esse ano ser marcado pela saída da administração do governo da Bahia, depois de vinte anos após a instalação do Núcleo e chegada desses sujeitos as terras jaguaquarenses, permitindo considerar a atual configuração territorial do campo jaguaquarense por meio da introdução de novas técnicas de produção, intensificação da relação com o mercado e valorização das terras, levando-se, também, em consideração os aspectos da organização econômica e social.

Por meio dos processos imigratórios e o projeto de colonização, é possível compreender algumas das combinações de estratégias de uso diversificado da força de trabalho familiar, em diferentes tempos. Nesse viés, a pesquisa buscou a fundamentação teórica e metodológica aptas a demonstrar e compreender as contradições sociais existentes na produção do espaço geográfico, especificamente do espaço agrário jaguaquarense. Com os objetivos definidos, a fim de alcançá-los, o trabalho realizou-se na tentativa de compreender e caracterizar esse camponês-colono e o seu modo de vida, a partir das relações capitalistas e não capitalistas de produção.

O debate perpassa pela caracterização dos camponeses-colonos nos dias atuais, bem como esses sujeitos, que produzem numa lógica diferenciada do capital, sobrevivem e reproduzem, (re) criando conforme as condições encontradas, a manutenção de uma agricultura de subsistência e sua relação com o mercado.

Buscou-se entender a totalidade do processo das transformações do campo, a definição do recorte empírico e a análise sobre até que ponto as teorias se aplicam na realidade, além da diferenciação da reprodução do mesmo processo em lugares distintos, para então entender esses sujeitos que transformaram o espaço agrário jaguaquarense, chamando a atenção para o fato de que o campesinato dessa região tenha passado por vários momentos de crise durante sua formação histórica sem, contudo, desaparecer integralmente.

Dessa maneira, este estudo, que tem um caráter científico e também um propósito social, pretendeu analisar e compreender essencialmente o espaço agrário e sua realidade social através das contradições das relações de produção, a partir das concepções de mundo e da práxis (relação teoria e prática). No entanto, que são defendidas, nesta pesquisa, são as possibilidades de contribuição para a produção da Ciência Geográfica e das ciências sociais no geral.

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Caracterização da área

O Núcleo Colonial de Jaguaquara está localizado no município de Jaguaquara (BA) (Figura 1), esse situado no Centro-Sul da Bahia, latitude 13º31’50’’ e longitude 39º58’15’’ O, tendo uma área de 960.398 km², distanciando-se 312 km da capital Salvador. O município se encontra numa área de planalto, com o relevo rigoroso e irregular, possuindo uma variação topográfica de 350 a 800 m de altitude, no qual sua altitude média atinge 667m.

Com um relevo bastante acidentado, se encontra no chamado Planalto Itiruçu-Jaguaquara, possuidor de um grande número de pequenos rios em geral intermitentes, sendo comum nas propriedades a construção de poços e tanques, a fim de suprir as necessidades em épocas de estiagem, tendo como os rios mais importantes o Rio Jequiriçá e o Rio das Almas. Sua posição cartesiana coloca-a parcialmente no polígono das secas, mas, especificamente, em uma zona de transição, no contato entre a mata tropical hidrófila, mata de cipó e caatinga. Como os terrenos do município são bastante diversificados, não há como generalizar a produção agrícola de toda a área do Núcleo.

A área cedida pelo Governo para instalação da sede da colônia localizava-se a, aproximadamente, 7 km da sede municipal. A colônia ocupava uma área 1770 ha, com pequenos cursos d’água, dividido em 52 lotes, que variavam entre 30 a 35 hectares.

Tornou-se importante produtora de alimentos, destacando o feijão, milho, mandioca, maracujá, tomate, pimentão, repolho, batata e café. O símbolo da produção agrícola colonial em Jaguaquara é o tomate e a batata, contudo, requerem cuidados mais específicos; o pioneirismo do projeto de colonização é refletido nos produtos agrícolas inseridos na produção municipal.

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2 CAMPESINATO E PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO: transformações, recriações e permanências

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A (re) criação e reprodução do campesinato na sociedade contemporânea é uma realidade social no mundo inteiro, não se trata de um resquício ou uma anormalidade do sistema. A universalidade de sua presente existência consegue se manter nos diversos espaços e em tempos distintos, confrontando com a lógica de homogeneização promovida pelo capital. Quando se estabelece que as transformações e a formação social se estabelecem a partir da relação dialética, entende-se que os processos são contraditórios, no qual a interação do todo e das partes são apreendidas de uma só vez, apesar de diferentes, estão relacionadas.

O camponês por inúmeras vezes foi tratado como sinônimo de atraso, pela forma tradicional de reprodução, considerado frágil e dependente pela relação subalterna que estabelece com o mercado capitalista. Tal análise negligencia os processos históricos de consolidação dessa classe, a sua permanência, recriação e resistência por meio de lutas.

É preciso entender o campesinato brasileiro e jaguaquarense tendo sua origem na Idade Moderna, na égide do capitalismo, na qual sua lógica já estava incrustada em todas as relações. Dessa maneira, o campesinato não é desconhecido ou estranho ao capital, mas necessário a sua reprodução. Nesse bojo, quando se trata de camponês, procura entendê-lo na sua unidade de produção, na força de trabalho familiar, nas características sociais e econômicas, e nas contradições da realidade sob o modo de produção capitalista.

Na ordem social moderna, as categorias Terra, Trabalho e Família, em algumas leituras, são analisadas e definidas de forma independente, de maneira mecânica, como se explicassem por si mesmas. No entanto, estas categorias necessitam ser apreendidas na sua totalidade, de forma inter-relacionadas pelas relações sociais a que estão sujeitas, permitindo entender a dimensão das principais questões que envolvem a discussão sobre o espaço agrário, e sobre o campesinato, principalmente se tratando do camponês-imigrante, colono.

Nesse sentido, quando se analisa o espaço agrário, é preciso estar claro que esse é dinâmico e adquire características próprias devido a sua complexidade e suas múltiplas variáveis advindas do movimento da realidade. Dessa forma, este trabalho busca contribuir com o debate acerca da produção do espaço agrário e suas contradições, enfocando recriação de um campesinato de origem colonial, de um processo migratório, a partir de uma política de colonização nacional implantada no município de Jaguaquara (BA).

A agricultura camponesa no Brasil se implantou nos interstícios dos espaços ocupados pela monocultura e pela pecuária extensiva. Se a análise sobre o campo partisse da ideia de que os sujeitos que produzem o espaço agrário brasileiro fossem, em sua totalidade, trabalhadores rurais assalariados ou sem-terras, ou ainda pequenos proprietários

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completamente inseridos e integrados à produção e ao mercado capitalista, seria uma análise equivocada, que não possibilitaria entender a totalidade do espaço agrário brasileiro.

Profundas determinações do campesinato brasileiro se desenvolvem no período colonial e no sistema de produção capitalista, principalmente no que tange a sua expropriação no sentido social, econômico e político, a dificuldade do direito e acesso a terra, restando como alternativa a posse precária e a luta pela permanência.

Por isso que se faz importante definir esses sujeitos. Para tanto, fez-se necessário retomar algumas de suas raízes epistemológicas, possibilitando compreender a formação do espaço agrário brasileiro sem máscaras, longe da ideia de que esse tenha sido formado a partir de movimentos pacíficos, para que assim possibilite entender o campo jaguaquarense no território brasileiro. É fundamental avaliar o contexto em que estão inseridos os camponeses.

2.1 CAMPESINATO: discussão do conceito e do sujeito

O campesinato é um conceito que não perpassa apenas no campo ideológico, mas que expressa e se materializa na prática, que ajuda a compreender a realidade agrária brasileira. O conceito camponês, além de seu significado político e da construção de pensamento acadêmico, reflete a história social em sentido amplo. Aqui serão tratados e entendidos como classe social pela sua capacidade de criação e recriação.

Como classe sui generis do capitalismo, sua singularidade se manifesta na experiência única de reprodução, a qual se baseia no próprio controle sobre o trabalho e sobre os meios de produção. É o que lhes permite conservar a capacidade de produzirem seus próprios meios de vida, ainda que as condições concretas de reprodução de cada família nem sempre o determine (OLIVEIRA, 2006, p.16).

Não se trata de uma independência dos fatores e das relações capitalistas, pois há sujeição de renda, de produção, mas uma independência no modo de produção, possibilitando a sua recriação; há uma relativa autonomia campesina, mas também há sujeição desses sujeitos ao mercado capitalista; é a materialização da relação dialética entre o tradicional e moderno.

Como acrescenta Marques (2002, p.2),

A ordem social moderna é organizada pelo mercado e pelo princípio de competição, tendo como valores o indivíduo e a razão.

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A relação dialética entre tradição e modernidade perpassa toda a cultura brasileira. Não há um destino pré-determinado para o campesinato na sociedade brasileira. O destino dessa classe social é definido ao longo de sua própria história pelas posições que ocupa no campo de lutas que se forma em torno da questão agrária.

Utilizando a lógica da teoria da modernização, o campesinato a fragiliza, desmascara, no momento em que demonstra que o acesso à técnica, às formas de produção não destroem a lógica camponesa, pelo contrário, percebe-se a sua recriação em outro contexto, com outras possibilidades. O campesinato é a expressão contraditória de um modo de produção cuja mola propulsora não é somente a mercadoria, mas também a acumulação.

O campesinato possui uma organização da produção baseada no trabalho familiar e no uso como valor. O reconhecimento de sua especificidade não implica a negação da diversidade de forma de subordinação às quais pode apresentar-se submetido, nem da multiplicidade de estratégias por ele adotadas diante de diferentes situações e que podem conduzir ora ao ‘descampesinamentos’, ora à sua reprodução enquanto camponês (MARQUES, 2002, p.2).

O conceito de campesinato é um conceito atual e permanente, podendo ser entendido como uma classe social integrada à vicissitude de forças sociais e econômicas do mundo contemporâneo. No Brasil essa classe se destaca pela força de trabalho familiar, e a forma como se articula com o mercado local e o mercado capitalista, levando em consideração as singularidades atreladas à totalidade da dinâmica de reprodução. Como confirma Marques (2002, p.3),

O campesinato se refere a uma diversidade de formas sociais baseadas em diferentes relações de trabalho e de acesso à terra [...]. Porém, na década de 70, o conceito de pequena produção passa a ser usado como alternativa ao de camponês por seu caráter operacional e por, supostamente, melhor representar a realidade de um campo submetido pelo Estado à desarticulação de seus movimentos sociais e a um conjunto de políticas de cunho modernizante.

Sua relação com o mercado acontece de maneira distinta, se comparado aos produtores capitalistas, devido à especificidade do modo de produção, pois ainda que parte da produção seja destinada ao mercado, esse sujeito a faz para garantir melhores condições de reprodução de sua família. Nesse sentido, Souza (2008, p.125) reflete acerca do exposto, afirmando que

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A classificação do quão o camponês está ou não vinculado ao mercado para deixar de sê-lo (camponês) não tem sido teórico, pois não explica. Ou seja, o que interessa são as relações sociais estabelecidas, pois, como afirmado anteriormente, vinculado ao mercado ele sempre esteve. [...] Embora os camponeses estejam totalmente inseridos no mercado – sabemos que o mercado sempre vez parte da vida camponesa – esta relação é o meio para manter e ampliar a sobrevivência e não o fim e objetivo da vida.

A atividade camponesa não inverte as bases da acumulação ampliada. Mesmo sendo uma atividade baseada numa outra lógica de produção, permite a acumulação dos setores capitalistas, pois o excedente de renda gerado é possível ser apropriado pelo capital, direta ou indiretamente.

Os camponeses também formam uma categoria política que explicita as contradições do processo histórico, expressam uma identidade, valores e possibilidades de organização social, que foi materializada através de lutas. Tal organização social é fortalecida devido às especificidade da organização interna da unidade de produção, que os diferenciam dos outros trabalhadores rurais e urbanos, pois operam sob os princípios da força de trabalho familiar, manutenção dos meios de produção, reciprocidade e forma de produção, que objetiva a condição de vida e a reprodução de sua família.

O campesinato brasileiro é a expressão permitida de outra forma de produção que não a capitalista, sob determinada estrutura e certas formas de negação política. Por isso, deve ser analisado a partir do contexto histórico em que está inserido e da estrutura de sociedade em que se reproduz. Esses fatores interferem nas formas de produção e na vida social. Dessa maneira, não se pode perder de vista que os sujeitos aqui tratados estão vinculados ao desenvolvimento desigual e combinado do capital; ao desenvolvimento ampliado de reprodução do capital; às políticas de colonização. Esse sujeito não é estranho/desconhecido ao capital, mas necessário para a sua reprodução.

Esse entendimento está em consonância com estudos desenvolvidos por Teodor Shanin, Margarida Moura, José de Souza Martins, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Marta Inez Marques, Alexandrina Luz Conceição, Suzane Tosta Souza, Eliane Tomiasi Paulino, Antonio Tomaz Junior, Guiomar Germani, entre tantos outros.

Com a compreensão do contexto social, percebe-se que, por muito tempo, o estudo do conceito e do sujeito foram renegados e estiveram distantes das preocupações intelectuais e políticas progressivas das décadas de 1940 a 1960. Tais políticas estavam focadas na industrialização, na modernização e no fim do “tradicional”, pois previam o desaparecimento do camponês no mundo pós-colonial, devido ao avanço do capital no campo, retificando que

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esses sujeitos teriam alternativa caso se inserissem na lógica de produção capitalista ou tornassem-se trabalhadores assalariados.

2.1.1 Interpretações marxistas e clássicas em torno do campesinato

Marx, quando se dedicou ao desvendamento das contradições essenciais do modo de produção capitalista, baseou-se na tríade TERRA, TRABALHO e CAPITAL. Os estudos e reflexões sobre a questão agrária foi influenciado por concepções teóricas do interior da discussão, apoiadas em teorias de Lênin, de Kautsky e de Rosa Luxemburgo.

A leitura desses autores é importante, visto que fazem uma reflexão no que foi dito, além de perpetrarem o contexto histórico, podendo avançar na teoria a partir da realidade analisada. Numa das interpretações sobre as contribuições desses teóricos para os estudos da questão agrária, Marques (2002) afirma que:

[...] apoiando-se em Lênin, consideravam que este segmento social estava fadado à extinção e que daria lugar a uma realidade polarizada entre trabalhadores assalariados e capitalistas, pequenos e grandes. [...], inspirando-se na idéia de acumulação primitiva continuada de Rosa Luxemburgo, afirmavam a permanência do campesinato no interior da agricultura capitalista (MARQUES, 2002, p.04).

Lênin foi cauteloso ao tratar da agricultura para autoconsumo, compreendendo a diferença da agricultura mercantil, principalmente no que tange à eliminação da pequena propriedade, afirmando que a lei da eliminação da pequena propriedade de produção pela grande propriedade, só é aplicável na agricultura mercantil.

Na sua obra “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia” (1985), publicada em 1899, Lênin realizou seu estudo na Rússia e indicou que o processo capitalista estava provocando uma “decadência do estabelecimento, a ruína do camponês e sua transformação em operário além da ampliação da unidade agrícola e a transformação do camponês em empresário rural” (1985, p.83).

Lênin (1985, p.113) partiu de uma análise que tinha como centralidade a acumulação e a exploração, o que o impediu de visualizar a transição entre camponês servo e camponês livre. Para ele, o camponês

Não era antagônico ao capitalismo, mas, ao contrário, é a sua base mais profunda e sólida. A mais profunda porque é no seu interior mesmo, (...) que constatamos a formação constante de elementos capitalistas. A mais sólida

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porque é sobre a agricultura em geral e o campesinato em particular que pesam mais intensamente as tradições da Antiguidade, (...) é aí que a ação transformadora do capitalismo se manifesta mais lenta e mais gradualmente.

Analisando o camponês livre, não percebeu que esse poderia se desenvolver no seio do capitalismo moderno, sendo contraditoriamente necessária à reprodução do capital.

A discussão de Lênin talvez esteja calcada nos níveis de opressão e exploração praticados tanto no feudalismo, quanto no escravismo moderno. O escravismo moderno é uma relação eminentemente mercantil, estruturada em bases distintas as da servidão feudal, não havendo, nesta última, uma característica típica para o desenvolvimento do capital, a mobilidade da força de trabalho. Por conta dessas questões, “O campesinato antigo não se “diferencia” apenas: ele deixa de existir, se destrói, é inteiramente substituído por novos tipos de população rural, que contribuem a base de uma sociedade dominada pela economia mercantil e pela produção capitalista” (LÊNIN, 1985, p.114).

Kautsky, em sua obra “A Questão Agrária” publicada em 1899 (1972), quando analisou os camponeses, partiu do fundamento e da ideia de seres sociais isolados, ausentes das relações de mercado. O autor, no final do século XIX, vivia um contexto no qual o debate acontecia em torno da transformação da sociedade. Ele buscou, em sua obra, contribuir para o debate e construção do socialismo dentro da social democracia alemã. Em sua análise, o campesinato seria uma incógnita para o desenvolvimento do socialismo e um empecilho ou mesmo atraso para o desenvolvimento do capitalismo. O camponês, para Kautsky (1972, p.128-129),

(...) deixa, portanto, de ser o senhor da sua exploração agrícola: esta torna-se um anexo da exploração industrial pelas necessidades da qual se deve regular. O camponês torna-se um operário parcial da fábrica (...) ele cai ainda sob a dependência técnica da exploração industrial (...) lhe fornece forragens e adubos. Paralelamente a esta dependência técnica produz-se ainda uma dependência puramente econômica do camponês em relação a cooperativa.

Kautsky partiu da lógica de que a indústria seria a força motriz da sociedade, se expandiria para todo o mundo ao ponto de dominar o camponês. Questionava e afirmava ser um equívoco a teoria da superioridade da agricultura camponesa de base familiar sobre a capitalista, ressaltando que o aumento no número de unidades familiares significava a fragmentação das explorações, ou seja, agravava ainda mais a condição camponesa e a perda do seu caráter produtivo. Ele tratava, naquele momento histórico, da perda do papel produtivo

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da propriedade camponesa, pois essa, com o avanço e consolidação do capital, não conseguiria mais produzir para subsistência, tendo esse trabalhador que migrar em busca do trabalho acessório. Segundo o autor, “A grande exploração agrícola é a que melhor satisfaz as necessidades da grande indústria agrícola. Essa, muitas vezes, quando não tem uma grande exploração deste gênero à sua disposição, cria-a”. (KAUTSKY, 1972, p.124). Dessa maneira, as transformações que ocorrem na agricultura ao integrar-se com a indústria torna o agricultor mais vulnerável e dependente do capital.

Tal posicionamento estava calcado e fundamentado na concepção de que para o desenvolvimento do capitalismo outra forma de reprodução que não a capitalista não seria possível, havendo somente espaço para reprodução, na sociedade capitalista, para a classe burguesa e a classe trabalhadora. Dessa forma, não levou em consideração a reprodução do capital por meio da acumulação primitiva, através da circulação e comercialização, como destacou Rosa Luxemburgo.

Chayanov1 em “La organización de la unidad econômica campesina” (1985), desenvolve um estudo que foi marco pioneiro no debate sobre campesinato. Apresentou minuciosamente a forma de organização econômica e social das unidades camponesas. Procurou demonstrar as diversas formas pela qual a unidade camponesa conseguia atingir o equilíbrio interno, se baseando em teorias que contribuíssem para entender o equilíbrio entre a força de trabalho e o consumo familiar.

Levou em consideração a composição familiar, a área da unidade econômica, equilíbrio interno, força de trabalho disponível e as atividades desenvolvidas, afirmando ser de extrema importância tais informações. “El volumen de la actividad de la família depende totalmente del número de consumidores y de ninguma manera del número de trabajadores”2 (CHAYANOV, 1985, p.81).

Afirmava que o aproveitamento da força de trabalho da família camponesa, ao máximo, evitaria ociosidade em diferentes períodos da produção, pois na agricultura camponesa, a força de trabalho não é oscilante, não é contratada ou dispensada conforme as necessidades dos cultivos, sendo “organizada” para evitar o desemprego interno.

1 Chayanov está sendo utilizado pelas contribuições que realizou a cerca do estudo sobre Campesinato e pelos

elementos para a caracterização desse sujeito, mas vale ressaltar que para ele o campesinato era visto como modo de produção. O trabalho aqui desenvolvido discorda, pois entende campesinato como classe social. Além disso, Chayanov diferencia dos outros autores clássicos já citados pelo fato de não fazer uma leitura marxista da realidade.

2

O volume de atividade da família depende inteiramente do número de consumidores e número mínimo dos trabalhadores.

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Pero aparte de esto debemos recordar que, [...], la teoria del balance entre el trabajo y el consumo no surgió de la cabeza de um teórico sino que es el resultado de la observación de rasgos de conducta econômica em las massas de campesinos, que sólo mediante esta hipótesis podían explicarse satisfactoriamente (CHAYANOV, 1985, p. 40-41).3

Nesse bojo, a força de trabalho assume um papel de impedimento para inserção de máquinas em terras camponesas, além dos custos (aquisição, manutenção) e disponibilidade de terras. A mecanização e a intensificação e redução de capitais pode significar o aumento de ganhos brutos. A intensificação da produção tem que representar maiores índices de produtividade, mas será rejeitada se significar o desemprego interno.

Na lógica camponesa, o uso dos recursos se dá de forma diversificada, como já analisava Chayanov (1985, p.238)., a acumulação de dinheiro objetivava o aumento da produtividade, vislumbra a diminuição do esforço e a garantia do bem-estar da família.

Sólo de modo gradual, al ir aumentando la productividad de la fuerza de trabajo y al poder ampliarse el presupuesto personal para ir cubriendo una tras otras las necessidades familiares, el jefe de la explotación puede destinar una cantidad cada vez mayor del ingreso a la renovación y formación de capital. En otras palabras, podemos decir que en la unidad económica de explotación familiar los adelantos para renovar y formar capital se extraen del mismo presupuesto y están vinculados con el proceso de satisfacción de las necesidades personales y que, en todos los casos, su importe depende de la medida en la que pueden satisfacerse estas necesidades.4

Chayanov, quando propôs entender a mobilidade e a dinâmica social a partir da lógica camponesa, partiu e baseou-se nas características internas, embora não perdesse de vista a articulação e existência no modo de produção capitalista. O autor não concordou com a possibilidade do desaparecimento do campesinato para o desenvolvimento do capitalismo, não comungava da ideia de que as relações mercantis conduziriam a desagregação camponesa rumo a proletarização. Ressaltava que a realidade é dinâmica e compreendia a importância do

3

Mas, além disso, devemos lembrar que [...], a teoria do equilíbrio entre trabalho e consumo não veio da cabeça de um teórico, mas é o resultado da observação de traços de comportamento econômico nas massas de camponeses, que só mediante esta hipótese pode ser explicado de forma satisfatória.

4

Só de modo gradual, irá aumentando a produtividade da força de trabalho e o poder se amplia ao processo em se expande o pessoal para ir cobrindo outras necessidades da família, o chefe da exploração pode gastar uma quantidade crescente de renda para a renovação e formação de capital. Em outras palavras, podemos dizer que a unidade econômica de exploração familiar para a renovação e formação de capital são extraídos do mesmo orçamento e estão ligados ao processo de satisfazer as necessidades pessoais e, em todos os casos, o valor depende a medida em que essas necessidades podem ser satisfeitas.

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campesinato naquele momento histórico, pois, para ele, o campesinato era modo de produção e não classe social.

A inserção do camponês no mercado de trabalho significou, para Chayanov (1985), uma maneira de manutenção da condição camponesa, uma vez que não se baseava na lógica de acumulação burguesa, não estava fundamentada na lógica do lucro, mas de reprodução da vida. Mesmo quando os camponeses estabelecem uma relação com o mercado, não se pode analisar com o fim do campesinato, mas como estratégia de reprodução, ainda que os preços dos produtos sejam, por vezes, estabelecidos pelo mercado, ele não perde a autonomia na produção, podendo se dedicar mais a uma cultura de mercado, todavia mantendo as culturas de subsistência, bem como a organização interna e os valores.

En la actualidad, la unidad económica campesina en casi todas partes está ligada al mercado capitalista de mercancías; en muchos países sufre la influencia del capital financieiro, que la há hecho empréstitos, y coexiste con la industria organizada al modo capitalista y, en algunos lugares, también con la agricultura capitalista. Las empresas campesinas tienen interrelaciones sociales demasiado complejas con todos estos elementos en la economía actual. Después de los trrabajos del profesor Lyashenko sobre la evolución de la economía campesina rusa y los de Lenin sobre la americana, podemos ver con toda claridad que no hay que esperar necesariamente que el desarrollo de la influencia capitalista y la concentración en la agricultura desemboquem en la creación y el desarrollo de latifundios. Con mayor probabilidad habría que esperar que el capitalismo comercial y financeiro establezca una dictadura económica sobre considerables sectores de la agricultura, la cual permanecería como antes en lo relativo a producción, compuesta de empresas familiares de explotación agrícola en pequeña escala, sujeitas en su organización interna a las leyes del balance entre trabjo y consumo5 (CHAYANOV, 1985, p. 42).

Chayanov analisa a unidade camponesa a partir da coerência interna, afirmando que os camponeses atuam numa lógica distinta à capitalista pela sua própria condição social, tornando-se um equívoco a partir dos parâmetros produtivos capitalistas. Afirmava, ainda, que para uma sociedade igualitária, o campesinato deveria seguir o caminho do cooperativismo, e defendia a ideia de que somente dessa maneira poderia competir com a estrutura de mercado.

5

Atualmente, a unidade camponesa em quase toda parte está ligada ao mercado capitalista de mercadorias, em muitos países, é influenciado pelo capital financeiro, que fez empréstimos, e coexiste com o setor organizado do modo capitalista, e em alguns lugares também com a agricultura capitalista. Empresas camponesas são relações sociais muito complexos, com todos esses elementos na economia de hoje. Após trabalhos do professor Lyashenko sobre a evolução da economia camponesa russa e Lênin sobre a americana, podemos ver claramente que não devemos necessariamente esperar o desenvolvimento da influência capitalista e concentração na agricultura desemboquem em criação e desenvolvimento de propriedades. Muito provavelmente teria que esperar para o capitalismo comercial e Financeiro estabelecer uma ditadura econômica em áreas consideráveis da agricultura, que permanecem como antes em relação à produção, composto por empresas familiares, segurando sujeita pequena escala em sua organização interna às leis do equilíbrio entre o trabalho e o consumo.

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Assim, a partir da organização cooperativa, conseguiriam se conscientizar do uso coletivo dos meios e instrumentos de produção.

Shanin (1980) destaca como elementos básicos para a caracterização do camponês: a) a propriedade rural/familiar é a unidade básica para organização social e econômica; b) trabalho familiar; c) a agricultura é a principal atividade e significa fonte de renda. Porém, acrescenta-se a reciprocidade, relações de produção e a terra como elemento essencial de reprodução da vida. Analisando cada elemento desses e o contexto histórico em que estão inseridos, considera-se fundamental para caracterização do campesinato, autonomia do trabalho e trabalho familiar como elemento diferenciador.

Para Shanin (1980, p. 76),

Um camponês não é uma palavra vazia a refletir os preconceitos do populus, as frivolidades lingüísticas dos intelectuais ou, ainda, conspirações de adeptos de uma ideologia, embora às vezes isso possa ser verdadeiro. Se revogado, este conceito (ainda?) não pode ser facilmente substituído por algo de natureza semelhante. Ele tem, assim como os conceitos de “capitalismo”, “proletariado” e, é claro, “modo de produção”, potenciais de reificação, isto é, pode ser enganoso, assim com pode ser usado para enganar, especialmente quando utilizado de maneira ingênua. Tem-se dito corretamente que “o preço da utilização de modelos é a eterna vigilância”. É verdade também que sem tais construções teóricas não seria absolutamente possível qualquer progresso nas ciências sociais.

2.1.2 Camponeses: estudos brasileiros do conceito e do sujeito

José de Souza Martins (1986), ao escrever “Os camponeses e a Política no Brasil”, analisando a realidade do campo e a questão agrária brasileira, destacou-se pelo entendimento da expansão capitalista no campo e o enfoque que deu aos camponeses. Em sua análise foi desvendando como o modo de produção capitalista é contraditório, as formas de sujeição da renda ao capital, a subordinação do trabalhador e a recriação de formas não-capitalistas de produção.

Martins chamou a atenção para a forma contraditória que o capitalismo se reproduz, ressaltando que não é sempre necessário que as forças produtivas se desenvolvam nos estabelecimentos agrícolas, que os processos se industrializem ou que os trabalhadores se tornem assalariados, a produção não precisa se estabelecer sob o modo de produção capitalista para que o capital se reproduza e se amplie.

Em sua análise ainda chamou a atenção para a importância política que envolvia os conceitos acadêmicos e categorias sociais, dizendo que

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[...] camponês e latifundiário – são palavras políticas, que procuram expressar a unidade das respectivas situações de classe e, sobretudo, que procuram dar unidade às lutas dos camponeses. Não são, portanto, meras palavras. Estão enraizadas numa concepção da História, das lutas políticas e dos confrontos entre classes sociais. Nesse plano, a palavra camponês não designa apenas o seu novo nome, mas também o seu lugar social, não apenas no espaço geográfico, no campo em contraposição à povoação ou à cidade, mas na estrutura da sociedade; por isso, não é apenas um novo nome, mas pretende ser também a designação de um destino histórico (MARTINS, 1986, p.22-23).

Assim, baseado na teoria da acumulação primitiva desenvolvida por Luxemburgo, Martins analisou o capital e o campesinato a partir da realidade brasileira. Dessa forma, compreendeu a existência de uma classe camponesa subjugada e sujeitada, mas resistente, no processo histórico. Segundo o autor, o campesinato brasileiro é concebido, a princípio, às margens do sistema escravocrata, no qual a lógica da monocultura, do latifúndio e comércio exportador, construiu ideologicamente e materialmente a sua sujeição.

Tendo por base tal concepção, Moura (1986, p.64-65) afirma que

A extensão do capitalismo no campo não se dá simplesmente pelo advento de relações baseadas na compra e venda da força de trabalho – portanto, na expropriação dos meios de produção do camponês. Na verdade, o capitalismo se estende ao campo quando se institui a propriedade capitalista da terra. A renda territorial capitalizada vincula imediatamente a atividade produtiva camponesa aos requisitos da reprodução ampliada do capital e às leis do mercado. O camponês passa a se vincular ao movimento do capital, na condição de produtor de mercadorias ou mesmo de trabalhador para o capital industrial, mesmo que continue habitando sua parcela de terra.

Assim, segundo o que explica Oliveira (1986, p.28),

O desenvolvimento do capitalismo é produto de um processo contraditório de reprodução ampliada do capital. Ou seja, o modo capitalista de produção não está circunscrito apenas à produção imediata, mas também à circulação de mercadorias; portanto, inclui também a troca de mercadorias por dinheiro e, obviamente, de dinheiro por mercadorias.

Sendo assim, os ganhos se dão a partir do rendimento bruto, no qual se avalia a satisfação das necessidades da família, relacionados no aumento da produtividade do trabalho, sendo pouco relevante a variação dos ganhos monetários de renda. Dessa forma, a força de trabalho nas unidades camponesas é inerente à composição da família. A indisponibilidade de

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terra pode significar a necessidade de aumentar os ganhos familiares através de atividades não-agrícolas, como ver-se-á na área pesquisada.

Inversamente a essa lógica e diferenciando das variáveis, na unidade capitalista, a terra disponível e os meios de produção é que irão determinar o equilíbrio, na qual a força de trabalho será contratada conforme o potencial produtivo da unidade.

Apesar de anunciado a proletarização camponesa com a nova reconfiguração mundial promovida pelo capital expansionista, com processos cada vez mais acelerados pela industrialização, com inserção e adentro do capital no campo, o descompasso no espaço agrário brasileiro, não necessariamente provocaram a proletarização, mas processos mobilidade do trabalho desses sujeitos para outras regiões.

De acordo com Oliveira (1991, p.35):

Portanto, a compreensão do papel e lugar dos camponeses na sociedade capitalista e no Brasil, em particular, é fundamental. Ou entende-se a questão no interior do processo de desenvolvimento do capitalismo no campo, ou então continuar-se-à a ver muitos autores afirmarem que os camponeses estão desaparecendo, entretanto eles continuam lutando para conquista o acesso às terras em muitas partes do Brasil.

A permanência camponesa é recriada a partir das condições e contextos que os trabalhadores se encontram, a possibilidade de recriação camponesa é real, fato concreto, resultado das contradições do capital no campo. Entendendo esses sujeitos sociais a partir dos processos complexos de (re) construção do território camponês, sendo esse território não apenas lugar de produção, mas também lugar de reprodução da vida.

No Brasil,

O camponês era, portanto, duplamente excluído: da condição de proprietário de terras e da condição de escravo, já que não podia ser convertido em renda capitalizada do tráfico colonial. Essa exclusão, portanto, das relações de propriedade, não excluía da propriedade. Ele viveu, durante todo o tempo do escravismo, essa contradição maior representada pelo escravo numa economia capitalista de produção escravista de mercadorias (MARTINS, 1986, p.38).

Os camponeses se caracterizam principalmente pelas relações de produção. Na economia camponesa destaca-se pelo trabalho familiar, pela economia de subsistência, pela propriedade familiar e controle da terra (expresso no direito a posse), ou seja, do controle dos meios de produção, além do planejamento e cálculo/tempo da produção, diferenciando dos não camponeses e das propriedades capitalistas.

(36)

A terra configura-se como o espaço da produção e da reprodução da vida. A resistência e a luta pela terra refletem as tentativas de enfrentamento aos projetos do capital (monopolização da produção e tentativas de territorialização).

[...] o eixo central que norteia a discussão é de produção camponesa, na sociedade capitalista, enquanto uma contradição desse modo de produção, que, por sua vez, se apropria do trabalho camponês, a fim de garantir, e mesmo ampliar, a produção e a reprodução do capital (SOUZA, 2008, p.38).

Os elementos auxiliam a pensar a complexidade do espaço agrário de Jaguaquara a partir de sua totalidade e de suas particularidades, pois, como já colocado, o contexto analisado se dá partir de um desenvolvimento desigual e combinado na sociedade capitalista, e na implantação de uma política nacional de distribuição de terras.

[...] o desenvolvimento desigual do modo capitalista de produção na formação social capitalista, significa entender que ele supõe sua reprodução ampliada, ou seja, que ela só será possível se articulada com relações não-capitalista. E o campo tem sido um dos lugares privilegiados da reprodução dessas relações de produção não-capitalista (OLIVEIRA, 1991, p.11).

A terra e a atividade desenvolvidas nela – reprodução do sustento, reprodução da vida – é uma das maneiras de organização social do camponês, o qual produz nesse meio, produtos essenciais para sua própria sobrevivência, além dos benefícios produzidos para aqueles que os subordinam. Mas para que essa reprodução aconteça é também necessária a garantia da força de trabalho familiar. Martins (1986) ratifica que, para o camponês, a terra é espaço de reprodução da vida, é a terra de trabalho, o meio de produção que permite sua realização material, ou seja, é a base territorial de garantia de sua sobrevivência e não apenas mercadoria.

Porém, numa sociedade desigual, o que acontece é a apropriação dos meios de produção dessa classe social e a desvalorização da mesma, como explica Moura (1986, p.10):

O campesinato é sempre um pólo oprimido de qualquer sociedade. Em qualquer tempo e lugar a posição do camponês é marcada pela subordinação aos donos de terra e do poder, que dele extraem diferentes tipos de renda: renda em produto, renda em trabalho, renda em dinheiro.

A proposta de analisar o campesinato não tem pretensão de generalizar o conceito, mas o de entender tanto sujeito como conceito a partir das semelhanças e heterogeneidades das caracterizações do camponês-imigrante, colono, levando em consideração o processo e

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