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As informações foram produzidas a partir da entrevista individual, da observação direta e do diário de campo durante três meses de coleta, através de idas semanais ao CAPS em estudo.

Diante desses aspectos, a pesquisa utilizou a técnica da entrevista individual com participantes, pois a medida que a entrevista ocorria, permitia-se a verificação e formulação de hipóteses durante o trabalho de campo, criando-se uma teoria fortemente ancorada na realidade social. A entrevista foi “uma conversa a dois, realizada por iniciativa da entrevistadora destinada a construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa”.19:261

Optamos pela realização da entrevista aberta ou em profundidade caracterizada pelo informante convidado poder expressar livremente o que pensa sobre um determinado assunto. Essa forma de entrevista busca dar mais profundidade às reflexões advindas das narrativas de vida. Para, então, obter essa profundidade de informações, em dois sujeitos do estudo houve a necessidade de aprofundarmos a coleta de dados, reagendando outra entrevista.

Na entrevista aberta, a ordem dos assuntos não obedece a uma sequência rígida e, sim, é determinada pelas próprias preocupações e relevâncias do entrevistado sobre o assunto em questão. Quanto ao entrevistador, este fica livre de formulações prefixadas para introduzir perguntas quando houver a necessidade de aprofundar algum conteúdo que emergiu durante a conversa e será de extrema significância para elucidação do objeto.19

Outras justificativas para escolha desse método de entrevista para a referida pesquisa baseiam-se nas seguintes afirmativas:

(a) quanto mais importante é o material produzido na entrevista, mais ele enriquece a análise que busca atingir níveis profundos; (b) a ordem afetiva e de experiência é mais determinante dos comportamentos e da fala do que o lado racional e intelectualizado; (c) quanto menos estruturada é a entrevista, mais permite emergir e ressaltar os níveis sócio-efetivo-existenciais.19:266

Portanto, como a pesquisa propôs aprofundar conteúdos que só poderiam ser acessados se os sujeitos estivessem à vontade, essa foi a melhor estratégia, que permitiu a expressão de emoções vivenciadas pelos entrevistados. As entrevistas foram filmadas com câmeras de vídeo.

Entretanto, para auxiliar a entrevista aberta, utilizamos um roteiro invisível (anexo 2) que contribuiu na descrição sucinta, breve, mas ao mesmo tempo abrangente, que orientou os rumos da fala do entrevistado. Segundo Minayo,19 esse tipo de roteiro é considerado um instrumento aparentemente mais simples de ser elaborado que guia uma conversa com finalidade, porém exige:

Preparação suficiente do pesquisador, permitindo-lhe durante a entrevista, levantar questões que ajudem o entrevistado a abranger níveis cada vez mais profundos em sua exposição. Nesse caso o instrumento fica guardado na memória do investigador, testando sua capacidade de ver, concatenar fatos, mas, sobretudo, de ouvir e conduzir o entrevistado para que explicite, da forma mais abrangente e profunda possível, seu ponto de vista.19:190

Além da informação produzida pela entrevista individual e de forma complementar, foi utilizado o recurso da observação direta durante as entrevistas.

A observação direta, conhecida como observação estruturada ou sistemática, pressupõe planejamento para auxiliar a coleta de dados. É uma das técnicas de investigação que possibilita registrar detalhes para classificar relações complexas, como as relações entre pessoas cuidadas e pessoas que cuidam, ou seja, “a observação e descrição em detalhes permitem um estudo comparativo das partes mais sutis com as quais são construídos os eventos totais”.24 As anotações da observação direta foram feitas no ato da transcrição das filmagens, à medida que analisávamos os vídeos das entrevistas realizadas, no qual registramos gestos, emoções, entonação da voz e expressão do olhar.

O outro instrumento utilizado para o registro de informações foi o diário de campo. O diário de campo “nada mais é do que um caderninho de notas, em que o investigador, dia por dia, vai anotando o que observa e que não é objeto de nenhuma modalidade de entrevista”.19:295

Esse instrumento facilitou o hábito de observar com atenção, descrever com precisão e refletir sobre os acontecimentos e situações ocorridas em um dia. Foi constituído de “impressões pessoais que vão se modificando com o tempo, resultados de conversas informais, observações de comportamentos contraditórios com as falas, manifestações dos interlocutores quanto aos vários pontos investigados”.19:295

Esses registros foram datados, especificando local, hora e organizados em três etapas: a primeira consiste na a descrição, a qual transmitiu com exatidão a exposição dos fenômenos; a segunda, na interpretação do observado, momento no qual foi importante explicitar,

conceituar, observar e estabelecer relações entre os fatos e as consequências; e a terceira, no registro das conclusões preliminares, das dúvidas, imprevistos, desafios tanto para um

profissional específico e/ou para a equipe, quanto para a instituição e os sujeitos envolvidos no

processo.25 Em diversos momentos, essas etapas estavam tão imbricadas que visivelmente não

foi possível separá-las.

Os relatos foram breves, “pois não se podem introduzir elementos, como também a

interpretação reflexiva acaba se confundindo com o fato concreto podendo deturpá-lo”.25:100

Para Triviños (1987), o diário de campo é uma forma de complementação das informações sobre o cenário onde a pesquisa se desenvolve e onde estão envolvidos os sujeitos, a partir do registro de todas as informações que não sejam aquelas coletadas em contatos e entrevistas formais, em aplicação de questionários, formulários e na realização de grupos focais. Para o autor, as anotações realizadas no diário de campo, sejam elas referentes à pesquisa ou a processos de intervenção, podem ser entendidas como todo o processo de coleta e análise de informações, isto é, compreenderiam descrições de fenômenos sociais, explicações levantadas sobre os mesmos e a compreensão da totalidade da situação em estudo ou em um atendimento.25:100

Utilizamos a sugestão de Triviños26 diferenciando as informações descritivas das informações analítico-reflexivas através de diferenciadas cores, com o intuito de nos auxiliar na visualização do conjunto de informações registradas. O esquema de cores nos auxiliou a equilibrar a quantidade de informações referente as duas dimensões, evitando assim nos determos mais em informações descritivas do que nas analítico-reflexivas e vice-versa. Utilizamos o vermelho para informações descritivas, azul para as reflexivas e a preta para as conclusões preliminares.

Portanto, a análise das observações foi feita de imediato, tendo em vista que na pesquisa qualitativa não se separa as etapas do processo, pois as ‘reflexões do observador’ consistem na busca de significados para explicações dos fenômenos.26

3.6 APROXIMAÇÕES DO PESQUISADOR AO CAMPO DO ESTUDO PARA