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Produto de Tecnologia Assistiva

No documento Acessibilidade e Inclusão no ensino superior (páginas 146-155)

250

200

150

100

50

0

Número de pessoas

Tipo de deficiência reportada

202

155

100

33

26 25

17 11 6 3 3 3 2 2 1

Visual ou baixa visão

Física ou mobilidade

reduzida Auditiva ou baixa audição

Altas habilidades

Outras

Cognitiva Asperger Linguagem

Déficit de Atenção

(TDAH)

identificadaNão

Dislexia

Transtorno Desintegrativo

da Infância

Paralisia Cerebral Autismo

Multiplas deficiências

Figura 4 - Distribuição da população de alunos por deficiência na Rede Ilumno.

Fonte: Elaboração Própria.

acesso às informações sobre o seu desempenho acadêmico e às notícias veiculadas nes‐

se portal.

O protótipo compõe-se de óculos de realidade virtual genéricos e a eles acoplado (na sua parte frontal) um dispositivo de smartphone, conforme pode ser visto na Figura 5. A saber, realidade virtual é uma tecnologia que permite a criação de espaços tridimensionais por computador, os quais simulam a realidade, com a possibilidade de inserção de elementos virtuais (BURNLEY, 2007).

A versão atual do protótipo possibilita o uso de smartphones na plataforma Android.

Figura 5 - Exemplo de óculos de realidade virtual

À primeira vista, pode parecer paradoxal o uso de óculos de realidade virtual para pessoas com deficiência visual. Contudo, a escolha do uso desses óculos deveu-se a duas razões:

1. a possibilidade de permitir a navegação pelos conteúdos do ambiente virtual de aprendi‐

zagem e do portal acadêmico tão somente por meio da movimentação da cabeça em dire‐

ção a “Botões virtuais”, posicionados ao seu redor, nas quatro direções (superior, inferior,

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esquerda e direita) e guiando-se através de sons e locuções; 2. a solução computacional também possibilita a apresentação de imagens com alta resolução, úteis para pessoas com baixa visão.

Para o correto funcionamento do protótipo, o smartphone utilizado precisa ter o aplicativo denominado Unijorge Acessível instalado e estar conectado à internet. No primeiro acesso, o aluno deve informar, de forma autônoma ou assistida, seu CPF e senha cadastrada no portal acadêmico da UNIJORGE. Em seguida, encaixar o celular no compartimento dos óculos, opcionalmente colocando fones de ouvido, caso queira ter uma experiência auditi‐

va mais imersiva, e começar a navegar.

Inicialmente, o menu virtual principal aparece na tela do aplicativo (Figura 6) e a partir de então, ao mover a cabeça para cima, o aluno ouvirá um sinal sonoro (beep) e, em seguida, uma locução, informando que a seção de boas-vindas do aplicativo foi alcançada. Nesta seção, são descritas as funcionalidades básicas do aplicativo, principalmente no que se refere à navegabilidade. Essa mensagem tem como principal objetivo orientar o aluno quanto à relação entre a movimentação da cabeça e o acesso às seções do aplicativo.

Conforme sua visualização na Figura 6, os conteúdos da locução são também exibidos na tela do dispositivo com uma ampliação grande, regulável e de alto contraste. Esta funcio‐

nalidade tem por objetivo auxiliar os alunos com baixa visão.

Figura 6 - À esquerda, visão completa do menu virtual principal do aplicativo Unijorge Acessível. À direita, a visão do mesmo menu, através das lentes do óculos de realidade virtual.

Partindo do menu virtual principal, ao mover a cabeça para a direita, um sinal sonoro é emitido, informando que o usuário acessou a seção de notícias do portal acadêmico da UNIJORGE, conforme desenho esquemático da Figura 7. A partir desse momento, o usuá‐

rio encontra-se no submenu de notícias e, portanto, cada vez que ele movimenta a cabeça para a direita e esquerda, uma notícia do portal é acessada em tempo real, apresentada na tela do aplicativo e, posteriormente, lida.

Figura 7 - Desenho esquemático com a relação entre a movimentação da cabeça para a direita e o acesso a notícias no portal acadêmico da UNIJORGE.

A partir do menu virtual principal, ao mover a cabeça para a esquerda, um sinal sonoro é emitido, informando que a seção contendo as notas das disciplinas foi acessada. Em se‐

guida, uma locução informa os nomes e as médias obtidas em todas as disciplinas cursa‐

das pelo aluno, conforme desenho esquemático da Figura 8.

Figura 8 - Desenho esquemático com a relação entre a movimentação da cabeça para a esquerda e o acesso ao boletim de notas do portal acadêmico da UNIJORGE.

Deve-se observar que, em qualquer ponto da navegação, quando o usuário mover a cabeça para baixo e ouvir o sinal sonoro (beep), a aplicação retornará ao menu anterior, interrom‐

pendo também qualquer locução que estiver sendo executada.

Duas tecnologias são essenciais neste projeto. Uma é a Text-To-Speech (TTS), que traduz texto em áudio e é imprescindível para todo aplicativo de acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Na atualidade, essa tecnologia é disponibilizada por vários fornecedo‐

res e no protótipo aqui desenvolvido optou-se por utilizar a tecnologia TTS do Watson, pla‐

taforma cognitiva da IBM, pela clareza da locução e pela possibilidade de alterar o tom de voz, deixando-a mais suave, lenta ou até mais animada, para torná-la mais natural.

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A outra tecnologia é a web scraping (raspagem web), que permite ler dinamicamente os códigos de páginas na web, procurar e extrair dados não estruturados ali presentes e con‐

vertê-los em dados estruturados. Justifica-se seu uso neste projeto porque o protótipo aqui proposto precisa acessar em tempo real os códigos das páginas da seção de notícias do portal acadêmico (Figura 9) e da seção de notas do ambiente virtual de aprendizagem da UNIJORGE, extrair e apresentar as informações úteis para o aluno.

A Figura 9 apresenta um pequeno recorte de uma página da seção de notícias do portal acadêmico da UNIJORGE. Pode-se perceber que a página possui um grande conjunto de elementos de marcação, que são essenciais para o seu funcionamento, mas não são com‐

preendidos pelos usuários. No exemplo mostrado, apenas a linha que informa Parceria Uni‐

jorge com a HUB SCHOOL SALVADOR apresenta algum significado direto para os usuários.

Portanto, a ferramenta aqui proposta necessita realizar buscas ao longo dos códigos das páginas do portal da UNIJORGE em tempo real, a fim de identificar os trechos que repre‐

sentam informações importantes para serem apresentadas para os usuários, descartando os outros trechos.

Figura 9 - Exemplo de parte do código da página do portal de notícias da UNIJORGE.

Após a finalização da versão atual do protótipo, foi realizada uma sequência de testes com quatro pessoas que possuem deficiência visual, sendo três delas cegas (duas desde o nascimento) e uma com baixa visão. Cada pessoa usou o protótipo durante cerca de 15 minutos e, em seguida, respondeu a algumas perguntas e relatou suas percepções.

O procedimento se deu da seguinte forma: cada uma das quatro pessoas teve o auxílio dos pesquisadores na colocação dos óculos e orientação para acessar a seção de boas-vindas do aplicativo, através da movimentação da cabeça para cima. A partir deste ponto, elas deveriam, por conta própria, acessar e ouvir uma notícia do portal acadêmico e tam‐

bém as médias que obtiveram nas disciplinas. Todos elas assim o fizeram.

Quanto ao feedback em relação ao uso da ferramenta, elas demonstraram grande satisfa‐

ção em poder navegar nos conteúdos de um portal na internet com a simples movimenta‐

ção da cabeça, sem a necessidade do uso de outras partes do corpo, como as mãos, o que lhes propiciou maior autonomia.

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Em contrapartida, um dos alunos reclamou do peso dos equipamentos utilizados no teste.

Ele considerou que o peso dos óculos acrescido ao do smartphone pode acabar dificultan‐

do o uso regular e constante da ferramenta. Contudo, na atualidade, encontra-se no merca‐

do uma grande variedade de opções de óculos de realidade virtual, com tamanhos e pesos distintos. Há, inclusive, alguns feitos de papelão, que podem contribuir para a redução do peso da ferramenta.

O mesmo aluno também observou que o uso dos óculos de realidade virtual pode ficar li‐

mitado a ambientes mais restritos, não sendo adequado, por exemplo, em ambientes como ônibus, metrô, entre outros, em países como o Brasil, por causa da possibilidade de furtos e roubos.

Quanto ao áudio utilizado no protótipo, mais especificamente em relação à voz que se usou na locução, houve 100% de aprovação. Todos elogiaram bastante a voz e relataram que ela parece mais natural e não gera desconforto sonoro, como em várias outras aplica‐

ções que costumam utilizar.

Os alunos relataram também grande satisfação quanto à autonomia em acessar as médias das disciplinas. Isto porque, na atualidade, eles precisam do auxílio de algum familiar ou amigo para obter essa informação.

Por fim, todos criticaram o desconforto causado pela grande movimentação (angulação) que precisaram fazer com a cabeça para ter acesso às seções do aplicativo. Providenciou-se, logo após os testes, um ajuste na ferramenta, a fim de reduzir a angulação necessária para ter acesso às suas funcionalidades.

Considerações finais

O conhecimento e o desenvolvimento de meios e recursos acessíveis que promovam o es‐

tabelecimento de interfaces com PcD e que, em consequência, fomentem os processos de inclusão são de fundamental importância nas instituições de ensino, especialmente em função do seu papel social.

Na área educacional, a incorporação da Tecnologia Assistiva vem se tornando, cada vez mais, uma realidade, possibilitando a inclusão e contribuindo para os processos de apren‐

dizagem e desenvolvimento de alunos com deficiência. Desse modo, tanto o conhecimento do arcabouço legal dos países que integram a Rede Ilumno quanto a população de pesso‐

as com deficiência foram cruciais na definição de estratégias de atuação para a Cátedra em Acessibilidade.

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A Cátedra desenvolvida pela Rede Ilumno e INDRA, primeira no Brasil apoiada pela empre‐

sa, contribuiu para a ampliação do conhecimento acerca da população de pessoas com deficiência na Rede, para a formação de pessoal qualificado (docentes e alunos vincula‐

dos ao projeto) e gerou um produto de TA que pode ser incorporado às IES da Rede, ampli‐

ando o acesso aos ambientes virtuais de aprendizagem.

A ferramenta de acessibilidade, proposta para pessoas com deficiência visual, utilizou a tecnologia web scraping, que permitiu, em tempo real, acessar, buscar, extrair e fornecer ao aluno informações importantes do ambiente virtual de aprendizagem e do portal acadêmi‐

co do Centro Universitário Jorge Amado. Utilizar tão somente a movimentação da cabeça é o diferencial dessa tecnologia, que possibilita às pessoas com deficiência visual navegar nas ferramentas on-line citadas. Adquire-se com isso maior autonomia em seu uso.

Após os experimentos com o protótipo, percebeu-se a necessidade de aperfeiçoar a ferra‐

menta a fim de ampliar suas funcionalidades, como, por exemplo, possibilitar tanto a reali‐

zação de download dos materiais disponibilizados pelos professores quanto de upload dos materiais elaborados pelos alunos.

Entretanto, ainda há muito para se avançar em acessibilidade na Educação Superior, cuja realidade é complexa porque se configura pela presença de pessoas com diferentes defici‐

ências, bem como por fatores e variáveis que influenciam diretamente o processo de apro‐

priação das tecnologias assistivas.

Na medida em que essas tecnologias são mediadoras do processo de ensino-aprendiza‐

gem, cumpre ressaltar um dos grandes desafios que se apresentam ao Ensino Superior: a ausência de critérios e diretrizes para o Atendimento Educacional Especializado. Ainda não há documentos regulatórios que orientem as atividades do AEE no Ensino Superior, e, em consequência, faltam parâmetros para que as IES possam balizar o serviço de forma efetiva. Deve-se também considerar outra grande lacuna: a das práticas de adaptação nas avaliações e nos currículos, bem como nos parâmetros para mensuração do desempenho acadêmico.

Urge, pois, que se aperfeiçoem os meios e modos de acessibilidade do estudante com de‐

ficiência ao Ensino Superior porque, após essa etapa, ainda há de se avançar significativa‐

mente em seu processo de inclusão no mercado de trabalho e na vida social para que suas competências sejam afinal reconhecidas.

Referências

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