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TEMÁTICOS CONSULTA PÚBLICA

COMISSÃO ABERTA LAGOA DO

SINO COMISSÃO

ABERTA SOROCABA COMISSÃO

ABERTA ARARAS

COMISSÃO ABERTA SÃO CARLOS

FÓRUNS

Figura 1 - Etapas do processo participativo e dialógico de construção da política de ações afir‐

mativas, diversidade e equidade da UFSCar Fonte: UFSCar (2016).

Como resultado, especificamente no que tange às questões relacionadas às pessoas com deficiência, a política institucional que está em vigência até os dias atuais determinou di‐

retrizes 14 que contribuem para a promoção da equiparação de oportunidades no ingres‐

so, na participação, na formação, na diplomação, na perspectiva da educação e aprendiza‐

gem ao longo da vida 15 .

É sobre essas temáticas que apresentaremos um retrato atual do contexto institucional da UFSCar, na perspectiva da inclusão e da acessibilidade.

Ingresso: normativas, adequações e bancas de verificação

No âmbito das ações afirmativas de ingresso de pessoas com deficiência nos cursos de graduação e de pós-graduação da UFSCar, são previstas adequações nos exames de ad‐

missão, a depender da solicitação dos candidatos na fase de inscrição aos processos se‐

letivos. Como exemplo, podemos fazer referência às seguintes orientações:

Para além dessas ações afirmativas de ingresso, as determinações da Lei n.º 13.409/2016, do Decreto n.º 9.034/2017 e da Portaria n.º 5, de 9 de maio de 2017, suscita‐

ram a UFSCar, juntamente com as demais Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) brasileiras, a adotar o sistema de reserva de vagas voltado às pessoas com deficiência que cursaram, em sua totalidade, o Ensino Médio em escolas públicas da rede regular de ensino. Tais dispositivos trouxeram consigo uma gama enorme de questionamentos e de‐

safios que abrangeram desde questões conceituais à sua operacionalização de fato no âmbito das IFES.

No âmbito desses movimentos, destacamos um fato: ainda que algumas IFES tenham evi‐

denciado que as ações das bancas de verificação de ingresso seriam respaldadas à luz dos dispositivos da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e de seu Pro‐

tocolo Facultativo, ratificados no Brasil pelo Decreto n.º 6.949/09, e transversalizadas pela perspectiva biopsicossocial reforçada pela Lei Brasileira de Inclusão da pessoa com defi‐

ciência (BRASIL, 2015), o que se viu, na prática, foi o enquadramento compulsório dessa parte da população a um grupo definido de acordo com critérios estritamente biomédicos, conforme disposto no art. 2º da Lei n.º 13.409/16 e nas categorias discriminadas no art.

4º do Decreto n.º 3.298/1999 (com as alterações introduzidas pelo Decreto n.º 5.296/2004); no §1º do art. 1º da Lei n.º 12.764, de 27 de dezembro de 2012 (Transtorno do Espectro Autista); e, até mesmo, naquelas contempladas pelo enunciado da Súmula n.º 377 do Superior Tribunal de Justiça.

No intuito de proteger os direitos garantidos estritamente às pessoas com deficiência e de evitar processos de judicialização, o esforço da UFSCar 16 foi o de delimitar, em seus edi‐

tais públicos, os critérios de não elegibilidade para a candidatura a esse sistema, também respaldados pela abordagem biomédica, predominantemente com base na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) ou International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems (ICD) , a qual fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças.

Como consequência, os critérios de não elegibilidade limitaram as possibilidades de vários grupos populacionais em concorrer ao sistema de reserva de vagas nas IFES brasileiras, a saber: a) pessoa com transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escola‐

res (CID 10 - F81); b) pessoa com dislexia e outras disfunções simbólicas, não classifica‐

das em outra parte (CID 10 - R48); c) pessoa com transtornos hipercinéticos (CID 10 - F90);

d) pessoa com transtornos mentais e comportamentais (F00 - F99); e) pessoa com defor‐

Candidatos com deficiência e/ou mobilidade reduzida, que exijam condições especiais para a realização da Prova […] deverão encaminhar [...] os seguintes documentos: [...]

Laudo(s) emitido(s) por especialista(s), que descreva(m), com precisão, a natureza da deficiência, bem como as condições necessárias para a realização das provas. [...].

Anotar no envelope: Especiais. (UFSCar, 2016, item 12)

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midades estéticas e/ou deficiências sensoriais que não configurem impedimento e/ou res‐

trição para seu desempenho no processo ensino-aprendizagem que requeira atendimento especializado; e f) pessoa com mobilidade reduzida (UFSCar, 2017a).

A apuração e a comprovação da deficiência do/a candidato passaram a ser realizadas por uma Comissão Especial de Verificação (CEV) 17 composta por, no mínimo, três represen‐

tantes com formação em saúde ou educação, preferencialmente atuantes das áreas da Educação Especial, Psicologia, Sociologia, sempre contando com as Comissões de Acessi‐

bilidade atuantes nos campi da UFSCar.

Sobre o funcionamento das bancas de verificação realizadas pela CEV nos processos sele‐

tivos, considerando-se a característica de a UFSCar ser uma instituição multicampi, para além das discussões presenciais em cada campus, havia um diálogo entre as comissões de modo virtual (chamadas telefônicas; Skype, WhatsApp, entre outros recursos), para fins de esclarecimentos e orientações intersetoriais e interdisciplinares, sob a perspectiva colaborativa.

Após esses procedimentos, como resultado da implementação do primeiro sistema de re‐

serva de vagas para pessoas com deficiência em todos os cursos de graduação da UFS‐

Car, em 2018, foram deferidas as matrículas de 54 estudantes com deficiência autodecla‐

rados (sendo 35 no Campus São Carlos).

Em 2019, porém, a Portaria n.º 1.117, de 1º de novembro de 2018, determinou que as IFES adotassem a Linha de Corte do Grupo de Washington de Estatísticas sobre Deficiência.

Esse critério culminou na redução do índice nacional de pessoas com deficiência de 23,9%

para 6,7%. Na Unidade Federativa de São Paulo, esse índice caiu de 24,7% para 7,3%, im‐

pactando diretamente sobre o percentual de reserva de vagas nos cursos de graduação, uma vez que esse cálculo é baseado no último Censo Populacional do IBGE 18 de cada unidade federativa (Figura 2).

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Figura 2 - Simulação em tela do SiSUGestão, ambiente em que as IFES fazem a assinatura do Ter‐

mo de Adesão ao Sistema de Seleção Unificada (SiSU) 19

Fonte: SiSUGestão (UFSCar).

Nesses moldes, uma vez considerados os cálculos com base nesses novos critérios, um curso de 40 vagas, por exemplo, passou a não garantir a reserva de vagas para pessoas com deficiência a partir do SiSU de 2019. Isso ocorreu na maioria absoluta dos cursos da UFSCar, em todos os campi, configurando-se como um grande retrocesso em relação ao SiSU de 2018. O número de matrículas deferidas reduziu de 54, em 2018, para 25 estudan‐

tes (12 no Campus São Carlos), em 2019.

Para além da redução do número de matrículas, observou-se um retrocesso cultural, geren‐

cial e pedagógico: profissionais de muitos cursos, ainda que veladamente, manifestaram sentir-se “aliviados” pelo fato de terem chances mais reduzidas de receberem alunos com deficiência, por não terem de repensar suas práticas de gestão, de desenvolvimento e/ou adequação de materiais e de estratégias didático-pedagógicas para fins de responderem a possíveis demandas de estudantes com os mais diversos tipos de deficiência que pudes‐

sem ingressar via sistema de reserva de vagas.

Ainda assim, os processos de (des)construção de concepções e a ressignificação das prá‐

ticas puderam ser percebidas ao longo dos últimos anos, no processo de permanência desses estudantes, formação e diplomação.

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Permanência e trajetória acadêmica: desafios e