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De acordo com as pesquisas, sabemos que o homem se comunica desde os primórdios da civilização e, no decorrer da história, criou vários instrumentos para facilitar essa comunicação. Dessa forma, retomamos os apontamentos de Kenski (2008b, p.27) em relação ao “processo de produção industrial”, o qual “trouxe uma nova realidade para o uso das tecnologias da inteligência” com a criação dos novos meios de comunicação.

As tecnologias da inteligência encontram-se articuladas às TIC e realizam a transmissão de informações por intermédio de suportes midiáticos (KENSKI, 2008b).

Esses suportes midiáticos como: jornais, televisão, rádio, cinema e fotografia são denominados por Silva (2005, p.63) como mídia clássica, a qual tem como objetivo reproduzir e comunicar as informações a um grande número de pessoas. Para o autor, nessa mídia, o usuário assume apenas o papel de receptor, pois “a mensagem está fechada em sua estabilidade material”.

Em contrapartida, atualmente há a mídia online. Nesse caso, o usuário não só recebe as informações, bem como, consegue modificá-las. Portanto, a relação entre informação, comunicação e sujeito ganha outro sentido, pois, além de receber a informação, é possível participar da construção do conteúdo a ser divulgado, “no lugar de receber a informação, ele tem a experiência da participação na elaboração do conteúdo da comunicação e na criação de conhecimento” (SILVA, 2005, p.63).

Essa facilidade ofertada pelas TDIC que concede ao usuário o papel de produtor, bem como, o de comunicador, nos reporta aos estudos realizados por Freire (2014, p.24), quando o autor aborda o tratamento que se deve ter em relação à produção do saber na escola. O professor precisa ultrapassar a ideia de ensino vinculado a transmissão de informações e pensar em caminhos que favoreçam a construção do conhecimento, pois, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou construção”.

E, nessa construção do conhecimento é importante considerar os saberes socialmente elaborados pelos alunos e relacioná-los com os conteúdos curriculares abordados em sala de aula. Neste caso, Freire (2014, p.31) faz a seguinte indagação:

Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. [...] Por que não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos?

Diante do exposto, traçamos uma linha paralela entre as características do dispositivo comunicacional apresentadas pelas tecnologias digitais, vídeos, e a proposta de ensino defendida por Freire (2014). Nessa análise, o aluno pode estabelecer uma relação de participante da comunicação como emissor e receptor, assumindo a posição de produtor das informações e não mero consumidor.

Portanto, partindo da proposta de construir o saber, o professor pode atribuir novo sentido ao vídeo, usando “como meio de representação do conhecimento do aluno”. Isso

resulta em momento rico de aprendizagem, com maior relevância quando o professor pensa em ações que concedem ao aluno o papel de “autor-produtor de ideias” (PRADO, 2005, p.10). Perante essa possibilidade concedida ao sujeito, Palfrey e Gasser (2011, p.145) expressam sobre as conquistas alavancadas pelas tecnologias digitais em informar e comunicar:

A tecnologia digital dá a todos os meios para se expressarem, mas também os capacita a falar – e a serem ouvidos por outros, incluindo aqueles que estão no poder- de maneira que as gerações anteriores só poderiam ter imaginado. Os criadores não precisam mais dos antigos guardiões, como agências profissionais, conselhos editoriais e produtores.

Outro ponto que merece destaque diz respeito à liberdade dada a essa nova geração de ser autor da informação e da comunicação:

[...] a falência da antiga hierarquia e estão provando sua capacidade para explorar as novas hierarquias que estão emergindo em seu lugar. Os Nativos Digitais estão crescendo em um corajoso novo mundo em que as decisões sobre o que será e não será produzido não está mais nas mãos de um pequeno número de profissionais da indústria de conteúdo. Ao contrário das gerações mais velhas, que cresceram dependendo de um pequeno grupo de redes, jornais e estúdios de cinema, os Nativos Digitais assumem seu papel como os verdadeiros formadores da cultura (PALFREY e GASSER, 2011, p.145).

O que antes era dominado por um grupo, passa a ser ampliado para a população, principalmente para os nativos digitais, sendo possível usar aquilo que tem em mãos, pequena aparelhagem, para expressar ideias, conhecimentos ou a própria realidade ao mundo inteiro.

É diante deste cenário que entra o papel do professor em pensar em novas propostas educativas que contemplem o uso de mídias digitais e que estejam ancoradas numa concepção de aprendizagem que torne possível transformar a sobrecarga de informações em construção de conhecimentos. Pois, o ditar e o falar não dão conta de uma geração que vive na era digital e que tem oportunidade de produzir informações.

Por essas razões, demanda-se a intervenção do professor para que não se perca o potencial das tecnologias digitais na educação, como já citamos anteriormente. Essa intervenção deve ocorrer de maneira diversa da concepção de ensino que preza a transmissão de informações, ela deve acontecer no sentido de “criar condições que favoreçam o processo de construção do conhecimento dos alunos” (PRADO, 2005, p.10).

Trabalhar as tecnologias com os nativos de modo tradicional, quando se tem um grande número de informações circulando nos dispositivos móveis com acesso de baixo custo

em qualquer hora e lugar, é a mesma que “chover no molhado”, como diz a expressão popular. Caso as TIC ou TDIC venham a ser inseridas nessa abordagem de educação, a qual exige do aluno a repetição de conteúdos, corre-se o risco delas se tornarem modismo, algo passageiro, como aponta as Orientações Curriculares (2010).

Portanto, não é possível explorar as diversas possibilidades de uso das TDIC a partir de uma prática pedagógica baseada na concepção tradicional de educação. Concordamos sobre a importância do aluno ter acesso ao conhecimento historicamente construído pelo homem, mas não da forma como aconteceu durante anos, do aluno somente receber, depositar, guardar e arquivar. Abordaremos a questão da prática pedagógica adiante.