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PRODUTOS E SERVIÇOS DOS RECURSOS NATURAIS

PRODUTO TURÍSTICO, RECURSOS NATURAIS E CAPITAL NATURAL

PRODUTOS E SERVIÇOS DOS RECURSOS NATURAIS

RECURSOS NATURAIS EXTRATIVOS NÃO EXTRATIVOS

Minerais Não combustíveis (bauxita)

Combustíveis (carvão) Serviços geológicos (declives)

Floresta Produtos florestais (madeira)

Recreação (pedestrianismo)

Proteção dos ecossistemas (controle de cheias, retenção de CO2)

Terra Fertilidade Espaço, valor cénico [paisagem]

Plantas

Alimento e fibras (culturas agrícolas, alimentos não cultivados)

Biodiversidade (plantas medicinais)

Animais terrestres Alimento e fibras (animais domésticos/selvagens)

Biodiversidade (variabilidade genética)

Recreação (observação de aves, ecoturismo)

Piscícolas Alimento (peixes marinhos/de água doce) Recreação (pesca desportiva,

observação de baleias)

Água Abastecimento industrial e municipal, irrigação Recreação (canoagem)

Serviços climáticos Fontes de energia (geotérmica)

Fontes de energia (solar), [eólica] Equilíbrio global da radiação Espectro de radiofrequências Catástrofes naturais

Fonte: adaptado de Field, 2008: 29

Na Declaração do Milénio foi referida a necessidade de se considerarem certos valores fundamentais, essenciais nas relações internacionais do séc. XXI como, por exemplo, o respeito pela natureza, exigindo um especial cuidado na gestão dos seres vivos e recursos naturais segundo os preceitos do desenvolvimento sustentável pois, só assim, os recursos providenciados pela natureza poderão ser preservados para usufruto futuro (UNMDG - United Nations Millennium Development Goals, 2008). Logo, os atuais padrões insustentáveis de produção e consumo deverão ser alterados e os comportamentos ajustados, pois os recursos são escassos e finitos (Fennell & Butler, 2003; UNMDG, 2008). O ritmo de exploração de um recurso natural só poderá ser “sustentável” caso, a longo prazo, a capacidade deste providenciar as necessidades das gerações futuras não seja prejudicada de forma significativa (Field & Field, 2003).

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4.3 O CAPITAL NATURAL

A essência do conceito de capital, no contexto económico, é que este constitui uma reserva capaz de gerar fluxos de bens e/ ou serviços (Ekins, Simon, Deutsch, Folke & De Groot, 2003). A economia clássica identifica três tipos de reserva de capital - terra, trabalho e capital

manufaturado - mas, com o aumento da consciencialização sobre o papel dos recursos ambientais

na produção, autores como Ekins (1992, em Ekins et al., 2003) desagregaram estes em quatro tipos diferentes – capital manufaturado, capital humano, capital social/organizacional e capital natural (incluindo assim a energia e outros recursos ambientais não contemplados no capital

terra), também intitulado como ecológico27 ou ambiental28. Sharpley (2009) refere porém que, o conceito de capital ambiental, para além de incluir o capital natural (por exemplo, o clima, paisagens naturais, etc.), pode ser interpretado de forma mais ampla, englobando também o ambiente construído que, direta ou indiretamente, adiciona valor ao produto turístico, constituindo ambos a atração ambiental de um destino. No sistema económico, os vários tipos de capitais contribuem quer diretamente para o bem-estar humano ou, indiretamente, para o processo económico (inputs no processo produtivo de bens/ serviços) (Barbier, 2002).

Segundo Field (2008), no caso do capital natural, este combina a noção de inputs providenciados pela natureza com a ideia de que a sua quantidade e qualidade podem ser afetadas pelas ações humanas. Este capital natural constitui uma complexa categoria que engloba quatro tipos distintos de funções ambientais: 1) provisão de recursos, renováveis e não renováveis, para a produção (inputs de matéria e de energia), 2) absorção dos resíduos resultantes tanto do processo de produção como da venda de bens de consumo (capacidade assimilativa), 3) funções básicas de suporte de vida (provisão de serviços ecológicos como, por exemplo, a regulação climática), e 4) funções que contribuem para o bem-estar humano – ou “amenities” (designando os "serviços com carácter aprazível”) - tais como, as paisagens naturais esteticamente agradáveis (Barbier, 2002; Ekins et al., 2003; Sharpley, 2009).

Assim, o capital natural consiste numa imensidão de “bens ambientais” que designam o “conjunto de bens comuns”, intimamente relacionados com o famoso conceito de “tragédia dos comuns", referido por Harding em 1968, no qual a condenação a que este tipo de bens está sujeito se deve à combinação fatal de "não exclusão" e "rivalidade" no uso (este último significa que a qualidade desse conjunto de bens comuns diminui à medida que o número de utilizadores ou a intensidade do uso aumenta) (Ahlheim, 2009). No caso do turismo, a “rivalidade” de uso está implicitamente relacionada com o número de visitantes que visitam um destino (Bimonte, 2008), e nesse sentido com o conceito de “capacidade de carga do destino” (O’Reilly, 1986). Ekins et al. (2003) afirma que sem as funções de base do capital natural nenhuma outra categoria de funções poderia existir de forma sustentável (FIGURA 4). As primeiras são frequentemente não percecionadas e somente valorizadas pela sociedade quando a função é danificada ou perdida (idem). Assim, uma

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A ecologia é um ramo da biologia que estuda a distribuição e abundância dos seres vivos (meio vivo), e as interações entres estes e/ou o componente abiótico (meio não vivo), ou seja, o estudo dos ecossistemas (unidade funcional da ecologia) a uma escala local (por exemplo, um lago) ou a uma escala global (a biosfera) (Art, 1998; Perman et al., 2003). 28

O ambiente, normalmente, designa o conjunto de condições que envolvem e sustentam os seres vivos na biosfera, abrangendo elementos do clima, do solo, da água e de organismos (Art, 1998), mas também pode incluir os elementos antrópicos (derivados da ação humana), como o património cultural (Joumard & Gudmundsson, 2010).

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das principais preocupações atuais é sobre como o esgotamento de recursos naturais poderá estar a afetar os serviços ecológicos fornecidos pelo ambiente (Barbier, 2002).

Cada um dos tipos de reserva de capital mencionado por Ekins (1992, em Ekins et al., 2003) pode, portanto, ser associado a um tipo de sustentabilidade – por exemplo, um declínio nas reservas de capital natural é um sinal de insustentabilidade ambiental. Logo, se a sustentabilidade depende da manutenção da reserva de capital, uma das questões importantes é se a reserva total de capital deve ser mantida, permitindo a substituição entre as várias partes que a constituem ou se certos componentes do capital, em especial o referente ao capital natural, são insubstituíveis pois contribuem para o bem-estar humano de uma forma única que não pode ser replicada por outro componente do capital (Ekins et al., 2003).

FIGURA 4 – Funções ambientais e atributos: influências humanas e bem-estar Fonte: adaptado de Ekins et al., 2003: 172

Desta forma, na literatura, podem identificar-se duas abordagens principais ao conceito de sustentabilidade, não facilmente reconciliáveis, e que diferem principalmente pelo conteúdo em termos de “ambiente”: 1) a designada como “fraca”, frequentemente aplicada por peritos em economia e por quem toma as decisões, e 2) a designada como “forte”, mais utilizada no contexto da análise ambiental (Joumard & Gudmundsson, 2010). No caso da abordagem “fraca” não há essencialmente nenhuma diferença intrínseca entre as formas naturais e outras formas de capital,

INFLUÊNCIAS

Sociais / Económicas / Éticas / Ambientais

Importância da escala espacial