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O professor responsável de turma como elemento central da afirmação do projeto

4. A direção de ciclo como centro promotor da mudança 33

4.3. Coordenação dos Professores Responsáveis de turma 52

4.3.1. O professor responsável de turma como elemento central da afirmação do projeto

O professor responsável de turma é o principal acompanhante e orientador do desenvolvimento de cada aluno da turma, na globalidade e integração das dimensões pessoal, social, espiritual e académica. É nomeado pela direção pedagógica de entre os professores da turma, mediante parecer do diretor de ciclo, do qual depende diretamente. Por decisão da direção de ciclo este professor acompanha, em regra, a turma ao longo de todo o ciclo de escolaridade, no pressuposto pedagógico que rentabilização do conhecimento dos alunos e pais e torna mais eficiente o acompanhamento, apoio e coordenação dos processos de integração e aprendizagem. Sempre que possível a direção de ciclo mantém, pelas mesmas motivações de caráter pedagógico, esta regra de estabilidade com o conselho de professores da turma.

De acordo com as funções e âmbito de intervenção definidos no regulamento interno da escola (Tabela 9 – Anexo I), o professor responsável de turma coordena todas as

atividades da turma pela qual é responsável e constitui o elo de ligação preferencial com pais e encarregados de educação em assuntos relacionados com os alunos da sua turma. A aposta numa seleção criteriosa, o incentivo dado à formação, o apoio e valorização das funções do Professor Responsável de Turma por parte da Direção Pedagógica é representativa da valorização desta função de liderança intermédia.

A interação do professor responsável de turma com os alunos e com as suas famílias, em articulação com os outros docentes do conselho de turma e as restantes estruturas de orientação educativa (como sejam os serviços especializados de psicopedagogia ou de apoio educativo), colocam-no no centro da maior parte das iniciativas tomadas na escola.

São diversos os autores que reconhecem a importância deste cargo de liderança intermédia na organização escolar.

Sá (1996) refere-se ao professor responsável de turma (diretor de turma) como uma “figura nuclear” na organização pedagógica da escola, caracterizando-o como “gestor

pedagógico”, com uma tríplice função de coordenar a relação com os alunos da turma, a

relação com os pais/encarregados de educação e a relação com os outros professores da turma.

Marques (2002) agrupa as funções do professor responsável de turma (diretor de turma) em três áreas - administrativas, pedagógicas e disciplinares -, traçando, a partir da análise da legislação existente, o seguinte quadro de funções: promoção do sucesso educativo através do apoio a prestar na integração na escola e na turma e no apoio à transição de nível de ensino; orientação vocacional através do aconselhamento na escolha das opções e definição dos projetos de vida; desenvolvimento pessoal e social, através da tomada de consciência dos direitos e dos deveres, promoção da educação cívica, estímulo ao desenvolvimento ético e desenvolvimento da personalidade; coordenação da avaliação formativa e sumativa, através das reuniões de avaliação, preparação de planos de recuperação e avaliação especializada; promoção do diálogo com os pais, através de reuniões e mensagens escritas; atividades administrativas do tipo controlo de faltas, elaboração do processo individual do aluno e relatórios; ligação ao meio, através de contactos com as associações culturais e cívicas locais; relação com

os outros professores da turma, através da coordenação pedagógica; promoção de um acompanhamento individualizado dos alunos, estabelecendo contactos personalizados com todos.

A propósito da diversidade de papéis a que o professor responsável de turma (diretor de turma) tem que saber dar resposta e de quem se espera uma capacidade de intervenção multifacetada Sá (1996), recorda a imagem “super professor” utilizada por Formosinho (1992).

Face ao reconhecimento feito da importância da figura do professor responsável de turma como eixo em torno do qual gira a relação educativa tem sido feita uma atribuição criteriosa deste cargo dentre os professores de cada conselho de turma. É valorizado um padrão de personalidade favorável ao desenvolvimento de relações interpessoais ricas e saudáveis, que revelem na sua participação na vida do colégio atitudes de disponibilidade, flexibilidade, confiança, otimismo, respeito e coerência. Sobre as características comuns a um bom professor responsável de turma (diretor de turma) Marques (2002), afirma que a literatura disponível sobre a direção de turma é unânime em considerar as seguintes: manifestar-se amigo mas mostrar firmeza quando necessário; revelar maturidade e paciência; ser capaz de tomar decisões atempadamente e agir com ponderação; gostar de ajudar os alunos e ser capaz de lhes traçar metas ambiciosas e realistas; revelar expectativas elevadas mas não exigir aquilo que está para além das potencialidades do aluno; estar aberto à diversidade cultural e mostrar um conhecimento profundo dos padrões culturais com expressão na comunidade educativa; ser um bom comunicador; ser eficaz na condução das reuniões. O mesmo autor, numa interpretação da legislação vigente, define um perfil específico para o professor responsável de turma (diretor de turma) que passa pela capacidade de relacionamento e de dinamização, tolerância, compreensão, bom senso, espírito metódico, disponibilidade e capacidade de resolução de problemas.

Pela diversidade de exigências associadas à função, e reconhecida importância, é um cargo cuja atribuição é ponderada em função do perfil definido. Deste modo, os requisitos analisados pela diretora de ciclo na seleção dos professores responsáveis de turma assumem prioridade que se sobrepõem à distribuição de serviço de qualquer outra

função. A atribuição da direção de turma não pode ser dissociada do perfil do docente e de critérios relativos à função que lhe é atribuída (Roldão, 1995).

A coordenação dos professores responsáveis de turma, assegurando a formação e o acompanhamento necessários, tem em vista fomentar a partilha regular, informal, que possibilite aferir critérios comuns de atuação, discussão e reflexão de situações com a turma, as famílias e o conselho de turma, a partilha e apoio face a dificuldades.

No contexto organizacional descrito pretende-se que a tese de Sá (1996) de que o diretor de turma é importante não por aquilo que faz (que é manifestamente pouco, pois não tem condições objetivas e subjetivas de fazer mais) mas por aquilo que é suposto fazer não encontre validade.

O fomento da partilha tem sido uma marca crucial da ação da direção de ciclo. Nesse sentido, mensalmente este grupo de professores reúne formalmente com os diretores de ciclo, com o objetivo de partilhar experiências, refletir sobre elas e avaliar o trabalho realizado. Nestes encontros faz-se o ponto de situação das turmas (partilham-se dificuldades, apresentam-se e debatem-se situações problemáticas concretas, listam-se necessidades,…), preparam-se os conselhos de turma e as reuniões de pais, com base das agendas propostas, projetam-se momentos significativos da vida da escola (semanas temáticas, saídas de turma, festas e celebrações diversas,…).

A diretora de ciclo, estando por dentro das situações com que os diversos professores responsáveis de turma se confrontam no dia-a-dia, solicita frequentemente na coordenação destas reuniões, que seja posto em comum determinada ocorrência, estimulando a partilha de boas práticas e a possibilidade de professores mais experientes proporcionarem momentos de reflexão e aprendizagem a partir de situações concretas. Exemplificativo das vantagens deste tipo de partilhas foram as que desencadearam alterações na forma como os professores responsáveis de turma fazem a condução das reuniões de conselhos de turma de avaliação intercalares ou de final de período. Havendo diversos estilos de condução e permitindo uns, aparentemente, uma análise mais eficiente dos alunos, ou uma participação mais implicada dos professores, foi sendo feita, através dos relatos de diferentes professores responsáveis de turma, uma análise que permitisse tornar percetível que essa maior eficiência estava relacionada

com a forma como o professor responsável de turma preparava as reuniões. Respeitando sempre o estilo e a forma que cada professor responsável de turma imprime na sua reunião, o testemunho e a aferição de procedimentos permite um ganho de confiança na sua atuação. O mesmo tipo de partilha e reflexão conjunta foi também sendo feito relativamente à dinamização e condução de reuniões de pais e encarregados de educação. É frequente os professores responsáveis de turma juntarem-se informalmente, geralmente por nível de ensino, para preparem conjuntamente, ou porem em comum materiais, como as projeções para dinamização das reuniões de pais, ou os conselhos de turma, constatando-se o reconhecimento das vantagens do trabalho em grupo, a abertura e simplicidade com que se partilham ideias, a confiança interpares, o bom espírito relacional do grupo.

Outro exemplo deste tipo de partilha de boas experiências, em conselho de professores responsáveis de turma, relacionou-se com as dinâmicas utilizadas por estes professores na Tutoria12. A partilha de estratégias tem proporcionado que experiências de sucesso se repliquem em diferentes turmas.

Como suporte de todas estas práticas a diretora de ciclo assume, em articulação com os diretores dos outros ciclos, a construção, coordenação e supervisão da organização e arquivo dos documentos e materiais de suporte a um diálogo eficiente e facilitadores da comunicação e partilha da informação com todos os intervenientes no processo educativo: projeto curricular de turma, planos de recuperação e acompanhamento, comunicações informativas para o encarregado de educação de caráter geral (enviadas via email) e de avaliação.

No final do ano letivo o conselho de professores responsáveis de turma realiza uma avaliação de balanço do trabalho realizado ao longo do ano, no que respeita à relação com os outros professores da turma e estruturas da escola, com os alunos e pais, às atividades desenvolvidas com os alunos, em turma, ou a nível mais alargado. Considerada pela direção do ciclo como o momento por excelência de partilha, o balanço desta avaliação é feito com a organização de um dia fora do ambiente escolar,

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Tutoria – área curricular não disciplinar, da responsabilidade do professor responsável de turma, que tem entre os principais objetivos a implementação de estratégias para o desenvolvimento de técnicas e

num local que reúna simultaneamente condições de trabalho e convívio. Com base nesse balanço resultam sugestões e propostas de reformulação de procedimentos, de documentos internos ou de calendarização, respeitantes a diversos setores da vida da escola, que são posteriormente apresentados à direção pelos diretores de ciclo.

É atribuída uma carga letiva suplementar de duas horas ao horário do professor responsável de turma prevista para apoio aos alunos da turma, conversas individuais, atendimento dos pais e atividades de carácter burocrático. A experiência tem revelado que este acréscimo de horas fica aquém do tempo investido pelo professor responsável de turma na criação de uma relação próxima e efetiva com os alunos, o contacto regular com os professores do conselho de turma que permita o acompanhamento da situação dos alunos nas diferentes áreas disciplinares e a comunicação com os pais e encarregados de educação. A diretora de ciclo tem-se debatido pelo reconhecimento da importância do cargo de professor responsável de turma e que tem vindo a ser assumido pela administração da escola, o que se tem traduzido no aumento da remuneração que lhe é atribuída.

Pela posição privilegiada do professor responsável de turma junto dos alunos, pais, professores e os órgãos de gestão pedagógica e orientação educativa, ele desempenha um papel preponderante no acompanhamento do processo educativo dos alunos. A sua ação é fundamental na integração das informações recolhidas junto das famílias nas práticas da escola, possibilitando respostas mais adequadas e eficazes.

Marques (2002) atribui ao professor responsável de turma (diretor de turma) o papel, entre outros, de tutor, definindo-o como um professor que conhece bem os seus alunos, que coordena uma equipa pedagógica, que aproxima todos os membros da equipa educativa, que estimula a conceção e a realização de projetos, que centraliza e distribui toda a informação disponível e que monitoriza a realização das atividades que os projetos exigem. Nesta função, que alude ao professor “tutor” dos alunos da sua turma, o professor responsável de turma personifica a assunção da preocupação da cura

personalis, característica substancial da pedagogia inaciana, pelo investimento no cuidado pessoal, no interesse por cada aluno, no percurso de acompanhamento que faz com o aluno no seu processo de crescimento pessoal.

Face a este contributo essencial do professor responsável de turma (e em articulação com os restantes professores do conselho de turma) na concretização do princípio da “atenção pessoal” concedida aos alunos, os desafios que se colocam para o futuro relacionados com o desempenho da função de professor responsável de turma, deverão constituir particular atenção da direção do ciclo. Como manter nos professores o ânimo, inspiração e forte dedicação a esta tão exigente cargo quando, com o passar dos anos, deixarem de ter impacto os efeitos mobilizadores característicos destes anos iniciais? Como assegurar a existência de um número suficiente de professores com perfil adequado, face ao número crescente de alunos/turmas previsto para os próximos anos e à possível necessidade de substituição de outros, que no desempenho deste cargo vão manifestando cansaço ou ausência de perfil para o seu desempenho? Deverá o perfil e gosto pela atribuição deste cargo constituir uma condição necessária para a admissão de um novo professor na escola, e em detrimento de outras habilitações? Como assegurar uma supervisão eficiente de um tão alargado, e crescente, grupo de professores, na variedade de funções associadas ao desenvolvimento do cargo?

Se algumas destas questões podem encontrar resolução em decisões de caráter mais administrativo, como o ainda maior reconhecimento do cargo, através de uma justa atribuição dum maior número de horas ao seu desempenho, outras questões exigirão a capacidade de visão a longo prazo por parte da direção, na procura de novas respostas que permitam a revitalização e inovação da instituição na continuação do reconhecimento da centralidade do contributo do professor responsável de turma para a concretização do projeto educativo.