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Profissionalidade e as relações humanas envolvendo alunos

6 DISCUSSÕES

6.1 PROFISSIONALIDADE

6.1.4 Profissionalidade e as relações humanas envolvendo alunos

O professor trabalha com seres humanos e é, “a hominidade que, imperiosamente, nos coloca questões de natureza ética no exercício da profissão, tal como acontece com outras profissões” (RODRIGUES, 2010, p. 62).

Dentre as relações humanas estabelecidas pelo professor envolvendo alunos, vários foram os relatos dos professores quanto ao educar e quanto à valorização do aluno, quais sejam:

 a indignação do professor Luís:

[...] professor, a sua aula é diferente lá na Uniube, da aula que você dá aqui? Eu peguei e falei assim: vai na sala tal, assiste a aula, vê e toma uma decisão! A aula é a mesma! Não é porque aqui paga menos do que lá que eu vou dar uma aula diferente! (LUÍS, 2016).

 o exemplo da professora Maria:

eu tenho uma aluna, tinha [...], eu falo assim com muito carinho, muito respeito, [...]. Eu emprestei livros para ela. Ela fez e passou em primeiro lugar. Terminou o terceiro médio e passou na Federal para Engenharia. Escola de onde ela veio? Periferia! Residencial 2000! (MARIA, 2016).

 a fala emocionada do professor Garcia:

Eu acho que eu sou muito emotivo, de repente é um dos motivos por eu estar bem na área do magistério. Porque eu acho que o professor ele não pode ser alheio ao ser humano, o aluno que está na sala de aula. Você tem que conhecer seu aluno. Principalmente quando trabalha na Zona Rural, nós vamos lá e você conhece tudo, a família, porque você dá aula para o pai, você dá aula pro irmão, você dá aula pro primo... Eles são muito próximos, então você conhece todo mundo. Então você tem uma intimidade muito próxima com o aluno, então eu levo isso pra onde eu vou. Então eu quero conhecer meu aluno [...] A gente é muito coruja com os nossos alunos. Muito... E é engraçado porque mesmo que eles deem trabalho, que eles são indisciplinados você fica tão preocupado com eles né?... Tem hora que eu me vejo mais preocupado até mesmo que a própria família. [Uai gente, o que que eu tô...]. Esperar ter os meus também né... porque a gente fica tão... (GARCIA, 2016).

[...] no corredor, ainda na ida para a sala dos professores, um aluno parou a professora, cumprimentou-a com dois beijinhos e disse que estava feliz porque havia tirado 19 em Matemática. Ela brincou dizendo que havia ficado triste porque quando ele era seu aluno não se saía tão bem. Ao que ele respondeu que foi depois dela que ele começou a se sair bem e que era ela que tinha ensinado a ele. Ela ficou feliz e disse que isso é que fazia valer a pena (Diário de bordo das pesquisadoras, 2016).

Para Lino, Macara e Cunha (2011, p. 1036), “atribuindo-se a função principal de educar os seus alunos [...] os professores afirmam a sua profissão como ética, por excelência. Ética, porque educar e formar é criar hábitos, é levar a que se adquiram usos e costumes.” É humanizar, “é fazer com que alguém pertença, por identificação, a uma comunidade, a uma cultura. É agir sobre a maneira de ser e o caráter.”

6.1.5 Profissionalidade e condições de trabalho

Fechando o grupo de tópicos abordados no tema profissionalidade, temos os tópicos voltados às condições de trabalho dos quais elencamos como categorias as condições de trabalho com os alunos e o espaço físico da escola. Por vezes, fica difícil categorizar uma determinada situação em somente um tópico. Exemplo disso, é o depoimento do professor Garcia relacionado ao problema com a gestão da sala de aula e que envolve a gestão da escola, todavia é representativo das condições de trabalho que o professorado enfrenta em muitas escolas brasileiras:

Aí é onde você tinha cada situação, muito difícil... Muito difícil. Já teve situação de assim, de ter que chamar a polícia, aluno usuário de droga, aluno agressivo, aluno... Sabe situações muito complicadas. Só que aí é onde eu te falo que a gestão dá respaldo ao professor, faz a diferença. Que às vezes você não precisa nem de chamar. Ele vê que ali dentro tem algo acontecendo. Ele vê que você está precisando de apoio (GARCIA, 2016).

Pedro e Cunha (2010, p. 910) discorrem sobre a complexidade de dilemas

como esse enfrentado pelo professor Garcia: “optar entre os valores pessoais do

professor ou entre os valores institucionais; [...] agir em função de valores e princípios enunciados ou agir em função dos indivíduos e das situações; ser solidário com os colegas ou ser solidário com os alunos.” São princípios éticos que o professor coloca em ação em sua prática cotidiana.

A utilização e adequação do espaço físico da escola é fator de interferência no trabalho do professor, como exemplificado pela professora Cristina:

[...] tinha 50 alunos na sala esse ano, 52 quando iniciou o ano. O Ensino Médio são nove salas com 52 alunos dentro de sala. Então assim, é difícil, aquele calor. Os quadros, em vista são bons. Tem até dois quadros, mas as salas... Tem sala que cabe 30 alunos, eles queriam colocar 50 lá dentro, então não tem como colocar as carteiras.

[...] é um ritmo cansativo, que não é todo mundo que tem esse pique que eu tenho,.entendeu? Eu acho que o meu diferencial é esse, é esse pique da sala de aula, é não deixar o aluno ficar ocioso, nem a tarde, nem de manhã (CRISTINA, 2016).

Sobre essa questão do espaço físico, Geraldi, Fiorentini e Pereira (2001, p. 81) dizem:

É o agravamento de uma situação que já era crítica. Criam-se vagas onde inexiste espaço físico. Isso tem acarretado o aumento substancial do número de estudantes por classe – que já era limite, pois matrículas haviam sido recusadas – ou a criação de espaços alternativos, provocando deslocamento de crianças e docentes do ambiente escolar para salas de aula funcionando fora da escola. Isso traz como consequência a fragmentação física da unidade escolar.

Fica a certeza, mais uma vez, de que a conduta ética profissional do professor nem sempre depende exclusivamente dele, está atrelada ao contexto escolar, faz parte do universo chamado escola.