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Programa Acordes – Instituto Pão de Açúcar de Desenvolvimento

5 ANÁLISE DE UM MODELO DE GESTÃO

5.4 Programa Acordes – Instituto Pão de Açúcar de Desenvolvimento

No âmbito do Desenvolvimento Humano e Social proposto na atuação socialmente responsável do Grupo, o Instituto Pão de Açúcar realiza os investimentos sociais externos da empresa, com o objetivo de promover desenvolvimento humano por meio da educação de crianças e jovens de comunidades no entorno de suas lojas.

A educação de crianças e jovens foi definida como o foco principal da atuação do Instituto, por sua propriedade de ser a grande desencadeadora do círculo do desenvolvimento e da transformação do cenário social, numa proposta complementar ao papel no Estado na educação formal. Desde a constituição do Instituto em 1998, havia na empresa a consciência de que este deveria ser um investimento contínuo e de longo prazo, por não haver a menor possibilidade de avaliar a obtenção de resultados coletivos e de impacto social no curto prazo.

Constituído como uma empresa sem fins lucrativos do Grupo Pão de Açúcar, o Instituto apresenta dentro do seu plano estratégico, planos de trabalho e orçamentário anuais que, aprovados pelo Conselho Deliberativo do Instituto e pela Diretoria Executiva do Grupo, recebe a doação de recursos de seu mantenedor. Em sete anos de atuação, o Instituto investiu recursos nominais da ordem de R$ 57

milhões especialmente na área de tecnologia educacional validada junto aos 54 mil crianças e jovens atendidos diretamente pelos programas educacionais.

Antes de serem concebidos, em 1998 foi realizada uma pesquisa dividida em duas fases, uma quantitativa com 16.188 e outra qualitativa com entrevistas em profundidade com 36 trabalhadores, todos eles da própria empresa, residentes na Grande São Paulo e agrupados por faixa de renda: até R$ 500,00; de R$ 501,00 a R$ 850,00; de R$ 851,00 a R$ 1.500,00; acima de R$ 1.500,00.

O objetivo da pesquisa era identificar necessidades dos trabalhadores de baixa renda com relação à educação de seus filhos, os segmentos de ação e atividades a serem realizados pelo Instituto, que para este público alvo fossem prioritários, despertassem motivação e interesse e contribuíssem com sua educação integral. As conclusões gerais apontaram que os trabalhadores:

• apesar das frustrações materiais, não apresentam revolta com relação à vida, mas sim o desejo de vencer e ascender, sentem-se gratificados por suas conquistas até então, são otimistas com relação ao futuro e batalhadores;

• valores familiares e união familiar (especialmente com a mãe trabalhando fora) têm muita importância, sobretudo na relação com os filhos, com quem os pais e mães buscam aprofundar a relação afetiva (atenção, amor e carinho), indo além dos cuidados básicos e não incorrendo no erro de uma educação fria e distante;

• esperam que a escola ensine, dê a formação acadêmica e o diploma, sem maiores expectativas com relação ao governo, considerado um provedor do ensino e da segurança;

• reconhecem, no entanto, que a capacitação dos filhos para a vida inclui uma educação complementar que diminua a precariedade cultural e social a que estão expostos;

• valorizam a participação da iniciativa privada na educação, como um acréscimo à educação formal, contribuindo em áreas que nem a família nem a escola pública tem conseguido suprir.

Neste sentido, suas maiores demandas foram:

• segurança para os filhos enquanto estão no trabalho;

• atividades de lazer além da tv e vídeo game e que não estimulem o envolvimento com drogas, violência ou sexualidade precoce;

• alternativas de convívio social, vida comunitária e desenvolvimento de relações inter-pessoais;

• educação integrada no contra turno da escola, em programas que desenvolvam o raciocínio, a atenção, a auto confiança, a sensibilidade, o trabalho em grupo e a disciplina, além de línguas e informática, para que possam a partir dos 16 anos competir no mercado de trabalho.

Estes dados foram a base para o desenvolvimento de uma proposta de educação integral onde o participante é considerado na sua totalidade, deve estar integrada à educação formal, mas não se esgota na escolarização, razão pela qual foram concebidos os programas educacionais que, a partir de 1999, por meio do complemento ao ensino fundamental, música, esporte, cultura e inclusão digital, entre outras metas, trabalham a qualificação educacional e preparação profissional de crianças e jovens com idades de entrada no Instituto entre 7 e 18 anos. O conjunto de programas foi sendo aperfeiçoado desde então e constituiu a tecnologia educacional do Instituto, ilustrada pela figura 4.

Figura 4 – Tecnologia Educacional do Instituto Pão de Açúcar de Desenvolvimento Humano

No centro, está o lema, na prática uma diretriz comum a todos os programas, que é a educação para a ética, o protagonismo e a autonomia. A partir dele, os educadores trabalham quatro dimensões, independente da faixa etária do participante ou do conteúdo, que assume posição importante, mas não prioritária dentro da concepção de aprendizagem que vê o participante como agente.

A dimensão pessoal, a partir de um conhecimento de si mesmo, de sua ação no mundo e de suas expectativas para o futuro, funciona como um elemento desencadeador na busca de novos patamares de qualidade de vida. É voltada para valores universais e para a formação de um indivíduo que se valoriza e se destaca em seu meio social por um referencial sólido no campo afetivo e cultural e que faz da ética um lema de vida.

A dimensão social busca a construção de uma visão coletiva e crítica da vida social como base de toda a conduta humana, para o relacionamento e o convívio grupal, onde o meio é um fator motivador para conquistas individuais, coletivas e para a convivência com diferenças. Normas grupais, formação de times solidários, grupos de arte, cultura e comunicação proporcionam situações de aprendizagem do coletivo e no coletivo e permitem a auto-percepção como sujeito histórico capaz de assumir compromissos e responsabilidades sociais.

A dimensão cultural enfatiza a vida em sociedade como um jogo de espelhos, que ora mostra a riqueza de uma comunidade, ora aponta para o direito que cada cidadão tem de conhecer novos caminhos. Concilia o respeito à tradição e o olhar para a modernidade, possibilitando a visão global e a ação local e ampliando a

capacidade da criança e do jovem de criar e expressar suas idéias e sentimentos por meio de vivências culturais de naturezas diversas.

A dimensão ambiental possibilita que temas ligados aos direitos humanos e à cidadania sejam abordados como questões sociais, políticas, econômicas e culturais. A dinâmica dos direitos humanos está ligada às condições da vida em seu aspecto ambiental, numa nova ética do sujeito com o seu meio “total”, cabendo também a ele a responsabilidade pela ação, prevenção e solução de problemas; cada um é parte do meio e por isso deve ser um “usuário” responsável nos mais diferentes contextos.

Do lema e das dimensões abrem-se, então, quatro categorias de programas, adequadas às necessidades identificadas e a cada faixa etária: ampliação de linguagens, esporte, música e preparação para o trabalho.

Desta forma, a Tecnologia Educacional tem seu lema e dimensões operacionalizados por meio de cada categoria de programas, num formato que pretende ser dinâmico e interessante para o participante, de modo que ele tenha a oportunidade de ingressar no Instituto entre 7 e 18 anos de idade, percorrendo um percurso formativo de longo prazo, seja numa mesma categoria, seja migrando de uma categoria para outra. Quanto mais cedo for sua entrada, maior será a possibilidade de opções de categorias, maior será a aprendizagem e a possibilidade de interferência positiva nos rumos da sua vida (quadro 1).

Quadro 1 – Grade de Tecnologia Educacional

A principal estratégia do Instituto reside numa dinâmica simples que tem se intensificado: ser produtor e depois distribuidor de tecnologias sociais a partir de suas unidades, centros educacionais próprios instalados em lojas do Grupo Pão de Açúcar, elementos de ligação direta com o negócio da empresa. Todos eles têm localização central nas cidades escolhidas, facilidade de acesso por transporte público e área disponível para a instalação de salas de aula, laboratórios de informática, salas de música, áreas de convivência e anfiteatro quando o espaço permite.

Denominados Casas, atualmente são seis centros educacionais em funcionamento nas cidades de São Paulo, Osasco, Santos, Rio de Janeiro, Taguatinga e Fortaleza, operando como laboratórios de desenvolvimento, aplicação e validação dos programas educacionais em quatro dos atuais quinze Estados do Brasil em que atua o Grupo. A previsão é até 2012 o Instituto expandir sua atuação para todos eles, através de implantação de mais quatro unidades próprias e através de parcerias que potencializem a execução das tecnologias sociais.

Esta tecnologia começou a ser transferida, especialmente a partir de 2003, em escala para ONGs e instituições públicas, num movimento que pretende criar uma grande rede de influência e transformação social. A expansão através da replicação e multiplicação dos programas, com ampliação da capacidade de atendimento é um dos principais indicadores de impacto social de programas desta natureza e do nível de desempenho do Instituto.

Dentro do categoria Música, o Programa Acordes é uma destas tecnologias, tendo começado nas Casas do Instituto a partir de 1999 e se expandindo por meio de parceria a partir de 2003.

5.4.1 Aspectos operacionais

A proposta do Programa é promover a educação integral com a utilização da música como ferramenta de desenvolvimento humano, considerando que ela é uma das mais elevadas formas de cultura, lazer, interação social e de expressão dos vários sentimentos e emoções que podem traduzir a tradição cultural de um povo.

Ele acontece em diferentes versões em função das características regionais, mantendo-se a estrutura básica e características do programa – aprendizado coletivo resultando na formação de uma orquestra ao final do primeiro ano – mas buscando-se uma adequação aos ritmos e instrumentos de cada região. No Rio de Janeiro, o resultado é a orquestra de Música Popular Brasileira, em Fortaleza, é a Orquestra Acordes Terra do Sol, e em Brasília, é a Orquestra de Metais e Percussão.

Em São Paulo, a proposta resulta na formação de uma orquestra de Cordas a partir do aprendizado de música erudita. Historicamente, porém, ele tem sido desenvolvido entre as classes sociais economicamente favorecidas, criando uma prática elitista que corresponde à idéia equivocada que ela é difícil de se ouvir e aprender, um privilégio de poucos.

A idéia do programa é, contrapondo-se a este equívoco, contribuir para a formação de crianças e jovens de 10 a 18 anos, alunos do ensino fundamental ou

médio, através do aprendizado de instrumentos de cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo) de forma rápida e prazerosa, do ensino da história da música e apreciação de seus compositores, além de promover o enriquecimento cultural e o desenvolvimento da qualidade de vida. Aprender a tocar um instrumento e assim, ter a oportunidade de participar de uma orquestra tem grande significado em termos de cultura e socialização.

Tais resultados são possíveis em função da estratégia de realização dos programas do Instituto: sua equipe própria se encarrega da gestão, das diretrizes educacionais gerais, da destinação de recursos, da implantação e coordenação das Casas, enquanto uma empresa especializada no conteúdo proposto se encarrega de sua execução. Esta é uma forma de terceirização que envolve, porém, uma parceria de princípios e compromisso com a educação e com o jovem.

No caso do Programa Acordes, a empresa executora é “Acordes para as Cordas Produções”, cujos responsáveis, a musicista Renata Jaffé e o maestro Daniel Misiuk desenvolvem o método Jaffé de ensino coletivo de instrumentos de cordas.

Em 6 anos de trabalho, de 1999 a 2005 e em três cidades, São Paulo, Campinas e Santos, o programa atendeu 2.410 participantes sem nenhuma prática musical anterior no ensino coletivo dos quatro naipes durante dois anos, sendo que cerca de 30% deles teve continuidade no nível avançado, de um ano, onde cada naipe teve aulas em grupos menores no primeiro semestre, e aulas individuais no segundo semestre. Já em 2006, está havendo um ajuste da duração do programa, agora realizado em três níveis: iniciação em um ano, desenvolvimento em mais um

ano, e orquestra em no mínimo dois anos. Seja por interesse ou talento, vai acontecendo um “filtro” que naturalmente seleciona os participantes de um nível para outro.

A partir de 2003, os resultados expressivos das apresentações públicas foram aproximando os objetivos de expansão e multiplicação das tecnologias sociais do Instituto Pão de Açúcar com os interesses da Prefeitura de São Paulo em colocar em funcionamento programas culturais nos recém inaugurados CEUs – Centros de Educação Integrada.

Construídos sob grande polêmica, se estariam recebendo recursos que deveriam ser direcionados à escola formal, os CEUs chegaram com a proposta de oferecer não apenas escola de educação infantil e ensino fundamental, mas também oferecer a toda comunidade atividades culturais, esportivas e de lazer em regiões carentes e mais periféricas da cidade, sem acesso aos eventos privados e sem oferta de equipamentos públicos.

Foi firmada, assim, uma parceria entre a Prefeitura, o Instituto Pão de Açúcar e o Banco Santander para implantação do programa “Acordes no CEU”, numa versão compacta do “Acordes Pão de Açúcar”, mas empregando a mesma proposta, metodologia e estrutura, numa garantia de resultados e impacto sobre as comunidades atendidas. Esta era a responsabilidade e papel do Instituto Pão de Açúcar na parceria, coordenador geral do “Acordes”, cabendo ao Banco Santander a compra dos instrumentos musicais e à Prefeitura a disponibilidade do espaço público, cessão de equipe administrativa e principalmente, realização institucional do programa.

Numa proposta piloto, o programa começou em quatro dos vinte e um CEUs, Butantã, Jambeiro, Cidade Dutra e Perus, dirigido a crianças e adolescentes de 11 a 18 anos, matriculados entre a 5ª e 8ª série do ensino fundamental ou no ensino médio da rede pública de São Paulo. A adesão foi imediata, as turmas rapidamente formadas, numa clara demonstração do interesse e da busca das comunidades mais carentes por alternativas de qualificação educacional e ampliação cultural. Nos anos de 2003, 2004 e 2005, participaram 2.250 crianças e adolescentes.

Os alunos freqüentam as turmas de ensino por um semestre e aprendem a tocar um dos instrumentos em formato de orquestra desde o primeiro dia de aula. Ao final do primeiro semestre realizam uma apresentação para o público do CEU. A partir do 2º semestre, aqueles que se destacam e têm interesse em continuar, passam por uma seleção para integrar os ensaios da orquestra. O repertório da orquestra percorre todas as fases da história da música, seus compositores e estilos, trilhas sonoras e músicas “pop”. Para a orquestra são previstas duas apresentações no ano para o público do CEU. A cada semestre, duas novas turmas de ensino são abertas, de forma a multiplicar o acesso dos jovens ao programa e alimentar a quantidade de integrantes na orquestra e sua permanente continuidade.

5.4.2 Aspectos do Desenvolvimento Social

O contato com a música e com os espaços culturais que ela proporciona, traduz-se em mudanças positivas e significativas nas vidas dos jovens: sua visão de mundo adquire outras perspectivas, o círculo de relacionamentos ganha outros contornos, o nível de qualidade de vida e de oportunidades são ampliados. Estudar música implica ainda, dedicação, empenho, concentração, disciplina, trabalho em

equipe, conduzindo a mudanças nas atitudes e comportamentos dos jovens, que desenvolvem maior maturidade, responsabilidade e critério na escolha de suas atividades, formam outro círculo de amizades, desenvolvem novas habilidades de convivência e convívio com diferenças, vislumbram melhor seu futuro.

Pesquisas qualitativas realizadas periodicamente com os participantes indicam um efetivo crescimento das crianças e adolescentes, quando colocados frente a outros jovens da mesma faixa etária e condições de vida. A despeito das limitações culturais em que vivem, constata-se uma relação mais otimista com a vida, reconhecem seu crescimento intelectual, sensorial e moral, sentem-se mais fortalecidos e preparados, com maior auto-estima, iniciativa, melhor nível de relacionamento e convivência nos diferentes grupos, melhor visão da sociedade e conseqüentemente, melhor percepção do mundo.

No Programa Acordes, isto se dá principalmente pela dinâmica que prevê um resultado concreto e um ganho de habilidades e competências em função da orquestra. Na versão completa realizada na Casa do Instituto Pão de Açúcar, já a partir do primeiro ano do nível básico, o jovem pode vir a participar da orquestra, formada por 40 integrantes em função do seu nível de aprendizado e interesse, além de um talento musical que possa ter se manifestado. Atualmente são duas orquestras principais com integrantes titulares e suplentes, nas cidades de São Paulo e Santos, que realizam apresentações para um público da mesma faixa etária em escolas públicas, teatros municipais de bairro e nas principais salas de concertos da cidade, como o teatro Municipal e a Sala São Paulo.

O número de apresentações, 120 em 6 anos surpreende menos que o número de espectadores alcançados, cerca de 60 mil, especialmente por se tratar em sua grande maioria, de crianças da rede pública de ensino. A série “Recreio nas Férias” das escolas públicas municipais, nos anos de 2001 a 2004, foi uma das mais marcantes por ter levado durante as férias escolares de julho crianças a realizarem atividades culturais no centro antigo de São Paulo, incluindo visita monitorada ao Teatro Municipal e apresentação da Orquestra Acordes Pão de Açúcar.

Na versão compacta realizada nos CEUs, ao final do semestre a orquestra começa a ser formada e a realizar suas primeiras apresentações públicas. Com o programa funcionando em quatro CEUs, são quatro orquestras que tem se apresentado individual ou coletivamente. Dois anos depois de iniciado o programa, a apresentação mais marcante aconteceu no final de 2005, na inauguração da árvore de natal no Ibirapuera, para um público superior a 10.000 pessoas que percebeu o alcance desta proposta educacional, seja para os jovens, como para si mesmo.

Com isto, um outro grupo de objetivos é atingido, relacionados ao público espectador, que também pode aprender um pouco sobre a música e seus compositores, desde os barrocos, clássicos, até os românticos e mais contemporâneos. Apresentações didáticas, estimulantes e prazerosas promovem o acesso à música, o contato com os instrumentos de cordas que formam uma orquestra e suas características, disseminam o gosto pela música e pela apreciação musical, criando um público apreciador de concertos que passa a enxergar que a música clássica não é só para elites, pode e deve ser ouvida e apreciada por qualquer público em todas as faixas etárias.

Outro resultado significativo é observado junto às famílias que passam a ser público cativo das apresentações, apoiando e manifestando seu “orgulho” por ter um membro da família em condição de destaque, literalmente aplaudido pelas novas competências desenvolvidas. O programa acaba sendo um fator de estreitamento das relações familiares.

Tudo isso diz respeito, porém, a um aspecto mais imediato e visível junto ao grupo participante, mas há outro tipo de resultados perceptíveis no longo prazo, com efeito transformador da realidade social, já que se trata de uma iniciativa que democratiza as oportunidades de desenvolvimento humano.

Grande parte da população brasileira urbana de jovens, mesmo escolarizada, tem um déficit em sua formação básica, seja pela qualidade de ensino, seja pela educação complementar à escola formal. Já é senso comum que uma das alternativas mais estratégicas para o desenvolvimento é o investimento na educação dos mais jovens, o que pode dar conta da complexidade de inserção numa economia globalizada, da diminuição das desigualdades sociais e da elevação do nível de exercício da cidadania e de participação democrática das pessoas.

A educação como condição transformadora fica concretamente visível a partir do momento em que os jovens começam a abrir outro campo de possibilidades, como aqueles que após sua participação no programa, entram em universidades de música, se não públicas como a USP, com bolsas parciais ou integrais, em função de seu nível de conhecimento. Mesmo não tendo o objetivo de profissionalização, muitos deles acabam por descobrir seu interesse e talento musical, iniciando uma carreira até então sequer considerada, prosseguindo com estudos particulares

subsidiados pelos ganhos que começam a ter como músicos semiprofissionais. Importante ponto de destaque é a passagem de alguns deles do status de aluno para o de professor: nos CÉUS, os professores são ex-alunos, supervisionados pelos especialistas no método de ensino.

5.4.3 Dificuldades e Desafios do Programa

O primeiro desafio é transformar em prática pedagógica os resultados da pesquisa inicial realizada pelo Instituto Pão de Açúcar com as famílias, que apontaram aquilo que mais lhes interessava, de acordo com sua própria vida, história, expectativas e visão de futuro. De alguma forma, falavam de suas esperanças e sonhos, retratados em seus filhos e viabilizados através da educação não formal, necessária e significativa na descoberta de potenciais e de outras possibilidades de futuro.

Realizar o programa nas Casas do Instituto implica em um atendimento direto que valida o método e os resultados obtidos junto a um número expressivo de