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Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB): uma

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A REALIDADE DE SUBMISSÃO:

3.1. Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB): uma

proposta democrática de Avaliação Institucional

Entre as diferentes concepções de avaliação institucional, desde sua criação, em 1993, o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) apresentou-se como uma proposta democrática de avaliação. Seus princípios e características, colocados como desejáveis pelos autores que com ele comungam, dão relevo ao espírito democrático e participativo. Fundado na idéia de que a Educação é um direito e um bem público, o PAIUB entende que a missão pública da Educação Superior é formar cidadãos profissionais e cientificamente competentes, ao mesmo tempo que comprometidos com o projeto social do país. Por causa desse jeito próprio de pensar a educação, o programa recebeu adesões de muitas universidades e instituiu um modelo de avaliação institucional coerente com as demandas internas dessas instituições. A proposta do PAIUB como programa de avaliação das universidades brasileiras colaborou para a formação da cultura de avaliação em muitas universidades e previa a auto-avaliação como etapa inicial do projeto.

Vivida por algumas instituições, essa prática propiciou a reflexão crítica do seu cotidiano e desenvolveu formas de crescimento sustentável capazes de manter até hoje, como universidades de excelência apesar da crise no setor educacional. Entre outros fatores, esse fato acentuou o desinteresse do MEC em relação ao modo pelo qual o PAIUB vinha evoluindo. Era evidente que ele representava um poderoso instrumento de sensibilização dos professores e das instituições, indicando que aquelas que aderiram ao programa, mesmo sentindo a necessidade de que o processo fosse refeito, conseguiram avançar enquanto instituições avaliadoras de si mesmas e criaram no seu interior a inquietude sobre a importância do ato de avaliar e de se auto-avaliar.

Enquanto proposta democrática, o PAIUB apresentou outras características inclusivas como a de ser participativa, consensuada, negociada, voluntária e crítica do controle e da regulação. Por isso mesmo, enfrentou contradições dentro da própria composição.

A primeira contradição, consistia em saber como construir um processo de avaliação interno produtivo e capaz de sustentar-se criticamente na ausência de uma cultura de avaliação e que pudesse contradizer o controle e a regulação da avaliação externa. A segunda contradição revela o ranço da tradição ou a inclinação para o controle e para a regulação inerente ao poder. Vista sob essa ótica, a universidade revela-se uma instância de saber e de poder, porém, carente de mecanismos para exercê-los de forma democrática na avaliação institucional.

A princípio, o PAIUB, com a missão de construir o projeto avaliativo emancipador, caminhava construindo o caminho, porque à universidade faltava a cultura da avaliação. Essa e outras contradições advindas do campo político o envolveram e dificultaram o andamento do programa. Na falta do conhecimento e de uma prática avaliativa construtiva consistente, as IES são mais suscetíveis a erros. É certo que a aprendizagem se faz também com erros, no entanto, é preciso considerar que a jornada fica mais longa e, na maioria das vezes, muito sofrida. Isso pressupõe, também, que o tempo e o espaço de amadurecimento se impõem como uma necessidade. Foi o que faltou ao PAIUB: tempo para responder criticamente às contradições surgidas no seu interior, já que o processo de avaliação que propôs, não era linear.

Incompreendido neste aspecto, o PAIUB foi tomado como um programa inviável como modelo oficial para que pudesse, em longo prazo, construir o processo histórico de avaliação nas universidades. Mesmo assim, é importante destacar a grande contribuição desse programa na consolidação de uma cultura institucional de avaliação, pois mesmo tendo vida oficial curta, promoveu significativas mudanças institucionais. A partir dele, muitas das IES brasileiras, e especialmente a Universidade de Campinas (UNICAMP) e a Universidade de Brasília (UnB) preocuparam-se com seus programas de avaliação e aderiram, voluntariamente, à formação de uma cultura avaliativa interna e externa.

O importante ao analisar a construção da cultura da avaliação diz respeito ao processo de desenvolvimento do PAIUB e os resultados apresentados, que embora pouco expressivos, provocaram debates positivos acerca da atuação dos atores na universidade, no sentido de as IES pensarem “prospectivamente a educação”, anunciando uma nova forma de ver e sentir a avaliação na instituição. Enfim, com essa nova forma de interpretação do que foi e do que deve ser o processo avaliativo, surge também a preocupação de compreendê-lo numa relação dialética e histórica.

Como programa interno de avaliação da universidade, o PAIUB, então, criou princípios e critérios para construir, desconstruir e reconstruir a relação dialética da avaliação nas IES. No entanto, o tempo foi seu elemento redutor, porque não lhe permitiu construir e expressar o real estado da situação das relações erradas no processo que hora se iniciava.

A força do Estado controlador imposta na forma da Lei nº 9.131, de 24 de dezembro de 1995, que instituía o ENC (Exame Nacional de Cursos), diferentemente do que o PAIUB vinha fazendo, dá ênfase aos resultados e não ao processo. A partir daí o foco é o ensino, o curso, estabelecendo-se, com base nos resultados, o ranqueamento das IES. É exatamente neste ponto que a segunda questão contraditória da avaliação do programa PAIUB,

mencionada anteriormente, entra em discussão. A avaliação pode fugir do caráter regulador e controlador sem ser neutra ou ser autônoma.

Se a avaliação torna-se neutra, entregue a si mesma, cada vez mais se moverá num círculo especulativo infecundo, distanciando-se da prática. Perde a sua finalidade primeira que é a constituição de estratégias para a construção de uma ponte efetiva entre a universidade e a realidade social. Por outro lado, não pode ser também só controladora e reguladora das relações de poder atendendo somente aos interesses das classes dominantes. Há que estabelecer o equilíbrio entre os interesses de ordem ideológica e política e os ideais da universidade e da sociedade que precisam resgatar o direito de igualdade dos desfavorecidos da política neoliberal.

Nesta perspectiva, a avaliação institucional precisa se apresentar como sendo mais que um simples debate técnico ou metodológico, ou como um conjunto de critérios para alcançar os objetivos do credenciamento ou ranqueamento de Instituições de Ensino Superior (IES). Ela é um processo histórico e, por isso contínuo, de questionamentos do fazer de cada um e do fazer coletivo em prol da transformação da universidade da contemporaneidade e da sociedade em rede. Nela, o individual e o coletivo buscam e unem forças contra o surgimento dos diferentes tipos de exclusão social e, sobretudo, na luta pela construção de uma comunicação mais eficiente e no combate às ideologias do poder dominante.

De acordo com o pensamento de Santos Filho (2000, p.32) o conceito de “avaliação reguladora do Estado representou mais uma medida polêmica da política de educação superior que veio recolocar o problema da avaliação institucional na agenda nacional de discussão”. Isto porque, como instrumento de avaliação do “Estado controlador”, o PROVÃO foi imediatamente rejeitado e até boicotado pelos estudantes nas universidades. A polêmica cresceu e gerou novos debates e novas formas e/ou critérios desse tipo de avaliação foram criados pelo Estado.

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), no entanto, continua sendo instrumento de avaliação reguladora e leva em conta os interesses do governo. Tanto em um, quanto em outro caso, esses sistemas de avaliação até então visaram somente resultados. Os relatórios concluídos e levados ao conhecimento do público pelo Estado têm como objetivo divulgar dados relevantes que interessam somente à lógica do mercado, como observa Coêlho (2000, p.64) quando descreve os dois tempos da lógica oficial, o do mercado e o da universidade:

O mercado trabalha com uma lógica diferente e com um tempo cada vez mais rápido, cobrando, de modo equivocado, mudanças na universidade, na pesquisa, nos cursos de graduação e de pós-graduação. A vida acadêmica, o ensino e a pesquisa, entretanto, transcorrem num tempo mais lento, necessário às discussões teóricas, às opções metodológicas, à realização das experiências, ao confronto e revisão dos resultados e conclusões, ao repensar e refazer dos caminhos já trilhados, à produção de teses, livros e artigos, ao preparo das aulas e conferências à realização dos processos concretos de busca do saber, de ensinar e do aprender, à criação de novas práticas acadêmicas, às mudanças do currículo, à continuidade dos projetos de pesquisa, à formação e à orientação dos estudantes, à elaboração dos relatórios, à participação nas comissões examinadoras e nas reuniões de departamentos. Nada disso é medido pelas notas do exame nacional dos cursos (provão), pelo ranking das instituições, pela quantidade de mestres, de doutores e de publicações.

O que o tempo e o processo histórico nos fazem verificar atualmente é que a avaliação institucional é um conjunto complexo de idéias e práticas tanto do Estado, quanto da Universidade que requer um movimento contínuo no cotidiano de ambos. As idéias e as práticas de avaliação devem estar em busca da construção dos meios que buscam fins desejados. Por serem desejados, esses fins são também incertos, desconhecidos e só poderão ser desvendados através do confronto, dos conflitos e dos embates do dia-a-dia. Na construção, desconstrução e reconstrução do que é o ideal tem lugar o processo de avaliação, não só do grupo dominante, mas de todos os atores envolvidos no trabalho da comunidade acadêmica.

Nesse sentido, a análise do elenco deve ser feita de dentro para fora e de fora para dentro. A avaliação interna é tão necessária quanto à avaliação externa. Apesar de sua complexidade, dos erros já cometidos nessa área e dos equívocos que, nem sempre se consegue evitar ao fazer a avaliação, não se pode contestar ou adiar esse salutar processo que deve sempre acompanhar o desenvolvimento das atividades acadêmicas, de fundamental importância à existência e à construção da universidade.

Com esse entendimento, Santos Filho (2000, p.64) considera que o PAIUB representou a melhoria da educação superior no país e assevera que “seria importante que se preservasse o equilíbrio de poder avaliador nas universidades e seus órgãos representativos e que cada segmento buscasse aprimorar cada vez mais seus instrumentos de avaliação”. Nessa compreensão, um bom programa de avaliação interna institucional poderia garantir o equilíbrio entre avaliação externa, realizada pelo Estado, e avaliação interna, realizada pela universidade.

Isso prova que o PAIUB foi uma experiência ímpar de avaliação institucional no Brasil porque seus resultados mostraram que a proposta, se levada a sério por mais tempo, ofereceria melhores oportunidades para alcançar a qualidade de ensino tão desejada no nível

superior. Dessa forma, poderia estabelecer o equilíbrio entre a avaliação interna na universidade e a avaliação controladora do Estado. Apesar do interesse e da pressão que as universidades exerceram sobre ele, o PAIUB não chegou a ser desativado, porém, substituído por outros programas, o PROVÃO, um instrumento desacreditado pela sociedade, e o ENADE, que é, atualmente, o instrumento de avaliação do SINAES, ainda um protótipo do Estado controlador.

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