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Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB

COMMITTEE 102 2.7.2.1 Utilidade

2.4 UM RESGATE HISTÓRICO SOBRE A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

2.4.4 Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB

A discussão sobre o desenvolvimento e a consolidação da educação superior, e do seu sistema de avaliação como ferramenta de construção e posicionamento social, se amparou em questões significativas levantadas pelos modelos propostos anteriormente ao segmento. Apesar do hiato que se identificou ao final das discussões do GERES, as propostas de avaliação ganhavam destaque a partir da relação entre a estrutura avaliativa e os instrumentos legais, que surgiram com a promulgação da Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988).

Para Costa, Ribeiro e Vieira (2010), a avaliação passou a determinar um novo momento na educação superior do Brasil, permitindo o desenvolvimento de novas concepções sobre as instituições, e determinando uma gama de modelos que passavam a adotar metodologias quantitativas e qualitativas. Desse modo, tornava-se fundamental consolidar uma estrutura que englobasse diagnóstico, julgamento, avaliação, regulação e supervisão, orientando a construção de um novo significado à educação superior, a qual buscava iniciar um processo de democratização.

Essas orientações influenciaram a gestão das Instituições de Educação Superior, direcionando um novo processo de tomada de decisão, que acompanhava um momento significativo de mudança social do Brasil. Nesse cenário, tal como evidenciado por Cunha (1998), a avaliação institucional retorna ao cerne das discussões que envolvem a relação entre Estado e sociedade, contribuindo com a construção de um modelo de instituição desejado e com o debate sobre o posicionamento da educação superior em um contexto de desenvolvimento.

Nesse sentido, Bertolin (2004) destaca que a consolidação da missão institucional deveria pautar-se em ações que promovessem o desenvolvimento da avaliação como aspecto fundamental para a expansão e para a democratização do acesso à educação superior.

Sendo assim, o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) representa um marco importante no desenvolvimento da educação superior no Brasil. O PAIUB surgiu para consolidar sistemáticas de ensino, buscando identificar a eficiência curricular dos programas de graduação, por meio de métricas de desempenho docente, discente e da estrutura física da instituição.

No bojo dos objetivos, o PAIUB tinha a intenção de aperfeiçoar e desenvolver um projeto institucional de modo a integrar as ações com as

propostas de desenvolvimento social, melhorando a qualidade acadêmica e tornando a avaliação um ato democrático, voluntário e auto-regulatório, preconizado pelas próprias instituições (BARREYRO; ROTHEN, 2008b).

Em sua concepção, o PAIUB pretendia agregar valor aos modelos institucionais, promovendo a representatividade dos segmentos acadêmicos na construção das propostas de avaliação. Em geral, as diversas discussões promovidas serviram de base para a construção das orientações vinculadas a estrutura do novo modelo avaliativo, contando com a comunidade acadêmica no sentido de aperfeiçoá-lo (CARNELLI; COSTA; BRAGA, 2008).

No âmbito de seus princípios, o PAIUB concebia a avaliação institucional como um processo voluntário e de adesão consciente das instituições, instituindo a auto-avaliação como parte de um processo que culminava na avaliação externa. Assim como os demais intentos, o PAIUB preconizava a construção de uma cultura de avaliação que permeasse as concepções de desenvolvimento, democratização, acesso, eficiência gerencial e de ensino, além da orientação ao processo de expansão por meio de direcionamentos de qualidade (PALHARINI, 2001; POLIDORI, ARAÚJO; BARREYRO, 2006).

Em termos gerais, a proposta do PAIUB era a de conciliar os objetivos institucionais com os níveis de qualidade almejados pelas políticas públicas, segmentando o programa em etapas correlacionadas. Assim, operacionalmente, a primeira etapa estava estruturada para construir um diagnóstico do processo educacional, com dados quantitativos sobre os critérios de análise estabelecidos, culminando na segunda etapa, a avaliação interna, que contemplava a participação da comunidade acadêmica. A terceira etapa correspondia à avaliação externa, a qual era realizada por profissionais da educação superior com conhecimentos importantes na área da avaliação, sistematizando os resultados da avaliação interna e direcionando ações importantes na consecução dos objetivos propostos (BRASIL, 1994).

As avaliações desenvolvidas no âmbito do PAIUB e que seguem as orientações básicas deste Programa podem ser vistas a partir de distintos ângulos. Podem ser examinadas na perspectiva de sua função ou finalidade e, então, as classificamos predominantemente com formativas, no sentido de que são mais comumente internas e centradas no processo, tendo em vista a melhoria da qualidade;

são secundariamente também somativas, em muitos momentos, quando se dedicam, por exemplo, a quantificar ou determinar os diversos níveis de eficácia do objeto. Observemos, entretanto, que o caráter somativo nesse processo mais amplo e dominantemente formativo, voltado para a melhoria da instituição, não tem aqui aquele sentido que com mais freqüência surge nas definições das avaliações formativas, predominantemente externas e finalísticas, quase sempre com função de controle, desvinculadas das atividades e processos que dão origem a determinado produto examinado, seletivas e hierarquizadoras de indivíduos, grupos, instituições e determinadores dos diversos níveis de eficácia. No caso do PAIUB, as dimensões quantitativas e somativas servem para dar mais consistência e fundamentação à orientação educativa e formativa. Não tem, portanto, caráter controlador e hierarquizador (DIAS SOBRINHO, 2003, p. 82).

Com o PAIUB, a estrutura e o processo avaliativo receberam uma nova roupagem, elevando a educação superior a um patamar importante na discussão promovida pela comunidade acadêmica. Dessa forma, a intenção era a de promover a legitimidade da avaliação, além de garantir aspectos que depois vieram a se consolidar no SINAES, tais como o respeito à identidade institucional, a legitimidade, a globalidade e a continuidade.

Quadro 4 - Princípios do PAIUB

Princípio Objetivo

Globalidade Incluir no processo avaliativo todos os elementos que compõe a IES e o seu contexto, de modo a tornar a avaliação a mais imparcial e completa possível. Comparabilidade

Uniformizar a linguagem, as metodologias e os indicadores de avaliação, para ser possível a comparabilidade entre as IES e os resultados do processo avaliativo, longitudinalmente. Respeito à Identidade

Institucional

Identificar as características particulares de cada IES de forma a visualizar e respeitar a natureza, a vocação, os valores e a história das diferentes instituições.

Não Premiação ou Punição

Desvincular a avaliação de punição e premiação, tornando o processo avaliador um mecanismo de afirmação de valores, que identifique os pontos fortes e fracos das IES e que forneça informações para orientar a remoção das causas das insuficiências encontradas. Adesão Voluntária

Construir o processo avaliativo de forma participativa, envolvendo os stakeholders, sem coerção, para garantir legitimidade política e criar uma cultura de avaliação. Legitimidade

Assegurar confiabilidade técnica e científica ao processo avaliativo por meio de seus agentes e dos métodos e técnicas empregadas.

Continuidade

Tornar o processo de avaliação um exercício

longitudinal e contínuo, para que se institua a cultura da avaliação e seja possível a comparabilidade e a identificação da eficácia das medidas adotadas a partir dos resultados da avaliação e sua meta-avaliação.

Fonte: Brasil (1994).

Porém, ainda que as discussões elevassem a avaliação a um patamar importante para o desenvolvimento da educação superior no Brasil, o PAIUB não logrou o êxito esperado por seus idealizadores. Apesar de estabelecer uma nova forma de avaliar a educação superior no âmbito institucional, o PAIUB se constituiu em uma experiência curta pelo fato de abordar aspectos políticos e extrínsecos ao seu desenvolvimento.

Segundo Carnoy (2002), o programa promoveu um novo diálogo sobre a educação superior, consolidando mudanças importantes na sua dinâmica, mas que ainda careciam de cuidados no sentido de evitar que a avaliação institucional caísse em uma retórica, sendo evitada ou ignorada no seu contexto. Além disso, como apontado por Carnelli, Costa e Braga (2008), os dirigentes institucionais se desinteressaram pelo aporte metodológico da avaliação, o que levou os órgãos reguladores a desenvolver uma nova metodologia aplicada à avaliação institucional, denominada de Exame Nacional de Cursos.